Utilização de imagens CBERS para mapeamento dos espelhos d'água do Brasil

Documentos relacionados
Levantamento dos espelhos d água acima de 20ha em todo o território brasileiro através de sensoriamento remoto

Mapeamento de Reservatórios no Nordeste Usando Imagens CBERS II

Estudo para verificação da eficiência da rede hidrométrica utilizando imagens do satélite CBERS-2

Utilização de imagens do satélite CBERS-2 para atualização da base cartográfica de recursos hídricos do estado do Rio Grande do Norte.

José Hamilton Ribeiro Andrade (1); Érika Gomes Brito da Silva (2)

PRODUÇÃO CARTOGRÁFICA UD 4 ATUALIZAÇÃO

de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE SATURAÇÃO DA AÇUDAGEM NA BACIA HIDROGRÁFICA DO ACARAÚ CEARÁ

IMPACTO CUMULATIVO DA PEQUENA AÇUDAGEM: ESTUDO DE CASO DO AÇUDE VÁRZEA DO BOI, EM TAUÁ-CE

Mapeamento de Solos Utilizando Técnicas de Geoprocessamento

¹ Estudante de Geografia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estagiária na Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP).

Introdução a Geoprocessamento SER 300

SER Introdução ao Geoprocessamento. Laboratório 1 Modelagem da Base de Dados

6º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica - CIIC a 15 de agosto de 2012 Jaguariúna, SP

Compatibilidade e Integração de Dados. Geoprocessamento. Ligia F. A. Batista

COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO SUPERVISIONADA MAXVER E DISTÂNCIA MÍNIMA NA ANÁLISE DO USO E COBERTURA DO SOLO NA REGIÃO DO ALTO ARAGUAIA

Geoprocessamento na delimitação de áreas de conflito em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Córrego Pinheirinho

MAPEAMENTO DOS ESPELHOS D ÁGUA DO BRASIL

USO DE IMAGENS TM LANDSAT 5 PARA ANÁLISE DO ALBEDO E SALDO DE RADIAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CAMARAGIBE: DESTAQUE PARA SÃO LUIZ DO QUITUNDE-AL

VARIAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL NATURAL EM UMA MICROBACIA DO NOROESTE DO PARANÁ

URBISAmazônia ANEXO N. Convênio URBISAmazônia, Reg. FUNCATE nº: /11

Modelagem e Criacao de Banco de Dados Laboratorio 1: Geoprocessamento

MAPEAMENTO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA MICROBACIA DO CÓRREGO DO KARAMACY - ITAPEVA/SP.

CAATINGA: UM BIOMA EXCLUSIVAMENTE BRASILEIRO

Sistema de Informação Geográfica - SIG Operações geométricas com dados vetoriais

Maria Gonçalves da Silva Barbalho 1 André Luiz Monteiro da Silva 1 Mariana Almeida de Araújo 1 Rafael Antônio França Ferreira 1

O Setor de Geotecnologia da BMP oferece os seguintes serviços:

PROCESSAMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE IMAGENS DE SATÉLITE PARA CARACTERIZAÇÃO DE USOS DO SOLO

Geoprocessamento na delimitação de áreas de conflito em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Córrego Pinheirinho

ANÁLISE TEMPORAL DO ESPELHO D ÁGUA DO AÇUDE ENGENHEIRO ÁVIDOS (PB) USANDO IMAGENS DE SATÉLITE

Boletim Gaúcho de Geografia

MAPEAMENTO E ANÁLISE DOS DESMATAMENTOS NO BIOMA CERRADO PARA O PERÍODO

imagens de satélite de alta resolução espacial, dos anos aos de 2008 e 2019, que recubram

Eixo Temático ET Recursos Hídricos ANÁLISE DO ESPELHO D ÁGUA DO AÇUDE ACAUÃ: ARGEMIRO FIGUEIREDO - PB, USANDO IMAGENS DE SATÉLITE

DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO ATRAVÉS DE IMAGENS METEOSAT-8

