Utilização de Vidro de Garrafas para Redução da Absorção de Água em Produtos de Cerâmica Vermelha

Documentos relacionados
15 a 17 junho de 2016 Porto Alegre, RS

RESÍDUO CERÂMICO INCORPORADO AO SOLO-CAL

Influência da Incorporação de Chamote nas Etapas de Pré-queima de Cerâmica Vermelha

Introdução. Palavras-Chave: Reaproveitamento. Resíduos. Potencial. Natureza. 1 Graduando Eng. Civil:

APROVEITAMENTO DE RESÍDUO DA ETAPA DE LAPIDAÇÃO DE VIDRO EM CERÂMICA VERMELHA

ESTUDO SOBRE SOLIDIFICAÇÃO/ESTABILIZAÇÃO DE LODO DE LAVANDERIAS INDUSTRIAIS PARA FABRICAÇÃO DE BLOCOS CERÂMICOS ACÚSTICOS (RESSOADORES DE HELMHOLTZ)

EFEITO DA INCORPORAÇÃO DE CINZA DE RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) NAS PROPRIEADES DA CERÂMICA VERMELHA

Utilização de planejamento experimental no estudo de absorção de água de cerâmica incorporada com lama vermelha

INCORPORAÇÃO DE RESÍDUO DE VIDRO EM CERÂMICA VERMELHA

USO E APLICAÇÕES. Módulo 2 O que é Vidro?

CARACTERIZAÇÃO DE UMA ARGILA CONTAMINADA COM CALCÁRIO: ESTUDO DA POTENCIABILIDADE DE APLICAÇÃO EM MASSA DE CERÂMICA DE REVESTIMENTO.

Estudo e Avaliação do Uso e Escória Granulada de Fundição na Produção de Cerâmicas Estruturais

ESTUDOS PRELIMINARES DO EFEITO DA ADIÇÃO DA CASCA DE OVO EM MASSA DE PORCELANA

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE Curso de Tecnologia em Cerâmica Trabalho de Conclusão de Curso

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DOS RESÍDUOS DE VIDRO SODO-CÁLCICO ADICIONADOS NA MASSA DE CERÂMICA VERMELHA PARA PRODUÇÃO DE BLOCOS DE VEDAÇÃO EM PALMAS - TO

ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DE CALCÁRIO EM TIJOLOS CERÂMICOS *

APROVEITAMENTO DA AREIA DE FUNDIÇÃO NA PRODUÇÃO DE TIJOLOS

EFEITO DA INCORPORAÇÃO DE RESÍDUO DA ETAPA DE PRODUÇÃO DA ALUMINA ELETROFUNDIDA NAS PROPRIEDADES DA CERÂMICA VERMELHA

Moagem Fina à Seco e Granulação vs. Moagem à Umido e Atomização na Preparação de Massas de Base Vermelha para Monoqueima Rápida de Pisos Vidrados

EFEITO DA ADIÇÃO DE VIDRO SOBRE PROPRIEDADES DE QUEIMA DE UMA ARGILA VERMELHA

Eixo Temático ET Educação Ambiental

Influência da granulometria do resíduo de celulose nas propriedades do material cerâmico

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E MECÂNICAS DE PRODUTOS DE CERÂMICA VERMELHA PRODUZIDOS NA REGIÃO CENTRAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ESTUDO DO EFEITO POZOLÂNICO DA CINZA VOLANTE NA PRODUÇÃO DE ARGAMASSAS MISTAS: CAL HIDRATADA, REJEITO DE CONSTRUÇÃO CIVIL E CIMENTO PORTLAND

Avaliação de Algumas Propriedades Físico-Mecânicas de Corpos Cerâmicos Incorporados com Resíduo de Escória de Soldagem

ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E MECÂNICAS DE BLOCOS CERÂMICOS COM DIFERENTES CORES E TONALIDADES

INCORPORAÇÃO DE LAMA VERMELHA IN NATURA E CALCINADA EM CERÂMICA VERMELHA

Incorporação de resíduos siderúrgicos em cerâmica vermelha

MCC I Cal na Construção Civil

O USO DE RESÍDUOS PARA FABRICAÇÃO DE BLOCOS CERÂMICOS 1 THE STATE OF THE ART ON THE USE OF WASTE TO MANUFACTURE CERAMIC BLOCKS

