A Igreja Evangélica Brasileira e o seu futuro: Interpretando os dados do IBGE Censo de 2010. Lyndon de Araújo Santos O censo demográfico é a mais complexa operação estatística realizada por um país, quando são investigadas as características de toda a população e dos domicílios do território nacional. (IBGE. 2010/2012). Nota do editor. Em fevereiro de 2013 a Aliança Cristã Evangélica Brasileira realizou a reunião anual de sua liderança, na cidade de Brasília, DF. Esta reunião contou com a presença e participação de cerca de 60 pessoas de todo o Brasil, que estiveram reunidas por dois dias. Como parte do programa desse encontro houve um painel sobre o tema deste artigo, que originalmente foi preparado e apresentado naquela ocasião pelo pastor e professor Doutor Lyndon de Araújo Santos, professor na Universidade Federal do Maranhão. Compuseram a mesa, complementando e reagindo à fala de Lyndon, Martin Weingaertner, diretor da Faculdade Teológica Evangélica de Curitiba e Ariovaldo Ramos, presidente da Visão Mundial no Brasil. Os presentes também participaram com perguntas e observações. Introdução Por certo um sociólogo de formação deveria fazer esta apresentação sobre os dados religiosos do Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010. Isto pelo fato de ser um profissional mais familiarizado com números, projeções, tendências (trends), tabelas e gráficos, enfim, com generalizações a partir das informações mensuráveis em termos quantitativos. Sua análise detém-se na observação objetiva dos números, extraindo certas deduções ou conclusões gerais acerca do campo observado. De alguma forma, vamos nos aproximar deste esforço confessando as limitações quanto à abordagem mais exaustiva em sua abrangência. Entretanto, procuraremos apresentar algumas interpretações possíveis dos resultados do censo populacional do IBGE, tentando chegar a compreensões mais críticas da realidade religiosa brasileira e dos rumos da igreja evangélica brasileira. Isto porque as interpretações podem incorrer no relativismo dos gostos e das opções políticas e religiosas. Cada segmento haverá de ler os dados de acordo com os seus pressupostos, preconceitos e alinhamentos ideológicos, ora justificando, ora atenuando, ora atribuindo o tom de triunfo dos bem sucedidos resultados. O exercício, portanto, é desafiador no sentido de interpretar as interpretações e confrontá-las entre si, dando passos na compreensão da realidade. De certo, quando falamos igreja evangélica brasileira não nos referimos a um conjunto homogêneo e uniforme, equivalente à Igreja Católica Romana, mas a um mosaico de classificações, heranças históricas e teológicas, práticas, instituições, associações, igrejas e denominações. Daí o
importante entendimento de que os números descrevem superficialmente uma realidade por demais complexa em termos de vivências religiosas, culturais e sociais. As classificações ou tipologias consagradas, entretanto, apresentam um esgotamento na tentativa de identificação dos segmentos religiosos, no tocante ao sub campo evangélico. Assim, termos como históricos, tradicionais, neopentecostais, renovados e outros se tornaram, em certa medida, insuficientes para generalizar os grupos religiosos. Segundo o IBGE, permaneceram, no entanto, os termos evangélicos pentecostais e de missão, reunindo dois grandes grupos historicamente distinguidos. Walter Altmann criticou a pesquisa dizendo que o IBGE acertou no atacado, mas errou no varejo, mostrando deficiências e imprecisões relativas ao método empregado, à preparação do recenseador e no uso das classificações. 1 Por sua vez, o futuro desta igreja evangélica será algo a ser deixado em aberto, pois o seu futuro é o hoje que está sendo vivido. Podemos, contudo, apontar suspeitas, pistas, sinais e tendências de trajetos até aquipercorridos, os quais, a história, as escrituras e a vida nos ensinam qual o fim terão. Alguns prognósticos de outrora, por exemplo, feitos a partir de censos anteriores, nãose cumpriram de todo ou de fato, como o decréscimo acentuado das igrejas de missão ou de ligação mais direta com a Reforma Protestante. A parcela da população que se declarou evangélica de missão teve ligeira redução proporcional, caracterizando estabilidade em sua participação relativa no total da população. Neste aspecto houve diferenciações regionais, sendo esse fenômeno evidenciado nas Regiões Sul e Sudeste, onde historicamente os evangélicos de missão eram mais numerosos (IBGE.2010/2012. P. 91). Seja como for, apresentaremos no final algumas linhas de força que despontam no presente, as quais precisarão ser discutidas e conflitadas. Perspectiva do IBGE 2 O nosso ponto de partida será o próprio IBGE. Antes de tudo é importante situar a pesquisa realizada pelo IBGE acerca da religião, seus critérios e perspectivas. O documento publicado pelo instituto, Censo Demográfico 2010. Características Gerais da População, Religião e Pessoas com Deficiência, traz a seguinte afirmação acerca de critérios utilizados para a pesquisa sobre religião e a sua parceria com outro instituto de pesquisa: 1 ALTMAAN, W. Censo do IBGE 2010 e Religião. In: Revista Horizonte. Dossiê: Religião e o Censo IBGE 2010. Belo Horizonte, v. 10, n. 28, p. 1122-1129. 2 Baseado em IBGE. Censo Demográfico 2010. Características Gerais da População, Religião e Pessoas com Deficiência. 2012.
