EMPREGO DO PROGRAMA COMPUTACIONAL ENERGYPLUS NA ANÁLISE DE ALTERNATIVAS DE PROJETO DE HABITAÇÃO VISANDO O CONFORTO TÉRMICO DO USUÁRIO

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Transcrição:

EMPREGO DO PROGRAMA COMPUTACIONAL ENERGYPLUS NA ANÁLISE DE ALTERNATIVAS DE PROJETO DE HABITAÇÃO VISANDO O CONFORTO TÉRMICO DO USUÁRIO Adriana Camargo de Brito a, Maria Akutsu a, Arlindo Tribess b a Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, Av. Prof. Almeida Prado, 532, Cidade Universitária, 05508-901, São Paulo, SP, Brasil,adrianab@ipt.br, akutsuma@ipt.br, www.ipt.br b Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Av. Prof. Mello Moraes 2231, Cidade Universitária, 05508-970, São Paulo, SP, Brasil, atribess@usp.br, www.usp.br Palavras Chave: Simulação computacional, Conforto ambiental, Desempenho térmico Resumo. Atualmente é crescente o uso de ferramentas computacionais para a modelagem do desempenho térmico e energético de edificações. Programas que levam em conta o regime transiente das trocas de calor entre o edifício e o ambiente exterior permitem modelar fenômenos relativos aos ganhos e perdas de calor pelos componentes da edificação, ventilação dos ambientes, trocas de calor por radiação entre as superfícies internas, com resultados bastante confiáveis quanto à resposta térmica da edificação. No Brasil, estas ferramentas são utilizadas, geralmente, para a avaliação do desempenho térmico e energético de edifícios em fase final de projeto ou já concluídos. Essas avaliações visam verificar o atendimento de exigências relacionadas à eficiência energética de edifícios em certificações ambientais ou para a obtenção de financiamentos, no caso de edifícios habitacionais. A avaliação tardia do desempenho dos edifícios torna difícil a possibilidade de alterar o projeto quando são constatados resultados desfavoráveis nas simulações. Este artigo apresenta um estudo de caso ilustrando impactos das decisões do projetista no desempenho térmico de habitação não climatizada evidenciando-se a influência de diferentes opções de projeto no conforto térmico do usuário, utilizando-se o programa EnergyPlus. Verificou-se que a edificação com o sistema construtivo com maior inércia térmica possui melhor desempenho térmico e propicia melhores condições de conforto térmico ao usuário em comparação com a edificação com o sistema construtivo com baixa inércia térmica. Para as condições climáticas da cidade de São Paulo, atingir o nível mínimo de desempenho térmico (NBR 15.575) não garante o conforto térmico (ISO 7730), o que se consegue apenas com o atendimento dos níveis intermediário e superior.

