OCORRÊNCIAS DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO PARQUE NACIONAL DE ILHA GRANDE - BRASIL

Documentos relacionados
Anais do III Seminário de Atualização Florestal e XI Semana de Estudos Florestais

Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016) RISCO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGAOS

DEMONSTRATIVO DE CÁLCULO DE APOSENTADORIA - FORMAÇÃO DE CAPITAL E ESGOTAMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES

Uso de geotecnologias para análise de eventos extremos no estado do Paraná - período de 2000 a 2008

IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE QUEIMADAS NA ILHA DO BANANAL NO PERÍODO DE 2008 A 2012 UTILIZANDO IMAGENS DO SATÉLITE TM/LANDSAT-5.

PRÓ-TRANSPORTE - MOBILIDADE URBANA - PAC COPA CT /10

PRÓ-TRANSPORTE - MOBILIDADE URBANA - PAC COPA CT /10

OCORRÊNCIA DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO ESTADO DO PARANÁ, NO PERÍODO DE 2005 A 2010

ANALÍSE DAS ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS COM ATORES SOCIAIS

25 a 28 de novembro de 2014 Campus de Palmas

CLIMATOLOGIA DO COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO NO DISTRITO FLORESTAL DE MONTE ALEGRE, PR, BRASIL

Manejo Integrado do Fogo Simone Fonseca. Experiência do Parque Nacional das Sempre Vivas

Unidades de Conservação

Programa Analítico de Disciplina ENF445 Proteção Contra Incêndios Florestais

Análise Climática Dos Focos De Incêndios Na Estação Ecológica De Uruçuí-Una No Estado Do Piauí

ANÁLISE DA VARIABILIDADE DE PRECIPITAÇÃO EM ÁREA DE PASTAGEM PARA A ÉPOCA CHUVOSA DE 1999 Projeto TRMM/LBA

Zoneamento de risco de incêndios florestais para a bacia hidrográfica do Córrego Santo Antônio, São Francisco Xavier (SP)

COMBATE INICIAL DE FOCOS DE INCÊNDIOS EM FLORESTAS DE EUCALIPTO

COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA EM TRÊS MUNICÍPIOS DO ESTADO DO PARANÁ, COMO SUBSÍDIO PARA PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS

Seminário Internacional sobre Manejo Integrado de Fogo (MIF): resultados do Projeto Cerrado Jalapão

QUANTIFICAÇÃO DO MATERIAL COMBUSTÍVEL E DOS NUTRIENTES EM UM POVOAMENTO DE Pinus Taeda.

Simulação dos Impactos das Mudanças Climáticas globais sobre os setores de Agropecuária, Floresta e Energia

Osvaldo Antonio R. dos Santos Gerente de Recursos Florestais - GRF. Instituto de Meio Ambiente de MS - IMASUL

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS DE CHUVA NO MUNICÍPIO DE PETROLINA - PE

DELEGACIA REGIONAL TRIBUTÁRIA DE

COMPORTAMENTO DO REGIME PLUVIOMÉTRICO MENSAL PARA CAPITAL ALAGOANA MACEIÓ

Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais Chefe Substituta: Lara Steil

EVOLUÇÃO DO PERFIL DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS EM ÁREAS PROTEGIDAS NO BRASIL, DE 1983 A 2002.

CLASSIFICAÇÃO E INDÍCIO DE MUDANÇA CLIMÁTICA EM NOVA FRIBURGO - RJ

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA E DO NÚMERO DE DIAS COM CHUVA EM CALÇOENE LOCALIZADO NO SETOR COSTEIRO DO AMAPÁ

DESEMPENHO DA FÓRMULA DE MONTE ALEGRE (FMA) E DA FÓRMULA DE MONTE ALEGRE ALTERADA (FMA + ) NO DISTRITO FLORESTAL DE MONTE ALEGRE

CALHA PET CONSTRUÇÃO DE CALHAS DE GARRAFA PET PARA APROVEITAMENTO DA ÁGUA DA CHUVA E REDUÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE PÃO DE AÇÚCAR DURANTE 1977 A 2012

MORTALIDADE E CRESCIMENTO INICIAL DE MUDAS EM ÁREAS RESTAURADAS DE USINAS HIDRELÉTRICAS NO ESPÍRITO SANTO, BRASIL

VARIABILIDADE ESPACIAL DE PRECIPITAÇÕES NO MUNICÍPIO DE CARUARU PE, BRASIL.