1. Introdução. 2. Materiais e Método. Daniela L. Villanova a *, Carlos P. Bergmann a

FORMULAÇÃO DE MASSA CERÂMICA PARA FABRICAÇÃO DE TELHAS

TÍTULO: ESTUDO DA ADIÇÃO DE RESÍDUOS DE CHAMOTE E DA CASCA DE OVO NA COMPOSIÇÃO DO SOLO-CIMENTO

Reaproveitamento do Resíduo Sólido do Processo de Fabricação de Louça Sanitária no Desenvolvimento de Massa Cerâmica

Estudo da Reutilização de Resíduos de Telha Cerâmica (Chamote) em Formulação de Massa para Blocos Cerâmicos

ANÁLISE DE ARGAMASSAS COM RESÍDUO DE CORTE DE ROCHAS ORNAMENTAIS

Benefícios do Uso de Feldspato Sódico em Massa de Porcelanato Técnico

UTILIZAÇÃO DO RESÍDUO DE CANA-DE-AÇÚCAR (BAGAÇO CRU) PARA PRODUÇÃO DE COMPÓSITO CERÂMICO

INFUENCIA DA ADIÇÃO DE LODO, DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA (ETA), NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS EM CERÂMICA VERMELHA

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE CCA NO TRAÇO DE CONCRETO PARA FABRICAÇÃO DE BLOCOS PRÉ-MOLDADOS

Anais do 50º Congresso Brasileiro de Cerâmica

COMPARAÇÃO DE PEÇAS ARTÍSTICAS CONTENDO LODO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA E DIFERENTES ARGILAS

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana. Universidade Estadual de Maringá Centro de Tecnologia Departamento de Engenharia Civil.

INFLUÊNCIA DA IDADE DE CURA NO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE BLOCOS SOLO-CAL

VALORIZAÇÃO DA CINZA DE CALDEIRA DE INDÚSTRIA DE TINGIMENTO TÊXTIL PARA PRODUÇÃO DE ARGAMASSAS SUSTENTÁVEIS

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NAS PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DE CERÂMICA PRODUZIDA COM ADIÇÃO DE CHAMOTE *

BLOCOS SOLO-CAL INCOPORADOS COM RESÍDUOS DE ROCHAS ORNAMENTAIS

ESTUDO COMPARATIVO DE MASSAS CERÂMICAS PARA TELHAS PARTE 2: PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS

INCORPORAÇÃO DA ESCÓRIA DO FORNO PANELA EM FORMULAÇÃO CERÂMICA: ESTUDO DAS ZONAS DE EXTRUSÃO

1º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense SICT-Sul ISSN

A Influência da Variação da Moagem dos Carbonatos e Tratamento Térmico no Material, nas Características Físicas do Produto Acabado

ROCHA ARTIFICIAL PRODUZIDA COM PÓ DE ROCHA E AGLOMERANTE POLIMÉRICO AGUIAR, M. C., SILVA. A. G. P., GADIOLI, M. C. B

INFLUÊNCIA DA INCORPORAÇÃO DO REJEITO DO MINÉRIO DE MANGANÊS DE CARAJÁS-PA E FILITO DE MARABÁ-PA EM CERÂMICAS VERMELHAS

INCORPORAÇÃO DE LAMA DE ALTO FORNO EM CERÂMICA VERMELHA PARA PRODUÇÃO DE TELHAS*

ESTUDO DE PROPRIEDADES FÍSICAS DE ARGILAS COLETADAS NA REGIÃO DE BATAYPORÃ/MS

Com base no teste desenvolvido por Lidefelt et al (51), foi desenvolvido um

INCORPORAÇÃO DE RESÍDUOS EM MASSAS CERÂMICAS: PERSPECTIVA TÉCNICA E AMBIENTAL

ESTUDO DE MATERIAIS COMPÓSITOS EM MATRIZ CERÂMICA, VISANDO GANHO ENERGÉTICO E AMBIENTAL EM SISTEMAS DE AQUECIMENTO SOLAR DE ÁGUA.

