Universidade de Taubaté (UNITAU) Bolsista de Iniciação Científica CNPq/PIBIC/INPE São José dos Campos, SP, Brasil

Documentos relacionados
Análise comparativa entre índices de vegetação NDVI e EVI e sua relação com o balanço hídrico na Bacia do Una SP

ANÁLISE DAS INTRUSÕES ANTRÓPICAS NAS FISIONOMIAS VEGETAIS EM ÁREA DE FLORESTA ATLÂNTICA

Comparação do modelo de mistura com os índices de vegetação NDVI e EVI oriundos das imagens MODIS para o Estado de Minas Gerais

Análise fenológica de dados multitemporais EVI do sensor MODIS com variáveis climáticas

INFLUÊNCIA DA VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO NA RESPOSTA DA VEGETAÇÃO EM SÃO JOÃO DEL-REI

Análise de Séries Temporais MODIS e TRMM nas áreas de caatinga, cerrado e floresta

EFEITOS DA FUMAÇA SOBRE A DETERMINAÇÃO DO NDVI MARCELO LIMA DE MOURA LÊNIO SOARES GALVÃO

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO DO SUB-MÉDIO SÃO FRANCISCO EM EVENTOS CLIMÁTICOS DE EL NIÑO E LA NIÑA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL

UTILIZAÇÃO DE ÍNDICE DE VEGETAÇÃO PARA ÁREAS PRÓXIMAS AO RESERVATÓRIO EPITÁCIO PESSOA DURANTE PERÍODO DE CRISE HÍDRICA ( )

PRECIPITAÇÃO, FOGO E ÍNDICES DE VEGETAÇÃO NA DETECÇÃO DE FISIONOMIAS DE SAVANA TROPICAL NA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA

ANÁLISE DO ÍNDICE DE VEGETACAO SAZONAL PADRONIZADO A PARTIR DE IMAGENS DO SPOT VEGETATION E ESTIMATIVAS DE PRECIPITAÇÃO PADRONIZADA DO TRMM

Aplicação da metodologia do projeto panamazônia no Pantanal, município de Barão de Melgaço, MT

MINIMIZAÇÃO DOS EFEITOS DA FUMAÇA SOBRE O CÁLCULO DO NDVI

CLIMA E VARIABILIDADE INTERANUAL DA VEGETAÇÃO NO PANTANAL

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

INFLUÊNCIA DE CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DISTINTAS NA ESTIMATIVA DE ÁREA CULTIVADA DA CULTURA DA SOJA A PARTIR DE DADOS DE SENSORIAMENTO REMOTO

ANÁLISE DA FREQUÊNCIA MENSAL E ANUAL DO NÚMERO DE DIAS CHUVOSOS NO MUNICÍPIO DE VIANA-ES.

ANÁLISE DA VARIAÇÃO DA RESPOSTA ESPECTRAL DA VEGETAÇÃO DO BIOMA PAMPA, FRENTE ÀS VARIAÇÕES DA FENOLOGIA

AVALIAÇÃO DO USO DO MODELO LINEAR DE MISTURA ESPECTRAL NA DISCRIMINAÇÃO DE FITOFISIONOMIAS DO CERRADO

Mapeamento da cobertura da terra do Estado de São Paulo utilizando imagens fração dos dados MODIS

Roteiro Detecção de informações usando satélites Produtos oriundos de Imagens NOAA Índice de vegetação como indicador de respostas das plantas às cond

Anais XVII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, João Pessoa-PB, Brasil, 25 a 29 de abril de 2015, INPE

Mapeamento de áreas alagadas no Bioma Pantanal a partir de dados multitemporais TERRA/MODIS

Área verde por habitante na cidade de Santa Cruz do Sul, RS

ANÁLISE DA DINÂMICA DA COBERTURA VEGETAL ATRAVÉS DOS ÍNDICES DE VEGETAÇÃO NDVI E SAVI NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DAS ONÇAS-PB

