Energética do trem de onda associado às geadas em Latitudes Tropicais

Documentos relacionados
Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE), SP. Producción (CICYTTP/CONICET), Diamante, Entre Ríos, Argentina (DCA/USP), SP

PROGRAMA DE DISCIPLINA

OS DEZOITO CASOS MAIS INTENSOS DE FRIAGEM NA AMAZÔNIA NO PERÍODO

PROCESSOS FÍSICOS ASSOCIADOS À GÊNESE DE UM VCAN ENTRE O OCEANO PACÍFICO E A AMÉRICA DO SUL EM ABRIL DE 2013

Energética dos vórtices ciclônicos de altos níveis, localizados sobre o Oceano Pacífico Sul

USO DO ÍNDICE MENSAL DA OSCILAÇÃO ANTÁRTICA PARA AVALIAÇÃO DE ALGUMAS INTERAÇÕES COM A CIRCULAÇÃO TROPOSFÉRICA NA AMÉRICA DO SUL E OCEANOS PRÓXIMOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS COORDENAÇÃO DE GRADUAÇÃO EM METEOROLOGIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

OCORRÊNCIA DE NEVE NO RIO GRANDE DO SUL E EM SANTA CATARINA: ESTUDO DE CASO DO DIA 04/09/2006

Análise do aquecimento anômalo sobre a América do sul no verão 2009/2010

SITUAÇÕES METEOROLÓGICAS ASSOCIADAS À OCORRÊNCIA DE NEVE EM SÃO JOAQUIM (SC)

COMPARAÇÕES EM DIFERENTES PERÍODOS DE ESTUDO DE PASSAGEM DE SISTEMAS FRONTAIS NO BRASIL

PROPAGACÃO DAS ONDAS DE ROSSBY NOS INVERNOS DE MÁXIMA FREQÜÊNCIA DE OCORRÊNCIA DE GEADAS NA PAMPA ÚMIDA

INCURSÕES DE AR FRIO SOBRE A REGIÃO SUDESTE DA AMÉRICA DO SUL

DOIS EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA NA REGIÃO DA SERRA DO MAR. Serafim Barbosa Sousa Junior 1 Prakki Satyamurty 2

ATUAÇÃO DO PAR ANTICICLONE DA BOLÍVIA - CAVADO DO NORDESTE NAS CHUVAS EXTREMAS DO NORDESTE DO BRASIL EM 1985 E 1986

EPISÓDIOS DE CHUVA INTENSA NA REGIÃO DA GRANDE FLORIANÓPOLIS/SC: ANÁLISE PRELIMINAR DOS EVENTOS E CARACTERIZAÇÃO SINÓTICA

AVALIAÇÃO DAS MUDANÇAS NA FREQUÊNCIA DE SISTEMAS FRONTAIS PARA O SUL DA AMERICA DO SUL NO CLIMA FUTURO RESUMO

ANÁLISE PRELIMINAR DE UM CASO DE VCAN QUE FAVORECEU A OCORRÊNCIA DE GRANDES ENCHENTES NO SUL DO BRASIL EM DEZEMBRO DE 1995

Variabilidade Intrasazonal da Precipitação da América do sul

PADRÕES SINÓTICOS ASSOCIADOS A ONDAS DE FRIO NA CIDADE DE SÃO PAULO GUSTAVO CARLOS JUAN ESCOBAR. Recebido Novembro Aceito Fevereiro 2007

RELAÇÕES ENTRE OS PROCESSOS ENOS DE GRANDE ESCALA E PECULIARIDADES DO CLIMA REGIONAL NO SUL DO BRASIL

Abstract 1- Introdução 2- Dados e Metodologia 3- Resultados e Discussão

A PRÉ-ESTAÇÃO CHUVOSA NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM O DIPOLO DO OCEANO ÍNDICO. Anita Rodrigues de Moraes Drumond 1 e Tércio Ambrizzi 1