Avaliação do Combate aos Incêndios Florestais no Parque Nacional da Serra da Canastra

TABELA PRÁTICA PARA CÁLCULO DOS JUROS DE MORA ICMS ANEXA AO COMUNICADO DA-46/12

GDOC INTERESSADO CPF/CNPJ PLACA

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Incêndios florestais e ordenamento do território

Clima de Passo Fundo

Biomas / Ecossistemas brasileiros

Operação Somos Todos Olímpicos

ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E ESTRUTURA DE UM TRECHO FLORESTAL NA PORÇÃO SUL AMAZÔNICA, QUERÊNCIA MT

DATA DIA DIAS DO FRAÇÃO DATA DATA HORA DA INÍCIO DO ANO JULIANA SIDERAL T.U. SEMANA DO ANO TRÓPICO

AULÃO UDESC 2013 GEOGRAFIA DE SANTA CATARINA PROF. ANDRÉ TOMASINI Aula: Aspectos físicos.

VARIABILIDADE TEMPORAL DE PRECIPITAÇÕES EM CARUARU PE, BRASIL

AS ESTIAGENS NO OESTE DE SANTA CATARINA ENTRE

SILVICULTURA PREVENTIVA Uma alternativa para o controle de incêndios florestais em reflorestamentos

V M V & M FLORESTAL PREVENÇÃO E CONTROLE DE INCÊNDIOS NA V & M FLORESTAL LTDA

O FENÔMENO EL NIÑO DE 2015/2016 E SEUS IMPACTOS NAS CHUVAS DO PARANÁ

Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

UNIDADE DE CONSERVAÇÃO E ZONA DE AMORTECIMENTO

CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DO MUNICÍPIO DE JATAÍ-GO: Subsídios às atividades agrícolas

A experiência na óptica da Conservação da Natureza

SUMÁRIO PROGRAMA DE MONITORAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO E QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Data Moeda Valor Vista Descrição Taxa US$ 07-Jul-00 Real 0,5816 Sem frete - PIS/COFINS (3,65%) NPR 1,81 14-Jul-00 Real 0,5938 Sem frete - PIS/COFINS

AVALIAÇÃO DE ESPÉCIES FLORESTAIS DE MÚLTIPLO PROPÓSITO, EM WENCESLAU BRAZ, PR

Geografia. Os Biomas Brasileiros. Professor Thomás Teixeira.

Planos de Manejo INSTITUTO FLORESTAL. Estação Ecológica de Itapeva

Utilização de dados de temperatura de superfície, precipitação e umidade para a identificação e monitoramento de incêndios em tempo quase real

ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL BARREIRO RICO TANQUÃ-RIO PIRACICABA

PERFIL DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS NO BRASIL DE 1994 A 1997

TABELA PRÁTICA PARA CÁLCULO DOS JUROS DE MORA ICMS ANEXA AO COMUNICADO DA-87/12

V. 07, N. 02, 2011 Categoria: Relato de Experiência

ANÁLISE PRELIMINAR DO IMPACTO DO RESERVATÓRIO DE ITÁ NO CLIMA LOCAL. Maria Laura G. Rodrigues 1 Elaine Canônica 1,2

Nome do Sítio Experimental: Cruz Alta. Localização e Mapas do Sítio Experimental: Latitude: Longitude: Altitude: 432 m

AGROMETEOROLÓGICO UFRRJ

UFPA- FAMET- Brasil- Belém-

Contribuição do Jornalismo Online para o Pacqto Programa de Ação e Combate às Queimadas do Tocantins

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002 INFLUÊNCIA DA LA NIÑA NAS TEMPERATURAS MÁXIMAS E MÍNIMAS MENSAIS PARA VIÇOSA-MG

SUMÁRIO PROGRAMA DE MONITORAMENTO CLIMATOLÓGICO

ESTUDO DE CASO DA VARIAÇÃO HORÁRIA DA UMIDADE RELATIVA DO AR EM TERESINA PI NO ANO DE Raimundo Mainar de Medeiros (UFCG)

PROJETO BÁSICO AMBIENTAL UHE TELES PIRES

OS INCÊNDIOS DE 2010 NOS PARQUES NACIONAIS DO CERRADO

Análise da variação da temperatura e precipitação em Belém em anos de El Niño e La Niña.