UFPA- FAMET- Brasil- Belém-

Aplicação do Modelo Linear de Mistura Espectral para Análise dos tipos Água no Lago Paranoá, Brasília - DF

Influência da precipitação pluvial acumulada nas proporções das imagens fração geradas pelo Modelo Linear de Mistura Espectral

SISTEMA DE DETECÇÃO DE DESMATAMENTO E ALTERAÇÕES TEMPO QUASE REAL

ESTUDO DA VARIAÇÃO TEMPORAL DO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO POR DIFERENÇA NORMALIZADA EM JUIZ DE FORA A PARTIR DE IMAGENS DE SATÉLITE

DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO ATRAVÉS DE IMAGENS METEOSAT-8

Figura 1 - Abrangência espacial do Bioma Cerrado. Fonte: Adaptado de Scariot et al. (2005).

Gustavo Manzon Nunes 1,2 Carlos Roberto de Souza Filho 1 Laerte Guimarães Ferreira³

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE PÃO DE AÇÚCAR DURANTE 1977 A 2012

Índice de vegetação espectral e sua relação com a estiagem agrícola em áreas cafeeiras no município de Três Pontas, Minas Gerais

MONITORAMENTO ESPAÇO-TEMPORAL DE ÍNDICES ESPECTRAIS DE VEGETAÇÃO PARA A BACIA DO RIO GRAMAME-PB

Monitoramento da resposta fenológica através da utilização de imagens fração derivadas do sensor MODIS

Variabilidade da Precipitação Pluviométrica no Estado do Amapá

Análise da variabilidade temporal do NDVI/MODIS na Região Sul do Brasil.

Análise da associação entre focos de calor em florestas, uso e cobertura da terra e déficit hídrico: uma comparação entre ano normal e ano seco

10º ENTEC Encontro de Tecnologia: 28 de novembro a 3 de dezembro de 2016

Mudanças Climáticas e Modelagem Ambiental

Avaliação de desempenho de índices de vegetação na caracterização de classes de cobertura da terra na região do Pantanal nas estações seca e chuvosa

Pedro Quarto Júnior I, Alexandre Cândido Xavier 2, Julião Soares de Souza Lima 3 RESUMO

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA E DO NÚMERO DE DIAS COM CHUVA EM CALÇOENE LOCALIZADO NO SETOR COSTEIRO DO AMAPÁ

ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DO CULTIVO DE MILHO EM SERGIPE, COM AUXÍLIO DE NDVI/EVI- SENSOR MODIS, NO PERÍODO DE

CLASSIFICAÇÃO DO USO E COBERTURA DO SOLO NO LITORAL SUL DE ALAGOAS UTILIZANDO O PRODUTO MODIS-EVI

Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Ministério da Ciência e Tecnologia

Avaliação da Influência da geometria de iluminação e visada na determinação do EVI de florestas tropicais a partir de dados Hyperion/EO-1

ANÁLISE TEMPORAL DA VEGETAÇÃO NA REGIÃO DO NORDESTE ATRAVÉS DE DADOS EVI DO MODIS

Palavras-chave: Análise espectral, Cerrado, Uso do solo, Índice de Vegetação EVI. Introdução

PROGRAMA DE ENSINO. Área de Concentração AQUISIÇÃO, ANÁLISE E REPRESENTAÇÃO DE INFORMAÇÕES ESPACIAIS

DINÂMICA ESPAÇO-TEMPORAL DA VEGETAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO CEARENSE/BRAZIL

Uso de informações residuais para estimar precisão e aperfeiçoar os resultados do Modelo Linear de Mistura Espectral

Análise da correlação entre valores de EVI em área de pastagem e variáveis climáticas - a importância do fator tempo

Análise da dinâmica espacial da área de soja em municípios do Mato Grosso por meio de imagens do sensor MODIS 1. INTRODUÇÃO