Pesquisou-se a religião professada pela pessoa. Aquela que não professava qualquer religião foi classificada como sem religião. A criança que não tinha condição de prestar a informação foi considerada como tendo a religião da mãe. O IBGE e o Instituto de Estudos da Religião ISER, em parceria, desenvolveram, para o Censo Demográfico 2000, a classificação de religiões, passando a fazer as atualizações necessárias a cada Censo Demográfico (IBGE. 2012). Para o próprio IBGE, baseado na utilização de dois tipos de questionários na realização do censo domiciliar, 3 os resultados do Censo Demográfico 2010 mostram o crescimento da diversidade dos grupos religiosos no Brasil. 4 O segmento católico romano seguiu a tendência de redução das duas décadas anteriores e os evangélicos consolidaram seu crescimento que passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. Destes evangélicos, 60,0% são de origem pentecostal, 18,5% de missão e 21,8% não determinados. Evangélicos % De origem pentecostal 60,0 De Missão 18,5 Não determinados 21,8 Esta diferenciação interna dos evangélicos merece uma análise mais profunda pois se desenha no cenário uma outra configuração de ser evangélico no Brasil, fora das classificações estabelecidas. São mais de 20% de declarações religiosas de evangélicos não determinados, as quais se encontram em experiências e práticas ainda não categorizadas. A segunda maior igreja evangélica detectada pelo IBGE é a evangélica não determinada com 9 milhões de fiéis, logo após as Assembleias de Deus com 12 milhões de seguidores. Detectou-se o fato de que a população respondeu apenas ser evangélica, não se declarando, portanto, como de missão ou de origem pentecostal. Estaria aqui surgindo um novo tipo de evangélico autônomo, independente, alternativo ou seria uma reação às formatações tradicionais das igrejas pentecostais e de missão? Qual a relação entre o advento deste segmento indefinido com os sem religião? Seriam os sem religião ex evangélicos? A indeterminação destas igrejas apontaria para 3 Questionário Básico e Questionário da Amostra. 4 http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2170. Acessado em 25/02/2013.
