Doutrinas Bíblicas / IBNC 4. Quem é Deus (Parte 2) Pr Luciano R. Peterlevitz Tema e assunto Nessa aula, continuaremos nosso estudo sobre Quem é Deus. Os seguintes tópicos serão abordados: Os atributos que expressam a moralidade de Deus. A unidade e a unicidade de Deus. Objetivos Após estudar essa lição você será capaz de: Reconhecer a justiça e a fidelidade de Deus. Reconhecer o amor e a bondade de Deus. Amar mais a Deus e servi-lo com mais zelo. Deus é sábio Sabedoria é o discernimento correto a respeito de algum valor moral ou ético, bem como a capacidade de tomar a melhor decisão em uma situação específica. Como Deus sabe todas as coisas (onisciência), segue-se logicamente que ele é sábio. Deus nunca comete equívocos, e jamais poderá tomará uma decisão errada. Como diz Paulo, ele é o único Deus sábio (Romanos 16.25). Então, toda perfeição de sabedoria encontra-se unicamente em Deus. A beleza da criação comprova a sabedoria do Criador, pois Deus, em sua sabedoria criou todas as coisas (Salmo 104.24). Por sua sabedoria o Senhor lançou os alicerces da terra, por seu entendimento fixou no lugar os céus (Provérbios 3.19 NVI). A sabedoria de Deus, em associação com sua inteligência e raciocínio, é o atributo pela qual ele sempre cumpre os seus fins de maneira a maximizar seu bem e sua glória...maximizar sua própria glória não significa que Deus está crescendo em glória, mas fazendo com que a sua glória seja mais conhecida. 1 Além disto, Deus, em sua sabedoria, faz com que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam (Romanos 8.28). 2 Ou seja, Deus age sabiamente para que sua própria glória seja manifesta, mas também age sabiamente para que o seu bem seja derramado sobre seus filhos. Podemos afirmar com convicção que a sabedoria humana é, na melhor das hipóteses, falha. O ser humano mais sábio não possui todos os fatos de uma situação específica, nem é capaz de prever com certeza os resultados de um dado curso de ação...no 1 Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia sistemática, p. 219. 2 Wayne Grudem, Entenda a fé cristã, p. 31. 1
04. QUEM É DEUS (2) entanto, Deus jamais se angustia para tomar uma decisão...sua sabedoria é própria de Deus, infinita e infalível.... 3 Deus compartilha sua sabedoria com os homens (Tiago 1.5). A sabedoria de Deus pode ser obtida por uma vida de temor a ele e obediência à sua Palavra (Jó 28.28; Provérbios 9.10). Deus é amor Deus é amor (1João 4.8). Não é simplesmente que Deus ama, porém que é amor mesmo. O amor não é meramente um dos seus atributos, mas sim sua própria natureza. 4 Em primeiro lugar, Deus ama-se a Si mesmo. As três Pessoas da Trindade amam-se mutuamente. Jesus, orando ao Pai, reconheceu: me amaste antes da fundação do mundo (João 17.24). Porque o Pai ama ao Filho... (João 5.20). A maior prova do amor de Deus é o fato dele ter enviado o Seu Filho para morrer em nosso lugar (João 3.16; 1João 4.10). Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores. (Romanos 5.8 NVI). O amor de Deus não precisa ser provado. Ele já foi provado na cruz. Além disso, seu amor sempre fez parte de sua natureza perfeita. Deus é eternamente amor. Como afirma o salmista, a bondade de Deus permanece continuamente (Salmo 52.1). A Bíblia diz que Deus nos amou antes da fundação do mundo, pois antes que o mundo fosse criado, ele já havia planejado enviar o seu Filho para morrer em nosso lugar (1Pe 1.20; Apocalipse 13.8). A cruz já estava fincada no coração do Pai muito antes de ser fincada na terra. Como diz Erwin Lutzer: Cristo não morreu para que o Pai se tornasse amoroso, pois ele nos amou desde a fundação do mundo. A vontade do Pai e a vontade do Filho combinam em um amor abnegado e perfeito. Portanto, Deus entrega-se eternamente a si mesmo pelo bem dos homens. Justamente porque Deus é bom, todas as suas obras são boas. Em Gênesis 1, na narrativa da criação, reiteradas vezes encontramos a expressão viu Deus que era bom. Com efeito, o Senhor é benigno em todas as suas obras (Salmo 145.17). Como afirma A. W. Pink: Algo não é bom simplesmente