1 INTRODUÇÃO Dependendo das características arquitetônicas e dos materiais empregados em uma edificação, a sua interação com o clima do local pode produzir impactos negativos no consumo de energia de edifícios climatizados e no conforto térmico dos usuários em edifícios não climatizados (Brito et. al., 2010a). Em um edifício sem grandes fontes internas de geração de calor a envoltória é a principal responsável pela demanda de carga térmica dos sistemas de climatização e em edifícios não climatizados, pelas condições internas que irão repercutir no conforto térmico do usuário. Dentre as variáveis climáticas que interferem na resposta térmica de um edifício, as mais importantes são a temperatura, a umidade relativa e a velocidade do ar e a radiação solar global. Entre estas, destaca-se a amplitude diária da temperatura do ar por estar relacionada à demanda por capacidade térmica da edificação, tendo em vista a obtenção de melhores condições de conforto térmico. Em locais com amplitude diária da ordem de 10 o C, como ocorre em parte considerável do território brasileiro, para que o edifício tenha um desempenho térmico adequado é necessário que os componentes da envoltória possuam capacidade térmica apropriada (Brito et. al., 2010b; Brito et. al., 2011). Nos edifícios brasileiros construídos após a década de 1970, há uma tendência de utilização de sistemas construtivos racionalizados com componentes leves. No setor habitacional esse fator é ainda mais evidente devido à necessidade de se construir muitas unidades rapidamente para suprimir parte do déficit habitacional de 5,8 milhões de unidades (Ministério das Cidades, 2010). Embora possua vantagens construtivas, a baixa capacidade térmica dos componentes requer maiores cuidados no projeto dos edifícios, dependendo do clima do local de sua implantação. A fase de projeto é decisiva para a determinação do desempenho térmico do edifício e do seu reflexo no consumo de energia e no conforto térmico do usuário. Todavia, nem sempre são considerados os fatores relativos à adequação dos materiais e da geometria da edificação ao clima do local. É freqüente priorizar aspectos estéticos ou os que facilitam a execução em detrimento de questões relacionadas ao desempenho térmico da edificação. Esta negligência no desenvolvimento do projeto pode repercutir em maiores dispêndios financeiros para a correção de problemas no edifício construído. Dessa forma, é importante o conhecimento do desempenho térmico potencial da edificação ainda na fase do projeto, identificando-se os fatores que precisam ser aprimorados antes da sua finalização (Ochoa e Capelutto, 2009; Petersen e Svendsen, 2010). Nesse sentido, as ferramentas de simulação computacional do desempenho térmico e energético de edifícios podem auxiliar na tomada de decisões durante o desenvolvimento do projeto (Ellis e Mathews, 2001; Struck e Hensen, 2007; Wilde, et al., 2001). Há diversas ferramentas computacionais para a avaliação do desempenho térmico e energético de edifícios, das quais é importante selecionar a que irá fornecer resultados mais confiáveis de acordo com os fenômenos que se pretende simular. Para a escolha da ferramenta mais adequada é necessário ter conhecimento sobre o modelo matemático utilizado na determinação das trocas de calor entre o edifício e o meio exterior. O modelo matemático está diretamente relacionado às condições climáticas e de ocupação que se deseja simular. Em locais com clima tropical é necessário que o modelo matemático considere as condições dinâmicas de troca de calor entre os elementos da edificação e o meio exterior (Akutsu e Vittorino, 1999), abordando detalhadamente as variações da temperatura do ar e da radiação solar incidente nas superfícies. O programa EnergyPlus (USDOE, 2010), por exemplo, cumpre satisfatoriamente esta função e permite a obtenção de resultados bastante confiáveis,

possibilitando analisar e comparar várias soluções de projeto, durante o seu desenvolvimento. Contudo, ferramentas como esta ainda não estão sendo empregadas em larga escala pelos arquitetos durante o desenvolvimento do projeto. No Brasil, é mais freqüente o uso destes programas para a avaliação do desempenho energético de grandes edifícios comerciais climatizados, visando a obtenção de certificações ambientais como o LEED (USGBC, 2011) e para a avaliação do desempenho térmico de edifícios habitacionais não climatizados, no âmbito do SINAT, para a obtenção de financiamentos por órgãos governamentais (Cleto et. al., 2008). Neste trabalho é evidenciado o potencial do emprego do programa EnergyPlus no auxílio à tomada de decisões durante o desenvolvimento de um projeto habitacional em São Paulo, ilustrando os impactos da escolha do sistema construtivo e de diferentes opções de projeto no conforto térmico do usuário. 2 MÉTODO O objeto de estudo deste trabalho é um sobrado não climatizado em fase de projeto. Foi empregado o Programa EnergyPlus para a determinação dos valores horários da temperatura do ar e das temperaturas superficiais com determinação das temperaturas radiantes médias que interferem no conforto térmico do usuário no interior dos recintos (Fanger, 1972). Nas simulações foram utilizados dados climáticos dos dias típicos de projeto de verão e de inverno da cidade de São Paulo (Tabela 1) (ABNT, 2007). 2.1 Descrição da edificação A habitação analisada consiste em um sobrado, com sala de estar, sala de jantar e cozinha no pavimento térreo e três dormitórios no pavimento superior, conforme projeto apresentado na Fig. 1. Considerou-se o emprego de dois sistemas construtivos, cujas características mais relevantes para a análise do desempenho térmico da edificação estão descritas a seguir: Sistema 1 (denominado S1 nos gráficos e tabelas): o Paredes externas: tijolo cerâmico maciço, assentado na maior dimensão, com dimensões 10,0 cm x 6,0 cm x 22,0 cm, com as faces revestidas com argamassa com espessura de 2,5 cm e acabamento na cor branca. A espessura total da parede é de 27,0 cm; o Paredes internas compostas por tijolo cerâmico maciço, assentado na menor dimensão, com dimensões 10,0 cm x 6,0 cm x 22,0 cm, com as faces revestidas com argamassa com espessura de 2,5 cm. A espessura total da parede é de 15,0 cm; o Cobertura constituída por forro horizontal de concreto tradicional, com espessura de 15,0 cm, e telhado com telhas cerâmicas com espessura de 2,0 cm, com face inferior com subcobertura com baixa emissividade; o Piso do pavimento superior, constituído por laje de concreto tradicional, com espessura de 15,0 cm e revestimento com placas cerâmicas; o Piso do pavimento térreo composto por contra-piso de argamassa com espessura de 5,0 cm e revestimento com peças cerâmicas. o Janelas com dimensões 1,0 m x 1,0 m, com vidro simples, transparente, com espessura de 3,0 mm, sem venezianas e portas de madeira.