a constatação da configuração de um protestantismo pós denominacional, híbrido em suas práticas e teologias? 5 O censo também apontou o crescimento dos espíritas, dos sem religião e do conjunto pertencente às outras religiosidades. Isto para reforçar a ideia da diversidade religiosa a caminho na sociedade brasileira, acompanhando a pluralização das identidades sociais em outros campos ou esferas. A democratização das escolhas por parte do indivíduo, sem as pressões das tradições, da família e das instituições sociais como as escolas ou mesmo o estado, tem proporcionado esta maior diversificação religiosa no Brasil. Por sua vez, certos estudiosos afirmam que no crescimento evangélico estariam os germes da secularização ou que a experiência religiosa evangélica seria a última estação no trilho do trânsito religioso brasileiro. O IBGE apresenta nestes resultados o cruzamento dos dados das religiões com outros indicadores sociais como sexo, cor, faixa etária e grau de instrução, os quais se tornam fundamentais para se compreender os segmentos religiosos e, sobretudo, os evangélicos em suas demarcações internas. Temos uma população mais envelhecida, com menor taxa de fecundidade e em reestruturação da pirâmide etária, sendo que mais da metade da população se declara parda ou preta, o que demonstra o processo de mestiçagem inevitável. Mais do que destacar o crescimento evangélico, o IBGE enxerga a diversidade religiosa que equivaleria ao aumento das opções religiosas por parte das novas gerações, ao maior grau de secularização e ao desprendimento da referência religiosa como matriz fundante das identidades sociais. No entanto,os evangélicos passaram de 6,6% em 1980 para 22,2% em 30 anos, sendo o segmento religioso que mais cresceu no Brasil. Houve um acréscimo de 16 milhões de adeptos somente na última década: eram 26,2 milhões em 2000 e passaram a 42,3 milhões em 2010. Estes dados não são desprezíveis, ao contrário, corresponde a mudanças e transformações não somente no campo religioso, mas nos outros campos como o político e o cultural. Os católicos, ao contrário, passaram de 73,6% em 2000 para 64,6% em 2010, permanecendo ainda como a maioria histórica. 5 Um exemplo disto está na igreja MAIS Ministério Apostólico Internacional Shalom, localizada no bairro do COHATRAC em São Luis/MA. Trata-se de uma igreja batista nacional de origem cujo pastor passou a bispo e a apóstolo. Ela reúne elementos das tradições batistas, da renovação carismática da década de 1960, do pentecostalismo (línguas, revelações, curas) e da teologia da prosperidade neopentecostal.
Desde o primeiro recenseamento de âmbito nacional até a década de 1970, o perfil religioso da população brasileira manteve como aspecto principal a hegemonia da filiação à religião católica apostólica romana, característica herdada do processo histórico de colonização do País e do atributo estabelecido de religião oficial do Estado até a constituição da República de 1891 (IBGE. 2012. P. 89). Em todas as regiões brasileiras verificou-se a redução católica, sendo a mais elevada na região norte, coincidindo com o aumento significativo dos evangélicos. Isto pode ser verificado no Gráfico 36 Percentual da população residente, por grupos de religião 1872/1991: 6 O Rio de Janeiro é o estado de menor representação católica, chegando a 45,8% em 2010, menos da metade da população. O Piauí continua como o estado de maior percentual de católicos, 85,1% e Rondônia o maior percentual de evangélicos (33,8%). Os católicos, no entanto, ainda permanecem como a maioria na população rural e de maioria masculina, ao contrário dos outros grupos religiosos, e com a maior parte de pessoas com mais de 40 anos, juntamente com os espíritas em termos de faixa etária. Crianças e adolescentes detém o maior percentual entre os evangélicos, o que aponta para as próximas gerações, provavelmente, de evangélicos ou de ex evangélicos. 6 IBGE, Censo Demográfico 2000/2010. P. 90.
Surpreendentes, contudo, foram os índices dos que se declararam sem religião, 8,0%. Em 2000 eram cerca de 12,5 milhões ou 7,3%, chegando a quase 15 milhões em 2010 ou 8,0%.Eles se distinguem dos ateus e dos agnósticos, mantendo alguma referência de crença religiosamas descompromissados com alguma instituição religiosa. O Gráfico 37 Percentual da população residente, segundo grupos de religião Brasil 2000/2010, nos traz a comparação entre os dez últimos anos: 7 Interpretação dos Resultados 8 Os resultados do censo de 2010 divulgados recentemente pelo IBGE registraram a continuidade do crescimento dos evangélicos na última década, alcançando 42 milhões de seguidores. A tendência é a de um país menos católico romano, mais evangélico, mais plural e mais secularizado, embora nem tudo no espectro evangélico seja, de fato, evangélico. Este quadro coincidiu com os índices de crescimento econômico e aumento das classes médias, mas também com a incompetência do estado nas políticas públicas para a saúde e a 7 IBGE, Censo Demográfico 2000/2010. P. 91. 8 Baseado no artigo SANTOS, Lyndon de Araújo. O Brasil religioso. In: http://www.ultimato.com.br/conteudo/obrasil-religioso.