Campus de Presidente Prudente PROGRAMA DE ENSINO. Área de Concentração AQUISIÇÃO, ANÁLISE E REPRESENTAÇÃO DE INFORMAÇÕES ESPACIAIS

Segmentação de imagens-fração derivadas do sensor TM-Landsat para o mapeamento do uso do solo no municipio de Sapezal (MT)

Perfil temporal de EVI/NDVI na bacia hidrográfica do rio Itajaí em Santa Catarina. Alexander Christian Vibrans 1 Vanessa Fernanda Schramm 1,2

ESTUDO DA VARIABILIDADE ESPACIAL DO EVI E DAS PRECIPITAÇÕES NO RIO GRANDE DO NORTE

Sazonalidade do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) a partir de dados do sensor OLI em área de Caatinga e Pastagem

Allan Arantes PEREIRA 1 ; Thomaz Alvisi de OLIVEIRA 1 ; Mireile Reis dos SANTOS 1 ; Jane Piton Serra SANCHES 1

MODELO DE MISTURA ESPECTRAL PARA IDENTIFICAR E MAPEAR ÁREAS DE SOJA E MILHO EM QUATRO MUNICÍPIOS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

INFLUÊNCIA DE LA NIÑA SOBRE A CHUVA NO NORDESTE BRASILEIRO. Alice M. Grimm (1); Simone E. T. Ferraz; Andrea de O. Cardoso

Dados do sensor MODIS para o mapeamento e monitoramento da cobertura vegetal e uso da terra. Yosio E. Shimabukuro Bernardo F.T.

ANÁLISE DE TENDÊNCIAS DA VEGETAÇÃO NO PARQUE ESTADUAL DE SERRA NOVA, MG ENTRE 2012 E 2016

MAPEAMENTO DA DINÂMICA DA VEGETAÇÃO DE MATA ATLÂNTICA NO MUNICÍPIO DE TERESÓPOLIS-RJ UTILIZANDO NDVI

OBJETIVO. Analisar a dinâmica dos níveis potenciométricos de aquífero aluvial intensamente monitorado, no Agreste Pernambucano; Relacionar com:

MODOS DE VARIABILIDADE NA PRECIPITAÇÃO PARA A REGIÃO SUL DO BRASIL NO CLIMA PRESENTE E FUTURO

Comparação entre imagens MODIS/TERRA e TM/LANDSAT para a detecção de mudanças na cobertura da terra

Obtenção da reflectância da superfície para imagens OLI do Landsat 8 com um modelo de transferência radiativa

Anais XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, abril 2003, INPE, p

APTIDÃO AGROCLIMÁTICA DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAUEIRA NO MUNICÍPIO DE FLORIANO, PI RESUMO

ENGENHARIA AMBIENTAL - Trabalho de Conclusão de Curso /02

Detecção e mapeamento de desflorestamento e áreas queimadas na Amazônia utilizando dados de resolução espacial moderada do sensor MERIS

Ciência Florestal ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

Comportamento sazonal da cobertura do vegetal no estado de Mato Grosso do Sul

Pedro Quarto Júnior 1 Mileide de Holanda Formigoni 1 Alexandre Cândido Xavier 1 Julião Soares de Souza Lima 1

VARIABILIDADE DO NDVI NA BACIA DO RIO TRUSSU CEARÁ

Sensoriamento Remoto Aplicado à Geografia

8ºCongresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 14 de agosto de 2014 Campinas, São Paulo

ANÁLISE DA DINÂMICA SAZONAL DE ÍNDICES DE VEGETAÇÃO DO SENSOR MODIS EM ALGUMAS FITOFISIONOMIAS DO BIOMA CERRADO

INTERLIGAÇÃO ENTRE ÍNDICE DE VEGETAÇÃO DERIVADO DO SATÉLITE NOAA E PRECIPITAÇÕES NO ESTADO DA PARAÍBA

Caracterização da dinâmica da pluma do rio

Uso de um Modelo Linear de Mistura Espectral e Índice de Vegetação na Avaliação de Pastagens em Degradação no Pantanal 1