Hiliene da Costa de Carvalho 1, George Leite Mamede 2

3 - AQUISIÇÃO DE IMAGENS DE SATÉLITE

Histórico da Quantificação do Desmatamento no Estado do Amapá e busca de novas tecnologias

CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DA BIOTA DO AÇUDE ITANS EM CAICÓ/RN: ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

Correção geométrica de Imagens. Emiliano Castejon Leila Fonseca 2012

UTILIZAÇÃO DE IMAGENS DO SATELITE CBERS-4 E LINGUAGEM PYTHON PARA DETERMINAÇÃO DO ÍNDICES DE VEGETAÇÃO NDVI E SAVI

Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016)

Recursos Hídricos no Brasil: uma visão estratégica para o semi-árido

ESTIMATIVA DO VOLUME DOS RECURSOS HÍDRICOS SUPERFICIAIS AO NÍVEL DE UMA BACIA REGIONAL

SER 300 INTRODUÇÃO AO GEOPROCESSAMENTO

Proposta de plano de monitoramento da qualidade de água dos grandes corpos d água do Distrito Federal e entorno

Ecologia de Paisagem Conceitos e métodos de pesquisa 2012

CLASSIFICAÇÃO SUPERVISIONADA UTILIZANDO O SPRING VISANDO A AVALIAÇÃO TEMPORAL DO USO DO SOLO NO ESTADO DE PERNAMBUCO

VIABILIDADE DE USO DO HISTÓRICO DE IMAGENS LANDSAT 5 NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CURU

Mapeamento do uso do solo para manejo de propriedades rurais

Utilização de imagens CBERS na avaliação do volume de água armazenada no açude Cachoeira, no município de Serra Talhada, Pernambuco, Brasil.

FORÇANTES DE MUDANÇAS NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO NORTE RS. RESUMO

Ministério Público do Rio Grande do Sul Divisão de Assessoramento Técnico PARECER DOCUMENTO DAT-MA Nº 3038/2008

satélite de alta resolução espacial, dos anos aos de 2008 e 2019, que recubram uma área de

Sistemas de Informações Geográficas

Aplicação da metodologia do projeto panamazônia no Pantanal, município de Barão de Melgaço, MT

Noções básicas de SIG com QGIS

NOTA TÉCNICA INPE CRA/2016

Sensoriamento Remoto Engenharia Ambiental Prática #1

Utilização de imagens do satélite CBERS-2 na atualização do sistema de informação de recursos hídricos do estado do Ceará, Brasil.

Brasília, 5 de maio de 2016 SISTEMA DE DETECÇÃO DE DESMATAMENTO E ALTERAÇÕES NA COBERTURA FLORESTAL EM TEMPO QUASE REAL

ANÁLISE DE IMAGENS COMO SUBISÍDIO A GESTÃO AMBIENTAL: ESTUDO DE CASO DA BACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM

ANÁLISE DA REDUÇÃO DO ESPELHO D ÁGUA DOS RESERVATÓRIOS DO MUNICÍPIO DE PARELHAS/RN

Aplicação de redes neurais artificiais para estimativa de produção florestal utilizando imagens Landsat 7

ÁGUA E RECURSOS HÍDRICOS NO VALE DO JAGUARIBE, CEARÁ: DILEMAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO FIGUIEREDO.

RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL: SITUAÇÃO ATUAL

Exercícios Sistema de Coordenadas UTM

Estudo e Análise do Uso de Imagens do Satélite CBERS-2 - Sensor WFI para Atualização da Rede Hidrográfica - Escala 1:

MONITORAMENTO DA EXPANSÃO AGROPECUÁRIA NA REGIÃO OESTE DA BAHIA UTILIZANDO SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO. Mateus Batistella 1

SÍNTESE. AUTORES: MSc. Clibson Alves dos Santos, Dr. Frederico Garcia Sobreira, Shirlei de Paula Silva.

Campina Grande, 2015.