CERÂMICA INCORPORADA COM RESÍDUO DE ROCHAS ORNAMENTAIS PROVENIENTE DA SERRAGEM DE BLOCOS UTILIZANDO TEAR MULTIFIO: CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL

CARACTERIZAÇÃO DA LAMA DA LAPIDAÇÃO DE VIDROS SODO-CÁLCICOS PARA A FORMULAÇÃO DE PRODUTOS DE CERÂMICA VERMELHA

DESENVOLVIMENTO DE LIGANTES HIDRÁULICOS A PARTIR DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CERÂMICA VERMELHA

Influência do Teor de Calcário no Comportamento Físico, Mecânico e Microestrutural de Cerâmicas Estruturais

TÉCNICAS CONSTRUTIVAS I

UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE CELULOSE E PAPEL NA CONFECÇÃO DE BLOCOS CERÂMICOS

ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DA CINZA GERADA A PARTIR DO PROCESSO DE QUEIMA DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR NA PRODUÇÃO DE CONCRETO

RESUMO. Palavras-Chave: argila, curvas de queima, retração linear, porosidade.

20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil

DETERMINAÇÃO DA ABSORÇÃO DE ÁGUA EM PRODUTOS CERÂMICOS FORMULADOS COM ADIÇÃO DE CINZAS DA LÃ DE OVINOS

ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DE VIDRO DE EMBALAGEM NA FABRICAÇÃO DE CERÂMICA VERMELHA

O Estudo da Diminuição da Rugosidade da Superfície de Telhas Cerâmicas

STUDY OF INCORPORATION OF ASH FROM THE BURNING OF EUCALYPTUS WOOD IN the

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE Curso de Tecnologia em Cerâmica Trabalho de Conclusão de Curso

RECICLAGEM DE REJEITOS DE PISOS CERÂMICOS ESMALTADOS

AVALIAÇÃO DO TIJOLO ECOLÓGICO PRODUZIDO EM TERESINA PI

ENSAIOS TECNOLÓGICOS DE ARGILAS DA REGIÃO DE PRUDENTÓPOLIS-PR. Resumo: Introdução

DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DE CERÂMICA VERMELHA QUEIMADA À 850ºC PARA PRODUÇÃO DE BLOCOS DE VEDAÇÃO*

ESTUDO DA VIABILIDADE PARA A PRODUÇÃO DE CONCRETOS COM ADIÇÃO DE RESÍDUOS DE VIDRO EM SUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO MIÚDO NA CIDADE DE PALMAS-TO

ESTUDO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS CERÂMICOS PARA APLICAÇÃO NA CONFECÇÃO DE ARGAMASSA E CONCRETO

Fundentes: Como Escolher e Como Usar

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO FÍSICO E MECÂNICO DE BLOCOS DE CONCRETO ECOLÓGICOS FABRICADOS COM INCORPORAÇÃO PARCIAL DE UM RESÍDUO SÓLIDO INDUSTRIAL

ESTUDO SOBRE O COMPORTAMENTO MECÂNICO DE ARGAMASSA COM INCORPORAÇÃO DE RESIDUO DA INDÚSTRIA DE VIDRO.

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS PARA A PRODUÇÃO DE ARGAMASSAS UTILIZANDO CINZA VOLANTE E RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

ANÁLISE DA INCORPORAÇÃO DE LODO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA EM CERÂMICA E CONCRETO

INFLUÊNCIA DE ALGUNS ADITIVOS NA RESISTÊNCIA APÓS SECAGEM DE MISTURAS TAGUÁ DE JARINU, SP/LODO DE ETA

ADIÇÃO DE CHAMOTE NA MASSA DE CERÂMICA VERMELHA COMO VALORIZAÇÃO DE RESÍDUO NA FABRICAÇÃO DE BLOCOS DE VEDAÇÃO: ESTUDO EM ESCALA LABORATORIAL

ARGAMASSAS E CONCRETOS RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO

ANÁLISE ESTATÍSITICA DA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE CORPOS CERÂMICOS CONTENDO RESÍDUO MUNICIPAL

ESTUDO SOBRE A VIABILIDADE DE APROVEITAMENTO DE RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO CIVIL RESÍDUO CERÂMICO

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CERÂMICA VERMELHA

O CONHECIMENTO DAS MATÉRIAS-PRIMAS COMO DIFERENCIAL DE QUALIDADE NAS CERÂMICAS OTACÍLIO OZIEL DE CARVALHO

FABRICAÇÃO DE TELHAS EM FORNO A ROLOS

USO DE CINZA PESADA RESULTANTE DA QUEIMA DE CARVÃO MINERAL NA FORMULAÇÃO DE MATERIAIS VÍTREOS: EFEITO DE FUNDENTES

Avaliação de uma Metodologia para a Formulação de Massas para Produtos Cerâmicos Parte II

