Avaliação da Produtividade do Milho em Resposta a Adubação de Nitrogênio em Cobertura Via Solo e Via Foliar Dorneles, J.G. L. (1), Silva, A. M (2), Santana, J. S. (3) e Ruviaro. C. (4) 1 Graduando em Agronomia, URI e-mail: agro.jonas@hotmail.com; 2 graduanda em Agronomia, URI, e-mail: angel_marian21@hotmail.com; 3 Mestranda em Agronomia, UnB,e-mail: jaiciclenia@hotmail.com; 4 Doutor em Agronomia, professor na URI, e-mail: ruviaro@urisantiago.br Palavras-chave: Nitrogênio, adubação foliar, Zea mays. Introdução O milho (Zea mays L.) é uma das culturas de maior importância para o Brasil, está entre uma das principais fontes de renda do Agronegócio brasileiro, sendo que para a safra 2007/2008 houve uma produção acima de 50 milhões de toneladas, o que representa 6,4 % da produção mundial (BOZZA, 2007). A cultura do milho usualmente requer adubação nitrogenada em cobertura para complementar a quantidade suprida pelo solo, quando se deseja produtividade elevada (COELHO et al., 1992). Em plantas de milho há uma intensa absorção de nitrogênio (N) nas fases iniciais de desenvolvimento, sendo a deficiência deste uma das maiores limitações à produtividade. O conhecimento dos processos envolvidos na incorporação e transformação do N no sistema solo-planta-atmosfera é imprescindível ao desenvolvimento de estratégias de manejo que aumentem o seu aproveitamento pelas culturas. Na falta de N, o processo de divisão celular é retardado nos pontos de crescimento, resultando em redução da área foliar e do tamanho da planta (ARNON, 1975), com reflexos no rendimento de grãos. O método de adubação nitrogenada na cultura do milho utilizada atualmente preconiza a aplicação de parte da dose de N na semeadura e o restante quando a planta apresentar de quatro a oito folhas expandidas (RAIJ, 1996). Porém no caso do milho, o aproveitamento raramente ultrapassa 50 % do aplicado como fertilizante mineral (LARA CABEZAS et al., 2004). Isto porque o N aplicado no solo está sujeito a perdas por lixiviação, escorrimento superficial, desnitrificação, volatilização da amônia e pela imobilização na biomassa microbiana (ALVA et al., 2005). Assim, o aumento da produtividade de grãos depende, entre outros fatores, da eficiência da absorção de N e sua translocação para os grãos em crescimento, onde ocorrerá a formação de compostos de reserva. A suplementação nitrogenada via foliar é uma prática conveniente e rápida para melhorar as respostas ao mineral e, conseqüentemente, o crescimento da planta e para corrigir deficiências nutricionais em estádios da cultura onde a aplicação no solo torna-se ineficiente, tendo em vista o tempo de absorção e resposta (HARPER, 1984). Nos adubos foliares encontrados comercialmente, o N quase sempre está presente nas misturas com micronutrientes. Argumenta-se que a aplicação foliar é um meio eficiente de se fornecer N às plantas. Neste contexto, a uréia auxiliaria a absorção dos micronutrientes contidos na solução aplicada nas folhas, resultando em maior desenvolvimento e produtividade das plantas (BOARETTO et al., 1999). No entanto, pouco se conhece da aplicação de uréia via foliar como fonte isolada de N durante o estádio vegetativo de plantas de milho. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo avaliar o efeito de doses do N em aplicações via solo e via foliar, na cultura do milho. 992
Material e Métodos O experimento foi conduzido no ano agrícola de 2009/2010, em estufa climatizada localizada na área experimental do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões-URI, Campus de Santiago RS, cujas coordenadas geográficas são: Latitude 29 09 50 S, Longitude 54 51 32 W e Altitude de 439 m. O clima da região, de acordo com a classificação climática de Köppen, é o Cfa (MORENO, 1961). O solo do local é classificado como Argissolo Vermelho-amarelo com textura argilosa, relevo ondulado e substrato balsalto (EMBRAPA 1999), cujas características químicas determinadas analiticamente, se encontram na Tabela 1. Tabela 1. Análise química do solo na profundidade de 0-20cm. ph % MO P-Mehlich H + Al K Ca Mg H 2 O m/v Mg/dm³ Cmol c /dm³ 5,1 2,6 9,3 5,5 0,45 3,0 