Relatório de Ocorrência de Incêndio Florestal N. 009 /2015

Análise das precipitações em alguns municípios de Mato Grosso do Sul

Palavras-chave: Acidentes de Trabalho; Pirâmide de Bird; Gestão de Segurança do Trabalho.

Precipitações Tipos, medição, interpretação, chuva média

CARACTERIZAÇÃO DA HISTÓRIA RECENTE DE INCÊNDIOS EM PLANTAÇÕES INDUSTRIAIS NO BRASIL

Reunião do Comitê de Gestão do Fogo

A NATUREZA DO BRASIL: CLIMA E VEGETAÇÃO

INCÊNDIOS FLORESTAIS FORA DO PERÍODO CRÍTICO : O CASO DE PORTUGAL CONTINENTAL ENTRE O ÚLTIMO QUARTEL DO SÉCULO XX E A ATUALIDADE (2014)

CONSULTA PÚBLICA SOBRE ÁREAS DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO

TÍTULO: A INFLUÊNCIA DA FRAGMENTAÇÃO DE HABITATS E PERDA DA BIODIVERSIDADE: ESTUDO DE CASO DA MATA DOS MACACOS EM SANTA FÉ DO SUL - SP.

GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CLASSIFICAÇÃO E INDÍCIO DE MUDANÇA CLIMÁTICA EM ANGRA DOS REIS - RJ

GEOGRAFIA REVISÃO 1 REVISÃO 2. Aula 25.1 REVISÃO E AVALIAÇÃO DA UNIDADE IV

SUMÁRIO PROGRAMA DE RESGATE E APROVEITAMENTO CIENTÍFICO DA FAUNA

PANORAMA ATUAL DAS PESQUISAS EM SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO NO BRASIL

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DA RADIAÇÃO SOLAR INCIDENTE E REFLETIDA SOBRE SOLO NÚ NO MUNICIPIO DE DELMIRO GOUVEIA

Safra 2016/2017. Safra 2015/2016

Séries cronológicas de área queimada anual e tendências lineares. DGRF estatísticas de campo. ISA classificação de imagens de satélite (Landsat).

PLUVIOSIDADE HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE-PB PARA PLANEJAMENTO AGRÍCOLA E CAPTAÇÃO DE ÁGUA

PLANO DE OPERAÇÃO DE RESERVATÓRIOS PARA ATENDIMENTO AOS REQUERIMENTOS DA VAZÃO AMBIENTAL

ANÁLISE FUNCIONAL DA PRODUÇÃO E ESTOCAGEM DE SERAPILHEIRA NO MACIÇO DA PEDRA BRANCA, RJ. Dados preliminares

MAPBIOMAS E USO E COBERTURA DOS SOLOS DO MUNICÍPIO DE BREJINHO, PERNAMBUCO RESUMO ABSTRACT

Incêndios florestais no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães-MT entre 2005 e 2014

ESTIMATIVA DA PRECIPITAÇÃO EFETIVA PARA A REGIÃO DO MUNICÍPIO DE IBOTIRAMA, BA Apresentação: Pôster

Transcrição:

OCORRÊNCIAS DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO PARQUE NACIONAL DE ILHA GRANDE - BRASIL RESUMO Letícia de Paulo Koproski 1 Antonio Carlos Batista Ronaldo Viana Soares 3 O fogo é um agente com vasta capacidade de alteração do ambiente e por isso representa uma grande ameaça às Unidades de Conservação em todo o País. Nos últimos cinco anos ocorreram cinqüenta e dois incêndios no Parque Nacional de Ilha Grande - PNIG. Os incêndios no PNIG têm se verificado com uma média de dez ocorrências por ano, com uma área queimada média anual de 4.971,1 hectares. Nesse período 9% das causas foram de natureza humana. Esses dados revelam a fragilidade do Parque Nacional de Ilha Grande frente aos incêndios florestais e são suficientes para alertar sobre a importância do problema do fogo em Unidades de Conservação, e a necessidade da elaboração de Planos de Prevenção e Combate a Incêndios em ambientes naturais. Palavras chave: Fogo, Unidades de Conservação, Incêndios no Brasil, Proteção florestal, rio Paraná. THE OCCURRENCES OF FOREST FIRES IN THE ILHA GRANDE NATIONAL PARK, BRAZIL ABSTRACT Fire is a huge threat to Brazilian Units Conservation, because it is an agent with a wide capacity to modificate the environment. In the five year-old period analised, fifty-two forest fires happened in Ilha Grande National Park IGNP. A medium of 1.4 occurrences per year was observed and 4,971.1ha were burned in medium per year. In this period, 9% of the forest fires were caused by humans. These data bring out the fragility of IGNP face to forest fires and are sufficient to alert about the importance of fire problem and the need of Forest Fires Control Plans in Brazilian Conservation Units. Key-words: Fire behavior, Conservation Units, Brazilian fires, Forest protection, Paraná river INTRODUÇÃO Os incêndios florestais são uma ameaça constante à integridade das unidades de conservação. podem gerar inúmeros danos e, em certas ocasiões, perdas irreparáveis à flora e à fauna. o fogo pode afetar vários componentes do ambiente, como o solo, a vegetação, a fauna e o ar atmosférico; e sob alguns desses componentes seus efeitos ainda geram controvérsias. os prejuízos podem ser incalculáveis do ponto de vista científico, conservacionista e financeiro (Oliveira, Batista e Milano, ). Anualmente o fogo destrói imensas áreas naturais em todo o mundo. no Brasil os incêndios em ecossistemas naturais causam sérias preocupações aos setores ligados ao ambiente. a inexistência de políticas adequadas de prevenção e combate aos incêndios tem levado a perdas ambientais elevadas em todo o país. Considerando que a maioria das causas dos incêndios em ambientes naturais é decorrente de ações humanas, são necessárias medidas de prevenção, controle e supressão de incêndios, para garantir a conservação dos recursos naturais. A proteção das Unidades de Conservação contra o fogo torna-se mais eficiente e criteriosa quando existe um plano prévio das atitudes a serem tomadas no caso da ocorrência de incêndios. Os planos de prevenção e combate a incêndios florestais possuem três objetivos básicos de defesa, que são: prevenir tanto quanto possível o início dos incêndios; controlar os incêndios que não puderam ser prevenidos enquanto ainda pequenos e minimizar o tamanho e os danos dos incêndios ocorridos (Soares e Batista, 1998). 1 leticia@floresta.ufpr.br, Médica Veterinária, Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais, UFPR; Pesquisadora Projeto Fogo, Associação Mata Ciliar, av. Sete de setembro, 479/11, Batel, Curitiba, Paraná, 85-1 batista@floresta.ufpr.br, Prof. Dr., Departamento de Engenharia Florestal, UFPR 3 rvsoares@floresta.ufpr.br, Prof. Dr., Departamento de Engenharia Florestal, UFPR FLORESTA 34 (), Mai/Ago, 4, 193-197, Curitiba, Pr 193