PREDIÇÃO DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL POR SENSORIAMENTO REMOTO ATRAVÉS DE ÍNDICE DE VEGETAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO 1

Análise Multisensor e Multiresolução de Imagens CBERS-2 Através do Modelo Linear de Mistura Espectral

UNIDADE DE CONSERVAÇÃO E ZONA DE AMORTECIMENTO

IMAGENS DIGITAIS APLICADAS PARA DETERMINAÇÃO DE ÁREAS AGRÍCOLAS ATRAVÉS DO CLASSIFICADOR BAYES

Levantamento dos remanescentes da cobertura vegetal no município de Brejo, MA: comparação de imagens CCD/CBERS-2 e MODIS/TERRA

Preparação dos produtos MODIS para aplicações operacionais como o Projeto DETER (Detecção de áreas desflorestadas em tempo quase real)

A VARIABILIDADE ANUAL DA TEMPERATURA NO ESTADO DE SÃO PAULO 1971/1998: UMA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO MUNDO TROPICAL

Estimativa e avaliação do desflorestamento de uma área do Mato Grosso com o uso de imagens CCD/CBERS

MODELO LINEAR DE MISTURA ESPECTRAL EM IMAGEM DE MODERADA RESOLUÇÃO ESPACIAL

Monitoramento e detecção de desmatamentos no bioma Cerrado matogrossense utilizando imagens de multisensores.

VARIABILIDADE ESPAÇO TEMPORAL DO IVDN NO MUNICIPIO DE ÁGUAS BELAS-PE COM BASE EM IMAGENS TM LANDSAT 5

Transcrição:

Aplicação do MLME em imagens MODIS para o estudo do comportamento de fitofisionomias da Floresta Atlântica e sua relação com a variabilidade pluviométrica. Yhasmin Mendes de Moura 1 Egídio Arai 2 Yosio Edemir Shimabukuro² João Roberto dos Santos² Gilberto Fisch³ René Antonio Novaes 2 Alana Almeida de Souza² 1 Universidade de Taubaté (UNITAU) Bolsista de Iniciação Científica CNPq/PIBIC/INPE 12.227-010 - São José dos Campos, SP, Brasil yhasmin@dsr.inpe.br 2 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE Caixa Postal 515-12245-970 - São José dos Campos - SP, Brasil {egidio, yosio, jrsantos, rene, alana}@dsr.inpe.br ³ Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) CTA Praça Marechal Eduardo Gomes, 50-12228-908 - São José dos Campos - SP, Brasil gfisch@uol.com.br Abstract. The objective of this work is to evaluate the variation of vegetation types forest, mangrove and restinga, found in the Atlantic Forest domain, using MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectral Radiometer) images and the climate parameters to detect variation of this phenology. The methodology focusses on the application of a linear spectral mixing model on the reflectance images to compare the average values of these vegetation types between fraction images and the reflectance surface. We used MODIS sensor reflectance images for the entire year of 2006, and we also applied the Linear Mixture Model for the generation of fraction images of soil, shadow and vegetation. The data of rainfall are related to meteorology radar TRMM (Tropical Rainfall Measuring Mission). This process was performed using the software ENVI 4.4 which permitted to analyse the average behavior of spectral variation of the reflectance images and the fraction images. The results showed which of the vegetation fraction could be detected with higher accuracy. The increase of the vegetation proportion for the forest and mangrove possibly identify better the structural changes of vegetation in the periods of seasonal climate conditions. We conclude that the vegetation types found in the Atlantic Forest domain shows correspondence to the hydrology variation in this region. Palavras-chave: fraction images, Atlantic Forest, remote sensing, imagens fração, Floresta Atlântica, sensoriamento remoto. 1. Introdução O uso de produtos e técnicas de extração de informações derivadas de dados sensoriados em estudos florestais vem mostrando significativos avanços. Nos últimos anos percebe-se um aumento de estudos relacionados às variáveis ambientais e a detecção de mudanças fenológicas ou não da vegetação, através da utilização das imagens MODIS (Li et al, 2001, Gurgel e Ferreira 2003 e Ribeiro et al, 2007). Toda essa tecnologia tem demonstrado potencialidade no acompanhamento da dinâmica de uso e cobertura da terra e seus possíveis impactos, inclusive com os índices de vegetação (que são formulações derivadas de modelos lineares ou não de bandas espectrais) permitindo representações de avaliação das condições fenológicas da cobertura florestal, em nível regional ou global (Lee et al., 2003). Em imagens de sensoriamento remoto, a resposta espectral de determinado alvo contida num pixel é derivada de uma mistura de informações de superfície captadas pelo sensor, que 2847