Monitoramento de Queimadas e Incêndios na Região do Parque Estadual do Jalapão em 2011, 2012 e 2013

Eixo Temático ET Recursos Hídricos

DEGRADAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA BACIA HIDRÁULICA DO AÇUDE DE BODOCONGÓ

ESTIMATIVA DO ALBEDO E TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE UTILIZANDO IMAGENS ORBITAIS PARA O MUNICÍPIO DE BARRA BONITA SP

Anais 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, Brasil, novembro 2006, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p

RELAÇÃO ENTRE OS FOCOS DE CALOR E O DESMATAMENTO POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO NA CAATINGA

Serviço Geológico do Brasil CPRM

Aquisição e Integração de Dados

RELATÓRIO LABORATÓRIO

ELABORAÇÃO DO MOSAICO DO BIOMA PANTANAL

Laboratório 2. Disciplina. Introdução ao Geoprocessamento SER 300. Prof. Dr. Antonio Miguel Vieira Monteiro

Mapeamento de Uso da Terra através de utilização de imagens CBERS

Banco de Dados Geográficos

Motivação. Objetivos. O Problema. Integração de dados de Sensoriamento Remoto e SIG. Utilização de técnicas de PDI. Proposta de metodologia sem custo

Área verde por habitante na cidade de Santa Cruz do Sul, RS

Apoio do IG à CETESB para análise de áreas de preservação permanente (APP's) na Fazenda Serramar, em Caraguatatuba SP.

03/11/2009 TOPOGRAFIA SOCIAL

Elaboração da base cartográfica de parte da Mesorregião dos Sertões Cearenses

Correção geométrica de imagens de sensoriamento remoto REGISTRO. Profa. Ligia Flávia Antunes Batista

GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO ESTADO DO CEARÁ NO CONTEXTO DO PROJETO DE INTEGRAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO. Helder Cortez

USO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NO DIAGNÓSTICO EM MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS PARA GERAR INFORMAÇÕES EM BANCO DE DADOS

Palavras Chave: Sistema de Informações Geográficas, impactos ambientais, análise multitemporal.

Mapeamento de sistemas de pivôs centrais no Estado de Minas Gerais a partir de imagens CBERS-2B/CCD

Avaliação do desmatamento após a interrupção do processo de criação de áreas protegidas em Goiás 1

Mapeamento da mancha urbana utilizando imagens de média resolução: sensores CCD/CBERS2 e TM/Landsat5 - estudo de caso da cidade de Rio Branco-Acre

ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO RIO SÃO FRANCISCO, UTILIZANDO IMAGENS VIDEOGRÁFICAS

GEOPROCESSAMENTO APLICADO À ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MUNICÍPIO DE MARITUBA PA RESUMO ABSTRACT

ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO E DA URBANIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SOUSA-PB NO PERÍODO DE 1984 A 2016

Transcrição:

Utilização de imagens CBERS para mapeamento dos espelhos d'água do Brasil Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins 1 Rogério de Abreu Menescal 2 Morris Scherer-Warren 3 Margareth Sílvia Benício de Souza Carvalho 1 Mauro Santos de Melo 1 Daniel Sosti Perini 2 Francisco de Assis Jorge de Oliveira 1 1 Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos - FUNCEME Av Rui Barbosa 1246, Aldeota, CEP 60115-221, Fortaleza - CE, Brasil esm9@secrel.com.br, margareth@funceme.br, mmeng@secrel.com.br, jorge@funceme.br 2 Ministério da Integração Nacional Esplanada dos Ministérios, Bloco E, 9º. Andar, Sala 965, CEP 70062-900, Brasília-DF, Brasil rmenescal@ana.gov.br, dsperini@gmail.com 3 Agência Nacional de Águas Setor Policial, Área 5, Quadra 3, CEP 70610-200, Brasília-DF, Brasil morris@ana.gov.br Abstract. This paper describes the use of CBERS images in order to carry out a reservoir inventory and develop GIS-based maps of reservoirs for Brazil. Such study is essential to identification of the risks that such structures poses to society, not only in terms of damages to infra-structure project, but also to the communities that live downstream of them. Moreover, such study is quite important in order to determine the hydrological impacts of small dams on larger ones in term of water yield. Reservoirs were mapped to a 5 ha minimum for the Northeast of Brazil and to a 20 ha for other regions. The results are a comprehensive and reliable reservoir inventory database. Palavras-chave: CBERS, remote sensing, reservoir inventory, sensoriamento remoto, mapeamento de espelhos d água. 1. Introdução A FUNCEME realizou 5 mapeamentos a partir de 1988, sendo o último realizado em 2000, todos com base em imagens LANDSAT. O mapeamento mais recente, realizado em 2000 com imagens LANDSAT (FUNCEME, 2001), identificou, a partir de geoprocessamento, todos os reservatórios da porção Norte do Estado com área de bacia hidráulica superior a 5 hectares. Devido ao grande número de pequenos açudes, cerca de 1500 levantados, torna-se impeditivo a identificação manual dos parâmetros fisiográficos da sub-bacia de cada um destes açudes. Este mapeamento quase sistemático tem o propósito de alimentar a base de informações relativas a reservatórios, a qual serve como instrumento básico para o gerenciamento dos recursos hídricos. De maneira geral, a grande realidade no Brasil é a falta deste tipo de informação por parte do poder público estadual, a qual é de importância estratégica diante aos riscos que estes reservatórios impõem sobre projetos de infra-estrutura, cidades, à população, etc. Neste último caso, não só pelos riscos associados a perdas de vidas humanas diretamente, mas indiretamente também devido ao risco de contaminação de corpos 969

hídricos, uma vez que estas obras servem, em algumas situações, para armazenamento de efluentes domésticos, industriais e rejeitos de mineração. Adicionalmente, os pequenos reservatórios são, de modo geral, ineficientes na regularização de vazões, provocando em geral impactos negativos na capacidade de regularização de uma bacia hidrográfica. Martins (2001) mostra, para a bacia do Reservatório de médio porte Frios, que em termos de volume regularizado pelo sistema, o que basicamente ocorre é uma redistribuição espacial deste volume na bacia. Apesar de não haver diferenças significativas em termos de volume regularizado, nota-se que existe uma garantia a partir da qual o volume regularizado pelo reservatório Frios sozinho (cenário 1) é superior ao volume regularizado pelo sistema composto pelo reservatório Frios e a pequena açudagem (cenário 2). Abaixo desta garantia o volume regularizado no cenário 2 é superior aquele do cenário 1. A vazão regularizada pelo reservatório Frios sofre uma redução entre 20% (associa a uma garantia de 70%) e 33% (associada a uma garantia de 95%), como mostra a Figura 1. Em termos de repartição de volumes, do cenário 1 para o 2 ocorre um aumento no volume evaporado, uma redução no volume vertido e uma variação não significativa no volume liberado. Volume regularizado 25 20 15 10 5 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% Redução % do Vol. Reg. 0 50% 60% 70% 80% 90% 95% Garantia Frios Frios + P.A. Redução % da Qg 0% Figura 1 Volume regularizado pelo Açude Frios nos dois cenários e redução percentual no volume regularizado no cenário 2 em relação ao 1 para diferente garantias. A política de pequena açudagem pressupõe a importância do estoque distribuído na bacia, em detrimento de uma opção mais eficiente de no armazenamento das disponibilidades hídricas da bacia. Sendo a preocupação a eficiência, deve-se priorizar a média e a grande açudagem, uma vez que os resultados apresentados mostram que o impacto da pequena açudagem na média e na grande açudagem pode ser significativo. Isto torna evidente a necessidade de licença para construção de pequenos açudes e o mapeamento sistemático dos espelhos d água como instrumento essencial no gerenciamento dos recursos hídricos. 970

