A MATÉRIA ORGÂNICA E SUA INFLUÊNCIA NAS FRAÇÕES GRANULOMETRICAS DO SOLO E NOS LIMITES DE ATTERBERG. Apresentação: Comunicação Oral

Documentos relacionados
Caracterização Física do Solo da Cidade de Palmeira dos Índios - AL

AULA 2: INTRODUÇÃO A MECÂNICA DOS SOLOS. MECÂNICA DOS SOLOS Prof. Augusto Montor

CARACTERIZAÇÃO GOTÉCNICA DE SOLOS PARA SUBSÍDIO AO PROJETO DE BARRAGEM DE TERRA

Compacidade das areias e Limites de Atterberg

Classificação dos Solos do Ponto de Vista da Engenharia

TC-033 LABORATÓRIO DE MECÂNICA DOS SOLOS

4 Caracterização Física, Química, Mineralógica e Hidráulica

Resumo sobre Plasticidade

Disciplina: Mecânica dos Solos e Fundações

Composição dos Solos

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL. Profª Aline Cristina Souza dos Santos

ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP DEPARTAMENTO DE

5 Caracterizações Física, Química e Mineralógica.

4 Caracterização física, química e mineralógica dos solos

ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO DO SOLO DE RCD DA REGIÃO NOROESTE DO RS 1 TESTS OF CHARACTERIZATION OF RCD SOIL IN THE NORTHWEST REGION OF RS

AULA 2 TC-033 LABORATÓRIO DE MECÂNICA DOS SOLOS. Prof. Caroline Tomazoni 08/03/2018

Laboratório de Mecânica dos Solos. Primeiro Semestre de 2017

5. Caracterização do Solo

Plasticidade e Consistência dos Solos. Mecânica de Solos Prof. Fabio Tonin

MECÂNICA DOS SOLOS PROF. AUGUSTO MONTOR LISTA DE EXERCÍCIOS 1

Artigo produzido na disciplina de Mecânica dos Solos I do Curso de Graduação em Engenharia Civil da Unijuí - Santa Rosa 2

DETERMINAÇÃO DO LIMITE DE LIQUIDEZ

TRANSPORTES E OBRAS DE TERRA

CLASSIFICAÇÃO GEOTÉCNICA: CARACTERIZAÇÃO DO SOLO DO BAIRRO VILA ISABEL NO MUNICÍPIO DE ITAJUBÁ MG

MECÂNICA DOS SOLOS I (TEC00259) O sistema água-argilomineral Propriedades dos Solos. Prof. Manoel Isidro de Miranda Neto Eng.

INFLUÊNCIA DA IDADE DE CURA NO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE BLOCOS SOLO-CAL

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

SOLO. Matéria orgânica. Análise Granulométrica

Teor de MO e Densidade de solos

Caracterização / Limites de Consistências

NOÇÕES DE SOLO. Rita Moura Fortes

Ensaios e Caracterização de Materiais. Prof. Lucas Máximo Alves. Aula Prática 4. Determinação dos Limites de Atterberg. Procedimento Experimental.

Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Título do Trabalho ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO CASCALHO DE PERFURAÇÃO DE POÇOS COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO.

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL - Laboratório de Mecânica dos Solos ENSAIO DE DETERMINAÇÃO DA MASSA ESPECÍFICA DOS SÓLIDOS

1. RESUMO 2. INTRODUÇÃO

RELAÇÃO ENTRE O TEOR DE LETA E PARÂMETROS DE COMPACTAÇÃO EM MISTURAS COM SOLO SILTOSO DA REGIÃO DE SANTA MARIA-RS

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS DE SINOP FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGIAS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL GEOTECNIA I

ESTUDO DIRIGIDO EM FÍSICA DO SOLO. Não estudar apenas por esta lista

Capítulo 3 Professora: Ariel Ali Bento Magalhães

Notas de aulas de Mecânica dos Solos I (parte 6)

CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DE MATERIAL DE DRAGAGEM DO CANAL DE ACESSO AO PORTO DO RIO GRANDE

7. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ROCHAS ALTERADAS/SOLOS

USO DE MASSAS CERÂMICAS DA REGIÃO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES PARA FINS ARTESANAIS.

