Perspectivas Em Diálogo Revista de Educação e Sociedade

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Transcrição:

14 Resumo USO DE DROGAS ENTRE DISCENTES DO CURSO DE PEDAGOGIA Antonio Xavier da SILVA 1 Luci Mara BERTONI 2 Esta pesquisa tem como objetivo desmistificar a representação de que não há uso de drogas entre as mulheres do Curso de Pedagogia por ser este de predominância feminina. Para conceituar o que são drogas, usuários e dependentes, e níveis de prevenção, foi feito um estudo bibliográfico sobre a temática nas obras de Aratangy (1998), Araujo (2009), Lapate (2001), Lorencini Jr. (1998), Palomo (2009), Rocha (1991), dentre outros. A pesquisa foi de caráter qualitativo, foram aplicados 100 (cem) questionários às alunas do Curso de Pedagogia, com 22 questões. Na análise e na apresentação dos dados foi possível perceber que a mistificação de que as estudantes de Pedagogia não utilizam entorpecentes, não é algo que se verifica na prática. Palavras chave: Drogas. Mulheres. Curso de Pedagogia. DRUG USE AMONG STUDENTS OF COURSE PEDAGOGY Abstract This research aims to demystify the representation that no drug use among women in the School of Education because this is predominantly female. To conceptualize what are drug users and addicts, and levels of prevention, a bibliographic study on the subject was made in the works of Aratangy (1998), Araujo (2009), Lapate (2001), Lorencini Jr. (1998), Palomo (2009), Rock (1991), among others. The research was qualitative, one hundred (100) questionnaires to the students of the School of Education, with 22 questions was applied. In the analysis and presentation of data was possible to see that the mystification that students do not use drugs Education is not something that occurs in practice. Keywords: Drugs. Women. Pedagogy Course. Iniciamos nossas incursões pela temática das drogas considerando que há muitos preconceitos e desconhecimento em relação a um problema social tão complexo que assola, de algum modo, a todas as sociedades. Diversos países ora liberam ora condenam, ora tornam legais ora são repressores e a questão que está posta é que a humanidade sempre fez uso de algum tipo de substância psicoativa seja em rituais ou fora deles como busca de 1 Graduado em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero, Políticas, Álcool e Drogas (GePAD). E-mail: antonioxavier20@hotmail.com 2 Professora Titular do DFCH/UESB. Doutora em Educação Escolar e coordenadora do GePAD. E-mail: profaluci.mara@hotmail.com