através da resolução espacial do sistema imageador integram estas informações em um único valor. A aplicação do Modelo Linear de Mistura Espectral se fundamenta em separar diferentes componentes do pixel ou endmembers (Haertel e Shimabukuro, 2005) estimando sua proporção dentro de cada pixel na geração de imagens fração solo, sombra e vegetação. Em estudos que enfocam as mudanças estruturais da vegetação e suas associações com o clima, observa-se a utilização de sensores remotos com alta resolução temporal, tais como MODIS, para análise das mudanças dos parâmetros biofísicos associados à fenologia vegetal (Roy e Joshi 2002, Xavier e Vettorazi 2004, Smith e Smith 2005, Shabanov et al. 2005, White et al. 2005, Huete et al. 2006) As mudanças nos padrões de diversos tipos de formações vegetais, como o período de crescimento, a taxa de acumulação de biomassa e a taxa de senescência, podem ser fortemente influenciadas pela temperatura e precipitação (Anderson e Shimabukuro, 2007). Neste sentido, o objetivo do presente trabalho é analisar através das imagens MODIS as variações fenológicas dos tipos de formação vegetal encontrados em área sob domínio da Floresta Atlântica, bem como correlacioná-las com parâmetros climáticos da região através da proporção de vegetação e as médias de reflectância de cada fisionomia. 2. Materiais e Métodos A área de estudo (Figura 1) inclui os municípios de Redenção da Serra, São Luiz do Paraitinga, Cunha, Natividade da Serra, Paraibuna, Jambeiro, Salesopólis, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela, que abrigam grande parte dos remanescentes de Mata Atlântica no Estado de São Paulo (SMA, 2006). Na figura 2 é apresentado o esquema que representa as etapas desenvolvidas neste trabalho. Figura 1. Localização da área de estudo. Foram geradas imagens sintéticas fração-solo, sombra e vegetação a partir das imagens originais do sensor MODIS/TERRA do ano de 2006, totalizando 35 imagens para análise (desconsiderou-se aquelas com elevada cobertura de nuvens). Todo o processamento foi realizado no software ENVI 4.4, que após a aplicação do Modelo Linear de Mistura Espectral, permitiu a realização de cálculo médio estatístico da proporção de vegetação encontradas dentro de cada fisionomia analisada. A base da aplicabilidade do Modelo Linear de Mistura Espectral (MLME) está fundamentada na identificação prévia dos pixels considerados 2848

