A SITUAÇÃO NO PAIZ : A REVOLUÇÃO 1930 E O JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO (OESP)

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DOI: 10.4025/4cih.pphuem.326 A SITUAÇÃO NO PAIZ : A REVOLUÇÃO 1930 E O JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO (OESP) Marcus Vinícius do Nascimento Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) O jornal nos últimos anos vem cada vez mais se firmando como uma fonte de grande importância para a historiografia, já reconhecido como um caminho, uma ponte para um determinado período histórico. A partir desta consideração é que será visto o jornal O Estado de São Paulo (OESP), uns dos principais veículos de comunicação do país durante a dita revolução de 30 i. Por ser ainda um trabalho em desenvolvimento será exposto aqui apenas uma breve descrição das particularidades e de parte da história do OESP, ligando-as à conceituações sobre a imprensa e sua atuação na década de 20, e como tudo isso redundou no movimento revolucionário liderado por Getúlio Vargas em 1930, e como jornal notícia esse evento. Sendo assim, o texto do jornal não pode ser entendido como um puro reflexo da realidade, onde o fato histórico é resgatado. O jornal, como qualquer outro documento, precisa se desvincular da pretensa objetividade historicista de submissão do historiador ao documento, como se este fosse portador da verdade absoluta. As informações contidas nas páginas do jornal, precisam ser observadas de forma critica e não podem tomar a imprensa como fonte precisa, sendo necessário a percepção da existência da subjetividade de quem escreve a notícia, a qual carrega sempre opiniões e modos de pensar. Os fatos, os acontecimentos dispostos nas páginas do jornal passam a ser representações, pois são tomados e construídos intelectualmente de acordo com interesses do jornal, os quais aparecem por muitas vezes nas páginas do jornal como direitos do povo e que acabam por constituir ideologias. A existência de um direcionamento ideológico quanto ao que vai ser publicado que depende dos interesses de editores, donos dos jornais, patrocinadores, é um fator de grande importância em relação aos estudos com jornais que segundo Prado e Capelato: a escolha de um jornal como objeto de estudo justifica-se por entender-se a imprensa fundamentalmente como instrumento de manipulação de interesses e de intervenção na vida social; nega-se, pois, aqui, aquelas perspectivas que a tomam como mero veículo de informações, transmissor imparcial e neutro dos acontecimentos, nível isolado da realidade políticosocial na qual se insere (CAPELATO; PRADO, 1980, p.

752 19). A percepção da imprensa como instrumento de constituição de modos de pensar, leva ao entendimento de que as notícias publicadas não são fruto do acaso, mas são organizadas pelo próprio jornal e que segundo Zicman, não é uma mera repetição de ocorrências e registros, todo jornal organiza as informações segundo seu próprio filtro ii. A compreensão do jornal como material de suposta neutralidade e imparcialidade, por conseguinte não existe. Desde a sua instauração, em 1889, o governo republicano foi alvo de contestações. No entanto, somente na década de 1920, é que se deu o surgimento de movimentos que questionavam os modelos culturais e políticos da República estabelecida. A criação do Centro Dom Vital e do Partido Comunista, a semana de Arte Moderna, o movimento tenentista e as dissidências dentro da oligarquias eram indicadores de um processo de esgotamento dos governos da Primeira República. A década de 1920 foi um período movimentado no país, com o surgimento de movimentos políticos, sociais e artísticos, que contestava principalmente o novo regime, a República, implantado em 1889 e que se desenvolvia com pouca participação popular. (JUNIOR, 1978, p.266) Neste contexto, a imprensa acaba carregando um papel significativo dentro dos grupos de oposição ao governo, já que a formação do poder político estava sob o controle das oligarquias agrárias e não dava espaço as disputas políticas mais abrangentes. Os representantes da imprensa oposicionista começam a se destacar dentro da cena política brasileira, afirmando em seus periódicos que os governantes não haviam conseguido concretizar o ideal republicano no país. Estes representantes da imprensa,de acordo com Capelato, para tal oposição se identificavam como : expressão da 'elite bem pensante' do país e como tal percorriam o objetivo de formular boas idéias a serem introjetadas pelo público leitor. Esta postura era característica dos que compunham a equipe redacional de OESP, jornal que ocupava papel de liderança na imprensa paulista desse período. Os jornalistas 'bem pensantes' guiavam-se pelo ideal das Luzes apontando ao leitor caminhos a serem seguidos para se atingir harmonia e felicidade. Esta imagem fora fabricada pelos iluministas, que se apesentaram no mundo moderno, como portadores da verdade capaz de eliminar o erro e a mentira. A imprensa, desde então, se fez porta-voz desses ideais que circularam e se mantiveram vivos até este século. Os jornalistas liberais de São Paulo os reproduziam. (CAPELATO, 1994, p. 55)