Universidade Paulista Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia Departamento de Engenharia Civil Professora Moema Castro, MSc.

Análise da aplicação de rejeitos de ardósia em solo natural para pavimentação

DETERMINAÇÃO DA GRANULOMETRIA

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS - O ESTADO DO SOLO - ÍNDICES FÍSICOS

CLASSIFICACÃO E IDENTIFICACÃO DOS SOLOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRONÔMICA NUCLEO DE GEOLOGIA PROPRIEDADES DO SOLO. Profa. Marciléia Silva do Carmo

APROVEITAMENTO DA AREIA DE FUNDIÇÃO NA PRODUÇÃO DE TIJOLOS

Material Utilizado 51

Material de apoio. Granulometria do Solo. Granulometria do Solo

Disciplina: Mecânica dos Solos e Fundações

PRÁTICAS PARA A DISCIPLINA LABORATÓRIO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL 2 AGREGADOS

TEXTURA DO SOLO. Atributos físicos e químicos do solo -Aula 4- Prof. Alexandre Paiva da Silva

Parte 1: Conceitos Básicos GEOTÉCNICA. Granulometria

EFEITO DO CARBONO ORGÂNICO E DA TEXTURA SOBRE AS CURVAS DE COMPACTAÇÃO DE UM LATOSSOLO VERMELHO EM DOIS SISTEMAS DE MANEJO

Mecânica dos Solos I. Professora: Ariel Ali Bento Magalhães /

Objetivo. Material de apoio. Curso básico de mecânica dos solos (Carlos Souza Pinto, Oficina de Textos, 2006); Sumário

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS DE SINOP FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGIAS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL GEOTECNIA I

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

EFEITOS DA ADIÇÃO DE CONCRETO ASFÁLTICO FRESADO NO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE SOLOS

Solo-cimento UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL. SNP38D53 Técnicas de Melhoramento de Solos

6.2 MELHORAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS DE GRANULOMETRIA E PLASTICIDADE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

AULA 4: CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS. MECÂNICA DOS SOLOS Prof. Augusto Montor

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL. Profª Aline Cristina Souza dos Santos

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS DE SINOP FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGIAS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL GEOTECNIA I

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL. Agregados

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA PARAÍBA CAMPUS MONTEIRO CURSO TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES (INTEGRADO)

ANÁLISE GRANULOMÉTRICA

Influência do Procedimento de Mistura da Cal Hidratada ao Solo no Comportamento do Solo Estabilizado para Fins de Pavimentação Rodoviária

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO SOLO UTILIZADO EM CAMADAS DE COBERTURA NO ATERRO SANITÁRIO DE CAUCAIA-CEARÁ

MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO (MOS) Fertilidade do Solo Prof. Josinaldo

Laboratório de Mecânica dos Solos. Primeiro Semestre de 2017

Capítulo 1 Origem e formação dos solos

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS SOLOS E INTERAÇÃO COM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

ENSAIOS DE LABORATÓRIO

ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS COM UTILIZAÇÃO DE AGREGADOS DE ROCHAS CALCÁRIAS PARA USO EM CAMADAS DE PAVIMENTOS

Disciplina Vias de Comunicacao II. Pavimentos

Classificação dos Solos

Ciclo Hidrológico AUGUSTO HEINE

6 CARACTERIZAÇÃO DO SOLO

Escola Politécnica - UFBA Departamento de Ciência e Tecnologia dos Materiais Laboratório de Geotecnia. Hidrobasa. Diversos Locais

P L A N O D E C U R S O. Objetivos Gerais: Estudar o solo como material de construção e como material para estruturas.