educação, o aumento da violência urbana e a corrupção endêmica como os casos do mensalão, Cachoeira e das obras da copa do mundo de 2014. Mas valem algumas considerações contribuindo para um debate mais amplo sobre a interpretação dos dados. 1. As tradicionais divisões ou classificações do segmento evangélico (imigração, históricos, pentecostais e neo-pentecostais) perdem a sua força de explicação. As respostas dadas ao censor do IBGE e as práticas das igrejas locais que alteram, mudam e transgridem os padrões de classificação, reforçam esta hipótese. As vivências e as experiências litúrgicas mesclam tradições antes fixadas e reinventam novas formas rituais. E, embora condicionadas por um mercado gospel cada vez mais favorecedor às empresas de comunicação, as comunidades criam suas maneiras de adorar e viver o Evangelho. Sobretudo nas periferias das grandes cidades. 2. Há razões históricas de longa duração para este crescimento, não como resultado de marketing religioso somente. São duzentos anos de presença permanente do protestantismo no Brasil e, desde então, nunca deixou de crescer. Mas até a década de 1970, este crescimento foi pequeno, não chegando a 5% da população. No entanto, os evangélicos se espalharam no país, criaram instituições, templos, associações e eram mais coesos em torno de propósitos comuns. Se houve um boom de crescimento nos últimos trinta/quarenta anos, isto se deve também a este estrato construído que permeou as relações sociais, culturais e religiosas num processo de longa duração. 3. As fronteiras religiosas não reproduzem necessariamente as práticas e os sinais do Reino de Deus. Outra consideração diz respeito à qualidade do cristianismo vivido e confessado por parte destes 42 milhões. Se na grande mídia e na esfera política os escândalos apontam para pastores, bispos, apóstolos e deputados evangélicos, no cotidiano dos evangélicos e dos não evangélicos há práticas de justiça do Reino de Deus. E a pergunta também recai sobre o universo maior dos que estão fora dos 42 milhões, pois o Reino de Deus está sendo manifestado de muitas formas ainda ocultas aos nossos olhares muito estreitos e religiosos. O fato é que qualquer diferença ética equivalente à vocação de ser sal e luz se
dilui ante as dimensões de uma oração da propina, por exemplo. Mas estas diferenças se impõem pela dinâmica silenciosa do Reino. Parafraseando o sociólogo Pierre Sanchis que perguntou se o campo religioso será ainda hoje o campo das religiões?, 9 perguntamos, da mesma forma, se o campo evangélico será ainda expressão do Reino de Deus e se este Reino nele se esgota ou se detém. 4. Há necessidade de um bom senso sobre o censo. Um século atrás, no alvorecer da república recém proclamada, os resultados do impreciso censo populacional de 1890 trouxeram indignação por parte dos protestantes. As imprecisões dos números e das classificações estavam presentes, mas desde então já se constituía uma sociedade religiosamente plural. Como disse o jornalista João do Rio nesta época sobre o Rio de Janeiro, em cada esquina, uma religião. O Espiritismo e os cultos afro-brasileiros foram excluídos ou ocultados pelos próprios depoimentos dos adeptos que se afirmavam católicos. Os presbiterianos foram diferenciados dos outros cultos protestantes, talvez por representarem a denominação mais expressiva. Os luteranos presentes nos estados do sul não apareceram como distintamente protestantes. Talvez tenham sido incluídos no item outras seitas. As Religiões no início da República Denominações Números % Romanos 14.179.615 98,92 Cat. Ortodoxos 1.673 0,002 Islamitas 300 0,00 Positivistas 1.327 0,01 Sem Culto 7257 0,005 Prot. Evangélicos 19.957 0,14 Presbiterianos 1.317 0,00 Outras seitas 122.465 0,86 Total 14.333.915 100,00 Jornal O Christão, dezembro de 1898, Ano VII, Número 84, 03. 9 SANCHIS, Pierre. O campo religioso será ainda hoje o campo das religiões? In: História da Igreja na América Latina e no Caribe: 1945-1995: o debate metodológico. Petrópolis: Vozes, 1995. Pp. 81-131.