753 Dentro deste cenário, o OESP participava efetivamente na vida política nacional, através de sua produção jornalística influenciava e direcionava ações e posicionamentos políticos. No ano de 1924, uma revolta, comandada por Isidoro Dias Lopes, ocupa a cidade de São Paulo por três semanas, o OESP mesmo não demonstrando apoio a revolta armada, mas ao expor as criticas dos revoltosos em relação ao governo, teve suas publicações censuradas, além de ter seu proprietário Júlio de Mesquita preso durante os acontecimentos. Segundo Boris Fausto, o movimento começou a modificar os termos da relações entre 'os tenentes' e alguns setores civis (FAUSTO, 1989 p. 60). A partir de seu posicionamento, o jornal OESP apoiou em 1926 a fundação do Partido Democrático (PD) iii de oposição ao governo estadual e federal, então comandados pelo PRP, mas apesar do apoio à fundação do partido o jornal ainda se colocava como um órgão neutro e apartidário. Em 1927, com o falecimento de Júlio de Mesquita, a direção do jornal é assumida por seu irmão, Nestor Rangel Pestana, e seu filho, Júlio de Mesquita Filho, este último um dos articuladores do PD. Outro ponto curioso sobre a ligação do OESP com membros dos movimentos tenentistas, que de acordo com Borges: Pela historiografia, sabe-se das ligações de Júlio de Mesquita Filho e grupo do Estado com os tenentes, especialmente de Júlio de Mesquita Filho e Siqueira Campos, figura de destaque no tenentismo paulista. Este desaparece em inícios de 30, mas a ação do grupo, subterrânea, continua (BORGES, 1979, p. 106). A indicação do paulista Júlio Prestes, em 1929, como sucessor de Washington Luís, levou Minas Gerais, que ansiava pela presidência da República, a romper com São Paulo. A candidatura de Júlio Prestes, também sofre a oposição do jornal OESP, que apoiaria a formação da a Aliança Liberal, composta pelos estados da Paraíba, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, e pelo PD. Estava selado o fim da política café com leite. A Aliança Liberal, com o apoio de intelectuais, de alguns membros de setores da classe média, e também do OESP lança a candidatura de Getúlio Vargas à presidência da República. O resultado das eleições de 1º de março de 1930 apontavam Júlio Prestes, governador de São Paulo, como novo presidente da República, o que fez surgir, dos dois lados, várias denúncias de fraude nas eleições, sendo ambas denúncias verdadeiras e segundo Fausto, o

754 sistema político imperante, condenado verbalmente pela Aliança, foi utilizado também por ela, na prática (FAUSTO, 1988, p. 237). Parte dos integrantes da Aliança Liberal, após sua derrota nas eleições, se uniu com algumas forças do movimento tenentista. O estopim que culminaria na revolução de 1930, se deu quando João Pessoa, vice da campanha a presidência e governador da Paraíba, foi assassinado por um de seus adversários políticos, João Dantas em 26 de julho do mesmo ano. As motivações do crime possuíam tanto causas pessoais, quanto políticas. O processo revolucionário que levaria Getúlio Vargas à presidência da República começava a ser articulado. Ao fim do mês de setembro de 1930, após uma série de hesitações, algumas lideranças da oposição iv decidiram que as ações militares, com a intenção de depor o governo de Washington Luís e impedir a posse de Júlio Prestes, se iniciariam ao dia 3 de outubro. A revolução teve seu inicio no dia planejado por seus articuladores, no momento em que militares e voluntários dos estados de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e Paraíba pegaram em armas. Os fatos que se passavam no país começavam a serem noticiados pelo OESP, somente, no domingo, 5 de outubro, no qual se lia na manchete da primeira página: GRAVES ACONTECIMENTOS EM MINAS E NO RIO GRANDE DO SUL (OESP, 05/10/1930). O OESP adota uma postura de somente descrever o que se passava no país durante o levante militar, apesar da imprecisão das notícias, o jornal mesmo sendo um órgão de oposição mostra não aderir uma mudança através das armas. Ao se referir aos combates aos que prosseguiam em Minas Gerais o jornal o definiu como uma luta encarniçada e sangrenta (OESP, 05/10/1930). A revolução em pouco tempo tomou conta de quase todo o país, fazendo que o apoio ao governo de Washington Luís fica-se restrito apenas aos estados de São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro. O avanço de Getúlio através da ferrovia, já era acompanhado pelo apoio dos estados de Santa Catarina e do Paraná, neste último teria em Ponta Grossa, a última parada antes do avanço dos revoltosos sobre São Paulo. Ao dia 24 de outubro, depois da recusa de Washington Luís em renunciar à presidência da República, este seria deposto e preso no Forte de Copacabana por um grupo de alta patente do exército formado pelos generais Augusto Tasso Fragoso e Mena Barreto, e pelo almirante Isaías de Noronha, que formaram uma Junta Provisória de Governo. No dia seguinte o jornal já publicava em sua primeira página a satisfação com o término da revolução: O Brasil respira. Desde hontem, está liberto do pesadelo que o