Disciplina: Mecânica dos Solos e Fundações Compacidade das Areias, Consistência das Argilas e Classificação dos Solos

3) Todo solo é passível de receber uma grande edificação? (explique)

Geotécnica Ambiental. Aula 2: Revisão sobre solos

Atributos físicos e químicos do solo -Aula 7- Prof. Josinaldo Lopes Araujo Rocha

Introdução. Introdução. Uso do Solo 21/09/2017. Manejo do Solo Tipos de Erosão e Estratégias de Mitigação. Patrimônio natural

SUMÁRIO. LABORATÓRIO de MECÂNICA dos SOLOS - Conceito de Plasticidade - Ensaios LL, LP, LC 10/04/2016. Christiane Wagner Mainardes Krainer

que para solos não lateríticos, uma vez que os primeiros têm menor capacidade de adsorção do corante que os últimos.

ATRIBUTOS FÍSICOS E ÁGUA NO SOLO

RELAÇÕES MASSA/ VOLUME

RELAÇÃO ENTRE LIMITE DE PLASTICIDADE E UMIDADE ÓTIMA DE COMPACTAÇÃO EM UM SOLO ARGILOSO PARA DIFERENTES CONDIÇÕES DE USO

Textura do solo: importância para análise granulométrica

II E X E R C Í C I O S E S T A D O D O S O L O

Transcrição:

A MATÉRIA ORGÂNICA E SUA INFLUÊNCIA NAS FRAÇÕES GRANULOMETRICAS DO SOLO E NOS LIMITES DE ATTERBERG Apresentação: Comunicação Oral Mário José Ribeiro da Silva 1 ; Josineide Braz de Miranda 2 Resumo Determinar as características do solo é bastante importante de acordo com os diferentes usos a que será destinado este solo (agricultura ou construção). A análise granulométrica, o teor de matéria orgânica do solo e os limites de liquidez e plasticidade são ferramentas importantes nessa caracterização. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência da matéria orgânica (MO) nos valores do limite de liquidez (LL) e plasticidade (LP) do solo, e na distribuição das frações granulométricas do mesmo, a partir de uma análise comparativa entre dois métodos de determinação da matéria orgânica. Para tanto, amostras de dois solos (SJ e SB) foram coletadas em pontos distintos do município de Pesqueira-PE. A determinação do teor de MO foi realizada segundo dois procedimentos: Perda de Massa por Ignição e Oxidação através da reação com H2O2 a 30%. A determinação granulométrica realizou-se através de peneiramento seco e pipetagem. Para o ensaio de LL utilizou-se o aparelho de Casagrande, e para o ensaio de LP fez-se rolar sobre um vidro esmerilhado uma alíquota do solo até se transformar num cilindro. Constatou-se que os teores de MO nos solos oxidados com H2O2 foram significativamente maiores do que nos solos calcinados. O que sugere que o H2O2 oxidou também a MO refratária, mais resistente à degradação. O teor de MO no solo SJ peneirado foi maior que no SJ natural, confirmando que a matéria orgânica tem preferência de adsorção pelas frações granulométricas mais finas. As frações granulométricas grosseiras (>0,063mm) se distribuíram de forma semelhante, indicando que a MO não influência a distribuição dos grãos nas diferentes frações grosseiras. Constatou-se uma diferença para os dois solos, na distribuição das frações finas entre o controle (com MO) 1 Mestre em Geotecnia, IFPE Campus Pesqueira, marioribeiro@pesqueira.ifpe.edu.br 2 2 Doutora em Geociências, IFPE Campus Pesqueira, josineide@pesqueira.ifpe.edu.br