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

PADRÕES CLIMÁTICOS DOS VÓRTICES CICLÔNICOS EM ALTOS NÍVEIS NO NORDESTE DO BRASIL, PARTE II: ASPECTOS SINÓTICOS

Novembro de 2012 Sumário

INFLUÊNCIA DO ANTICICLONE SUBTROPICAL DO ATLÂNTICO SUL NOS VENTOS DA AMÉRICA DO SUL

A PRELIMINARY EVALUATION OF THE DYNAMIC CONTROL OF GLOBAL TELECONNECTION PATTERNS

Avaliação dinâmica de um evento de precipitação intensa sobre o Nordeste do Brasil

Novembro de 2012 Sumário

SÍNTESE SINÓTICA FEVEREIRO DE Dr. Gustavo Carlos Juan Escobar Grupo de Previsão de Tempo CPTEC/INPE

Docente da UFPA e Pós Graduação em Ciências Ambientas (PPGCA).

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

Novembro de 2012 Sumário

USO DE ÍNDICES CLIMÁTICOS PARA IDENTIFICAR EVENTOS DE CHUVA EXTREMA NO INTERIOR SEMI-ÁRIDO SUL DO NORDESTE DO BRASIL (NEB)

PADRÕES DE TELECONEXÃO ASSOCIADOS A ATIVIDADES CONVECTIVAS NA REGIÃO TROPICAL

CICLONE CATARINA: ANÁLISE SINÓTICA. Manoel Alonso Gan

Análise de Distúrbios Ondulatórios de Leste que Afetam o Nordeste Brasileiro: Um Estudo de Caso

Dezembro de 2012 Sumário

1. Acompanhamento dos principais sistemas meteorológicos que atuaram. na América do Sul a norte do paralelo 40S no mês de agosto de 2013

Novembro de 2012 Sumário

Fluxos de Calor Sensível e Calor Latente: Análise Comparativa. dos Períodos Climatológicos de e

CICLONES PRODUTORES DE TEMPO SEVERO NA AS SUBTROPICAL. PARTE 2: ANÁLISE SINÓTICA E AVALIAÇÃO DO MODELO GLOBAL.

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS ROSA DE FATIMA CRUZ MARQUES VADLAMUDI BRAHAMANANDA RAO

EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE O SUL DO NORDESTE

SÍNTESE SINÓTICA DEZEMBRO DE Dr. Gustavo Carlos Juan Escobar Grupo de Previsão de Tempo CPTEC/INPE

Climatologia de Eventos de Chuva Pós-frontal no Município do Rio de Janeiro Suzanna M. B de O. Martins ; Claudine Dereczynski

ASPECTOS SINÓTICOS DA ENCHENTE DE MAIO DE 1992 NO VALE DO ITAJAÍ

ATUAÇÃO DE UM SISTEMA FRONTAL NA ESTAÇÃO SECA DO NORDESTE DO BRASIL. Lizandro Gemiacki 1, Natalia Fedorova 2

Índice de Bloqueio Associado ao Furacão Catarina

Novembro de 2012 Sumário

Novembro de 2012 Sumário

Dezembro de 2012 Sumário

CLIMATOLOGIA ENERGÉTICA DA REGIÃO PREFERENCIAL DOS VÓRTICES CICLÔNICOS DE ALTOS NÍVEIS (VCAN) E DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL (ZCIT)

Novembro de 2012 Sumário

Novembro de 2012 Sumário

Modulação espacial de episódios de ZCAS durante o verão austral

Circulação Geral da Atmosfera

AS ESTIAGENS NO OESTE DE SANTA CATARINA ENTRE

Ambientas (PPGCA)

XIV SEMINÁRIO DE MEIO AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS. Análise Sinótica de um Evento Frio em Itajubá-MG em Maio de 2018

Avaliação da seca de 2013 a 2015

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

Novembro de 2012 Sumário

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

VARIABILIDADE EXTREMA DO GELO MARINHO ANTÁRTICO ASSOCIADA À CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA NA ESCALA DE TEMPO SINÓTICA.