755 sufocava. Cessou, hontem, no território nacional a matança de irmãos (OESP, 25/10/1930). A vitória dos revolucionários fez com que OESP falasse de uma nova perspectiva de esperanças e alegrias, de prosperidade e grandeza (OESP, 25/10/1930). A chegada de Getúlio Vargas à São Paulo, também estampou a primeira página do OESP, em sua manchete do dia 30 de outubro lia-se: S. PAULO TRIUMPHALMENTE O PRESIDENTE GETULIO VARGAS (OESP, 30/10/1930). O posicionamento do jornal em relação ao processo revolucionário, desde o início do processo revolucionário até a chegada de Vargas e suas tropas à capital paulista, possuí grande mudança. O jornal OESP que no início não aderiu o movimento revolucionário, no entanto, mostra em suas publicações que apesar de não concordar pela escolha das armas, fica satisfeito com o resultado dos acontecimentos. Esta satisfação está ligada ao fato de que as forças revolucionárias vencedoras, são as antigas aliadas nas eleições, era a esperança que OESP tinha de concretizar suas aspirações que vinham desde a década de 20. O ponto a ser observado é que o OESP acabou aderindo ao movimento revolucionário somente após a sua vitória, por ver uma paisagem favorável aos seus interesses. Notas i Cabe aqui esclarecer que parte da historiografia tradicional entende os acontecimentos ocorridos em outubro de 1930 como revolução, por isso a denominação Revolução de 30. ii Termo usado por Rennê Barata Zicman ao se referir à auto censura dos jornais em relação as notícias a serem publicadas. iii O Partido Democrático era formado por segmentos da burguesia urbana, profissionais liberais e dissidentes das oligarquias cafeeiras. iv Dentre os tenentes destacavam-se os nomes de Miguel Costa, Juarez Távora e Miguel Costa, já entre os políticos os nomes de Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha, Francisco Campos, Lindolfo Collor e Flores da Cunha tinham maior destaque. Referências Bibliográficas: BORGES, Vavy Pacheco. Getulio Vargas e a oligarquia paulista (história de uma esperança e muitos desenganos). São Paulo, Editora Brasiliense, 1979. CAPELATO, Maria Helena; PRADO, Maria Ligia. O bravo matutino: imprensa e ideologia no jornal O Estado de S. Paulo. São Paulo, Alfa-Omega, 1980. CAPELATO, Maria Helena Rolim. "O Controle da Opinião e os Limites da Imprensa Paulista 1920 1945" In: Revista Brasileira de História, v. 2, nº 23-24, São Paulo, ANPUH/Marco Zero - set. 91 - ago. 92.

756 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Os arautos do liberalismo:imprensa paulista 1920-1945.São Paulo: Brasiliense, 1989. CARDOSO, Cyro F. & VAINFAS, Ronaldo. "História e Análise de Textos" In: Os Domínios da História - Ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro, Campus, 1997 CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: A Elite Política Imperial. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003. FAUSTO, Boris. A revolução de 1930: história e historiografia. 12.ed. São Paulo, Brasiliense, 1989. FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930. IN: Brasil em Perspectiva. Rio de Janeiro, Editora Bertrand Brasil S.A., 1988. LUCA, Tânia Regina de. Fontes Impressas História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi. (org). Fontes Históricas. São Paulo, Contexto, 2005. MARTINS, L. A Revolução de 30 e seu significado político. In: A Revolução de 30. Seminário internacional. Rio de Janeiro, CPDOC / Brasília: UnB, 1983 MENDONÇA, José. A imprensa de Belo Horizonte na fase revolucionária (1925-1937). ln: Seminário de estudos mineiros, 6., 1987. Belo Horizonte. Belo Horizonte, UFMG/PROED. 1987. SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil. São Paulo, Martins Fontes, 1981. ZICMAN, Reneê Barata. História Através da Imprensa - Algumas Considerações Metodológicas. In: Revista História e Historiografia nº 4. São Paulo, EDUC, Jun, 1985