porque Deus o determina: pelo contrário, Deus determina porque é bom. E é bom porque está de acordo com sua natureza imutavelmente boa. 5 Relacionados com o amor de Deus, há outros dois pontos que precisam ser compreendidos: A misericórdia de Deus, que é o amor de Deus manifestado aos pecadores. A misericórdia do Senhor é muito bem explicitada pelo salmista: O Senhor é compassivo e misericordioso, mui paciente e cheio de amor. Não acusa sem cessar nem fica ressentido para sempre; não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui conforme as nossas iniquidades. (Salmo 103.8-10 3 Jerry Bridges, Confiando em Deus mesmo quando a vida nos golpeia, p. 140. 4 A. W. Pink, Os atributos de Deus (São Paulo: PES, 1ª edição, 1985), p. 58. 5 A. W. Pink, Os atributos de Deus (São Paulo: PES, 2001), p. 28-29, citado por Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica, e apologética para o contexto atual (São Paulo: Vida Nova, 2007), p. 219. 2
Doutrinas Bíblicas / IBNC NVI, ênfase acrescentada). Misericórdia é não conceder ao pecador o juízo merecido. Deus é rico em misericórdia (Efésios 2.4). A graça de Deus, que é o favor imerecido de Deus aos homens. A graça comum de Deus e sua longanimidade são evidentes no fato de que ele dá ampla oportunidade para os homens de buscá-lo, dando-lhes as bênçãos da vida, apesar de serem rebeldes contra ele (At 14.16-17; Rm 9.22). A graça especial é aquela pela qual Deus salva os eleitos (Ef 2.8-9). 6 Deus é justo Muitas pessoas perguntam: Como pode um Deus amoroso mandar pessoas para o inferno. Mas é preciso entender que, segundo a Bíblia, o Deus do amor é o Deus da justiça. A justiça e a amor fazem parte dos atributos de Deus. Não podemos somente enfatizar um dos atritos de Deus, e nos esquecer de outros. O Deus amoroso também é o Deus justo, como afirma o salmista: O Senhor é justo em todos os seus caminhos e é bondoso em tudo o que faz (Salmo 145.17). A justiça de Deus significa que ele administra sua lei de forma justa, não demonstrando favoritismo ou parcialidade. 7 O justo Juiz de toda a terra jamais punirá o justo junto com o ímpio (Gn 18.25), e jamais deixará de exercer seu juízo sobre os infratores impenitentes (Deuteronômio 7.10; Salmo 58.11; Romanos 12.19). Por isso, Moisés disse que as obras de Deus... são perfeitas, e todos os seus caminhos são justos. É Deus fiel, que não comete erros; justo e reto ele é (Deuteronômio 32.4 NVI). Deus é a fonte e o fundamento de todo valor moral. Deus estabeleceu o valor moral, pelo qual o homem deve viver, e ele mesmo, seu caráter justo e perfeito, constitui-se o padrão supremo de todo valor moral. Todas as leis morais e éticas encontradas na Escritura são expressões do caráter justo e santo de Deus. Os filhos do Deus justo precisam sempre agir com justiça em suas relações pessoais (Amós 5.15; Tiago 2.9). Deus tem muito mais prazer na retidão dos seus filhos do que em rituais religiosos. Na época dos profetas Amós e Miquéias, os israelitas achavam que o culto a Deus era mais importante do que a justiça social. No entanto, através de Miqueías, o Senhor disse: Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus. (Miquéias 6.8). E, pelo profeta Amós, declarou: Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene! (Amós 5.23-24). Também precisamos entender que a ira de Deus está intimamente relacionada com sua justiça. A ira de Deus é a expressão da sua justiça contra o pecado. 8 A maior prova da justiça e da ira de Deus é a morte de Jesus por nossos pecados. Às vésperas de sua morte, Jesus orou assim no monte das Oliveiras: Pai, se queres, afasta de mim este cálice (Lucas 22.42). No Antigo Testamento, o cálice simboliza a ira de Deus (Isaías 51.17; Ezequiel 23.31-34). Ao assumir nossos pecados, Cristo bebeu o cálice da ira de Deus, e satisfez plenamente a justiça de Deus (Romanos 3.23-26). 6 Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia sistemática, p. 220. 7 Millard J. Erickson, Teologia Sistemática, p. 281. 8 Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia sistemática, p. 221.