15 transcendência ou do próprio desejo de encontrar algo que não lograva achar com os recursos oferecidos. Na maioria das sociedades prevalecem os costumes e aprendizados de práticas androcêntricas nas quais as mulheres, por vezes, sequer são consideradas e a busca de prazer também não lhes parece permitida. Na comunidade universitária convivemos com os mesmos preconceitos e estereótipos. Por exemplo, é comum que se diga que os usuários de drogas são dos cursos da área de Ciências Humanas, tais como Ciências Sociais, História ou Filosofia, para citar alguns. E é praticamente inadmissível que se associe a imagem das futuras pedagogas como possíveis usuárias de tais substâncias, isso se dá basicamente por dois motivos: primeiro o fato de serem mulheres (em sua maioria), segundo porque desconhecimento do que são drogas. Assim, por conta da relação com a feminização do magistério, tem-se a representação que as alunas do Curso de Pedagogia não fazem uso de drogas. Esta ideia pressupõe o fato de a Graduação de Pedagogia ser basicamente constituída por mulheres, trazendo assim o sentido da maternidade, já que as proximidades das atividades do magistério como zelar, cuidar, educar, amar e ensinar, são praticamente as mesmas com as exigidas para a função de mãe (CASTANHA, 2010, p. 130). A mãe por sua vez, geralmente, é muito zelosa com seus filhos, busca sempre ser um bom exemplo, sendo-as capaz de abster-se de muitas coisas, inclusive de entorpecentes, para o bem dos mesmos. Apesar de o Curso ter a representação de maternidade, não se pode esquecer que, quando se trata da questão das drogas, todos nós estamos sujeitos a usar e a nos tornar dependentes. E além do mais, são vários os motivos que podem levar uma pessoa a usar drogas: problemas pessoais e sociais, influência de amigos, publicidade de fabricantes de drogas lícitas, sensação imediata de prazer que a droga produz, facilidade de acesso e obtenção, desejo ou impressão de que elas podem resolver todos os problemas ou aliviar as ansiedades, ficar acordado ou dormir profundamente, emagrecer ou engordar, esquecer ou memorizar algo, fugir ou enfrentar problema, aliviar dores, tensões, angústias, depressões, aguentar situações difíceis, privações e carências, encontrar novas sensações, novas satisfações, força do hábito, revolta dos filhos contra os pais, entre outros. E ninguém está livre disso. (ARATANGY, 2008). Assim, é possível afirmar que as drogas podem estar em qualquer lugar, por isso, o Curso de Pedagogia, mesmo com a representação que tem, não fica fora dessa problemática. Para referendar tal afirmação, é preciso considerar primeiro a definição que permeia nosso estudo. Com relação às drogas, os autores Lapate (2001), Lorencini JR. (1998), Araujo (2009), Rodrigues (2003), Palomo (2009), Rocha (1991) e Pedro (2009), bem como informações do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid, 2011), afirmam que estas são substâncias psicoativas, que agem no sistema nervoso central modificando suas funções. Legalmente, podem ser lícitas ou ilícitas. As drogas podem ser sintéticas ou naturais, e quanto aos efeitos podem ser classificadas em depressoras, estimulantes ou perturbadoras (alucinógenas). Existem vários tipos de usuários que podem ser classificados em usuários experimentadores, frequentes e dependentes. Assim como não se pode caracterizar todas as drogas como iguais, tampouco se pode dizer em relação aos usuários. Há uma preocupação atual com o uso abusivo de drogas e muito se tem falado em prevenção a este uso e/ou abuso de tais substâncias. Segundo os autores Aratangy (1998), Lapate (2001), Tozzi e Bouer (1998) e Lorencini JR. (1998) para prevenir que as pessoas não usem e/ou abusem das drogas é necessário fazer a prevenção, que pode ocorrer em três níveis:

16 primário antes que a pessoa tenha o primeiro contato com a droga; secundário depois que a pessoa já teve o primeiro contado com algum entorpecente; e terciário quando a pessoa já apresenta sinais de dependência. Feitas estas considerações fizemos uma pesquisa qualitativa com as graduandas do Curso de Pedagogia buscando desmistificar a ideia de que por estarem em curso que habilitará profissionais para o trabalho com crianças e por ser uma graduação constituída basicamente por mulheres, o que por sua vez traz consigo a ideia de cuidados maternos, essas mulheres nunca foram usuárias de algum tipo de substância psicoativa. Embora constatemos, na prática, que isso não se verifica, este fato não diminui em nada o valor que se deve à profissão de professora e à formação inicial no Curso de Pedagogia nem desqualifica as mulheres que foram entrevistadas. A pesquisa qualitativa foi realizada no Curso de Pedagogia de uma universidade pública nos turnos matutino e noturno. A escolha da universidade como espaço para a realização da pesquisa decorre do fato de ser uma instituição bem conceituada e a única a oferecer o Curso de Pedagogia na modalidade presencial na região. Foram aplicados 100 (cem) questionários que correspondem a uma amostra probabilística acima de 30% de um universo de 313 alunas. Antes da aplicação dos questionários foi feito um questionário piloto entre dez alunas com 14 questões. Após verificação e correção das possíveis lacunas, refizemos o questionário e o definitivo com 22 questões foi aplicado a 100 estudantes escolhidas aleatoriamente e que se dispuseram a colaborar com a pesquisa. A análise dos dados coletados foi feito à luz dos principais conceitos delineados na pesquisa. Nota-se que a representação que se tem do Curso de Pedagogia é de que as alunas não fazem uso de drogas, por conta da relação com a feminização do magistério. Esta representação pressupõe o fato de o Curso de Pedagogia ser basicamente constituído por mulheres, trazendo a ideia da representação da maternidade. Já que as proximidades das atividades do magistério com as exigidas para a função de mãe, são praticamente as mesmas (CASTANHA, 2010, p. 130). Para uma melhor compreensão, acerca dessa temática, utilizamos autores como Freire (1994) e Louro (2006), que escrevem sobre as mulheres na sala de aula, fazendo um apanhado histórico da educação da mulher e a mulher na educação. Devemos lembrar que, apesar do curso de Pedagogia ter essa representação materna, quando se trata das drogas, toda pessoa está sujeita a usar e a se tornar dependente. Todo ser humano tem essa possibilidade (ARATANGY, 2008). Por meio dos dados coletados, foi possível observar que a maioria das discentes da graduação de Pedagogia faz uso de substância psicoativa, sendo o álcool a mais usada. Na questão onde foram marcadas mais de uma alternativa, quando perguntado se as alunas já fizeram ou fazem uso de drogas, como cerveja, vinho, cigarro, maconha, ecstasy, calmante, antidepressivo, 61% faz ou fez uso de cerveja, 77% de vinho, 15% de cigarro, 6% de maconha, 1% de ecstasy, 12% de calmante, 6% de antidepressivo e 14% responderam que nunca fizeram uso de drogas. Observa-se que somente 14% respondeu que não fez ou não faz uso de drogas. Aqui levamos em consideração que droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que, introduzida no organismo humano, modifica as funções do sistema nervoso central. Nesse sentido, as bebidas alcoólicas, os calmantes, antidepressivos e tabaco, são substâncias que modificam as funções do sistema nervoso do ser humano, por isso, são drogas (LAPATE, 2001, p.27). É relevante considerarmos que, o fato do cigarro (tabaco), a cerveja e o vinho serem drogas liberadas na sociedade brasileira, leva muitas pessoas a acreditarem que elas não