Tabela 1: Dados de temperatura do ar e radiação solar global incidente em superfície horizontal, para os dias típicos de verão e de inverno na cidade de São Paulo. São Paulo Temperatura máxima diária ( o C) Amplitude térmica diária ( o C) Temperatura de bulbo úmido ( o C) Radiação solar global diária (Wh/m 2 ) Verão 31,8 9,2 21,3 5180 Inverno 16,2 10,0 13,4 4418 Fonte: ABNT, 2007 Figura 1: Projeto arquitetônico do sobrado (Fonte: Modificado de CDHU, 1997) Sistema 2 (denominado S2 nos gráficos e tabelas): o Paredes externas: face voltada para o exterior composta por placa cimentícia, com espessura de 3,0 cm e acabamento na cor branca, espaço de ar confinado com espessura de 9,0 cm e placa de gesso acartonado com espessura de 1,2 cm; o Paredes internas compostas por placas de gesso acartonado, com espessura de 1,2 cm, separadas por espaço de ar confinado com espessura de 9,0 cm; o Cobertura constituída por forro horizontal de gesso acartonado, com espessura de 1,2 cm, com lã de rocha com espessura de 5,0 cm sobre o forro e telhado com telhas cerâmicas com espessura de 2,0 cm, com face inferior com subcobertura com baixa emissividade; o Piso do pavimento superior, constituído por contra-piso de argamassa com 5 cm de espessura, revestido com placas cerâmicas, sobre placas de madeira prensada com espessura de 2,0 cm, apoiadas em vigas metálicas; o Piso do pavimento térreo composto por contra-piso de argamassa com espessura de 5,0 cm e revestimento com placas cerâmicas. o Janelas com dimensões 1,0 m x 1,0 m, com vidro simples, transparente, com espessura de 3,0 mm, sem venezianas e portas de madeira. As propriedades térmicas dos materiais estão apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2: Propriedades térmicas dos materiais utilizados na habitação Material Massa específica (kg/m 3 ) Condutividade (W/(m.K)) Calor Específico (kj/(kg.k)) Argamassa 1800 1,15 1,0 Cerâmica 1600 0,90 0,9 Concreto 2400 1,75 1,0 Gesso Acartonado 1000 0,35 0,8 Lã de rocha 100 0,04 0,8 Madeira 700 0,12 1,6 Fonte: ABNT, 2005 No presente trabalho serão analisados os ambientes de longa permanência, sala e dormitório, conforme especificado na Norma ABNT NBR 15.575 (2008). Dentre os dormitórios e salas, foram considerados aqueles com condições térmicas mais críticas, ou seja, com maior área de exposição à radiação solar direta. Estes ambientes estão indicados como Dormitório 1 e Sala de Estar no projeto apresentado na Fig. 1. 2.2 Condições analisadas A edificação foi simulada com e sem fontes internas de calor. Na Tabela 3 são apresentadas as fontes de calor consideradas por ambiente, indicando a atividade metabólica das pessoas e horários de permanência e a potência dos equipamentos e horários de funcionamento. Na Tabela 4 é indicado o isolamento da vestimenta nos períodos de verão e inverno conforme as atividades metabólicas das pessoas. Na Tabela 5 é apresentado um resumo das tipologias arquitetônicas consideradas nas simulações e as condições de sombreamento, ventilação (renovação de ar), velocidade do ar no interior dos ambientes e presença de fontes internas de calor. Tabela 3: Fontes de calor nos ambientes Sala Quantidade [W] Horário Dormitório Quantidade [W] Horário Pessoas 2 120* 24h 80** 21h-07h Pessoas 2 Iluminação 1 40 18h-06h 120* 08h-20h Televisão 1 100 18h-24h Iluminação 1 40 08h-20h *pessoa em atividade leve; **pessoa dormindo Tabela 4: Atividade metabólica das pessoas e isolamento da roupa Isolamento da roupa [Clo] Metabolismo [W] Verão Inverno 120 0,5 1,5 80 1,0 2,5