EVENTOS ZCAS NO VERÃO 2005/2006 E SUAS RELAÇÕES COM AS OSCILAÇÕES INTRASAZONAIS

Novembro de 2012 Sumário

Introdução a Ciências Atmosféricas. Os Movimentos da Atmosfera. Aula 4 Circulação Geral da Atmosfera

Novembro de 2012 Sumário

CLIMATOLOGIA MENSAL DO ANTICICLONE SUBTROPICAL DO ATLÂNTICO SUL. Universidade Federal de Rondônia Departamento de Geografia

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

ESTUDO DE CASO DE CICLONE EXTRATROPICAL SOBRE A AMÉRICA DO SUL: SENSIBILIDADE DAS ANáLISES

Dezembro de 2012 Sumário

AMBIENTE SINÓTICO ASSOCIADO A EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITACÃO NA REGIÃO LITORÂNEA DO NORDESTE DO BRASIL: ANÁLISE PRELIMINAR.

ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL DO ATLÂNTICO SUL

Dezembro de 2012 Sumário

A ocorrência de tempo severo sobre o Estado de São Paulo causado pelo vórtice ciclônico em altos níveis: um estudo de caso

BOLETIM DIÁRIO DO TEMPO

MARÇO DE 2000, MÊS ANÔMALO DE CHUVAS NOS ESTADOS DE LESTE DO NORDESTE: UM ESTUDO DE CASO

CARACTERÍSTICAS DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O BRASIL NO VERÃO E OUTONO DE 1998.

CLIMATOLOGIA SINÓTICA DE EVENTOS DE ONDAS DE FRIO SOBRE A REGIÃO SUL DE MINAS GERAIS

21 Novembro de Sumário

Novembro de 2012 Sumário

Estudo de Caso de Chuvas Intensas em Minas Gerais ocorrido durante período de atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul

Ciclones tropicais, extratropicais e subtropicais

CLIMATOLOGIA 1 ACA0223

Novembro de 2012 Sumário

Área Temática Número da área: 9

RELAÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA SECUNDÁRIA DO ATLÂNTICO SUL SOBRE A OCORRÊNCIA DE SISTEMAS FRONTAIS AUSTRAIS ATUANTES NO BRASIL

Intrusão de Alta Vorticidade Potencial sobre o Oceano Atlântico Sul no Modelo de Circulação Geral do CPTEC

COMO UM MODELO CLIMÁTICO REPRODUZ A CLIMATOLOGIA DA PRECIPITAÇÃO E O IMPACTO DE EL NIÑO E LA NIÑA NO SUL DA AMÉRICA DO SUL?

UMA ANÁLISE SINÓTICA DO MÊS DE JANEIRO DE 2005 COM ÊNFASE NO VÓRTICE DO NORDESTE: UM ESTUDO DE CASO.

A ESTATÍSTICA DOS TRANSIENTES NA AMÉRICA DO SUL

SÍNTESE SINÓTICA MENSAL MAIO DE 2010

Dezembro de 2012 Sumário

SÍNTESE SINÓTICA MENSAL NOVEMBRO DE 2012

CARACTERIZAÇÃO DE SISTEMAS FRONTAIS EM LATITUDES TROPICAIS E SUBTROPICAIS DA AMÉRICA DO SUL

ONDAS DE LESTE EM 2009

Transcrição:

Energética do trem de onda associado às geadas em Latitudes Tropicais Virginia P. Silveira (1*), Gabriela V. Müller (2), Manoel A. Gan (1), Tércio Ambrizzi (3) (1) CPTEC/INPE, São José dos Campos, SP, Brasil. (2) CICYTTP/CONICET, Diamante, Entre Ríos, Argentina (3) IAG/USP, São Paulo, Brasil *email: virginia.silveira@cptec.inpe.br ABSTRACT: This study presents a new vision on the extreme cold events that affect the tropical region of South America considering the energetic of wave train propagation associated to these systems. The geopotential height composite analysis indicate that the extreme cold events observed in tropical latitudes are associated with a single Rossby wave pattern propagating in the Pacific Ocean which rapidly drives the low level anticyclone from the southwest of the continent to low latitudes. This propagation involves a southern circulation due to the meridional wind penetration and consequently polar advection causing temperatures to drop below 0ºC. The evolution of the kinetic energy maxima for frost events shows that the Downstream Development term was very important to the formation and to modulate the intensification and dissipation phase of the kinetic energy maxima. However, the baroclinic instability conversion was more important to increase the energy maxima. Palavras-chave: geada, energética, Latitude Tropical 1 INTRODUÇÃO Embora o clima das regiões Tropical e Extratropical difere consideravelmente, em algumas ocasiões essas regiões são afetadas pelo mesmo sistema sinótico, como frentes frias que atravessam a América do Sul (AS). Grande parte desses sistemas não atinge baixas latitudes, quando atinge, sua trajetória é modificada minimizando seus impactos. De acordo com Müller e Berri (2007) alguns eventos de geada na região Tropical da AS estão associados ao trem de ondas de Rossby, que inicia na região centro-leste do oceano Pacífico e propaga através das latitudes médias do Hemisfério Sul. Inicialmente a propagação é em direção ao pólo e após algum tempo curva-se em direção ao Equador. Quando chega ao continente, o trem de ondas segue para nordeste afetando todo o cone sul do AS. Krishnamurti et al. (1999) associou a ampliação da onda de altos níveis nas latitudes médias, ao mecanismo de desenvolvimento Corrente Abaixo (DCA), proposto pela Orlanski e Katzfey (1991) para ciclones no Hemisfério Sul. Krishnamurti e colaboradores fizeram uma decomposição das ondas associadas a eventos da geada na região sudeste do Brasil, dividindo as ondas em escala sinótica, que se propaga para leste, e em ondas planetárias, que possuem características quase-estacionárias. O objetivo deste estudo foi analisar a energética das ondas associadas ao frio extremo nas latitudes Tropical da AS. 2 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS EVENTOS: DADOS E METODOLOGIA A temperatura mínima diária (Tmin) da estação meteorológica do IAG/USP, localizado em uma área verde no parte sul da cidade de São Paulo foi usada como representante das Latitudes Tropicais. Os eventos de geada foram selecionados para o período de maio a setembro de 1950-2000 e classificados como geada quando, Tmin era menor que 0 C. Deste estudo foram encontrados seis eventos: 05/07/1953, 02/08/1955, 18/07/1975, 01/06/1979, 29/07/1990 e 17/07/2000.

Compostos desses eventos de geada foram feitos através dos dados da reanálise do NCEP/NCAR (Kalnay et al. 1996) para estudar a energética. A confiabilidade dos dados foi testada usando o teste-t. A energética foi estudada através da Equação Energia Cinética do Distúrbio (K ) (Equação 1), desenvolvida por Orlanski and Katzfey (1991): K =. VK. V φ ω α V. V. V + V. V t ( 3 3 ) ( 3. 3 )V a ω K ω φ + RES (1) p p Onde: V é o vento horizontal e α a densidade específica. Nesta equação, a sobre barra é a média zonal e linha o desvio dessa média. O índice "3" nos vetores e operadores indica três dimensões, enquanto que o índice "a" representa o componente de vento ageostrófico. O primeiro termo da direita representa a convergência da K', o segundo a convergência do fluxo ageostrófico, conhecida como DCA. O terceiro termo é a conversão baroclínica. Os termos de quarta e quinta estão associados ao cisalhamento de vento horizontal e considerados como conversão barotrópica. Os termos sexto e sétimo estão associados com a convergência do fluxo vertical de energia. 3 - RESULTADOS O campo de anomalia do vento meridional em 300hPa (Figura não mostrada) para geadas em São Paulo mostra um único padrão de propagação de onda com valores significativos de anomalia desde 5 dias antes. As anomalias se tornam mais intensas no dia anterior ao evento. Esta configuração é similar aos casos de geadas generalizadas menos persistente na região do Pampa Úmido obtidos por Müller e Berri (2007) e semelhante ao típico padrão de propagação do trem de onda de Rossby das ondas de frio amplamente estudado na literatura (Fortune e Kousky 1983, Marengo et al. 1997, Garreaud 2000, Marengo et al. 2002). Este padrão é caracterizado por uma frente fria que segue uma trajetória nordeste - sudoeste com anticiclone pós-frontal que entram no continente em altas latitudes. Escobar (2007) através de uma análise sinótica dos campos de pressão ao nível do mar e da altura geopotencial em 500hPa associada a ondas de frio na cidade de São Paulo, observou que este é o padrão principal na análise de componentes principais e explica 29,3% da variância. Em níveis médios da atmosfera, a circulação associada a este padrão consiste de uma intensa crista no oceano Pacífico, perto da costa chilena, e um cavado que se estende do interior do continente ao oceano Atlântico Sul, como mostrado por Escobar (2007). Desta forma, o fluxo de ar frio confinado favorece a incursão de sistemas migratórios até centro-oeste e sudeste do Brasil, com a evolução de uma onda de frio na AS (Garreaud 2000, Cavalcanti). A evolução da K em 300hPa nos compostos apresenta máximos de energia ao redor do Hemisfério Sul. No entanto, só os máximos entre 120 E a 20 W e 30 S e 40 S no Dia-5 (Fig.1a) parecem ter alguma influência nos eventos de geada. O máximo de K em 115 W 40 S (K1) está localizado corrente abaixo do cavado associado aos eventos (Fig. não mostrada). No Dia-4 (Fig. 1e), um máximo de energia (K2) desenvolve corrente abaixo da K1 em 80 W-45 S. Ambos os valores máximos estão associados com a crista sobre a costa oeste da AS, onde K1 localiza-se corrente acima do eixo da cordilheira e K2 corrente abaixo. No Dia-2.5 (Fig. 1i), outro centro de máxima K (K3) desenvolvido ao longo da costa sul do Brasil. Estes três máximos tornam-se estacionários até o Dia-1 (Fig. não mostrada). Durante este período, houve dispersão de energia cinética, pois K1 decai e K2 intensifica. No Dia0 (Fig. 1m), K3 decai, mas continuou fraco sobre o Atlântico Sul até o Dia2.5 (Fig. não mostrada).