2. Metodologia O presente artigo apresenta os resultados preliminares do mapeamento dos espelhos d água do Brasil na escala 1:250.000, o qual faz uso de imagens CBERS para a identificação dos espelhos e de imagens LANDSAT TM+ (Geocover) para o fazer o georeferenciamento das primeiras. O produto Geocover consiste em um mosaico de imagens ortorretificadas disponíveis em projeção Universal Transversa de Mercator (UTM) para minimizar distorções através da planificação de um pedaço da esfera que representa a Terra. Essas imagens estão com o sistema de projeção UTM com Datum WGS84 norte e o Datum adotado no presente artigo é o SAD69. Por esta razão é necessário reprojetar essas imagens para UTM SAD69 sul, tarefa essa executada no ERDAS 9.0, sendo em seguida a imagem transformada para o formato Mrsid. Essas imagens foram usadas no georeferenciamento das imagens CBERS e, em alguns casos, utilizadas na digitalização dos espelhos d água quando isso não foi possível através das CBERS disponíveis devido a, por exemplo, alta cobertura de nuvens nas imagens disponíveis. Cada mosaico do produto Geocover, abrange uma área de 6º na longitude, coincidindo com as Zonas utilizadas na projeção UTM, e 5º na latitude. As imagens CBERS usadas neste projeto foram fornecidas pelo INPE através de download, sendo essas imagens adquiridas com as bandas separadas. Para o presente estudo foram usadas as bandas 2, 3 e 4 da câmera CCD (Couple Charged Device). Essas imagens foram submetidas, banda a banda, a correções através do programa Restau.exe fornecido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), para corrigir algumas distorções. Após aplicação desta correção, o produto corrigido são bandas separadas no formato Geotif. Essas bandas juntas são necessárias para montar uma composição colorida usando os canais RGB, sendo aqui empregada a composição RGB (342) para gerar uma imagem falsa cor, e gerando assim uma imagem no formato Mrsid. Porém, ainda é preciso georeferenciar as imagens CBERS, utilizando-se para esse procedimento as imagens Geocover já reprojetadas para UTM SAD69 sul. As coordenadas dos pontos de controle utilizados no georeferenciamento foram coletados na Geocover e em seguida identificados os pontos correspondentes na CBERS. Em média foram usados para cada cena CBERS entre 8 e 10 pontos. O georeferenciamento foi validado através da sobreposição da CBERS na Geocover correspondente, e observando-se a concordância das feições nas duas imagens. O georeferenciamento destas cenas foi realizado no módulo AutoSync do ERDAS 9.0 e a imagem georreferenciada foi transformada para o formato Mrsid. A vetorização dos espelhos d água foi realizada a partir do uso das imagens CBERS, porém em algumas poucas situações que ocorreram uma grande presença de nuvens, foram utilizadas as imagens Geocover para a digitalização dos espelhos que estavam cobertos pelas nuvens na cena CBERS. Assim, de modo geral, as imagens base para a digitalização foram as CBERS, enquanto a articulação utilizada foi a área que cobre uma cena Geocover. Cada arquivo usado na digitalização corresponde a uma área que cobre uma cena Geocover, sendo nesta área carregada as imagens CBERS correspondentes. As imagens e os vetores são colocados nas suas respectiva camadas, uma vez que foram criadas camadas para as imagens CBERS e Geocover (CBERS_Banda342 e LandSAT_Geocover), assim como para os vetores foram criadas as seguintes camadas: Espelho d agua, Espelho d água_continuidade, Espelho d agua_nuvem, Ilha_Espelho_d água, Ilha_Espelho d água Continuidade, LandSAT Geocover Espelho, Quadriculas_10x10 e Costa_Estuário. Estas camadas correspondem respectivamente aos vetores digitalizados: espelho d água digitalizados em cima da CBERS, espelho que fica no limite entre duas Geocover, Espelho com cobertura de nuvens, Ilhas, Ilhas que se encontram em duas Geocover, Espelhos 971

