Estudo comparativo da precipitação de fases a 850ºC em aços dúplex UNS S32304 e UNS S31803



Documentos relacionados
INFLUÊNCIA DO TEMPO DE SOLUBILIZAÇÃO NA RESISTÊNCIA A TRAÇÃO DE UM AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX. 1 UNIFEI - Universidade Federal de Itajubá

4.Materiais e métodos

Influence of Austenitizing Temperature On the Microstructure and Mechanical Properties of AISI H13 Tool Steel.

Estudo Exploratório das Técnicas de Caracterização Microestrutural por meio Microscopia Óptica de Aços Inoxidáveis Dúplex.

2.4-Aços inoxidáveis dúplex:

TRANSFORMAÇÕES DE FASE EM AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX ANALISADAS POR CALORIMETRIA EXPLORATÓRIA DIFERENCIAL

ESTUDO COMPARATIVO DOS MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO DE PORCENTAGEM VOLUMÉTRICA DE FERRITA EM AÇO INOXIDÁVEL DÚPLEX UNS S31803 (SAF 2205)

EVALUATION OF SENSITIZATION OF FERRITICS STAINLESS STEELS STABILIZED AND NOT STABILIZED USING ELECTROCHEMICAL TECHNIQUES IN SULPHURIC ENVIRONMENT

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À CORROSÃO DE AÇOS INOXIDÁVEIS SUBMETIDAS A CICLOS DE FADIGA TÉRMICA.

INFLUÊNCIA DO ENVELHECIMENTO NA TENACIDADE À FRATURA DO AÇO INOXIDÁVEL ISO

TECNOLOGIA DOS MATERIAIS

TRATAMENTOS TÉRMICOS: EFEITO DA VELOCIDADE DE RESFRIAMENTO SOBRE AS MICROESTRUTURAS DOS AÇOS ABNT 1045

Palavras-chave: Aço inoxidável duplex, ferrita, cinética, ferritoscópio. ferritoscope

Estudo das Transformações de Fase Isotérmicas do Aço UNS S31803 Envelhecido entre 700 C e 950 C.

DETECÇÃO DE PEQUENOS TEORES DE FASE SIGMA E AVALIAÇÃO DOS SEUS EFEITOS NA RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S31803

Rem: Revista Escola de Minas ISSN: Escola de Minas Brasil

ESTUDO DA RESISTÊNCIA À COROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL LEAN DUPLEX UNS SOLDADO POR ATRITO COM PINO NÃO CONSUMÍVEL

EFEITO DA ESTRUTURA BAINÍTICA EM AÇOS PARA ESTAMPAGEM

Previsão da vida em fadiga de aços inoxidáveis dúplex SAF 2205 e SAF 2507.

ESTUDO DO COMPORTAMENTO TÉRMICO DA LIGA Cu-7%Al-10%Mn-3%Ag (m/m)

Fração volumétrica de fase sigma durante o envelhecimento de aço inoxidável dúplex SAF 2205

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SÃO PAULO CEFET-SP. Tecnologia Mecânica

ESTUDO DA SENSITIZAÇÃO CAUSADA PELO CICLO TÉRMICO DE SOLDAGEM NO AÇO INOXIDÁVEL SUPERFERRÍTICO AISI 444

Tratamentos Térmicos [7]

TRATAMENTOS TÉRMICOS DOS AÇOS

Estudo exploratório do grau de sensitização do aço UNS S envelhecido a 800 C por ensaios de reativação potenciodinâmica de duplo loop (DL EPR).

REDEMAT REDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

ESTUDO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UM AÇO SAE 4140 COM ESTRUTURA BIFÁSICA

ANÁLISE DE FALHA EM VIRABREQUIM DE MOTOR V8

Evolução da fração volumétrica de ferrita durante a formação de fase sigma do aço SAF 2205.

Influência do envelhecimento térmico de longo prazo em baixas temperaturas sobre as propriedades de corrosão do aço inoxidável duplex 2205

CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FEI PAULO MELO MODENEZI TENACIDADE DO AÇO UNS S31803 APÓS SOLDAGEM.