COMPARAÇÃO ENTRE BLOCOS CERÂMICOS PRODUZIDOS EM FORNOS HOFFMAN E CAIEIRA *

EFEITO DA TEMPERATURA DE QUEIMA NAS PROPRIEDADES DE CERÂMICA VERMELHA INCORPORDA COM CHAMOTE

UTILIZACÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ RESIDUAL COMO SUBSTITUIÇÃO PARCIAL AO CIMENTO EM COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS

ANÁLISE PRELIMINAR EM UMA MASSA ARGILOSA VISANDO A PRODUÇÃO DE BLOCOS CERÂMICOS: PROPRIEDADES FÍSICO-MECÂNICAS

ENGOBE PARA TELHAS CERÂMICAS

Estudo da Aderência Aço e Concreto com RCD Cinza em Substituição aos Agregados Graúdos Usuais

Transcrição:

Acesse a versão colorida no site: www.ceramicaindustrial.org.br http://dx.doi.org/10.4322/cerind.2016.035 Utilização de Vidro de Garrafas para Redução da Absorção de Água em Produtos de Cerâmica Vermelha Alexandre Zaccaron a *, Adriano Michael Bernardin a, Fábio Rosso b, Vitor de Souza Nandi b, Paulo Fernandes b, Rosaura Piccoli c, Grasiele Amoriso Benedet d a Programa de Pós-graduação em Ciências e Engenharia de Materiais PPGCEM, Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, Criciúma, SC, Brasil b Engenharia Cerâmica, Centro Universitário Barriga Verde UNIBAVE, Cocal do Sul, SC, Brasil c Laboratório de Desenvolvimento e Caracterização de Materiais LDCM, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAI, Criciúma, SC, Brasil d Engenharia de Materiais, Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, Criciúma, SC, Brasil *e-mail: alexandrezaccaron@hotmail.com Resumo Este trabalho tem como objetivo a incorporação de vidro de garrafas proveniente de coleta seletiva para avaliar seu efeito sobre a absorção de água obtida na fabricação de cerâmica vermelha. Foram realizados estudos em uma massa padrão e outras 5 formulações (3, 5, 7, 10 e 15%) em peso. Os corpos-de-prova foram modelados de forma manual, com umidade in natura em um molde com diâmetro de 27 mm e altura de 50 mm e queimados em temperaturas que variaram entre 850 C e 950 C. Além da absorção de água, as outras propriedades analisadas foram: retração linear, perda ao fogo e resistência mecânica. Os resultados indicam que com o aumento do percentual do resíduo e temperatura de queima conseguiu-se a redução da absorção de água e retração total, além de um ligeiro aumento da resistência mecânica. Palavras-chave: vidro, absorção de água, cerâmica vermelha. 1. Introdução O crescente volume de resíduos gerados pelas atividades industriais, urbanas e agrícolas causa preocupações relacionadas à disposição de tais resíduos, onde mesmo apesar de fazerem parte dos ciclos da natureza e da economia, o progresso econômico fez com que o desenvolvimento se acelerasse e, como conseqüência, aumentou a quantidade de resíduos, que são difíceis de serem reciclados naturalmente [1-3]. O aumento contínuo da quantidade de resíduos requer não apenas medidas que reduzem a sua geração, mas também de reciclagem e valorização [4, 5]. O vidro é um material inerte não-cristalino, não-poroso e frágil, obtido através do resfriamento de uma massa a base de sílica em fusão. Apesar das pequenas diferenças de produção, o que é comum a todos os tipos de vidro é a sílica, que é a matéria-prima base para o processo fabril [6,7]. O vidro utilizado para embalagens em sua maior parte possui um destino sustentável por ser um material totalmente reciclável, onde o reaproveitamento pode ocorrer de diversas formas, sendo simplesmente reutilizando na forma como foi produzida, ou podem ser incorporadas em certos produtos como se fossem matérias-primas [3,8]. Apesar dos resíduos de vidro serem totalmente recicláveis e reaproveitáveis, existe uma quantia significativa de garrafas sem reenvasamento que são recolhidas pela rede de coletas seletiva, e são destinadas a aterros, gerando assim passivos ambientais, nesses casos torna-se necessário encontrar alternativas tecnológicas viáveis que permitam a reciclagem destes vidros de forma econômica e sustentável [8]. Sabe-se que a indústria de cerâmica vermelha possui potencial para utilização e valorização de diferentes resíduos que, geridos da maneira correta, proporcionam ganhos consideráveis na sua fabricação [9]. A incorporação de resíduo de vidro a produtos fabricados à base de argila é uma alternativa considerada natural devido à compatibilidade entre a composição química destes produtos e a do vidro que é essencialmente formada por sílica (SiO 2 ), com um pequeno percentual de sódio (Na 2 O) e cálcio (CaO) [6,8]. O uso de tijolos como matéria-prima na construção civil vem sendo constante a muito tempo, e portanto, a incorporação de resíduos no processo fabril se torna uma opção viável como encapsulamento desses, unido as questões ambientais que tratam da quantidade de matérias-primas disponíveis na natureza [9-12]. Em paralelo às questões que compreendem a geração e reaproveitamento dos resíduos, e o processo produtivo de cerâmica vermelha, tem-se a legislação que rege a padronização de blocos cerâmicos para alvenaria, que devem ser atendidas para a adequação do produto no mercado. Um dos itens da referida norma é problemática a indústrias de determinadas regiões do país, a absorção de água. A ABNT dita que para blocos de vedação para alvenaria os limites mínimos e máximos estejam entre 8 e 22% [1, 13-16]. Todavia, existem indústrias que não atingem o limite estabelecido. Diante dessa explanação, é 35

