Cristo 10. Ele constituiu um povo? Introdução: Neste capítulo alguns pontos começam a se ligar. Vamos falar sobre pacto de obras e pacto de graça e sobre qual é o lugar daqueles são chamados pelo Espírito Santo. Nesta parte falaremos sobre a igreja. Queremos responder algumas perguntas e analisar o lugar do povo de Deus na história. Em primeiro lugar, vamos começando com uma revisão do pacto de obras. Adão foi criado à imagem e semelhança de Deus e deveria replicar essa imagem e semelhança, a partir do seu relacionamento com Eva. Ou seja, a família estava dentro do pacto de obras. O requisito básico era a obediência. Se Adão obedecesse, todos teriam vida. Mas, caso ele desobedecesse, todos morreriam. A questão é que esse pacto foi quebrado. Adão resolveu se rebelar contra Deus e infringiu os termos da aliança. A partir daquele momento a morte passou a todos os homens, porque todos herdaram a culpa e a corrupção de Adão. Os homens foram punidos, como efeito da culpa, com a morte: física, espiritual e eterna. Além disso, como efeito da corrupção, passaram a ficar separados: de si mesmos, dos outros, da Criação e de Deus. Em Gênesis 3:15, antes do juízo diante do pecado, Deus disse: Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar". Esta é a promessa da salvação. É a promessa da graça. Deus disse que mandaria da mulher alguém que esmagaria a cabeça da serpente, que é Satanás (Apocalipse 12:9). Adão e Eva não precisaram fazer nada para que Deus os redimisse. Foram passivos! A iniciativa partiu de Deus. Ele, que fora ofendido, resolveu resgatar a raça humana. E qual foi a forma escolhida? Mandando um descendente da mulher: JESUS.
O pacto da graça se chama assim, porque Deus resolveu vir de encontro ao gênero humano. Sem que os homens fizessem nada, sem merecer, Deus resolveu salvar a raça humana. Então, a partir de Gênesis 4, começa o plano da redenção. Redimir, no sentido teológico, é sinônimo de salvar. Preste bem atenção, porque de Gênesis 4 até Apocalipse 20 a Bíblia destaca como Deus redime o seu povo. Porque Gênesis 1 e 2 trata-se da Criação. Gênesis 3 tratase da Queda. E Apocalipse 21 e 22 trata-se da Criação já redimida. Ou seja, todo o escopo bíblico trata da redenção da raça humana. Há duas realidades que não podem deixar de ser colocadas: os que estão com Deus e os que não estão com Deus. Preste bem atenção nas palavras de Jesus ao falar do último dia desta criação: Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, assentar-se-á em seu trono na glória celestial. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. (Mateus 25:31-33) Fica evidente sua colocação dupla, porque há os ficam à direita e há os que ficam à esquerda. Os que ficam à direita são aqueles que, segundo Apocalipse 22:14, lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro, ou seja, são aqueles que creram na mensagem de Jesus. Aqueles que foram iluminados pelo Espírito Santo e compreenderam que Cristo é seu substituto. Os demais estarão à esquerda. Estes são os que rejeitaram a mensagem da graça de Deus. Os que escarneceram o Cordeiro. Aqueles que rejeitaram o Senhor. Preferiram ficar no curso deste mundo. São inimigos de Deus. Neste capítulo, propriamente dito, queremos falar daqueles que estarão à direita. Quem são eles? Por que estão com Cristo? Qual é o nome deles? Quando foram chamados? Viaje comigo neste ensinamento bíblico, maravilhoso.
1. De onde veio esse povo? Vamos começar lendo Gênesis 12:1-3: Então o Senhor disse a Abrão: "Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. "Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção. Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados." (Gênesis 12:1-3) Fazendo um exercício simples de caminhada bíblica passamos por Gênesis 4, quando vemos os efeitos do pecado: um irmão mata o outro. Em Gênesis 5, percebemos que toda a geração de Adão termina do mesmo jeito: morrendo. E em Gênesis 6, a maldade no mundo está exagerada. Deus resolve dar cabo da humanidade: o dilúvio é anunciado. Mas, o que fazer com Gênesis 3:15? Como Deus acabaria com todo o gênero humano se ele havia feito uma promessa de redimir a humanidade? Vamos por partes. Em primeiro lugar, Deus não tolera o pecado. Aquela geração tornou-se muito má. As filhas de Deus casaram-se com as filhas dos homens. Isso significa que as descendentes de Sete se casaram com os descendentes de Caim. Houve uma mistura que gerou impiedade. Sempre que há mistura de crenças não há respeito, mas diluição da fé. As pessoas se esqueceram de Deus. Noé surge neste contexto como sendo aquele que Deus escolhera para que a promessa de Gênesis 3:15 continuasse. Por isso, ele, seus filhos, esposa e noras, ao todo oito pessoas, entraram numa arca e o juízo de Deus caiu sobre aquela geração. Passado o dilúvio, eles se estabeleceram na terra e, em Gênesis 11, a partir de Babel, povos são formados com línguas diferentes.