1,6 A cultura utilizada foi a do milho (Zea mays), com o híbrido da Syngenta Formula TL de ciclo super precoce, semeado em casa de vegetação com temperatura controlada, com uma população de 66.000 plantas ha - ¹ e espaçamento de 45 cm. As sementes receberam tratamentos com fungicida e inseticida. Todos os tratamentos receberam 40, 62, 50 kg ha -1 de N, P 2 0 5 e K 2 O, respectivamente, no plantio. O delineamento utilizado foi em blocos casualizados com oito repetições. Os componentes da produção estudados foram: altura de inserção de espigas, altura de planta, diâmetro de colmo, grãos por espiga, peso total de grãos planta, peso de 1000 grãos e produtividade. Os tratamentos utilizados no experimento constaram de duas aplicações em cobertura, sendo uma via solo e outra foliar, com doses de um fertilizante foliar comercial com formulação 16% de Nitrogênio, 3% de Fósforo, 4% de Potássio, 1% de Magnésio, 1% de Cobre, 1% de Molibdênio, 2% de Zinco e 0,5% de Boro por litro. Sendo o primeiro tratamento (T1) - 150 Kg ha -1 de N na forma de Uréia em cobertura; o segundo tratamento (T2) - 4 l ha -1 (dose recomendada do fertilizante foliar) ; o terceiro tratamento (T3) - 8 l ha -1 (duas vezes a dose recomendada do fertilizante foliar) e o quarto tratamento (T4) - 12 l ha - 1 (três vezes a dose recomendada do fertilizante foliar). Para o T1 a dose de N foi aplicada em três momentos, sendo o primeiro quando a planta de milho encontrava-se com 4, 8 e 12 folhas. Os tratamentos com o fertilizante foliar foram aplicados por pulverização manual, quando a planta atingiu o estágio de desenvolvimento de 6 folhas. O monitoramento das irrigações foi feito através de minitanque evaporímetro, instalado dentro da estufa climatizada, sendo a cultura irrigada sempre que a evapotranspiração máxima (ETm) acumulava o valor de 25 mm. A colheita foi realizada, manualmente, quando o milho apresentava maturação fisiológica. Para a determinação de altura de planta, diâmetro de colmo, peso de mil grãos e peso total dos grãos da espiga, foram escolhidas, ao acaso, três plantas em cada parcela. O teor de umidade dos grãos foi corrigido para 14%. Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente através do programa ASSISTAT, sendo realizada análise de variância e teste F em nível de 5% de probabilidade, e as médias analisadas por regressão. 993
Resultados e Discussão Para o diâmetro do colmo encontrou-se diferenças significativas (Tabela 2). As aplicações de N através do solo resultaram em colmos com diâmetro significativamente maiores que as aplicações foliares. Segundo Fancelli e Dourado-Neto (2000), o colmo atua como estrutura de armazenamento de sólidos solúveis que serão utilizados posteriormente, na formação dos grãos. Tabela 2. Quadrado médio da análise de variância para diâmetros de colmo de plantas de milho, submetidas a quatro doses de N Santiago-RS, 2010. Reg. Linear 1 2.21606 2.21606 1.3697 ns Reg. Quadrática 1 0.00070 0.00070 0.0004 * Tratamentos 3 2.97438 0.99146 0.6128 Blocos 7 8.84057 1.26294 0.7806 ns Resíduo 21 33.97694 1.61795 Total 31 45.79190 (0.1 = < p <. 05). ns não significativo ( p>=. 05). CV%= 6.44 Em relação à altura da planta e inserção de espiga não foram encontradas diferenças significativas, em nível de 5% de probabilidade para os diferentes tratamentos e níveis de aplicação (Tabela 3 e 4), pois o N residual da adubação de base foi suficiente para fazer com que a planta atingissem a altura ideal segundo seu potencial genético, o mesmo foi encontrado por Deuner et al., 2008. Tabela 3. Quadrado médio da análise de variância para altura da plantas de milho tratadas com diferentes formas de aplicação. Reg. Linear 1 207.61692 207.61692 1.5011 ns Reg. Quadrática 1 1.35301 1.35301 0.0098 ns Tratamentos 3 337.45634 112.48640 0.9290 ns Blocos 7 2349.90159 335.70023 0.8133 Resíduo 21 2904.55186 138.31199 2.4271 ns Total 31 5591.90979 (0.1 = < p <. 05). ns não significativo ( p>=. 05). CV%= 4.91 Tabela 4. Quadrado médio da análise de variância para altura de inserção de espiga tratadas com diferentes formas de aplicação. Reg. Linear 1 34.22500 34.22500 1.2100 ns Reg. quadrática 1 36.98000 36.98000 1.3074 ns Tratamentos 3 78.43000 26.14333 0.9243 Blocos 7 442.81000 63.25857 2.2364 ns Resíduo 21 594.00000 28.28571 Total 31 1115.24000 (0.1 = < p <. 05). ns não significativo ( p>=. 05). CV%= 4.98 994