digitazados em cima das Geocover, Malha de referência com espaçamento de 10x10 km e linha de costa. A digitalização dos espelhos de água foi feita com o uso de polilinhas fechadas, formando assim um polígono, sendo somente digitalizados espelhos que cobriam uma área maior que 5 ha para o Nordeste do Brasil e 20 ha para as outras regiões. Após a digitalização de todos os espelhos que cobrem uma zona, houve o fechamento dos polígonos que representam os espelhos e encontravam-se em duas cenas Geocover da mesma zona. Com isso foram identificados os espelhos por zona em projeção UTM, sendo agora necessário juntar os espelhos que encontram-se em zonas vizinhas. Para tanto, fez-se necessária a transformação para coordenadas geográficas, sendo em seguida fechados e eliminados os espelhos duplicados que estavam em áreas de sobreposição. Com isso foi possível juntar todos os espelhos que cobrem o Nordeste gerando assim um único shape contendo esses vetores em projeção geográfica. 3. Resultados e Conclusões A Figura 2 mostra os espelhos d água do Nordeste onde podemos observar uma concentração maior nos estados do Ceará, Paraíba e Pernambuco em relação aos demais estados do Nordeste (Ver Figura 3). Nesta região foram digitalizados 4.232 espelhos d água com área acima de 20 hectares, sendo 1326 açudes localizados somente no Ceará. A Figura 4 mostra os espelhos d água acima de 5 hectares existentes no Estado do Ceará, mostrando em detalhe a concentração de reservatórios em torno do Açude Castanhão, o maior e mais importante reservatório do estado. Esta saturação de pequenos reservatórios em torno do Açude Castanhão reveste-se de importância pelos impactos hidrológicos que os mesmos exercem na distribuição dos volumes da bacia de contribuição do mesmo. A distribuição do número de açudes em função da área de espelho d água para o Estado do Ceará é apresentada na Figura 5. Pode-se notar que o maior número de reservatórios para este estado concentra-se na faixa de 5 a 10 hectares. Outro produto gerado neste artigo foi o mosaico CBERS para o Nordeste, como mostra a Figura 6. Acredita-se ser possível melhorar a qualidade deste mosaico, atenuando as diferenças entre as respostas espectrais das diferentes cenas de imagens CBERS. Ao final do trabalho pretende-se obter um mosaico CBERS para o Brasil. A metodologia aqui adotada mostrou-se eficiente para o mapeamento de espelhos d água a partir do uso de imagens CBERS, um produto disponível gratuitamente que permitirá o monitoramento sistemático da pequena açudagem, um instrumento importante para o gerenciamento dos recursos hídricos. 972

Figura 2 Espelhos d água do Nordeste. 1600 Nro. Açudes > 20 ha 1200 800 400 0 AL BA CE MA PB PE PI RN SE Estado Figura 3 Número de espelhos d água para cada estado do Nordeste. 973

Figura 4 Espelhos d água do Ceará. 3000 Nro. Reservatórios 2500 2000 1500 1000 500 0 0-5 5-10 10-15 15-20 20-25 25-30 30-50 50-100 100-150 150-200 200 - Área (ha) Figura 5 Distribuição do número de açudes em função da área de espelho d água para o Estado do Ceará. 974

Figura 6 Mosaico CBERS para o Nordeste do Brasil. 4. Referências Bibliográficas COGERH, Plano de Gerenciamento das Águas da Bacia do Rio Jaguaribe, 1998. FUNCEME, 2001, Development of database and analytical tools for reservoir network and catchment area analysis, Riverside. 975

Martins, E.S.P.R., 2001, ESTRATÉGIA DE MONITORAMENTO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS: INSTRUMENTACAO E CONCEPCAO DE UM SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE INFORMACOES HIDROLOGICAS DA SUB-BACIA DO RIO FRIOS CE, Relatório Técnico, FINEP. INPE, 2006, Download das imagens CBERS, http://www.dgi.inpe.br/cdsr. NASA, Mosaico Geocover, https://zulu.ssc.nasa.gov/mrsid/. 976