puros, que por formulação matemática, permite gerar a partir de imagens primárias, outras imagens sintéticas de fração-solo, sombra e vegetação (Cross et al., 1991). Figura 2. Metodologia do trabalho. As fisionomias vegetais analisadas foram disponibilizadas pelo SOS Mata Atlântica (http://mapas.sosma.org.br/dados/), em formato shape, sendo elas: Mata, Mangue, Restinga e Decremento de Mata. A leitura destes shapes foi realizado no software ENVI 4.4, posteriormente foram também realizados funções estatísticas para cálculo médio das imagens de refletância de superfície que permitiram analisar o comportamento espectral das fisionomias tratadas anteriormente, para as bandas 1 (620 670nm), 2 (841 876nm), 3 (459 479nm), 4 (545 564nm), e 6 ( 1628 1652nm) do sensor MODIS, e também para as imagens frações geradas pelo MLME. Depois de verificada a consistência dos dados, eles foram analisados na forma de gráficos através de planilha eletrônica do Excel. Os dados utilizados para análise da pluviosidade da região são referentes ao radar meteorológico TRMM (Tropical Rainfall Measuring Mission), dos quais os parâmetros foram definidos como índice de chuva em mm/hr, para os meses do ano de 2006. 3. Resultados e Discussão A tabela 1 mostra a representatividade em termos de remanescentes florestais nos municípios estudados. Tabela 1. Área dos remanescentes florestais. Fonte: Governo do Estado de São Paulo. Secretaria do Meio Ambiente. Relatório de Qualidade Ambiental do Estado de São Paulo, 2006. Disponível em: http://www.ambiente.sp.gov.br/. Pode-se observar que grande parte dos municípios possui ainda um significativo percentual de fragmentos ou manchas contínuas da tipologia da vegetação Atlântica, na 2849

maioria acima de 20% (exceto Redenção da Serra e Jambeiro), o que permite uma adequada acurácia no levantamento com imagens orbitais de moderada resolução espacial, como aquelas do sensor MODIS. A Figura 3 apresenta o índice pluviométrico da região, a partir de dados TRMM em unidades de mm/hr. Nesse gráfico observa-se o comportamento típico da precipitação da região, com estações chuvosa e seca, bem definidas. As maiores intensidades de precipitação são encontradas nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março, e os menores nos meses de junho, julho e agosto. Este indicador pluviométrico é de fundamental importância, já que o vigor vegetativo está amplamente associado à variação hídrica. Figura 3. Índice de precipitação em mm/hr mensais para o ano de 2006. Fonte: http://disc2.nascom.nasa.gov/giovanni/tovas/trmm_v6.3b43.shtml. Banco de dados da NASA. As análises derivadas das imagens de refletância de superfície e das imagens fração para cada fisionomia estão apresentadas na Figura 5, onde o eixo y representa as medidas de refletância e as proporções de vegetação e solo (%), e o eixo x representa as datas das imagens MODIS que foram utilizadas neste trabalho. Figura 5. Gráficos de refletância (a) e de proporção de vegetação e solo (b) da fisionomia MATA para o ano de 2006. Na fisionomia MATA, os valores de refletância de superfície tiveram algumas influências por conta da presença de nuvens, como demonstram as datas de 27-fev. e 13-jul., que apresentaram nos seus resultados valores altos, e não foram acompanhados pela proporção 2850

representadas pela fração vegetação. Já na data de 11-set. há um aumento de proporção vegetação sem obter um comportamento semelhante para a refletância, isto pode estar associado à mudança do índice pluviométrico que teve um aumento significativo do mês de agosto para setembro. Neste caso, mesmo tendo valores dos níveis de refletância mais baixos, a fração vegetação conseguiu detectar um aumento na proporção de vegetação. As datas que apresentaram menores valores tanto de refletância quanto de proporção de vegetação estão no mês de junho, o qual também apresentou o menor índice pluviométrico de todo o ano, e por conta de ser um período mais seco, a fisionomia perde seu vigor vegetativo, influenciando em seus valores. No entanto, pode-se observar que há maior influência de superfícies de fundo, como o aumento da proporção apresentado pela fração solo, principalmente nas datas 24-abr e 19-jun. A primeira pode estar associada às mudanças dos padrões pluviométricos que vinham apresentando altos índices de precipitação, ocorrendo, contudo uma queda brusca no mês de abril; na segunda data, junho, por haver menores valores de precipitação. Figura 6. Gráfico de refletância (a) e de proporção de vegetação e solo (b) da fisionomia MANGUE para o ano de 2006. Na fisionomia MANGUE, há influência de nuvem no período mais chuvoso identificadas nas datas 25-dez, 13-jan e 02-mar. Nesta última data há ausência de valor nas frações vegetação e solo, pois há dificuldade em detectar o pixel puro representativo para a área desta fisionomia. Isto irá acontecer com mais intensidade nesta fisionomia, que por se encontrar em áreas sob influência diária do nível das marés, não encontra naquela fisionomia uma curva característica do solo. Num período de transição de estações, entre agosto e setembro, observa-se uma característica semelhante à fisionomia MATA, ou seja, um aumento da proporção na fração vegetação e diminuição da refletância (11-set), demonstrando também para esta fisionomia que a fração vegetação permite identificar variações no padrão estrutural típico dessa vegetação no período investigado. 2851