Tabela 5: Resumo das tipologias arquitetônicas e condições analisadas Tipologias consideradas Sombreamento das janelas Condições analisadas Ventilação dos ambientes [Ren/h] Velocidade do ar nos ambientes [m/s] Fontes internas de calor S1 S2 Beirais 1 0,1 Não S1 F S2 F Beirais 1 0,1 Sim S1 SOMB S2 SOMB Beirais + venezianas 1 0,1 Não S1 SOMB F S2 SOMB F Beirais + venezianas 1 0,1 Sim S1 SOMB VENT S2 SOMB VENT Beirais + venezianas 5 1,0 Não S1 SOMB VENT F S2 SOMB VENT F Beirais + venezianas 5 1,0 Sim 2.3 Critérios de avaliação Os resultados das simulações foram analisados com base nas Normas ISO 7730 (2005), referente ao conforto térmico humano, e ABNT NBR 15.575 (2008), que estabelece critérios mínimos de desempenho para habitações de até cinco pavimentos. Na Norma ISO 7730 (2005) são apresentados critérios para a avaliação do conforto térmico fundamentados no método de Fanger (1972), que estabelece a relação entre o ambiente térmico e a sensação térmica humana, quantificada por meio do PMV - Predicted Mean Vote (Voto Médio Estimado) e do PPD Predicted Percentage of Dissatisfied (Porcentagem de Pessoas Insatisfeitas), onde: PMV é um índice baseado no balanço térmico do corpo humano e no voto dado por um grupo de pessoas de acordo com a sensação térmica propiciada pelas condições ambientais (Tabela 6); O PPD corresponde à porcentagem de pessoas insatisfeitas com as condições térmicas relacionadas aos valores do PMV. Tabela 6: Escala de sensação térmica Valor do voto Sensação Térmica + 3 Muito quente +2 Quente +1 Leve sensação de calor 0 Neutro -1 Leve sensação de frio -2 Frio -3 Muito frio No anexo A da Norma ISO 7730 (2005) também são apresentadas exigências segundo três categorias de ambientes térmicos: A, com porcentagem de pessoas insatisfeitas PPD < 6%, que corresponde a valores de PMV entre -0,2 e +0,2; B, com porcentagem de pessoas insatisfeitas PPD < 10%, que corresponde a valores de PMV entre -0,5 e +0,5; C, com porcentagem de pessoas insatisfeitas PPD < 15%, que corresponde a valores de PMV entre -0,7 e +0,7.