AVALIAÇÃO DA TENACIDADE DE CHAPAS GROSSAS DE AÇOS INOXIDÁVEIS DUPLEX TOUGHNESS EVALUATION OF DUPLEX STAINLESS STEELS HEAVY PLATES

ESTUDO DA CORROSÃO NA ZAC DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO AISI 316L CAUSADA POR PETRÓLEO PESADO DA BACIA DE CAMPOS

ANÁLISE DO BALANÇO DE FASES FERRITA/AUSTENITA NO METAL DE SOLDA DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S SOLDADO COM TIG

CARACTERIZAÇÃO DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S31803 PELA TÉCNICA NÃO DESTRUTIVA DE CORRENTES PARASITAS PULSADAS

CARACTERÍSTICAS DE FORMAÇÃO DA AUSTENITA EXPANDIDA NA NITRETAÇÃO POR PLASMA DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO AISI 316 GRAU ASTM F138

DIAGRAMA Fe-C. DIAGRAMA Fe-Fe 3 C

PRECIPITAÇÃO DA AUSTENITA SECUNDÁRIA DURANTE A SOLDAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX S. A. Pires, M. Flavio, C. R. Xavier, C. J.

UNIVERSIDADE SANTA. Objetivo Metodologia Introdução. Método Experimental Resultados Experimentais Conclusão Grupo de Trabalho

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA MECANICA Cusco, 23 a 25 de Outubro de 2007

ALTERAÇÕES MICROESTRUTURAIS ENTRE 550 C E 650 C PARA O AÇO UNS S31803 (SAF 2205) ABSTRACT

Dissertação de Mestrado Mailson Santos de Queiroz

Evaluation of different shielding gases in the welding of superduplex stainless steel by the process (GTAW) gas tungsten arc welding orbital

Tratamento térmico. A.S.D Oliveira

Palavras - chave: Grafita nodular, ferro fundido nodular, tempo e temperatura de vazamento, propriedades mecânicas, analise estrutural.

INFLUÊNCIA DO TAMANHO DE GRÃO ORIGINAL NA CINÉTICA DE FORMAÇÃO DE FASE SIGMA EM AÇO INOXIDÁVEL SUPERDÚPLEX

ANÁLISE DO TEMPO ENTRE PASSES NA EVOLUÇÃO MICROESTRUTURAL DE AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTI- COS DE ALTO NITROGÊNIO, COM E SEM NIÓBIO*

ESTUDO DE UM AÇO INOXIDÁVEL DÚPLEX UNS S31803 PROCESSADO EM UM MOINHO PLANETÁRIO

ÍNDICE CORROSÃO E MEDIDAS DE PROTEÇÃO ESPECIFICAÇÃO DE AÇOS, LIGAS ESPECIAIS E FERROS FUNDIDOS (Módulo I)... 4 ACABAMENTO DE SUPERFÍCIE...

CARACTERIZAÇÃO DA TENACIDADE E RESISTÊNCIA A CORROSÃO POR PITE DO AÇO INOXIDÁVEL DÚPLEX UNS S31803 (SAF2205) APÓS SOLDAGEM

EFEITO DE LONGOS TEMPOS DE AQUECIMENTO A 850 C SOBRE A RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO AÇO UNS S31803 EM MEIO ÁCIDO E MEIO AQUOSO CONTENDO CLORETO.

USO DA INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA NO TRATAMENTO TÉRMICO DE FERRAMENTAS DE PENETRAÇÃO DE SOLOS: AUMENTO DO DESEMPENHO OPERACIONAL E DA DE DURABILIDADE

UM ENSAIO DO PROCESSO DE RECOZIMENTO PLENO

MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

DISSOLUÇÃO DA FERRITA DELTA EM AÇO INOXIDÁVEL ENDURECIDO POR PRECIPITAÇÃO

METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO DE FRAÇÃO DE VIDA CONSUMIDA DE AÇOS 1CR-0,5MO ATRAVÉS DE ENSAIOS ACELERADOS DE FLUÊNCIA

Desafios para a laminação das novas demandas de materiais especiais (O&G)

EFEITO DA ADIÇÃO DE Sn NA ESTABILIDADE DE FASES E PROPRIEDADES DE LIGAS Ti-10Mo RESFRIADAS RAPIDAMENTE E ENVELHECIDAS. flaviamec@fem.unicamp.