2 e os solos tratados com H2O2 30%. A fração silte foi maior nos dois solos com MO. A fração argila (<4 µm) no solo SB oxidado H202 30% apresentou menor teor de argila do que o SB com MO, sugerindo que uma fração das partículas de argila está intimamente ligada a matéria orgânica do solo. Os valores dos limites de consistência do solo SB e SJ apresentaram-se mais altos no solo com MO. Porém, o valor de Plasticidade no solo com MO e sem a MO foi o mesmo para o solo SB. Pode-se inferir dessa forma, que a matéria orgânica afeta a distribuição granulométrica das frações finas e a plasticidade do solo com maior teor de matéria orgânica. Palavras-Chave: solo, matéria orgânica, limite de plasticidade, limite de liquidez, granulometria. Introdução A caracterização do solo para os diferentes usos, como tráfego de máquinas ou construções, torna-se importante, pois, solos que apresentam alta porcentagem de partículas finas são muito influenciados pela umidade, causando grandes variações nas suas propriedades plásticas. Nessas circunstâncias é importante não apenas fazer uma análise granulométrica para caracterizá-lo, mas também, determinar o teor de matéria orgânica e a consistência desse solo. Essas propriedades estão interligadas, uma vez que o limite de plasticidade do solo pode ser elevado pelo aumento do teor de matéria orgânica, que também depende da quantidade e do tipo da argila presente (CAPUTO, 1994). A matéria orgânica do solo (MOS) possui grande influência positiva no comportamento dos solos, nos aspectos físicos (densidade, porosidade), químicos (liberação e fixação de nutrientes) e biológicos (desenvolvimento de microorganismos). Suas características e valores dependem de fatores como temperatura, aeração, ph e disponibilidade de água e nutrientes, que são condicionados pelo uso e manejo dos solos (NASCIMENTO et al, 2010). Embora se encontre em quantidades reduzidas nos solos minerais (<10%), tem papel fundamental na melhoria da fertilidade do solo e no aumento da produtividade vegetal. Influência também na formação de agregados, reduzindo a coesão do solo, o que gera uma maior permeabilidade do solo para o ar, e consequentemente uma maior oxigenação para a biota local (LUCHESE, FAVERO, LENZI, 2002). Devido à importância do conhecimento das características do solo o objetivo deste

3 trabalho foi avaliar a influência da matéria orgânica (MO) nos valores do limite de liquidez (LL) e plasticidade (LP) do solo, e na distribuição das frações granulométricas do mesmo a partir de uma análise comparativa entre dois métodos de determinação da matéria orgânica. Fundamentação Teórica A plasticidade ou consistência de um solo define a capacidade dos solos de serem moldados, sob certas condições de umidade, sem variação do volume sendo uma importante propriedade dos solos finos (argilas e siltes) (CAPUTO, 1994). O argilomineral presente no solo influencia os Limites de Atterberg, sendo mais fortemente o limite de liquidez e mais fracamente o limite de plasticidade, como se observa na Tabela 1. Tabela 1: Limites de Atterberg de minerais de argila (argilomineral) Fonte: Modificado de Massad (2016) Argilomineral LL (%) LP (%) Montmorilonita 290-710 54-81 Ilita 95-120 45-53 Caulinita 38-59 27-37 Apud Lambe e Whitman, (1969) O Índice de Plasticidade (IP) é um indicador da plasticidade de um solo. Este índice é maior para solos argilosos e baixos para solos arenosos, pois, é condicionado pela presença de argilomineral e de sua ausência nas areias (FIORI; CARMIGNANI, 2001) e é determinado pela relação entre o Limite de Liquidez (LL) e Limite de Plasticidade (LP), conforme a equação: O Índice de Plasticidade também é influenciado pela matéria orgânica presente nos solos finos, porém, essa forma de influência não é unânime entre os autores. Fiori e Carmignani (2001) cita que a matéria orgânica incrementa o valor do limite de plasticidade sem elevar necessariamente o valor do limite de liquidez. Ribeiro et al (2004) cita que a matéria orgânica pode influenciar negativamente a plasticidade das argilas, promovendo a aderência e aumentando a coesão das partículas após secagem. A matéria orgânica presente no solo tem sua importância, uma vez que o solo representa uma grande reserva de carbono orgânico, principalmente nas regiões como as de clima quente e úmido. Com o revolvimento do solo para plantio, ocorre uma rápida mineralização de resíduos vegetais e consequente mudança nos teores de matéria orgânica do solo (MOS), dessa forma, a distribuição das frações de matéria orgânica no solo pode ser utilizada como indicador da mudança de manejo do solo ou da qualidade ambiental do mesmo