importante frisar que problemas de resistência mecânica, podem estar relacionados a altos percentuais de absorção de umidade, onde essa propriedade está na grande maioria dos casos ligada à presença de poros, que por sua vez, propicia a diminuição da resistência mecânica nas peças cerâmicas [17,18] Desta forma, o objetivo deste estudo foi a incorporação de vidro moído de garrafas provenientes da coleta seletiva do município de Morro da Fumaça, SC, na massa padrão de uma empresa de cerâmica vermelha que não atende à norma da ABNT no item de absorção de água. 2. Materiais e Métodos Para a realização desse estudo, foi utilizada massa padrão de uma indústria cerâmica catarinense cujos produtos apresentam absorção de água acima do estabelecido por norma. A massa padrão, composta por uma mistura de argilas, foi encaminhada pela empresa ao Laboratório Técnico de Cerâmica Vermelha, Labcer, sediado em Morro da Fumaça, SC. O vidro usado como matéria-prima foi cedido pela Fundação Municipal de Meio Ambiente do município de Morro da Fumaça, SC, que dispõe de uma central de coleta de resíduos recicláveis. As garrafas foram limpas para remoção dos rótulos, quebradas em cacos e em seguida processadas em moinho de martelos (Servitech modelo CT-058) para fragmentação. Após o processo de moagem, o resíduo passou por peneira (malha 28 Ty, 0,6 mm) para por fim ser usado em laboratório. Os corpos-de-prova da massa padrão argilosa foram modelados de forma manual, com umidade in natura (simulando as condições fabris), em um molde de PVC de formato cilíndrico, com diâmetro de 27 mm e altura de 50 mm. Os percentuais (em massa) de adição do resíduo moído de vidro à massa padrão foram definidos como 0, 3, 5, 7, 10 e 15%, ilustrados na Tabela 1. Após a conformação das peças, as amostras foram secas naturalmente por 24 h para remoção parcial da umidade e em seguida foram postas para secagem complementar em estufa (DeLeo 2211 tipo 8) a 105 ±10 C por mais 24 h. Posteriormente, as peças passaram pela etapa de queima, que foi realizada em forno elétrico de laboratório (Jung, modelo J200), com taxa de aquecimento de 2 C/min, tempo de patamar de 120 min e queima em três temperaturas máximas: 850, 900 e 950 C, para simular as condições de queima mais utilizadas na cerâmica vermelha. O foco do estudo foi avaliar o efeito da adição de vidro de embalagem a uma massa cerâmica determinando se a absorção de água após a queima. Todavia, outras propriedades tecnológicas devem ser analisadas, como retração térmica linear, perda ao fogo e resistência mecânica, pois a adição do vidro pode influenciar no desempenho final do produto, em relação às especificações da norma NBR 15270 [13-15]. 3. Resultados e Dicussão A Tabela 2 mostra a composição química do vidro para embalagens, usados como matéria-prima alternativa no estudo. É possível observar a predominância de sílica (SiO 2 ) na composição do vidro, sendo a matéria-prima básica com função vitrificante. O sódio (Na 2 O) vem como segundo óxido de maior composição do vidro, tendo função de aumento da resistência mecânica, assim como a alumina (Al 2 O 3 ). O cálcio (CaO), magnésio (MgO) e potássio (K 2 O) são os demais compósitos que compõe o vidro, tendo funções de estabilidade a ataques de agentes atmosféricos e aumento da resistência a mudanças bruscas de temperatura. Quanto a relevância do estudo, a presença de sílica (SiO 2 ) e sódio (Na 2 O) em principais teores, podem melhorar a qualidade da peça, principalmente na resistência mecânica, já que são óxidos fundentes relacionados à vitrificação do material [8, 19]. As Figuras 1 e 2 mostram os resultados para a retração térmica linear sofrida pelas amostras, desde a etapa de secagem até a queima. O aumento do percentual de resíduo de vidro incorporado à massa cerâmica diminui a Figura 1. Retração térmica linear de secagem (%) para a amostra padrão e para as formulações. Tabela 1. Formulações utilizadas no trabalho. Formulações (%) STD F1 F2 F3 F4 F5 Argila 100 97 95 93 90 85 Vidro - 3 5 7 10 15 Total 100 100 100 100 100 100 Tabela 2. Análise química do vidro [6]. Óxidos SiO2 Na2O CaO MgO Al2O3 K2O (%) 72,0 14,0 9,0 4,0 0,7 0,3 36