No presente trabalho são abordados apenas os aspectos referentes às condições térmicas do corpo como um todo, devido às características da habitação avaliada, cujos recintos não apresentam assimetrias significativas quanto ao ambiente térmico, sendo considerados homogêneos. Os valores de PMV foram utilizados como referência para a comparação das diferentes soluções de projeto da habitação, descritas nos itens 2.1 e 2.2 e para a verificação do atendimento dos requisitos de conforto térmico. Foram determinados os valores horários do PMV para o Dormitório 1 e para a Sala de estar, nos dias típicos de verão e de inverno, calculados pelo programa EnergyPlus, de acordo com a Norma ISO 7730 (2005), conforme as tipologias e condições apresentadas no item 2.2. Na Norma ABNT NBR 15.575 (2008), utilizada como referência para a avaliação do desempenho térmico da edificação, são apresentados requisitos para avaliação do desempenho de edifícios habitacionais não climatizados de até cinco pavimentos. Nesta norma a edificação pode ser avaliada por meio de simulações computacionais com uso de programas que considerem condições dinâmicas de trocas de calor entre a edificação e o ambiente externo. A edificação deve ser simulada sem fontes internas de calor. No caso de projeto de habitação devem ser considerados os dias típicos de projeto de verão e de inverno do local onde a edificação será construída. Devem ser consideradas condições de ventilação com 1 ou 5 Ren/h (renovações do volume de ar do ambiente por hora). Para estas condições considerou-se velocidades do ar correspondentes, respectivamente a 0,1 e 1,0 m/s nos ambientes interiores. Quanto ao sombreamento das janelas, pode ser utilizado elemento que permita diminuir a radiação solar incidente em 50%, como veneziana ou cortina por exemplo. O nível de desempenho térmico da edificação é indicado em função do seu comportamento nos dias típicos de verão e de inverno, segundo três níveis: M (Mínimo), I (Intermediário) ou S (Superior), adotando-se como parâmetro de avaliação a temperatura do ar interior. Para a cidade de São Paulo, os critérios referem-se aos períodos de verão e inverno, conforme disposto a seguir: Verão: o Nível "M": quando o valor máximo diário da temperatura do ar interior é menor ou igual ao valor máximo diário da temperatura do ar exterior e maior que o valor limite estipulado para o nível I ; o Nível "I": quando o valor máximo diário da temperatura do ar interior é pelo menos 2 o C menor que o valor máximo diário da temperatura do ar exterior e maior que o valor limite estipulado para o nível S ; o Nível "S": quando o valor máximo diário da temperatura do ar interior é pelo menos 4 o C menor que o valor máximo diário da temperatura do ar exterior; Inverno: o Nível "M": quando o valor mínimo diário da temperatura do ar interior é pelo menos 3 o C maior que o valor mínimo diário da temperatura do ar exterior e menor que o valor limite estipulado para o nível I ; o Nível "I": quando o valor mínimo diário da temperatura do ar interior é pelo menos 5 o C maior que o valor mínimo máximo diário da temperatura do ar exterior e menor que o valor limite estipulado para o nível S ; o Nível "S": quando o valor mínimo diário da temperatura do ar interior é pelo menos 7 o C maior que o valor mínimo diário da temperatura do ar exterior.

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS Na Figura 2 são apresentados os resultados referentes às temperaturas do ar interno e externo nos dias típicos de verão e inverno, com o sistema construtivo S1 e diferentes condições de sombreamento, ventilação e fontes internas de calor. Na Figura 3 são apresentadas as mesmas propriedades, com o uso do sistema construtivo S2. Observa-se que nas situações apresentadas nas Fig. 2, há uma tendência de diminuição das amplitudes térmicas diárias das temperaturas do ar interior em relação ao exterior, fator que ressalta as propriedades de inércia térmica da edificação. Na Figura 3, as amplitudes diárias das temperaturas do ar interior são muito próximas às do ar exterior, o que indica baixa inércia térmica da edificação. Figura 2: Temperaturas do ar no inverno para a tipología S1 com fontes internas de calor ( F ), com e sem sombreamento ( Somb ) e sem ventilação, no verão e inverno

Figura 3: Temperaturas do ar no verão para a tipología S2 com fontes internas de calor ( F ), com e sem sombreamento ( Somb ), com e sem ventilação ( Vent ), no verão e inverno. Nas Figuras 4 e 5 são apresentados os resultados referentes ao Voto Médio Estimado (PMV) para os ambientes Dormitório 1 e Sala de Estar, com emprego dos sistemas construtivos S1 e S2.