4 (LAL, 2004). Além do papel de promover o bom funcionamento do solo, a matéria orgânica (MO) representa o terceiro maior reservatório de carbono terrestre. Porém, dependendo do manejo, pode ocorrer grande perda dessa matéria orgânica (40%) em pouco tempo, em áreas de solo submetidas a agricultura convencional (TIESSEN et al., 1994) Metodologia Para quantificar a matéria orgânica dos solos e avaliar sua influência na distribuição das frações granulométricas do solo e no teste de liquidez e plasticidade, amostras de 300g de dois solos com texturas diferentes (figura 01) foram coletados em dois pontos distintos do município de Pesqueira, Agreste de Pernambuco, os quais foram denominados de solo Juazeiro (SJ) e solo Barranco (SB). Após a coleta os solos foram colocados para secar ao ar livre e à sombra. Em seguida, foram destorroados e preparados de acordo com o exigido em norma da ABNT para cada ensaio. Todas as análises foram realizadas no laboratório de mecânica dos solos do IFPE - Campus Pesqueira. Determinação do teor de matéria Orgânica (MO) no solo A determinação do teor da matéria orgânica no solo foi realizada segundo dois procedimentos: Método da Perda de Massa por Ignição (PMI) e Método por oxidação através da reação com peróxido de hidrogênio (H2O2 a 30%). Estes dois métodos foram validados por Miranda et al. (2015) em sedimentos estuarinos. Para a determinação da MO pelo método da Perda de Massa por Ignição (PMI), pesouse 4g do solo SJ e SB natural e também 4g do solo SJ passado em peneira 0,42 mm (#40), e calcinou-se em mufla a temperatura de 450ºC por um período de 4h. Para a determinação da MO por oxidação com peróxido de Hidrogênio (H2O2 a 30% v/v) 50g de cada amostra foi pesada e em seguida adicionado 150mL de H2O2 à 30%v/v por 96h para reação total. Ao final, os sedimentos foram lavados com água destilada e secos em estufa a 60ºC, por 24h. Em ambos os métodos, o teor da MO foi determinado por gravimetria através da diferença de peso da amostra antes e depois da eliminação da matéria orgânica. Análise Granulométrica A determinação granulométrica dos sedimentos foi feita baseada na metodologia adotada por Suguio (1973), na qual as frações maiores (grosseira) que 0,063mm foram separados com auxílio de peneiras, e a fração dos finos (<0,063 mm) foram separados através

5 do método da pipetagem, baseado na lei de Stoken, que utiliza a velocidade terminal de sedimentação das partículas em meio aquoso. Ensaios do Limite de Liquidez e Plasticidade O ensaio de limite de liquidez foi executado tomando-se 200 g de solo SJ e SB ambos naturais, destorroados, quarteados e passados na peneira 0,425 mm (#40). Em seguida, essa massa foi colocada no aparelho de Casagrande e contou-se o número de golpes necessários para se fechar o sulco feito previamente nessa massa até o fechamento na parte central. O ensaio de limite de plasticidade realizou-se fazendo rolar sobre um vidro esmerilhado uma porção da massa de solo até se transformar num cilindro de 10 cm de comprimento e 3 mm de diâmetro. Realizaram-se também o ensaio de Limite de liquidez e de plasticidade nas amostras dos solos SJ e SB, as quais foram oxidadas com peróxido de hidrogênio a 30%, para eliminação da MO, a fim de comparação do resultado com a amostra natural. Resultados e Discussão Determinação do teor de Matéria Orgânica (MO) nos solos Os teores de matéria orgânica obtidos para os solos SJ e SB através do método PMI foram 7,2% e 1,5 %, respectivamente. As amostras submetidas ao peróxido de hidrogênio (H2O2) a 30% apresentaram teor de MO 8,9% para solo SJ e 3,2% para solo SB (Figura 1). Para o solo SJ passado em peneira de 0,425mm o teor de MO foi 9,9% no método PMI e 20,86% na oxidação do solo com H2O2 a 30%. Analisando os dois tratamentos aplicados, verificou-se que os teores de MO nos solos oxidados com H2O2 a 30% foram significativamente maiores do que nos solos calcinados. Estes resultados sugerem que o H2O2 a 30% oxidou além da MO lábil, que é mais reativa, a MO refratária, mais resistente à degradação. Quando se compara também o teor de MO no solo SJ peneirado, obtido pelos dois métodos, verifica-se valores maiores que o solo SJ natural, o que confirma que a matéria orgânica tem preferência de adsorção pelas frações granulométricas mais finas.