Tratamentos Térmicos dos Aços Ferramenta Um Ensaio

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS AÇOS INOXIDÁVEIS DUPLEX E OS INOXIDÁVEIS AISI 304L/316L (b) Marcelo Senatore 1, Leandro Finzetto 2,Eduardo Perea 3 (c)

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL AO LONGO DA ESPESSURA DE CHAPA GROSSA DE AÇO MICROLIGADO PARA TUBOS API 5L-X65 1

TRATAMENTO DE SUPERFÍCIE A LASER EM AÇOS 4340 E 300M. Rodovia dos Tamoios, km 5,5 São José dos Campos, SP - *abdalla,@ieav.cta.br

ANÁLISE MICROESTRUTURAL DE AÇOS INOXIDÁVEIS ALTAMENTE LIGADOS: DA AMOSTRAGEM À INTERPRETAÇÃO

ANÁLISE DA SENSITIZAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS EM AÇO INOXIDÁVEL AISI 409 PARA USO EM SISTEMA DE EXAUSTÃO VEICULAR

EFEITO DA VELOCIDADE DE RESFRIAMENTO APÓS TRATAMENTO TÉRMICO EM ALTA TEMPERATURA NA CORROSÃO LOCALIZADA DO AÇO UNS S31803

Disciplina CIÊNCIA DOS MATERIAIS A. Marinho Jr. Materiais polifásicos - Processamentos térmicos

EFEITO DA ENERGIA DE SOLDAGEM SOBRE A FRAÇÃO VOLUMÉTRICA DA FASE FERRÍTICA NO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S 31803

AÇOS ESTRUTURAIS. Fabio Domingos Pannoni, M.Sc., Ph.D. 1

REFINO DE GRÃO ATRAVÉS DE TRATAMENTO TÉRMICO SEM MOVIMENTAÇÃO DE MASSA

PROJETO DE PESQUISA. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Magnabosco Candidata: Mariana Bortoletto Paschoal n FEI

GLOSSÁRIO DE TRATAMENTOS TÉRMICOS E TERMOQUÍMICOS

CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FEI JOÃO RICARDO ORTEGA ALVES

Laboratório de Materiais do Centro Universitário da FEI

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DE VIBRAÇÃO NAS TENSÕES RESIDUAIS GERADAS NA SOLDAGEM A LASER DE AÇOS ARBL E IF

DESENVOLVIMENTO DE RODA MICROLIGADA COM NIÓBIO PARA TRANSPORTE HEAVY HAUL. Eng. (MSc) Domingos José Minicucci

CINÉTICA DE PRECIPITAÇÃO DE FASES INTERMETÁLICAS DELETÉRIAS EM AÇOS INOXIDÁVEIS DUPLEX UNS S32205

Dr. Sergio M. Rossitti VI Ciclo de Palestras sobre Desenvolvimento Tecnológico Junho 2010

TTT VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil

Nos gráficos 4.37 a 4.43 pode-se analisar a microdureza das amostras tratadas a

AVALIAÇÃO DA SOLDAGEM PELO PROCESSO MIG EM AÇO INOXIDÁVEL MARTENSÍTICO

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA JOSÉ ADAILSON DE SOUZA

Engenheira Metalurgista, Mestranda em Engenharia de Materiais, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto, MG, Brasil.

Comparação entre Tratamentos Térmicos e Método Vibracional em Alívio de Tensões após Soldagem

TRATAMENTOS TÉRMICOS E TERMO - QUÍMICOS

Micrografia Amostra do aço SAF 2205 envelhecida por 768 horas a 750ºC. Sigma (escura). Ataque: KOH.

Propriedades Mecânicas dos Aços DEMEC TM175 Prof Adriano Scheid

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

Tratamentos térmicos de ferros fundidos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

ASSISTÊNCIA TÉCNICA. Caderno 02

Desenvolvimento de Aços Alternativos aos Materiais Temperados e Revenidos com Limite de Resistência entre 600 e 800 MPa

TTT VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E CIÊNCIA DE MATERIAIS ALESSANDRA SOUZA MARTINS

ESTUDO DE TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DE AÇOS INOXIDÁVEIS DÚPLEX POR MEIO MICROSCOPIA ÓPTICA.*

PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA OS PRODUTOS LONGOS INOXIDÁVEIS

Eng Mecânico. M.Sc.; D.Sc.; UNIFEI - Universidade Federal de Itajubá Itajubá MG. Brasil.