Horário [h] Verão: S1 F Inverno: S1 F Verão: S2 F Inverno: S2 F 23 21 19 17 15 13 11 9 7 5 3 1 23 21 19 17 15 Legenda 13 Verão Inverno Dorm.: Met Met. 80 W = Clo 80W, 1 1 Clo Dorm.: Met Met. 80 W = Clo 80W, 1 2,5 Clo 11 Dorm.: Met Met. 110 = W 110W, Clo 0,5 0,5 Clo Dorm.: Met Met. 110 = W 110W, Clo 0,51,5 Clo S2 9Sala: F 110 Met. W 0,5 = 120W, Clo 0,5 Clo S2 Sala: F 110 Met. W 0,5 = 120W, Clo 1,5 Clo 7 Figura 4: Voto Médio Estimado Horário PMV das tipologias S1 e S2 5 3 1-1 -31-13 1 3 Voto Médio Estimado - PMV Voto Médio Estimado - PMV

Horário [h] Verão: S1 Somb Vent F Inverno: S1 Somb F Verão: S2 Somb Vent F Inverno: S2 Somb F 23 21 19 17 15 13 11 9 7 5 3 1 17 15 Legenda Verão 13 Dorm.: Met Met. 80 W = Clo 80W, 1 1 Clo 11 Dorm.: Met Met. 110 = W 110W, Clo 0,5 0,5 Clo S2 9Sala: F 110 Met. W 0,5 = 120W, Clo 0,5 Clo Inverno 7 Figura 5: Voto Médio 5 Estimado Horário PMV das tipologias S1 Somb e S2 Somb A Figura 4 indica que 1 os valores do PMV são menores na tipologia S1 F em comparação com -3a S2 F tanto -1 no período 1 de verão quanto 3 no período de inverno. Estes resultados demonstram que Voto a edificação Médio Estimado com - PMVo sistema construtivo que possui maior inércia térmica (S1) propicia um ambiente com melhores condições de conforto do que o edifício com baixa inércia térmica. Com o sombreamento das janelas e a ventilação dos ambientes no período de verão (Fig. 5), são obtidos melhores resultados quanto ao conforto térmico com o emprego do sistema construtivo S1. O elemento externo de sombreamento das janelas não produz -1 1 3 Voto Médio Estimado - PMV 23 21 19 3 Dorm.: Met Met. 80 W = Clo 80W, 1 2,5 Clo Dorm.: Met Met. 110 = W 110W, Clo 0,51,5 Clo S2 Sala: F 110 Met. W 0,5 = 120W, Clo 1,5 Clo

efeitos negativos expressivos no conforto térmico do usuário no período de inverno. Com o emprego do sistema construtivo S2 é produzido um maior desconforto ao usuário, em comparação com a edificação com o sistema construtivo S1 tanto no verão quanto no inverno. Na Tabela 7 são mostrados os resultados referentes ao desempenho térmico da habitação, segundo a Norma ABNT NBR 15575 (2008), com as temperaturas máximas diárias do ar no interior dos ambientes no dia típico de verão, as temperaturas mínimas diárias do ar interior no dia típico de inverno e os respectivos níveis de desempenho térmico alcançados pela edificação. A indicação dos níveis de desempenho térmico atingidos é feita por meio das hachuras das células das tabelas onde estão contidos estes valores, a saber: linhas diagonais : nível de desempenho térmico abaixo do Mínimo ; linhas verticais : nível de desempenho térmico Mínimo ; sem hachura : nível de desempenho térmico Intermediário. A edificação com o sistema construtivo S1 alcançou o nível intermediário, na sala e dormitório. As situações somente com sombreamento das janelas produziram melhores resultados. Com o sistema construtivo S2, a edificação atende ao nível Mínimo no verão na sala e dormitório, apenas com emprego de sombreamento das janelas e ventilação dos ambientes e não atende as exigências para atendimento do nível Mínimo no período de inverno. Os resultados da avaliação do desempenho térmico por meio deste método mostraram-se compatíveis com os resultados da análise do conforto térmico dos usuários com base na Norma ISO 7730 (2005). Tabela 7: Temperaturas máximas diárias do ar no período de verão, temperaturas mínimas diárias no período de inverno e níveis de desempenho alcançados por tipologia, sem fontes internas de calor (ABNT NBR 15.575) Verão Inverno Tipologia Temp. Máx. Ar Interior [ o C] Temp. Mín. Ar Interior [ o C] Sala Dormitório Sala Dormitório S1 28,4 28,5 12,4 11,6 S1 Somb 27,6 27,9 12,0 11,3 S1 Somb Vent 28,6 28,7 não avaliado não avaliado S2 32,4 33,0 9,1 7,6 S2 Somb 31,5 31,9 9,0 7,5 S2 Somb Vent 31,4 31,6 não avaliado não avaliado 4 CONCLUSÕES O emprego do programa EnergyPlus foi fundamental para a comparação entre as soluções de projeto e a escolha do sistema construtivo mais adequado do ponto de vista do conforto térmico do usuário. Destacam-se os potenciais do programa como ferramenta para análise, não somente quanto aos componentes empregados na edificação, como também na definição de detalhes da geometria e impactos das variáveis de projeto, como elementos de sombreamento e refletância das superfícies, além de possibilitar a verificação da influência da ventilação dos ambientes. Neste estudo de caso, ficou evidente que a edificação com o sistema construtivo com maior inércia térmica, indicado como S1, apresenta melhor desempenho térmico e propicia melhores condições de conforto térmico ao usuário, em comparação com a edificação com o sistema construtivo com baixa inércia térmica, indicado como S2. As análises mostraram também que a avaliação da edificação conforme a Norma ABNT