No meio dessa mistura que acontecera, Deus resolveu chamar Abrão. Ele morada na caldeia, na cidade de Ur. A promessa dada a Abrão era para que ele saísse da sua casa e fosse para onde Deus havia mandado. A partir de Abrão, todas as nações da terra seriam abençoadas. A partir dele, um povo seria formado e, deste povo, sairia o descendente da mulher. A promessa de Gênesis 3:15 se cumpriria em Abrão. Este é um pacto estabelecido entre Deus e Abrão. Mas, para entendermos melhor esse contexto, precisamos chegar a Gênesis 17. O texto é claro: Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito. Farei uma aliança entre mim e ti e te multiplicarei extraordinariamente. (Gênesis 17:1-2) Perceba os termos do pacto: 1) Deus diz que Ele, e não outro, é o Senhor; 2) Abrão deveria obedecer ao Senhor; Da mesma maneira que aconteceu com Adão, Deus demanda obediência de Abrão e afirma que fará com ele um pacto/aliança. Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência. Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus. (Gênesis 17:7-8) Mais termos são utilizados precisam ser reforçados: 1) A aliança é para Abrão e para sua descendência; 2) O Senhor seria o seu Deus e a descendência de Abrão seria o povo de Deus. Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações. Esta é a minha aliança, que
guardareis entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua. O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança. (Gênesis 17:9-14) E chegamos à parte mais empolgante: Deus estabelece um sinal visível de uma realidade espiritual: a circuncisão. Deixe-me explicar isso: o que garante o pacto? A palavra de Deus. É claro! Mas, ele deixou um sinal visível e real da realidade espiritual. Ou seja, todas as vezes que uma circuncisão era feita, por exemplo, os descendentes de Abrão, que aqui já tivera seu nome mudado para Abraão, poderiam lembrar-se que o Senhor era o Deus deles e que eles eram o seu povo. Além disso, deveriam se lembrar que o descendente da mulher viria deles e todas as nações da terra seriam abençoadas. Esta é a primeira menção do povo de Deus na Bíblia. Ou seja, preditivamente e soteriologicamente, a igreja é formada em Abraão. Quando digo isso, afirmo que a igreja estava contida nas profecias dadas a Abraão e a salvação foi anunciada a partir de um povo que se formaria a partir dele. Jesus viria de Abraão. Mas, a igreja não foi formada em Atos? Não! Poderíamos dizer que Atos é a igreja escatológica, ou dos últimos dias. A descida do Espírito Santo confirmou que Deus enviou Jesus e sua obra deve ser anunciada nos quatro cantos da terra. Em Atos vemos a promessa feita a Abraão se cumprindo, ou seja, as nações da terra seriam abençoadas, a partir dele. Então, para concluir essa parte, poderíamos pensar no seguinte: onde a igreja foi formada? A igreja foi formada a partir de Abraão. A ele foi dada uma
aliança de que sua descendência seria o povo de Deus e Deus mesmo seria o seu Senhor. É curioso, porque essa promessa se repete por toda a Escritura. Vejamos alguns exemplos: Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas do Egito. (Êxodo 6:7) para que, hoje, te estabeleça por seu povo, e ele te seja por Deus, como te tem prometido, como jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. Deuteronômio (29:13) Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. (Apocalipse 21:3) O pacto permeia toda Escritura. De Gênesis a Apocalipse ele diz que é o nosso Deus e nós somos o seu povo. Para terminar essa parte, você deve se perguntar: mas, eu não sou judeu, por isso, não sou descendente de Abraão. Logo, não faço parte da igreja. Argumento sutil, ardiloso, engenhoso, mas não bíblico. Abraão creu e isso lhe foi imputado por justiça (Romanos 4:3). Ou seja, apesar de haver um sinal visível é preciso fé. Mas, fé em que? Segundo Hebreus 10: 36-37, a fé é na promessa, porque o justo vive pela fé. Ou