17 são drogas, tendo assim, uma visão de que droga é apenas aquilo que é proibido, que não é permitido, que é ilícito. Notou-se em outra questão que 63% das alunas fez uso de bebidas alcoólicas no último ano. É importante ressaltarmos que 56% das discentes disseram que experimentaram bebidas alcoólicas pela primeira vez antes dos 18 anos de idade (entre os 7 aos 17 anos). Percebeu-se em outra questão que 74% das graduandas considera a cerveja e 66% considera o vinho como sendo droga. Quando foi perguntado quem havia oferecido bebidas alcoólicas às discentes pela primeira vez, 44% disse que foram as amigas e 21% afirmou que foram os próprios familiares. Observa-se, como mostram os dados, que os principais responsáveis para que as alunas tivessem sua primeira experiência com drogas foram as pessoas mais próximas, as amigas e os familiares. Afirma 78% das entrevistadas que seus familiares fazem uso abusivo de bebidas alcoólicas com bastante frequência. Salientamos que 60% dessas discentes tem o habito de beber frequentemente, sendo que 15% delas bem com mais frequência em barzinhos, 16% na própria casa e 29% apenas em festas. No que se refere ao uso das bebidas alcoólicas pelas graduandas, 21% declarou que bebe cerveja e 27% afirmou que prefere vinho. Como se observa por meio desses dados, há o uso elevado de álcool por parte das alunas. Mas, apesar dessa alta porcentagem do uso constante do álcool, apenas 6% delas declarou já ter se embriagado (tomado um porre) no último mês. Porém, 60% das discentes afirmou que costuma beber de modo frequente. Diante dos dados e da proposta inicial da pesquisa, podemos considerar que a relevância do tema em estudo pelo caráter de desfazer alguns mitos e de pensarmos om mais clareza e seriedade sobre o assunto. É relevante apontarmos aqui, que para fazer essa pesquisa no Curso de Pedagogia sem se falar das mulheres seria uma incoerência nossa, uma vez que historicamente, as mulheres vão tendo uma prevalência no Magistério, de modo especial, na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. No entanto, a feminização do magistério e a busca dos prazeres associados às drogas para as mulheres parece algo novo, uma vez que as mulheres, na época do Império ou até mesmo algumas décadas passadas, eram apenas preparadas para o casamento. E como o entendimento cultural não permitia a liberdade ao sexo feminino à autonomia para poder trabalhar fora de casa. Assim, os afazeres domésticos eram tidos como mais importantes que qualquer outra formação. Por outro lado, à mulher também não era permitido usufruir do prazer, principalmente aos sexuais. Com o passar dos anos, o magistério que era coisa de homem, foi se esvaziando dos mesmos, que com a urbanização e industrialização tiveram maiores oportunidades de trabalho e foram atraídos por outras profissões. Esse fato legitimava assim a feminização do magistério. Com os diversos movimentos em favor da liberação e do reconhecimento do ser mulher, a chamada revolução sexual também contribuiu para que alguns comportamentos fossem revistos e considerados. Nesta pesquisa, observamos que a mistificação de que as alunas do Curso de Pedagogia não usam drogas por conta de ser uma graduação que forma pessoas para trabalharem com crianças e por ser formado em sua maioria por mulheres que, por sua vez, trazem consigo a ideia de maternidade, ou seja, de cuidados maternos, não é algo que se confirma na prática, uma vez que há uso de substâncias psicoativas (drogas) entre as alunas, e destas, as bebidas alcoólicas são as mais utilizadas pelas discentes. Estas alunas começaram a usar este tipo droga desde muito cedo, 56% delas afirmou ter experimentado álcool com idade