Koproski, L. de P.; et al Informações e estatísticas sobre ocorrências anteriores de fogo e aspectos gerais de uma determinada área são necessárias para o planejamento e elaboração de um plano de prevenção e combate a incêndios. Esses dados são essenciais para o direcionamento das ações e futuras avaliações do plano no sentido de se estabelecer com mais eficiência os métodos e os objetivos da prevenção e do combate (Soares e Batista, 1998; Ribeiro, Lima e Siqueira, ). Dessa forma, o presente trabalho visa analisar as informações sobre os incêndios ocorridos no Parque Nacional de Ilha Grande no período entre 1999-3, com o objetivo de levantar subsídios para a implementação de ações de prevenção e combate a incêndios nessa Unidade de Conservação. MATERIAL E MÉTODOS O Parque Nacional de Ilha Grande (PNIG) é uma Unidade de Conservação de proteção integral situada na divisa dos Estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. Foi criado em 3 de setembro de 1997 e está localizado na região sul da planície de inundação do alto rio Paraná, entre as coordenadas 3 15 a 4 5 S e 53 4 a 54 17 W. Abrange os municípios de Guaíra, Altônia, São Jorge do Patrocínio, Vila Alta e Icaraíma no Paraná e Mundo Novo, Eldorado, Naviraí e Itaquiraí no Mato Grosso do Sul. É formado por um arquipélago fluvial com centenas de ilhas, muitas delas de curta existência, das quais as maiores são as Ilhas Grande, Bandeirantes e Peruzzi; além de uma estreita e longa faixa de várzea situada na margem esquerda do rio Paraná. Possui área total de 78.875 hectares. A região é caracterizada pelo clima subtropical úmido mesotérmico (Cfa), com verões quentes e geadas pouco freqüentes, com tendência de concentração de chuvas nos meses de verão, sem estação seca definida, sendo que o período mais seco normalmente ocorre de maio a setembro. A média das temperaturas dos meses mais quentes é superior a C e a dos meses mais frios inferior a 18 C (Campos, 1). A formação florestal do PNIG é classificada como floresta estacional semidecidual. Duas tipologias florestais caracterizam a área, sendo possível identificar a Floresta Estacional Semidecidual Submontana e a Floresta Estacional Semidecidual Aluvial (Campos e Souza, 1997; ELETROSUL, 1986; IBGE, 199). Devido a sua recente criação, o PNIG ainda enfrenta muitos problemas na sua manutenção. Sofre as conseqüências de inúmeros impactos ambientais, que são agravados e facilitados pelo fato do Parque ser formado por inúmeras ilhas cercadas por rios facilmente navegáveis. O PNIG é cercado por propriedades que em sua maioria desenvolvem atividades agropecuárias. Além dos impactos sofridos no entorno, conta ainda como a presença de ribeirinhos nas diversas ilhas, que desenvolvem como forma de sobrevivência atividades relacionadas com a agropecuária, pesca e apicultura. O fogo é comumente utilizado no manejo dessas atividades na região. Os relatórios e registros de ocorrências de incêndios florestais ROIs, compreendidos entre os anos de 1999-3, obtidos da base de dados da Sede do Parque Nacional de Ilha Grande (IBAMA), foram analisados para a definição das seguintes variáveis: número de ocorrências de incêndios no período e por ano; extensão da área queimada no período e por ano; distribuição anual dos incêndios; causas das ocorrências. Esses dados foram coletados para a realização do presente trabalho e também para a elaboração do Plano de Manejo dessa Unidade de Conservação. RESULTADOS E DISCUSSÃO No período compreendido entre 1999-3, ocorreram cinqüenta e dois incêndios no Parque Nacional de Ilha Grande, com uma média de 1,4 ocorrências por ano. Em 1999 aconteceram vinte incêndios, em cinco, em 1 quatro, em dezessete e em 3 seis. O número total de incêndios ocorridos é elevado e contrapõe-se ao objetivo de uma Unidade de Conservação: a proteção dos recursos naturais. A área queimada no período totalizou 14.854,5 hectares, o que representa uma média anual de 4.97,9ha. Considerando a área total do Parque, que é de 78.875ha, significa que o PNIG teria queimado 1,5 vezes em cinco anos, caso os incêndios fossem igualmente distribuídos em toda a sua 194 FLORESTA 34 (), Mai/Ago, 4, 193-197, Curitiba, Pr

Ocorrências de incêndios florestais... extensão. No entanto, sabe-se que algumas regiões queimaram mais do que outras. As áreas atingidas pelo fogo apresentaram uma grande variação durante os anos de 1999 até 3. Estima-se, pela avaliação dos registros dos incêndios que, em 1999 cerca de 5.417,5ha tenham sido atingidos, em aproximadamente 5.35ha, em 1 cerca de 3.5ha, em por volta de 7.ha e em 3 aproximadamente 36.9 hectares. O número de incêndios não está diretamente relacionado com a extensão da área queimada. Observou-se, que em dezessete incêndios atingiram 7.ha e em 3 seis incêndios atingiram uma área aproximada de 37.ha. Existem registros das épocas de ocorrência de trinta e cinco incêndios observados no PNIG (Figura 1). De acordo com esses dados, observa-se que os meses críticos para a ocorrência de incêndios foram: agosto, com quinze ocorrências e setembro, com seis. Embora o número de incêndios registrados não corresponda ao total de ocorrências do período analisado, pode-se verificar uma certa tendência para a caracterização da estação normal de perigo de incêndios, já que 6% dos incêndios ocorreram no período entre agosto e setembro. Foram analisadas as causas de vinte e seis incêndios entre 1999-3 (Figura ). As categorias das causas foram definidas de acordo com a classificação utilizada pelo IBAMA nos registros de ocorrências de incêndios. As causas de 9,3% dos incêndios foram de natureza humana. É importante observar que o grupo mais significativo, em função da freqüência, foi criminoso, com 34% das ocorrências e em 19% dos registros a causa foi desconhecida. Esses dados evidenciam o uso do fogo em diversas atividades ilegais na região. Sendo assim, é necessário implementar um programa de educação ambiental que vise conscientizar a população sobre a importância da conservação do Parque Nacional de Ilha Grande e divulgue a legislação pertinente. 16 15 14 1 1 8 6 5 6 4 3 1 1 1 1 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Figura 1: Distribuição das ocorrências dos incêndios no PNIG 1999/3 Figure 1: Fire occurences distribuition in IGNP 1999/3 FLORESTA 34 (), Mai/Ago, 4, 193-197, Curitiba, Pr 195