Figura 7. Gráfico de refletância da fisionomia DECREMENTO DE MATA (a) e respectivas configurações de proporção de vegetação e solo para o ano de 2006 (b). No caso da fisionomia DECREMENTO DE MATA, designada como perda ou degradação da cobertura vegetal primária, a fração solo aparece repetidas vezes maior que a fração vegetação, o que qualifica esse produto MODIS para detectar tais resultantes de processo antrópico na região, considerando a resolução e escala do fenômeno investigado. Este comportamento pode ser ainda melhor observado nas datas dos meses com menor índice pluviométrico (13-jan, 1-mai, 7-jun, 20-jun, 20-jul, 5-ago, 8-set), onde a proporção solo foi maior que a fração vegetação, mostrando que houve influência do regime pluviométrico. Isto demonstra que mesmo em áreas com pouca proporção de vegetação e mais áreas de superfícies de fundo, como solo, a vegetação tende a ter um acompanhamento do regime pluviométrico para esta região. Figura 8. Gráfico de refletância da fisionomia RESTINGA para o ano de 2006 (a) e das respectivas proporções de vegetação e solo para o ano de 2006 (b). 2852

Na fisionomia RESTINGA há algumas datas no período chuvoso que também influenciaram no comportamento da vegetação apresentadas nas datas 16-jan, 28-fev, 11-set e 25-dez, por haver certo percentual de cobertura de nuvens que interferiram tanto na refletância quanto na geração das imagens fração. Um exemplo de caso na análise dessa fisionomia foi encontrado para o mês de julho (13-jul), onde a proporção vegetação sofreu uma queda e os valores de refletância foram altos, visto que mesmo estando na estação seca houve presença elevada de nuvens. Comparado aos meses de junho e agosto teve um índice pluviométrico bastante superior, o que pode ter interferido nos valores desta data. 4. Conclusões A análise das fisionomias encontradas em área de Mata Atlântica mostrou estar amplamente associadas às variações hídricas da região, visto que o comportamento da vegetação demonstrou acompanhar o regime de chuvas. No entanto, pode-se verificar que para algumas fisionomias, MATA e MANGUE, houve uma maior eficácia por parte das imagens fração vegetação na detecção das mudanças fisiológicas, demonstrando que o tratamento metodológico para análises da influência dos parâmetros meteorológicos, como precipitação, pode ser realizado a partir da utilização do MLME. Cabe salientar, a importância da realização de estudos que utilizem outros tipos de produtos MODIS, o que pode permitir à análise da sensibilidade de certos parâmetros sensoriados, como aqueles derivados, por exemplo, de índices de vegetação. Agradecimentos: Ao Programa Institucional de Bolsas de iniciação Científica (PIBIC) junto ao CNPq pelo financiamento da bolsa. Referências Bibliográficas Anderson, L. O.; Shimabukuro, Y. E., Classificação espectro-temporal de formações vegetais. In: Rudorff, B. F. T.; Shimabukuro, Y. E.; Ceballos, J. C. (Org.). O sensor MODIS e suas aplicações no Brasil. São José dos Campos: Editora Parêntese, 2007. cap. 20, p.277-294. Cross, A. M.; Settle J. J.; Drake N. A.; Paivinen R. T. M.. Subpixel measurement of tropical forest cover using AVHRR data. International Journal of Remote Sensing, v. 12, n. 5, p. 1119 1126, 1991. Folhes M. T.; Fisch G., Caracterização climática e estudo de tendências nas séries temporais de temperatura do ar e precipitação em Taubaté (SP). Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 1, n. 1, p. 61-71, 2006. Gurgel, H. C.; Ferreira, N. J., Annual and interannual variability of NDVI in Brazil and its connections with climate. International Journal of Remote Sensing, v.24, n. 18, p. 3595-3609, 2003. Haertel V. F.; Shimabukuro Y. E., Spectral Linear Mixing Model in Low Spatial Resolution Image Data. IEEE Transactions on Geoscience and Remote Sensing, vol. 43, no. 11, 2005. http://disc2.nascom.nasa.gov/giovanni/tovas/trmm_v6.3b43.shtml Banco de dados da NASA. Huete, A. R.; Kamel, D.; Shimabukuro, Y. E.; Ratana, P.; Saleska, S. R.; Hutyra, L. R.; Yang, W.; Nemani, R. R.; Myneni, R. Amazon rainforests green-up with sunlight in dry season. Geophysical Research Letters, V. 33, N. l06405, P. 1-4, 2006. Lee, R.; Yu F.; Price K. P.; Ellis J.; Shi P. Evaluating vegetation phenological patterns in winner Mongolia using NDVI time-series analysis. International Journal of Remote Sensing, v.23, n.12, p. 2505 2512, 2007. Trishchenko, A. P.; Cihlar, J.; Li Z., Effects of spectral response function on surface reflectance and NDVI measured with moderate resolution satellite sensors. Remote Sensing of Environment. 2001. 2853