04. QUEM É DEUS (2) Deus é verdadeiro Deus é verdadeiro, e isso significa que tudo o que ele diz corresponde exatamente à realidade. Como diz Samuel: Aquele que é a Glória de Israel não mente nem se arrepende, pois não é homem para se arrepender. (1Samuel 15.29 NVI). De fato, ele é o verdadeiro Deus (Jeremias 10.10), o Deus que não pode mentir (Tito 1.2). Todo o seu conhecimento e todas as suas palavras são verdadeiras, servindo como padrão supremo da verdade. 9 Deus é fiel Conforme vimos, Deus é verdadeiro. E a sua fidelidade é a prova de que ele é verdadeiro. Uma vez que ele diz algo, podemos estar certos de que ele o fará: podemos estar certo de que ele será fiel às suas promessas para sempre (Números 23.19). 10 Veja: a fidelidade é parte inerente da natureza de Deus. Como diz Moisés: Ele é Deus; ele é o Deus fiel (Deuteronômio 7.9). Dizer que Ele é Deus significa dizer que Ele é o Deus fiel. Então, não crer nas promessas de Deus significa desconfiar da sua natureza. Por isso, Deus não tolera a incredulidade. Além disto, se desconfiarmos do seu perdão, também estaremos negando seu caráter justo e fiel, pois, conforme diz João: Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça (1João 1.9 NVI). Deus é santo A Bíblia diz que Deus é santo (Salmo 99.9; Isaías 6.3). A palavra santo significa separado. Deus está completamente separado da criação (lembre-se da transcendência de Deus). Em Isaías 6, lemos que o profeta Isaías contemplou a santidade de Deus. Ele viu o Deus que se assenta em um alto e sublime trono (Isaías 6.1). Deus está completamente separado do pecado e do mal. Ele é tão puro de olhos que não pode contemplar o mal (Habacuque 1.13). Como diz Isaías, o Deus Santo não pode se relacionar com nossos pecados, e por isso, nossas iniquidades fazem separação entre nós e Deus (Isaías 59.2). Deus é santo, e exige santidade daqueles que se relacionam com ele (Levítico 11.44,45; 1Pedro 1.15,16). Deus não está somente isento de qualquer mal moral. Ele é incapaz de tolerar sua presença. Ele tem, por assim dizer, alergia ao pecado e ao mal. Os que são seus precisam, consequentemente, buscar a mesma santidade, que é um aspecto tão básico da própria natureza divina. 11 Deus é uma unidade Para fins didáticos, precisamos entender duas palavras nesse ponto: unidade e unicidade. Isaltino Gomes explica: Os dois termos não são sinônimos. Unidade quer dizer que Deus é uno. Unicidade quer dizer que Deus é único, singular. 12 Ou seja, 9 Wayne Grudem, Entenda a fé cristã, p. 32. 10 Wayne Grudem, Entenda a fé cristã, p. 32. 11 Millard J. Erickson, Teologia Sistemática, p. 278. 12 Isaltino Gomes Coelho Filho, Teologia Sistemática 1, p. 42. 4
Doutrinas Bíblicas / IBNC dizemos que Deus é um (um só ser; isso é unidade), e também dizemos que ele é único, no sentido que não há outro deus como ele (isso é unicidade). A unidade de Deus. Mais adiante, estudaremos a doutrina da Trindade. Mas é preciso adiantar que, embora Deus seja três pessoas (o Deus Trino), ele possuí uma única essência e natureza, e cada uma das três pessoas possuem a mesma essência e natureza. Outro ponto importante da unidade de Deus é esclarecido por Grudem: Embora pareça que alguns atributos ou características de Deus sejam mais enfatizados do que outros, é importante perceber que Deus está unido em todos os seus atributos. Ele não é constituído em medida maior por um atributo do que por outro. Ele não é divido em partes, e não é um atributo num ponto da história e outro atributo em outro momento. Ele é total e completamente todos os atributos (mesmo os não mencionados aqui) em todo o tempo. 