Aplicação de Técnicas de Processamento e Análise de Imagem na Análise Automática da Quantidade e do Tamanho do Grão em Imagens Metalográficas

Resultados e Discussões 95

ASPECTOS METALÚRGICOS E SUSCEPTIBILIDADE À CORROSÃO LOCALIZADA DO AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX UNS S Kioshy Santos de Assis

Transcrição:

Estudo comparativo da precipitação de fases a 850ºC em aços dúplex UNS S32304 e UNS S31803 Adir G. Reis 1,2), Cynthia S. B. Castro 1), Tiago E. Gomes 1,2), José M. C. Vilela 1), Margareth S. Andrade 1) 1) Centro Tecnológico CETEC SENAI, Avenida José Cândido da Silveira 2000 Belo Horizonte - MG 2) Redemat, Universidade Federal de Ouro Preto, MG Resumo Este trabalho visou avaliar comparativamente as modificações microestruturais de dois aços dúplex, o UNS S32304 e o UNS S31803, submetidos a tratamentos isotérmicos na temperatura de 850 C, por tempos no intervalo de 5 a 1440 minutos. Objetivou-se avaliar a precipitação de fases fragilizantes, indicadas na literatura como deletérias às propriedades mecânicas e de resistência à corrosão destes aços. Foram realizadas análises por microscopia óptica, de força atômica, eletrônica de varredura e microssondagem eletrônica, dureza e nanodureza. As análises mostraram que, para o aço UNS S31803, ocorreu a formação de fase σ com a quantidade desta aumentando em função do tempo de tratamento térmico e resultando em aumento da dureza. O mesmo não foi observado para o aço UNS S32304. Para os tempos de 5, 15, 30 e 60 minutos, este aço apresentou redução de dureza com o aumento do tempo de tratamento, com relação ao estado como recebido, e não foi verificada precipitação de fase σ. Com o intuito de induzir a formação desta fase, amostras deste aço permaneceram então a 850 C por tempos mais longos de 150, 300, 600, e 1440 minutos. A presença de fase sigma não foi observada verificando-se, no entanto, a formação de outro tipo de precipitado e elevação progressiva da dureza a partir do tempo de 60 minutos. As medidas de nanodureza indicaram o amaciamento de ambas as fases, ferrita e austenita, para todos os tempos estudados neste aço. Palavras chaves: Aço inoxidável dúplex, tratamento térmico, fase sigma. Abstract The object of this study was to evaluate comparatively the microstructural changes of two duplex stainless steels grades, UNS S32304 and UNS S31803, submitted to isothermal treatments at 850 C from 5 minutes to 1440 minutes. Analyzes were performed by optical microscopy, atomic force microscopy, scanning electron microscopy and electron microprobe, hardness and nanohardness. The objective was to evaluate the precipitation of sigma phase, indicated in the literature as deleterious to the mechanical properties and corrosion resistance of these steels. Microscopy analysis showed that for the UNS S31803 steel there was precipitation of the σ phase and its amount increased with the time of heat treatment, resulting in an increase in hardness. The UNS S32304 steel showed a reduction in hardness with increasing treatment time for times of 5, 15, 30 and 60 minutes and precipitation of σ phase was not observed. In order to try to induce the formation of this phase, samples of UNS S32304 steel were kept at 850 C for longer times of 150, 300, 600 and 1440 minutes, but the presence of sigma phase was still not observed. Sigma phase was not observed. However, the formation of another precipitate accompanied by an increase in hardness was observed. for times of treatment longer than 60 minutes. The nanohardness measurements indicated softening of both ferrite and austenite for all times studied in this steel. Keys words: Duplex stainless steel, thermal treatment, sigma phase.