retração de secagem, pois a temperatura na qual as peças passaram (110 C) o vidro se apresenta inerte e não sofre as reações físicas que ocorrem com o material argiloso. A retração da massa padrão (STD) é de aproximadamente 9,2%, valor esse que baixa para 7,1% com a adição de 15% (F5) de vidro. A Figura 2 ilustra a retração térmica linear total, que contempla a variação dimensional que a peça cerâmica sofre em toda a etapa de tratamento térmico (secagem e queima). O maior percentual de retração fica por conta da secagem - como apresentado na Figura 1. Após a queima, pouca foi a diferença na retração das amostras com a incorporação do vidro, menos de 1%, visualiza se maior contração ao se aumentar a temperatura de queima, mas, o resultado se encontra abaixo do ditado pela literatura, no qual não deve exceder valores de 6% porque podem provocar problemas de deformações nos materiais cerâmicos, facilitando assim o aparecimento de trincas no produto [20, 21]. A retração que ocorre após secagem e queima, não possui parâmetro específico e pode ser explicada pelo resultado da eliminação de água durante a queima. Ao ser eliminada a água e ao surgirem os espaços por ela deixados, ocorre uma aproximação das partículas em conseqüência das forças de atração eletrostática, provocando enxugamento do material [11]. É importante reparar, que a retração total não foi superior a 12%, sendo este o valor máximo de retração a que o produto cerâmico pode ser submetido antes de apresentar grande variação dimensional [22]. A Figura 3 apresenta o gráfico com os resultados obtidos para o ensaio de perda ao fogo. A adição de resíduo de vidro à massa cerâmica causa diminuição da perda ao fogo pela eliminação de materiais voláteis durante o processo de queima. A amostra padrão apresenta uma perda de 9,5% a 900 C, enquanto a amostra F5, que contém 15% de vidro, tem perda de aproximadamente 8,0% na mesma temperatura, uma variação de 16% nesse ensaio. O ensaio de resistência mecânica das amostras é ilustrado no gráfico da Figura 4. Como se pode observar, não houve alteração significativa da resistência mecânica das amostras com a adição do resíduo, porém, o aumento da temperatura de queima acarreta uma melhor resistência mecânica média das amostras, pois o vidro incorporado à massa cerâmica amolece após determinada temperatura, tornando a estrutura mais compacta e assim mais resistente. Importante ressaltar que a variação entre os resultados decorre da preparação manual das amostras, não tendo sido usada uma pressão constante na confecção dos corpos de prova. O objetivo principal do estudo foi avaliar o efeito do uso de resíduo de vidro em massa argilosa para cerâmica vermelha para cumprir o estabelecido na norma NBR 15270, ou seja, absorção de água do produto final entre 8 e 22% [13-15]. As demais propriedades tecnológicas ensaiadas, ou seja, retração de secagem e queima, perda ao fogo e resistência mecânica à compressão não foram afetadas pela adição do resíduo vidro até um teor de 15%, atendendo à norma específica. O comportamento das amostras com a adição de vidro em relação à absorção de água é mostrado na Figura 5 para a adição de até 15% de resíduo e para queimas entre 850 e 950 C. O gráfico para os resultados de absorção de água mostra que a adição de resíduo de vidro até 15% causa uma diminuição da absorção de água. A 900 C a absorção de água, da massa padrão é de 26%; a esta mesma temperatura a adição de 3% de vidro reduz a absorção de água para ~25% e a ~21% com a adição de 15% de resíduo. Este efeito é consequência do amolecimento do vidro incorporado à massa cerâmica argilosa, que diminui Figura 2. Retração térmica linear total (%) para a amostra padrão e para as formulações pós queima a 850, 900 e 950 C. Figura 3. Perda ao fogo (%) para a amostra padrão e para as formulações após a queima a 850, 900 e 950 C. Figura 4. Resistência mecânica à compressão (MPa) para a amostra padrão e para as formulações após a queima a 850, 900 e 950 C. 37