Figura 1: Porcentagens de MO nos solos SJ e SB obtidas através dos métodos de PMI (calcinação) e oxidação com H 2 O 2 30%. Fonte: Própria 6 Avaliação da Influência da Matéria Orgânica (MO) na análise granulométrica Os resultados obtidos na análise granulométrica através do peneiramento seco (sedimentos grosseiros) dos solos SJ e SB com e sem a matéria orgânica podem ser visualizados na figura 2. Em ambos os solos, verifica-se que as frações granulométricas se distribuíram de forma semelhante independente do tratamento, indicando que a MO não influência a distribuição dos grãos nas diferentes frações de sedimentos grosseiros. A porcentagem de finos nas amostras dos solos SJ e SB sem eliminação da matéria orgânica foi de 42,8% e 40,1%, respectivamente. Para os solos oxidados por H2O2 preliminarmente, a porcentagem de finos foi 36,9% para o solo SJ e 34,9% para o solo SB e os resultados, obtidos através da técnica da pipetagem podem ser observados na Figura 3. Figura 2: Porcentagens das frações granulométricas grosseiras (>0,063mm) nos solos SJ e SB com e sem matéria orgânica. Fonte: Própria

Figura 3: Porcentagem das frações granulométricas finas (<0,063mm) nos solos SJ e SB com MO e sem a MO. Fonte: própria 7 Diferentemente do observado para a fração grosseira, verificou-se uma diferença na distribuição das frações finas entre o controle (com MO) e os solos tratados com H2O2 30% para os dois solos. A fração silte muito grosso a grosso (62,00 µm a 16 µm) foi maior nos dois solos com MO. A fração argila (<4 µm) do solo SB oxidado H202 30% (sem MO) apresentou menor teor de argila do que o SB com material orgânica (controle), o que indica que uma fração das partículas de argila está intimamente ligada às substâncias húmicas (material orgânica) do solo. Este comportamento é coerente com o que cita Goldberg et al., (2000) que, em uma condição definida de solo, o teor da matéria orgânica é diretamente proporcional ao teor da argila, mostrando alta afinidade química da carga negativa da matéria orgânica com a carga positiva da argila. Limite de Liquidez e Plasticidade Verifica-se que os valores dos limites de consistência do solo SB apresentaram valores mais altos que o solo SJ (Tabela 2). Possivelmente, isto ocorre devido a maior quantidade de fração argila no solo SB, como foi observado nos dados da análise granulométrica. Tabela 2: Resultados dos ensaios de Limite de Liquidez (LL), de Plasticidade (LP) e Índice de Plasticidade (IP) nos solos SJ e SB. Solo LL (%) LP (%) IP (%) SJ natural (com matéria orgânica) 18 8 10 SJ sem matéria orgânica 17 6 11 SB natural (com material orgânica) 34 15 19 SB sem material orgânica 32 13 19