Introdução Com o intuito de se reunir em um único material as qualidades dos aços austeníticos e dos aços ferríticos, surgem os aços inoxidáveis dúplex, cuja microestrutura é composta por quantidades balanceadas de ferrita e austenita. O equilíbrio ferrita/austenita é mantido através do controle das quantidades de elementos de liga que agem como formadores de cada uma das fases, como cromo (Cr), molibdênio (Mo) (ambos ferritizantes), nitrogênio (N) e níquel (Ni) (ambos austenitizantes) [PADILHA, BRANDI, 1990]. O histórico térmico do material também exerce importante influência na relação ferrita/austenita. A maior parte dos aços inoxidáveis dúplex solidifica como ferrita, que se transforma parcialmente em austenita. Altas temperaturas de recozimento e altas taxas de resfriamento aumentam os teores de ferrita. Esta é uma condição instável. Os aços inoxidáveis dúplex combinam boa resistência à corrosão e alta resistência mecânica, o que permite redução na espessura e, consequentemente, redução considerável no peso das estruturas construídas com estes aços. Apresentam maior ductilidade e maior resistência à corrosão que os aços ferríticos, maior dureza que os ferríticos e austeníticos em temperatura ambiente e maior resistência mecânica que os aços inoxidáveis austeníticos. Por esta interessante combinação os aços inoxidáveis dúplex estão sendo largamente utilizados nas indústrias siderúrgicas, química e petroquímica, de energia nuclear e outras. Devido à presença de grande quantidade de elementos de liga [POHL, STORZ, GLOGOWSKI, 2007], algumas fases intermetálicas podem ser encontradas nos aços inoxidáveis dúplex, sendo a fase sigma () a mais deletéria. A presença desta fase quase sempre é indesejável nos aços dúplex por comprometer a resistência à corrosão e a tenacidade do material [PADILHA, BRANDI, 1990]. Ela é rica em elementos estabilizadores de ferrita (Cr, Mo, Nb e Si) [DAVIS, 1994], sendo que sua formação ocorre geralmente na fase ferrítica dos aços duplex. A precipitação de sigma se inicia preferencialmente nas interfaces e é intensificada quando o material é exposto a temperaturas da ordem de 700 a 900 ºC por determinado tempo [SEDRIKS, 1996]. Outra precipitação comum são os nitretos de cromo Cr 2 N, cuja formação também se dá de forma mais acentuada entre 700 o C e 900 o C. Sua formação ocorre principalmente devido ao aumento do teor de nitrogênio nos aços inoxidáveis dúplex [NILSSON, 1992]. Além da redução da resistência à corrosão, o empobrecimento em cromo causado pela formação de nitretos de cromo pode levar à desestabilização da ferrita e sua transformação em austenita [MAGNABOSCO, 2001]. Este trabalho visa estudar a precipitação de fases e seu efeito na dureza dos aços UNS S32304 e UNS S31803, após tratamento térmico a 850 ºC para diversos tempos. 2. Materiais e métodos Foram estudados dois aços inoxidáveis dúplex de procedência comercial fornecidos pela Aperam South America: o UNS S32304 e o UNS S31803. Eles foram processados industrialmente e recebidos na forma de chapas. O aço UNS S32304 foi fornecido com acabamento característico de processo de laminação a quente, tratado termicamente e decapado. Quanto ao aço UNS S31803, as amostras fornecidas foram provenientes de uma chapa obtida após a laminação no desbastador. As composições químicas dos dois aços estão apresentadas na tabela 1. Tabela 1 Composição química dos aços estudados (% em peso). Elementos C Cr Ni Mo Mn Si N (ppm) Cu UNS S32304 0,019 22,45 3,63 0,44 1,35 0,39 1128 0,50 UNS S31803 0,015 22,49 5,35 3,02 1,87 0,30 1563 0,19 Amostras destes aços foram submetidas a tratamentos isotérmicos na temperatura de 850 C. Para a liga UNS S31803 os tempos foram de 5; 15; 30 e 60 minutos e, para a liga UNS S32304, 5; 15; 30; 60; 150; 300; 600 e 1440 minutos. Os tratamentos até 60 minutos foram realizados em um

dilatômetro de têmpera e as amostras resfriadas com hélio. Tratamentos por tempos superiores a 60 minutos foram realizados em um forno tipo mufla e as amostras resfriadas em água. Para a análise da microestrutura, com a diferenciação das fases ferrita e austenita, as amostras como recebidas e tratadas termicamente foram embutidas, lixadas, polidas com suspensão de diamante e atacadas com Beraha modificado, cuja composição é dada por: 20 ml de ácido clorídrico, 80 ml de água destilada e 1,0 grama de metabissulfeto de potássio, adicionando-se ainda 2,0 gramas de bifluoreto de amônio. O ataque foi realizado com 8,0 segundos de imersão. Posteriormente, para identificar a formação de fase sigma e de outros precipitados, foi feito um ataque eletrolítico com solução aquosa de 10 % de KOH, imersão de 10 segundos e corrente elétrica de 5,0 ma. A análise quantitativa da fração volumétrica de fase σ e de precipitados foi realizada utilizando-se sistema de aquisição e análise de imagens Image-Pro acoplado a um microscópio ótico. Com o objetivo de se observar as microestruturas e de se realizar as microanálises, utilizou-se o microscópio eletrônico de varredura do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFMG, com EDS acoplado. Foram realizados ensaios de dureza Vickers com carga de 5,0 kgf, para avaliar a influência da formação de fase sigma e precipitados na dureza dos materiais, e de nanodureza com carga máxima de 5,0 mn (5,1x10-4 kgf), utilizando tempo de carga de 15 s, tempo de retenção de 5,0 s e tempo de descarga de 5,0 s, para avaliar o comportamento da ferrita e da austenita após a formação da fase sigma e do precipitado. 3. Resultados e discussão A figura 1 mostra a microestrutura dos aços como recebidos. Não foi detectada a presença de precipitados nestas amostras dos aços UNS S32304 e UNS S31803. Figura 1 Micrografia óptica da amostra de UNS S32304 e de UNS S31803 como recebida. Ferrita: escura, Austenita: clara. Ataque: Beraha modificado. A figura 2 mostra as micrografias ópticas obtidas após tratamentos térmicos de 5,15, 30 e 60 minutos na temperatura de 850 ºC no aço UNS S31803. Nota-se a formação de fase sigma em quantidade crescente com o tempo de tratamento térmico.