seja, Abraão creu na promessa que o descendente da mulher viria. Ele creu em Cristo, por isso foi justificado. E não diferente conosco. Jesus, o descendente da mulher, veio para que gente de todos os povos, línguas e nações cressem e por isso fossem justificados diante de Deus. Israel, povo formado a partir de Abraão, não é mais necessário, porque cumpriu o seu papel na história. Eles, que vieram de Abraão, foram a nação deixada por Deus para que Jesus nascesse. Nosso Senhor nasceu e, por isso, podemos crer que ele é o Senhor. Ele é o nosso Deus e nós somos o seu povo. Onde está o povo de Deus? Espalhado pelos quatro cantos da terra. gente dos quatro cantos do planeta está, neste
exato momento, celebrando o Senhor pela vitória de Jesus. Ele é o nosso Deus e nós somos o seu povo. 2. Por que esse povo está aqui? O fim último do homem é glorificar a Deus. Eu poderia responder essa pergunta, simplesmente assim. A igreja está na terra para glorificar a Deus. Mas, percebam como essa resposta é frágil e, de maneira prática, não responde nossa questão. Por isso, vamos pensar, baseados em alguns textos bíblicos, na razão pela qual a igreja está aqui. Começando por Abraão, por exemplo, Deus o abençoou no meio da fome. Ele foi até Gerar e lá Abimeleque viu Sara. Abraão mentiu dizendo que ela era sua irmã. Abimeleque, por sua vez, tomou Sara por esposa, mas Deus o advertiu dizendo que ela era esposa de Abraão. Claro que Deus estava preservando a semente da mulher. Caso Sara não fosse mais a mulher de Abraão a promessa se perderia. Mas, Deus adverte Abimeleque e este devolve Sara para Abraão e reconhece que Deus é grandioso e estava com Abraão. Poderíamos citar José, que se tornou governador do Egito. Anos depois de sua morte, apareceu um faraó que não o conhecia e começou a escravizar o povo de Deus. Com mão poderosa o Senhor os tirou do Egito e todas as nações puderam glorificar ao Senhor. E o que dizer de Ester? Todo povo iria morrer por causa de uma ardilosa trama. Mas, o Senhor agiu poderosamente e todos puderam saber que o Senhor, o Deus de Israel, era o único Deus. E Nabucodonosor? Ele que primeiramente havia mandado fazer uma estátua para ser adorada, termina o livro de Daniel mandando avisar a todos que o Deus de Israel é o único Deus. Durante todo o Antigo Testamento, o povo de Deus serve de vitrine. As nações olham para o povo de Deus e observam os feitos do Senhor. O resultado disso é a glorificação do nome de Deus. Segundo Goheen, Ele (Deus) escolheu e
formou uma comunidade para encarnar sua obra de cura no meio da história humana. Deveria ser um povo que pudesse dizer espero que você um dia se junte a nós manifestando o conhecimento de Deus, a alegria, a retidão, a justiça e a paz desse novo mundo que um dia encheria a terra. Nessa comunidade, todos poderiam ver os princípios do tipo de mundo que Deus havia originalmente planejado na criação, e que ele ainda tinha em mente realizar por meio da sua obra redentora no final da história. 1 Mas, uma diferença precisa ser ressaltada. No Antigo Testamento, as pessoas viriam a Israel para ver o que Deus havia feito. No Novo Testamento a ordem é outra: o povo de Deus vai às nações anunciar os feitos de Deus. a direção mudou. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século. (Mateus 28:19 20) E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. (Marcos 16:15) mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. (Atos 1:8) Ou seja, a igreja é alvo das bênçãos de Deus para que o mundo veja a sua glória. Mas, não somente isso, a igreja é uma comunidade em missão. Sua missão é anunciar as obras de Deus. O mundo está caído e separado do Senhor, por isso, as obras da igreja são contar para o mundo que há um Deus que, em Cristo, quer se reconciliar com o gênero humano. 1 Goheen, Michael W. A igreja missional na bíblia: luz para as nações. São Paulo: Vida Nova, 2014. Página 19.