Koproski, L. de P.; et al Criminoso Desconhecida Atividade agrícola 4 5 9 Limpeza da área Fogos de artifício Pescadores Descarga elétrica Figura : Causas dos incêndios florestais no PNIG 1999/3 Figure Causes of forest fires in IGNP 1999/3 CONCLUSÃO Pelos registros de incêndios encontrados na base de dados do IBAMA observa-se que os incêndios no PNIG têm se verificado com uma média de 1,4 ocorrências por ano, com uma área queimada média total anual de 4.97,9 hectares. Esses dados revelam a fragilidade do Parque Nacional de Ilha Grande frente aos incêndios florestais, devido primeiramente às atividades desenvolvidas tanto no entorno, como na própria Unidade, tais como: caça, pesca, queima de pastagens, exploração de produtos florestais e apicultura, que são fontes importantes de ignição; e também devido às características de inflamabilidade da vegetação do Parque e às condições meteorológicas, que potencializam essa característica da vegetação. Essas considerações são baseadas nos poucos dados obtidos que, no entanto, são suficientes para alertar sobre a problemática do fogo na área do PNIG e a necessidade de se traçar um plano para o estabelecimento das diretrizes e ou seu redirecionamento com o intuito de reduzir ao máximo o número de ocorrências de incêndios e a extensão da área queimada nessa Unidade de Conservação. AGRADECIMENTOS Ao IBAMA e a equipe do Parque Nacional de Ilha Grande, em especial a Maude Nancy Joslin Motta, pelos conselhos e pela dedicação por fornecer as informações, e a 1 3 4 5 6 7 8 9 1 Paulo Roberto Machado pelo apoio ao projeto. Ao Instituto Mater Natura, executor do Plano de Manejo dessa Unidade de Conservação, em especial a Augusto César Svolenski e a Karina Oliveira. A Associação Mata Ciliar pela confiança e apoio ao projeto fogo, sem a qual não seria possível a realização desse trabalho. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa concedida. REFERÊNCIAS CAMPOS, J. B. Parque Nacional de Ilha Grande re-conquista e desafios. ª ed. IAP/CORIPA Maringá, 1, 118p. CAMPOS, J. B.; SOUZA, M. C. A vegetação. In: VAZZOLER, A. E. A. de M.; AGOSTINHO, A. A.; HAHN, N. S. (Eds). A planície de inundação do alto rio Paraná: Aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá. EDUEM: 1997. p.333-334. ELETROSUL CENTRAIS ELÉTRICAS DO SUL DO BRASIL. Ilha Grande A vegetação da área de influência do reservatório da usina hidrelétrica de Ilha Grande (PR/MS). Florianópolis, 1986. 5p. IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, IBGE. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro, 199. 9p. (Séries Manuais Técnicos em Geociências;1). 196 FLORESTA 34 (), Mai/Ago, 4, 193-197, Curitiba, Pr

Ocorrências de incêndios florestais... OLIVEIRA, D. dos S. de.; BATISTA, A. C.; MILANO, M. S. FOGO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO. In: Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação,,, Campo Grande. Anais do II Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação - Vol II - Trabalhos Técnicos. Campo Grande,. p. -7. RIBEIRO, G. A.; LIMA, G. S.; SIQUEIRA, L. de. O PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA E A OCORRÊNCIA DE INCÊNDIOS FLORESTAIS. In: Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, 3,, Fortaleza. Anais do III Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação - Trabalhos Técnicos. Fortaleza,. p. 473-479. SOARES, R. V. e BATISTA, A. C. Prevenção dos incêndios Florestais. Curso de especialização por tutoria à distância - Módulo 5. Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior, 1998. 33p. FLORESTA 34 (), Mai/Ago, 4, 193-197, Curitiba, Pr 197