(c) Figura 2 Micrografia óptica da amostra de UNS S31803 para os tratamentos térmicos de 5, 15, (c) 30, (c) e (d) 60 minutos. Fase sigma: escura. Ataque eletrolítico: KOH. As análises de EDS confirmaram que as regiões escuras nas micrografias da figura 2 eram de fato a fase sigma. As imagens de microscopia de força atômica indicaram a formação de fase sigma no aço UNS S31803 a partir da ferrita e na interface -, como mostra a figura 3. As medidas de dureza mostraram um crescente endurecimento do material com o aumento da formação de fase sigma, cuja quantidade aumentou em função do tempo de tratamento térmico (figura 4). Estes resultados estão em acordo com a literatura [ROSSITTI, 2000; MAGNABOSCO, 2001]. (d) 5m Figura 3 Imagem de MFA da amostra do aço UNS S31803 tratada por 30 minutos em 850 C. Ataque: Beraha modificado.

30 20 Dureza Vickers (HV5) 300 280 % de fase 10 260 240 0 220 10 0 10 1 10 2 10 0 10 1 10 2 Figura 4 Variação da fração volumétrica de fase sigma e da dureza em função do tempo de tratamento isotérmico para o aço UNS S31803. A presença de molibdênio na composição química do aço UNS S31803 acelera a cinética de formação de sigma promovendo sua nucleação para tempos relativamente curtos. O mesmo não ocorreu com o aço UNS S32304, que contém baixo teor de molibdênio. [ROSSITTI, 2000] O aço UNS S32304 apresentou outro tipo de precipitação, mais fina e de cinética mais lenta. A imagem obtida ao MEV mostra os precipitados como pequenos pontos pretos na interface ferrita/austenita ou na austenita, próximos a essa interface (Figura 5). Na imagem de microscopia de força atômica os precipitados são representados por pequenos pontos claros inseridos também na austenita, como mostram as imagens da figura 5. 10m 2m Figura 5 Imagens ilustrativas do aço UNS S32304 tratada por 600 minutos em 850 C. MEV. Ataque: Beraha modificado. MFA, amostra polida, sem ataque. Com a intenção de se avaliar as mudanças na matriz do aço UNS S32304 devido à formação deste precipitado, foram realizadas medidas de nanodureza em cada fase, ferrita e austenita. A tabela 2 mostra os valores obtidos para este material nas seguintes condições: como recebido e tratado termicamente por 30, 150 e 1440 minutos. Apesar da dispersão das medidas, constata-se tendência de amaciamento tanto da ferrita quanto da austenita com o aumento do tempo de tratamento térmico. Tabela 2 Medidas de nanodureza no aço UNS S32304. Tempo [min] Ferrita [GPa] Austenita [GPa] Como recebido 5 ± 0.4 5.7± 0.4 30 4.6 ± 0.3 5.2± 0.3 150 4.3± 0.3 5.2± 0.3 1440 4.1± 0.4 4.4± 0.2