13 A unicidade de Deus. A unicidade de Deus é nitidamente declarada na Bíblia (Deuteronômio 4.35, 39; 1Reis 18; Isaías 44.6,7). O Senhor é o Deus único (João 5.44; 1Timoteo 1.17). Uma das afirmações mais conhecidas sobre a unicidade de Deus está em Deuteronômio 4.4: Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. (NVI). A expressão hebraica YHWH eloheinu YHWH ehad, pode ser traduzida como Javé Deus Nosso, Javé Um. O Deus de Israel é um, o único Deus, e não pode ser igualado aos falsos deuses. Os outros deuses (Êxodo 20.3) não são criaturas reais, nem sequer pertencem ao campo da imaginação dos autores bíblicos. Pois, o Senhor mesmo diz em Jeremias 2.11a: Alguma nação já trocou os seus deuses? E eles nem sequer são deuses! (NVI ênfase acrescentada), e em Jeremias 5.7: Seus filhos me abandonaram e juraram por aqueles que não são deuses (NVI ênfase acrescentada). Na verdade, os falsos deuses existem somente na imaginação humana, e tais deuses irreais são instrumentos dos espíritos caídos reais (demônios), que se valem das falsas divindades para seduzir e enganar. O apóstolo Paulo afirma que os pagãos, ao sacrificarem para falsos deuses, na verdade oferecem culto aos demônios (1Coríntios 10.20; cf. Deuteronômio 32.17; Salmo 106.37). Lições para a vida Seguem duas aplicações para nossas vidas, considerando o que estudamos: Precisamos ser transformados conforme à imagem e à semelhança do Senhor Deus compartilha com os seres humanos seus atributos morais: amor, sabedoria, justiça, verdade, fidelidade e santidade. Será que temos buscado desenvolver em nossas vidas essas qualidades morais? Infelizmente o amor, a sabedoria, a justiça, a verdade, a fidelidade e a santidade estão em falta em nosso meio, inclusive no meio evangélico. Isso porque muitas pessoas querem Deus, mas não querem o caráter de Deus. Mas, quando lemos a Escritura, percebemos que precisamos buscar a Deus, e quando isso ocorre, ele toca nossa vida de tal forma que nós somos transformados constantemente à sua imagem e semelhança, e seu caráter justo e verdadeiro vai sendo progressivamente implantado sobre nós. 13 Wayne Grudem, Entende a fé cristã, p. 41.
04. QUEM É DEUS (2) Precisamos amar a Deus e ao nosso próximo O amor de Deus já foi derramado em nossos corações (Rm 5.5), e agora também podemos amar a Deus. Nós amamos, porque ele nos amou primeiro (1Jo 4.19). Nosso amor a ele é uma resposta do seu amor por nós. Como amamos a Deus? Resposta: através da nossa obediência à Sua Palavra. Não podemos dizer que amamos a Deus, se não estamos dispostos a sermos submissos às suas orientações (Jo 14.15). Além disto, não podemos dizer que amamos a Deus se não amamos nosso próximo. Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu. (1Jo 4.20). Há muitas pessoas que se dizem espirituais e carismáticas, mas não conseguem se relacionar bem com os outros. Tais pessoas tem uma falsa espiritualidade. Porque, se não amam, elas demonstram que na verdade não conhecem a Deus, pois aquele que não ama não conhece a Deus (1Jo 4.8). Estudamos Quem é Deus. Mas nosso conhecimento teológico de nada valerá, se não amarmos a Deus com o todo nosso coração e ao nosso próximo como a nós mesmos. 6