Na Tabela 5, encontra-se o quadrado médio da análise de variância referente ao número de grãos por espiga. Encontrou-se diferença significativa para o tratamento com a aplicação de N em cobertura via solo, em relação aos demais tratamentos com aplicação de N via folha. No entanto, para o aumento das doses de N via folha, não foi encontrado aumento de grãos por espiga. Tabela 5. Quadrado médio da análise de variância para o número de grãos por espiga com diferentes doses e formas de aplicação de N. Reg. Linear 1 74403.56306 74403.56306 5.6322 * Reg. quadrática 1 13587.76125 13587.76125 1.0286 ns Tratamentos 3 92865.48438 30955.16146 2.3433 Blocos 7 22209.54125 3172.77875 0.2402 ns Resíduo 21 277416.01438 13210.28640 Total 392490.95000 (0.1 = < p <. 05). ns não significativo ( p>=. 05) CV% = 33.51 Em relação ao peso de mil sementes, não foi encontrado variação significativa nos tratamentos de N (Tabela 6). O mesmo foi encontrado por Silva et al. (2003), que estudando doses de N na cultura do milho, não observaram efeito significativo no peso de 1000 grãos. Tabela 6. Quadrado médio da análise de variância para o peso de mil grãos. Reg. Linear 1 608.18552 608.18552 0.8682 ns Reg. quadrática 1 1200.63475 1200.63475 1.7140 ns Tratamentos 3 1959.25759 653.08586 0.2148 ns Blocos 7 3689.01163 527.00166 0.9323 Resíduo 21 14710.03534 700.47787 0.7523 Total 31 20358.30456 (0.1 = < p <. 05). ns não significativo ( p>=. 05) CV%= 13.15 Em plantas de milho há uma intensa absorção de N nas fases iniciais de desenvolvimento, sendo a deficiência deste uma das maiores limitações à produtividade, como esse elemento encontra-se em quantidades insuficientes na maioria dos solos, é necessário seu fornecimento (Belarmino et al., 2003). O aumento na produção de grãos apresentou diferença significativa (Tabela 7), pois o nitrogênio tem um papel fundamental no metabolismo vegetal, e por participar diretamente na biossíntese de proteínas e clorofilas (ANDRADE et al., 2003). 995
Tabela 7. Quadrado médio da análise de variância para produção em kg/ha -1. Reg. Linear 1 77275.08789 77275.08789 11.8041 ** Reg. quadrática 1 39590.86953 39590.86953 6.0477 * Tratamentos 3 120162.45156 40054.15052 6.1184 Blocos 7 33129.73380 4732.81911 0.7230 ns Resíduo 21 137475.81752 6546.46750 Total 31 290768.00287 (0.1 = < p <. 05). ns não significativo ( p>=. 05) CV % = 31,73 Conclusão A resposta da aplicação de nitrogênio em cobertura por meio do solo demonstrou melhores resultados para o diâmetro de colmo e número de grãos por espiga. A aplicação de nitrogênio foliar mesmo com o aumento da concentração, não substituiu a aplicação de nitrogênio pelo solo. Referências bibliográficas ALVA, A. K.; PARAMASIVAM, S.; FARES, A.; DELGADO, J. A.; MATTOS JUNIOR, D.; SAJWAN, K. Nitrogen and irrigation management practices to improve nitrogen uptake efficiency and minimize leaching losses. Journal of Crop Improvement, Binghamton, v. 15, n. 2, p. 369-420, 2005 ANDRADE, A. C.; FONSECA, D. M.; QUEIROZ, D. S.;SALGADO, L. T.; CECON, P. R. Adubação nitrogenada epotássica em capim-elefante (Pennisetum purpureumschum. cv. napier). Ciência eagrotecnologia, Lavras, p.1643-1651, 2003. ARNON, I. Mineral nutrition of maize. Bern: International Potash Institute, 1975. 452p. BOARETTO, A. E.; SANTOS NETO, P.; MUROAKA, T.; OLIVEIRA, M. W.; TRIVELIN, P. C. O. Fertilização foliar de nitrogênio para laranjeira em estágio de formação. Scientiae Agrícola, 1999. BOZZA, G. Estimativa de safra de milho nos EUA. FAEP, Boletim Técnico 974, Setembro, 2007 BELARMINO, M. C. J.; PINTO, J. C.; ROCHA, G. P.;FERREIRA NETO, A. E.; MORAIS,A. R. de. Altura deperfilho e rendimento de matéria seca de capim-tanzâniaem função de diferentes doses de superfosfato simples esulfato de amônio. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.27, n. 4, p. 879-885, 2003. 996
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