% de precipitados Dureza Vickers (HV5) Os resultados da fração volumétrica de precipitados e as respectivas medidas de dureza para os aços UNS S32304, em função do tempo de tratamento, são apresentados na figura 7. A quantidade do precipitado formado permanece constante até o tempo de 150 minutos, aumentando a partir de 300 minutos. Para os tempos de 5, 15, 30, 60 e 150 minutos, este aço apresentou uma redução da dureza com o aumento do tempo de tratamento, o que pode estar associado à difusão de nitrogênio na austenita e de cromo na ferrita para as interfases. A partir de 300 minutos, verificou-se a elevação da dureza, fato que pode estar associado à formação de precipitados em maior quantidade para tempos mais longos. 0.9 240 230 0.6 220 210 0.3 200 190 0.0 10 1 10 2 10 3 180 10 1 10 2 10 3 Figura 7 Variação da fração volumétrica de precipitados e da dureza em função do tempo de tratamento isotérmico a 850 ºC para o aço UNS S32304. A análise destes precipitados ao microscópio eletrônico de varredura por EDS não foi precisa uma vez que estes são menores que 200 nm. Foi possível, no entanto, verificar a elevação do teor de cromo nessa região, em relação à austenita e à ferrita. Tudo indica que estes precipitados são nitretos de cromo. De acordo com a literatura, o precipitado que se forma no aço duplex tratado a esta temperatura é o nitreto de cromo [RAMÍREZ, 1997]. Conclusão A precipitação de fase sigma no aço UNS S31803 ocorreu quando o material foi submetido a tratamento térmico a 850 C, mesmo por tempos tão curtos quanto 5 minutos. O aumento no tempo de tratamento térmico neste aço acarretou em elevação da fração volumétrica de fase sigma formada e em consequente aumento no valor de sua dureza. Não ocorreu precipitação de fase sigma no aço UNS S32304, mesmo por tempos longos de tratamento na temperatura de 850 C. Foi observada formação de um precipitado rico em cromo neste aço, possivelmente nitreto de cromo. O aço UNS S32304 apresentou ainda uma redução dos valores de dureza para tempos de tratamentos térmicos inferiores a 150 minutos e um aumento da mesma para tempos superiores a este, não havendo significativa mudança em sua microestrutura e dureza para tempos de até 150 minutos. Análises deste precipitado devem ser realizadas por técnicas capazes de determinar composição de precipitados de pequenos tamanhos. A influência deste precipitado nas propriedades de resistência à corrosão e outras propriedades mecânicas também merecem estudo, pois houve uma corrosão preferencial no local onde estavam presentes os precipitados.

Agradecimentos Os autores agradecem à FAPEMIG, CNPq, CBMM pelo financiamento e APERAM pelo fornecimento de material para realização do trabalho. AGR e TEG agradecem as bolsas concedidas pela CBMM, MSA agradece a bolsa concedida pelo CNPq e JMCV agradece a bolsa concedida pela FAPEMIG. Referências DAVIS, J. R. (ed) ASM specialty handbook stainless steels. ASM: Metals Park, 1994. MAGNABOSCO, R. Influência da microestrutura no comportamento eletroquímico do aço inoxidável UNS S31803 (SAF 2205). 2011. 181f. Tese (Doutorado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais) Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. NILSSON, J. O. Overview Super dúplex stainless steels. Materials Science and Technology, v.8, p.685-700, august 1992. PADILHA, A. F. ; BRANDI, S. D.. Precipitação de fase sigma em aços inoxidáveis ferríiticosausteníticos com microestrutura dúplex. In: II SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE AÇOS INOXIDÁVEIS, 1990, São Paulo, SP. Anais do. São Paulo, SP : ABM, 1990. p. 135-152. POHL, M.; STORZ, O.; GLOGOWSKI, T. Effect of Intermetallic Precipitations on the Properties of Dúplex Stainless Steel. Materials Characterization, v58, p65-71, 2007. RAMÍREZ-LONDOÑO, A. J. Estudo da precipitação de nitreto de cromo e fase sigma por simulação térmica da zona afetada pelo calor na soldagem multipasse de aços inoxidáveis dúplex. Tese. São Paulo, 1997, 151 p. ROSSITTI, S. M. Efeito do Nióbio na Microestrutura e nas Propriedades Mecânicas do Aço Inoxidável Superduplex Fundido SEW 410 W. Nr. 1.4517. Tese (Doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais) Área Interunidades em Ciência e Engenharia de Materiais, Universidade São Paulo, São Carlos, 2000. SEDRIKS, A. J. Corrosion of stainless steels. John Wiley: Second Edition, New York, 1996.