18 entre 7 a 17 anos, oferecido por amigas ou familiares. É importante ressaltarmos aqui que, 86% das futuras docentes declararam ter feito uso de alguma substância psicoativa. Salientamos que quando uma pessoa faz uso de modo constante de uma substância psicoativa, como por exemplo, o álcool, ela vai criando uma resistência a esta droga, consequentemente o organismo vai necessitando, cada vez mais, de uma quantidade maior da droga para se satisfazer. Isso pode levar a pessoa usuária a uma dependência da droga. Ressaltamos aqui, que não significa que uma pessoa ao fazer uso de determinada droga, como o álcool, ficará dependente dessa substância psicoativa, uma vez que isso vai depender de cada organismo. É sabido que o álcool é um psicoativo que está presente na sociedade desde antes de Cristo e, como afirmam alguns autores citados nesse trabalho, não houve cultura humana que não tenha feito experimento de bebidas com teor alcoólico. Além do mais, sabemos que na atual sociedade, as bebidas alcoólicas, como a cerveja é socialmente estimulada com ênfase maior nas propagandas televisivas. Os resultados aqui apresentados mostram que é mito afirmar que as alunas do Curso de Pedagogia não fazem uso de drogas. No entanto, é importante deixar claro, que o fato das discentes terem experimentado ou serem usuárias de entorpecentes em nada diminui seu valor pessoal e não tira o mérito da formação profissional. Porém, nos estimula à reflexão sobre a importância desse assunto nas faculdades, ou melhor, dizendo, no curso de formação de professores, visando assim atuar na prevenção primária junto aos professores da educação básica. Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2006. ARATANGY, Lídia Rosenberg. O desafio da prevenção. In: AQUINO, Julio Groppa (Org.). Drogas nas escolas: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Somos 1998. ARAUJO, Tarso. Proibir é legal? Super Interessante, São Paulo, n. 244, p. 62-71, out. 2007. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas CEBRID. Disponível em: <http://www.cebrid.epm.br/index.php>. Acesso em: 02 fev. 2011. FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo. Olho Dágua, 1994. LAPATE, Vagner. Hora zero: a independência das drogas: antes que os problemas cheguem. São Paulo: Scortecci, 2001. LORENCINI JR., Álvaro. Enfoque contextual das drogas: aspectos biológicos, culturais e educacionais. In: AQUINO, Julio Groppa (Org.). Drogas nas escolas: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Somos, 1998.

19 LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In: Del PRIORE, Mary. (Org.); História das mulheres no Brasil. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2006. PALOMO, Victor. A dependência química é de uma minoria. Le Monde Diplomatique Brasil, ano 3, n. 26, set. 2009. PEDRO, Aline. A consciência dos grupos de centros e diretórios acadêmicos da UNESP/Araraquara sobre o status ilegal da maconha. 2009. 232 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2009. RODRIGUES, Thiago. Política de drogas e a lógica dos danos. Revista Verve, São Paulo, Nu-Sol/PUC-SP, n. 3, 2003. Disponível em: <http://www.neip.info/index.php>. Acesso em: 18 jan. 2011. TOZZI, Devanil; BOUER, Jairo. Prevenção também se ensina. In: AQUINO, Julio Groppa (Org.). Drogas nas escolas: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998.