8 Os resultados de LL, LP e IP no solo SJ mostraram pequena diferença nos limites de consistência quando se compara o solo natural (controle) e o solo sem matéria orgânica (Figura 4). Embora os solos com matéria orgânica e sem matéria orgânica apresentaram diferença de valores para LL, LP e IP a classificação dos solos não foi alterada, sendo o solo SJ classificado como arenoso (IP < 10 e LL < 30) e o solo SB classificado como siltoso (5 < IP < 25 e 20 < LL < 50) (CRAterre, 1979) Figura 4: Valores dos Limites de Consistência (LL, LP, IP) nos solos SJ e SB com e sem matéria orgânica. Fonte: Própria O Limite de Plasticidade (LP) e Limite de Liquidez (LL) do solo SJ apresentou-se maior no solo com matéria orgânica (33,3 e 5,6% respectivamente).porém, o valor do Índice de Plasticidade (IP) no solo SJ mostrou-se um pouco menor (9,1%), no solo natural, com matéria orgânica, confirmando o que a maioria dos autores assume, que a matéria orgânica incrementa a plasticidade. Este incremento na plasticidade pode ser explicado pela maior porcentagem de matéria orgânica (8,9%) neste solo. Resultados semelhantes foram encontrados por Fiori e Camignani (2001) Para o solo SB, os limites de consistência apresentaram valores maiores para o LL (6,2%) e LP (23%) para o solo com matéria orgânica. Porém, obteve-se o mesmo valor de Plasticidade (IP) no solo com MO e sem a MO. Pode-se inferir dessa forma, que a matéria orgânica não parece afetar a plasticidade do solo SB, ou sua influência é muito pequena que não é notada. Conclusões semelhantes foram observados por Ribeiro et al., (2004). Uma justificativa para este fato é a quantidade reduzida de matéria orgânica neste solo.

9 Conclusões A matéria orgânica presente nos solos influencia a distribuição granulométrica nas diferentes frações, especialmente nos solos ricos em frações mais finas, como silte e argila, mascarando o resultado do teor das partículas finas; A presença de matéria orgânica nos solos influenciou mais fortemente o Limite de Plasticidade do que o Limite de Liquidez; O maior teor de matéria orgânica nos solos pode aumentar o índice de plasticidade do mesmo. Referências CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6 ed. Rio de Janeiro: LTC Editora S.A, 1994, 225p. CRATerre Centre Internacional de la Construction en Terre. Construire en terre. Paris: CRATerre. 1979. 270 p FIORI, A. P.; CAMIGNANI, L. Fundamento de mecânica dos solos e das rochas: aplicações na estabilidade de taludes, Editora UFPE, 2001. GOLDBERG, S.; LEBRON, I.; SUAREZ, D. L. Soil colloidal behavior. In: Summer, M. E. Handbook of soil science. New York: CRC Press, 2000. Cap. 6, p. B195-B240. LAL, R. Agricultural activities and the global carbono cycle. Nutrient Cycling in Agroecoystems, v.70,n.2,p.103-116,2004 LUCHESE, E. B., FAVERO, L. O. B., LENZI, E. Fundamentos da Química do Solo. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2002.159p. MASSAD, F. Mecânica dos solos experimental, Editora Oficina de Textos, 2016.288p. NASCIMENTO, P. C. et al. Teores e características da matéria orgânica de solos hidromórficos do Espírito Santo. R. Bras. Ci. Solo, v.34. n.2, p.339-348, 2010. RIBEIRO, C.G. Estudo sobre a Influência da Matéria Orgânica na Plasticidade e no Comportamento Térmico de uma Argila. Cerâmica Industrial, v.9 n.3, p 1-4. 2004. SUGUIO, K., 1973. Introdução a sedimentologia. São Paulo. Ed. Edgard Blücher. EDUSP, 317 p. TIESSEN, H., CUERVAS, E., CHACON, P. The role of soil organic matter in sustaining soli fertility.nature.v.371,p.783-784,1994