Referências Figura 5. Absorção de água para a amostra padrão e para as formulações após a queima a 850, 900 e 950 C. a porosidade das amostras e com isso a absorção de água das mesmas. As temperaturas mais elevadas também reduziram a absorção de água, pois quanto maior a temperatura de queima maior será o amolecimento do vidro incorporado, fazendo com que diminua a porosidade das amostras, o que leva a ter menor absorção de umidade, fato que também foi observado na literatura [1,12,17,23,24] Analisando os resultados, pode-se verificar que a adição de até 7% (F3) de vidro não altera a absorção de água para qualquer temperatura avaliada. Com 10% de adição de vidro, a absorção de água é de 20,6 ±0,24 a 950 C, e com 15% de adição a AA é de 22,3 ±0,44 a 850 C, marginalmente atendendo à norma. 4. Conclusão A adição de vidro de embalagem às massas argilosas utilizadas em cerâmica vermelha efetivamente reduz a absorção de água dos produtos queimados, atendendo à legislação vigente. Foi possível observar que com 15% de resíduo adicionado teve-se resultados positivos em 900 e 950 C, temperaturas usualmente utilizadas no processo fabril. Além disto, a incorporação de resíduo de vidro à massa para cerâmica vermelha torna-se um mecanismo adequado de gestão de resíduos sólidos gerados pelo setor industrial, sendo uma alternativa a sua deposição, contribuindo para a sustentabilidade. Com relação às demais propriedades tecnológicas estudadas, ou seja, retração linear (de secagem e queima), perda ao fogo e resistência mecânica à compressão, a incorporação do resíduo de vidro causou pequenas variações nestas propriedades, sendo praticamente inerte ao processo, comprovando assim a sua compatibilidade com o material argiloso que compõe a massa cerâmica. Num contexto geral, a diminuição da absorção de umidade, causou um melhoramento na resistência mecânica, sendo uma avaliação positiva ao desenvolvimento cerâmico. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq e a CAPES e a todas as empresas que colaboraram direta e indiretamente para o desenvolvimento deste trabalho. 38 1. MONTEIRO, S.N., ALEXANDRE, J., MARGEM, J.I., SANCHEZ, R., VIEIRA C.M.F. Incorporation of sludge waste from water treatment plant into red ceramic. Construction and Building Materials, 22, p.1281-1287, 2008. 2. RAUPP-PEREIRA, F., HOTZA, D., SEGADÃES, A.M., LABRINCHA, J.A., Ceramic formulations made of different wastes and natural sub-products. Ceramics International, 32, p. 173-179, 2006. 3. GODINHO, K.O., RABELO, T.R., HOLANDA, J.N.F., SILVA, A.G.P. Incorporação de resíduo de vidro em cerâmica vermelha. In: 48 Congresso Brasileiro de Cerâmica, 2004, Curitiba, PR., Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica. p. 1-10, 2004. 4. ANDREOLA, F., BARBIERI, L., LANCELLOTTI, I., LEONELLI, C., MANFREDINI, T. Recycling of industrial wastes in ceramic manufacturing: State of art and glass case studies, Ceramics International, 42, p. 13333 13338, 2016. 5. GROENNER, P.E.M., Reaproveitamento do resíduo de fabricação de consumíveis para soldagem em tijolos de cerâmica vermelha. (Dissertação) Programa de Pós- Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, Belo Horizonte-MG, 76 p., 2007. 6. Associação Brasileira das Industrias Automáticas de Vidro - ABVIDRO. Benefícios da reciclagem do vidro, disponível em: <http://www.abividro.org.br/> Acesso em agosto/2015. 7. GALVÃO, C.P., FARIAS, A.C.M., MENDES, J.U.L. Characterization of waste of soda-lime glass generated from lapping process to reuse as filler in composite materials as thermal insulation, Cerâmica 61, p. 367-373, 2015. 8. ZACCARON, A., BENEDET, G.A., ROSSO, F., NANDI, V.S., FERNANDES, P., BERNARDIN, A.M., PICCOLI, R. Incorporação de vidro na composição da massa de cerâmica vermelha como valoração de resíduo, In: 7º Fórum Internacional de Resíduos Sólidos, 2016, Porto Alegre, RS. Anais do 7FIRS - Fórum Internacional de Resíduos Sólidos, v. unico. p. 1-7, 2016. 9. GODINHO K. O., HOLANDA, J. N. F., DA SILVA, A. G. P. Obtenção e avaliação de propriedades tecnológicas de corpos cerâmicos à base de argila e vidros reciclados. Cerâmica, 51, 419-427, 2005. 10. ZHANG, L. Production of bricks from waste materials a review. Constr Build Mater, 47, p. 643 55, 2013. 11. WEIZENMANN, M., BRUXEL, F.R., DE SANTANA, E.R.R., OLIVEIRA, E.C. Avaliação da incorporação de resíduo de gemas na massa cerâmica vermelha - um estudo de caso, Cerâmica, 59, p. 442-447, 2013. 12. de MEDEIROS, E.N.M., SPOSTO, R.M., NEVES, G.A., MENEZES, R.R. Incorporação de cinza de lenha, lodo de estação de tratamento de água e cinza de casca de arroz em massa cerâmica. Utilização da técnica de planejamento, Cerâmica, 56, p. 399-404, 2010. 13. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 15270-1: Componentes cerâmicos. Parte 1: Blocos cerâmicos para alvenaria de vedação - Terminologia e requisitos, Rio de Janeiro, RJ, 11 p. 2005. 14. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 15270-2: Componentes cerâmicos. Parte 2: Blocos cerâmicos para alvenaria estrutural Terminologia e requisitos, Rio de Janeiro, RJ, 11 p. 2005.

15. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 15270-3: Componentes cerâmicos. Parte 3: Blocos cerâmicos para alvenaria estrutural e de vedação Métodos de ensaio, Rio de Janeiro, RJ, 27 p. 2005. 16. ZACCARON, A., GALATTO, S.L., NANDI, V.S., FERNANDES, P. Incorporação de chamote na massa de cerâmica vermelha como valorização de resíduo. Cerâmica Industrial. 19 (3), p. 33-39, 2014. 17. MACEDO, R.S., MENEZES, R.R., NEVES, G.A., FERREIRA, H.C. Estudo de argilas usadas em cerâmica vermelha. Cerâmica, 54, p. 411-417, 2008. 18. MONTEIRO, S.N., VIEIRA, C.M.F. On the production of fired clay bricks from waste materials: A critical Update, Construction and Building Materials, 68, p. 599 610, 2014. 19. MORAIS, A.S.C., CALDAS, T.C.C., MONTEIRO, S.N., VIEIRA, C.M.F. Characterization of Fluorescent Lamp Glass Waste Powders, Materials Science Forum, 727-728, p. 1579-1584, 2012. 20. AMORIM, F. R. Co-processamento de dregs em argila para produção de cerâmica vermelha. 2007. (Dissertação) Mestrado em Saneamento - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, 108 p., 2007. 21. VIEIRA, G., SILVA, D.F. Estudo da adição de lodo gerado pela indústria metal mecânica na fabricação de tijolos de cerâmica vermelha. E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, Florianópolis, n. esp. Metalmecânica, p. 69-91, 2012. 22. LOYOLA, L.C. As Argilas e a Cerâmica Vermelha - I Seminário sobre competitividade na indústria cerâmica e olarias do este do Paraná, Curitiba - PR, 45 p. 2004. 23. MYMRIN, V., KLITZKE, W., ALEKSEEV, K., CATAI, R.E., NAGALLI, A., IZZO, R.L.S., ROMANO, C.A. Red clay application in the utilization of paper production sludge and scrap glass to fabricate ceramic materials, Applied Clay Science, 107, p. 28-35, 2015. 24. CHRISTOGEROU, A., KAVASB, T., PONTIKES, Y., KOYAS, S., TABAK, Y., ANGELOPOULOS, G.N. Use of boron wastes in the production of heavy clay ceramics, Ceramics International, 35, p. 447-452, 2009. 39