Ribeiro, C. A. D.; Xavier, A. C.; Ferrerira D. S.; Paiva, Y. G. Banco de dados temporal de imagens NDVI do sensor MODIS para o Espírito Santo. Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, p. 6075-6081, 2007. Roy, P. S.; Joshi, P. K., Forest cover assessment in north-east India the potential of temporal wide swath satellite sensor data (IRS-1C WiFS). International Journal of Remote Sensing, v. 23, n. 22, p. 4881-4896, 2002. Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Macrozoneamento do Litoral Norte: plano de gestão costeiro. Série Documentos/ Secretaria do Meio Ambiente São Paulo, 1996. Governo do Estado de São Paulo. Secretaria do Meio Ambiente. Relatório de Qualidade Ambiental do Estado de São Paulo, 2006. Disponível em: http://www.ambiente.sp.gov.br/. SOS Mata Atlântica. Informações dos Atlas dos Remanescentes Florestais. Disponível em: http://mapas.sosma.org.br/dados/. Shabanov, N. V.; Huang, D.; Yang, W.; Tan, B.; Knyazikhin, Y.; Myneni, R. B.; Ahl, D. E.; Gower, S. T.; Huete, A. R.; Aragão, L. E. O. C.; Shimabukuro, Y. E., Analysis and optimization of the MODIS leaf area index algorithm retrievals over broadleaf forests. IEEE Transactions on Geoscience and Remote Sensing, v. 42, n. 8, p. 1855-1865, 2005. Smith, R. L.; Smith, T. M., Elements of Ecology. San Franscisco: Benjamin Cummings, p. 682, 2003. White, M. A.; Hoffman, F.; Hargrove, W. W.; Nemani, R. R., A global framework for monitoring phenological responses to climate change. Geophysical Research Letters, v. 32, n. L04705, p.1-4, 2005. Xavier, A. C.; Vettorazzi, C. A., Monitoring leaf area index at watershed level through NDVI from Landsat- 7/ETM+ data. Scientia Agricola, V. 61, N. 3, P. 243-252, 2004. 2854