Figura 1 Isolinhas de K (primeira linha), Conversão Baroclínica (segunda linha), Conversão Barotrópica (terceira linha) e Termo DCA (quarta linha) para o Dia-5 (primeira coluna), Dia-4 (segunda coluna), Dia-2.5 (terceira coluna) e Dia0 (quarta coluna). Unidades m 2.s -3, exceto K m 2 s -2. Os valores da K acima de 40 m 2 s -3 estão preenchidos.

Pode-se ver que não há contribuição das conversões baroclínica e barotrópica no Dia-5 para K1 (Fig. 1b e 1c, respectivamente), pois esses termos, em torno da máxima, foram negativos. Portanto, o termo DCA foi a principal fonte de K para a formação deste centro (Fig. 1d). Este resultado está de acordo com Chang (2000) que observou que, exceto para a primeira onda, os outros se desenvolvem através da convergência do fluxo ageostrófico. Durante a fase de intensificação (24h seguinte), K1 está associado com a conversão baroclínica (Fig. 1f) e convergência do fluxo ageostrófico (Fig. 1h). Neste momento (Dia-4) o termo DCA apresentou uma nova região de divergência no lado leste do K1 (extração de energia) e convergência corrente abaixo da região de divergência. Esta situação foi importante, pois nesta região a convergência do fluxo ageostrófico desenvolveu o K2 (Fig. 1e), isto é, a fonte de energia cinética do K2 foi a energia exportada pelo K1 e importados para esta região. Portanto, como K1, K2 não se formam devido à conversão baroclínica, porque seus valores são negativos em torno de K2 e positivo a leste (Fig. 1f). O padrão do fluxo ageostrófico continua por mais 36h (Fig. 1l), quando uma nova região de convergência do fluxo ageostrófico forma-se ao longo da costa sul do Brasil. Esta região de convergência contribuiu para o desenvolvimento do K3 sobre esta região no Dia-2,5 (Fig. 1i), embora uma pequena contribuição da conversão baroclínica também é observada (Fig. 1j). Por outro lado, K1 está decaindo neste dia devido a divergência do fluxo de ageostrófico na região, mesmo sendo positiva a conversão baroclínica. Após este dia (Fig. não mostrada), o K2 também começa a fase de dissipação associado com o mesmo processo. Durante todo o período, o termo barotrópico manteve-se negativa (Fig. 1), semelhante aos sistemas baroclínicos (Randell e Stanford, 1985). Em geral, o termo DCA foi importante durante a formação e a fase de máxima dissipação dos centros de K. Já a conversão baroclínica foi positiva durante as fases de intensificação e de dissipação, e a conversão barotrópica somente extraiu energia K e a converteu em energia cinética do estado básico. Assim, a evolução da máxima energia cinética concorda com a Teoria do Desenvolvimento Corrente Abaixo Baroclínico (DCAB) proposto por Orlanski e Sheldon (1993) e também observado por Danielson et al. (2006) em um estudo de caso sobre o oceano Pacífico Norte. 3 - DISCUSSÕES E CONCLUSÕES Os eventos de geada na região tropical estão associados a um único padrão de onda, com uma propagação a partir do oceano Pacífico e que se deslocam para a AS, com uma trajetória tipo arco, que termina no oceano Atlântico. Esta trajetória já foi amplamente documentada para eventos mais intensos que alcançam essas latitudes. A energética mostrou três centros de máxima energia cinética associados com a onda que provocou a geada. A formação destes centros de máxima foi associada à convergência do fluxo ageostrófico, porém a conversão baroclínica também foi importante durante a fase de intensificação. Esta evolução foi semelhante à teoria DCAB proposta por Orlanski e Sheldon (1993). Como no sistema baroclínico, a conversão barotrópica apenas converte energia do distúrbio em energia cinética zonal. O resultado deste estudo pode ser de grande ajuda para os meteorologistas para a previsão de eventos de geada através da evolução dos padrões de propagação de ondas no Hemisfério Sul. 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHANG, E.K.M. Wave packets and life cycles of troughs in the upper troposphere: Examples from the Southern Hemisphere summer season of 1984/85. Mon. Wea. Rev., v.128, n.1, p.25 50, 2000.