NBR 15.575 (2008) fornece informações importantes quanto ao desempenho térmico potencial da edificação, que estão diretamente relacionados ao conforto do usuário (ISO 7730). É importante observar também que, para as condições climáticas da cidade de São Paulo, atingir o nível Mínimo de desempenho térmico não garante que as condições de conforto térmico serão plenamente satisfatórias, mas apenas que as condições de conforto térmico no interior dos ambientes não serão piores que no ambiente externo. REFERÊNCIAS Akutsu, M.; Vittorino, F. V.; The use of Simulation Software to Evaluate the Thermal Performance of Buildings in Brazil In Sixth International IBPSA Conference, PB19:1101 1108, 1999. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 15220-3. Desempenho térmico de edificações. ABNT, 2005. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT. Projeto de Norma 02.136.01. Edifícios Habitacionais até Cinco Pavimentos Desempenho. ABNT, 2007. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 15575. Edifícios Habitacionais de até Cinco Pavimentos Desempenho. ABNT, 2008. Brito, A. C; Akutsu, M.; Vittorino, F. V.; Aquilino, M. M. Sustentabilidade e conforto ambiental em edificações. Revista Techne, 162: 62-65, 2010a. Brito, A. C; Akutsu, M.; Vittorino, F. V.; Aquilino, M. M. Sugestões para revisão da Norma ABNT NBR 15.575:2008, referentes ao desempenho térmico. In Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído ENTAC 2010. CD-Rom, 2010b. Brito, A. C; Akutsu, M.; Vittorino, F. V.; Aquilino, M. M.; Tribess, A. Efeito da utilização de vedações internas leves na inércia térmica de edifício com sistema construtivo em concreto. In XI Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído ENCAC 2011. CD-Rom, 2011. Cleto, F. R.; Mitidieri Filho, C. V.; Weber, M. S. Implantação e Consolidação do Sistema Nacional de Avaliações Técnicas. In XII Encontro Nacional de Tecnologia no Ambiente Construído ENTAC 2008. CD-Rom, 2008. Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano CDHU. Caderno de Tipologias. 1997. Ellis, M. W. and Mathews, E. H. A new simplified thermal design tool for architects. Building and Environment, 36:1009-1021, 2001. Fanger, P. O. Thermal Comfort: Analysis and Applications in Environmental Engineering. McGraw Hill, New York, 1972. International Organization for Standardization. ISO 7730: Ergonomics of the thermal environment Analytical determination and interpretation of thermal comfort using calculation of the PMV and PPD indices and local thermal comfort criteria. 2005. Ministério das Cidades. Ministro Anuncia Novo Déficit Habitacional Durante FUM5. Disponível em: <http://www.cidades.gov.br/noticias/ministro-anuncia-novo-deficithabitacional-de-5-8-durantefum5/?searchterm=deficit%20 habitacional%202009>. Acesso em: 21 jun. 2010. Ochoa, C. E. and Capeluto, G. I. Advice tool for early design stages of intelligent facades based on energy and visual comfort approach. Energy and Buildings, 41:480-488, 2009. Petersen, S. and Svendsen, S. Method and simulation program informed decisions in the early stages of building design. Energy and Buildings, 42:1113-1119, 2010. United States Department of Energy. Energy Simulation Software Energy Efficiency and

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