DANIELSON, R.E., J.R. GYAKUM, AND D.N. STRAUB. A Case Study of Downstream Baroclinic Development over the North Pacific Ocean. Part II: Diagnoses of Eddy Energy and Wave Activity. Mon. Wea. Rev., v.134, p.1549 1567, 2006. ESCOBAR, G.C.J. Padrões Sinóticos Associados a ondas de frio na cidade de São Paulo. Revista Brasileira de Meteorologia, v.22, n.2, p.240-253, 2007. FORTUNE, M., AND V.E. KOUSKY. Two severe freezes in Brazil: precursors and synoptic evolution. Mon.Wea. Rev., v.11, p.181-196, 1983. GARREAUD, R. Cold Air Incursions over Subtropical South America: Mean Structure and Dynamics. Mon.Wea. Rev., v.128, p.2544-2559, 2000. KALNAY, E., et al. The NCEP/NCAR 40-year reanalysis project. Bulletin of the American Meteorological Society, v.77, p.437 471, 1996. KRISHNAMURTY, T.N., M. TEWARI, D.R CHAKRABORTY, J.A. MARENGO, P.L. SILVA DIAS, AND, P. SATYAMURTI. Downstream amplification: A possible precursor to major freeze events over south-eastern Brazil. Weather and Forecasting, v.14, p.242-270, 1999. MARENGO, J. A., A. CORNEJO, P. SATYAMURTY, C. NOBRE, AND W. SEA. Cold surges in tropical and extratropical South America: The strong event in June 1994. Mon. Wea. Rev., v.125, p.2759-2786, 1997. MARENGO, J.A., T. AMBRIZZI, G. KILADIS, AND B. LIEBMANN. Upper-air wave trains over the Pacific Ocean and wintertime cold surges in tropical-subtropical South America leading to Freezes in Southern and Southeastern Brazil. Theor. Appl. Climat., v.74, p.243-247, 2002. MÜLLER G.V., AND G.J. BERRI. Atmospheric Circulation Associated with Persistent Generalized Frosts in Central-Southern South America. Mon. Wea. Rev., v.135, n.4, p.1268-1289,2007. ORLANSKI, I., AND J. KATZFEY. The Life Cycle of a Cyclone Wave in the Southern Hemisphere. Part I: Eddy Energy Budget. Journal Atmospheric Sciences, v.48, n.17, p.1972 1998, 1991. ORLANSKI, I., AND J. SHELDON. A Case of Downstream Baroclinic Development over Western North America. Mon. Wea. Rev., v.121, p.2929 2950, 1993. RANDEL, W.J., AND J.L. STANFORD. The Observed Life Cycle of a Baroclinic Instability. J. Atmos. Sci., v.42, p.1364 1373, 1985.