As críticas responsabilizavam os 98,92% de católicos pelas mazelas morais e sociais da sociedade, não aceitando os indicadores apontados relativos ao número dos evangélicos. E hoje? Como lemos os dados do censo? Isto nos exige o bom senso de não cairmos num triunfalismo ingênuo, de perguntarmos pelo Reino de Deus mais do que pela competição religiosa e não menosprezarmos as mudanças no campo religioso recente do Brasil. Considerações Finais Altmann propõe uma melhor assessoria ao IBGE e ao ISER no tocante às pesquisas e projeta a continuidade do crescimento evangélico. Por sua vez, afirma que a população brasileira continua ser religiosa em sua maioria e de recorte cristão, e que o censo contribui para a reafirmação do estado laico. 10 Gostaria, finalmente, de apontar algumas linhas de força relativas ao futuro da igreja evangélica no Brasil, a partir do presente de suas práticas, deixando em abertos o debate e a reflexão. De um lado, aponto as linhas negativas, por outro, as positivas. As negativas: 1. Uma igreja pós-pentecostal. Em outras palavras, a manutenção da forma da piedade, mas com a negação do poder (2Tm 3.1,5).O formalismo religioso recolocaum tipo deromanização das práticas religiosas (papas locais, catedrais erigidas, práticas sacramentalistas, instituição de territórios sagrados, uso de penitências e relação com a divindade via recompensas e sacrifícios). 2. Uma igrejaanti democrática. A tendência à romanização associa-se à cultura política do mandonismo e da exclusão dos fiéis nos processos de decisão, reforçando o messianismo mágico-político no contexto cada vez mais urbanizado e complexo. A atribuição de carisma mágico e político a personagens que agem como messias salvadoresreforçam o jogo político, porquanto as estruturas mais verticais são mais afeitas à negociação e à corrupção. 3. Uma igreja sem memória histórica. O esgotamento das fórmulas e das matrizes reformadas com a perda de referência histórica e teológica torna a igreja sem memória e 10 ALTMAAN, W. Censo do IBGE 2010 e Religião. In: Revista Horizonte. Dossiê: Religião e o Censo IBGE 2010. Belo Horizonte, v. 10, n. 28, p. 1122-1129.
sem identidade.perde-se a dimensão fundamental da unidade da Igreja como contraponto às divisões históricas, legitimadas por discursos que escondem os reais motivos dos conflitos. O formalismo religioso, o autoritarismo e a falta da memória reforçam a necessidade dareleitura das escrituras e da realidade sem as respostas prontas e superficiais. A renúncia do papa Bento XVI nos alerta para o entrincheiramento apologético arrogante diante das demandas e desafios sociais da modernidade tardia, quando se deixa de enxergar as traves diante dos próprios olhos e perde a dimensão humana. As positivas: 1. Uma igreja inquieta e auto-reflexiva. O sentido de pertencimento religioso não mais se detém numa tradição denominacionalou numa civilização cristã (cristandade), mas nas relações mais imediatas com uma comunidade local, por meio de redes de relacionamentos horizontalizados. Os deslocamentos de cristãos para experiências alternativas e mesmo de negação das tradições colocadas, podem indicar a inquietação de uma geração sincera inconformada com os desmandos e as contradições do religioso evangélico. Este processo incide numa auto-reflexão honesta acerca dos caminhos e dos descaminhos da igreja, sem se pretender proprietária da verdade e refazendo os passos a cada passo que caminha. 2. Uma igreja jovem e feminina. Os dados do IBGE apontam para um segmento religioso de maioria jovem e feminina, sinalizando o seu vir a ser de força, resistência e criatividade (1Jo 2.14). E, se o fôlego das igrejas cristãs foram as mulheres no passado, de alguma forma isto ainda permanece, relativizando o poder instituído masculino nas relações de gênero dentro do eclesiástico. A juventude, por sua vez, detém força para vencer o maligno e guardar a Palavra de Deus e, de dentro desta geração, estão sendo gestados lideranças, profetas, reformadores, subversivos, revolucionários. A principal questão a ser discutida e enfrentada no futuro/presente da igreja evangélica brasileira relaciona-se diretamente com o poder. O uso que dele fará definirá o seu vir a ser. Uma igreja cada vez maior numericamente, com mais prestígio, com mais presença política, com ampliação patrimonial e intensiva atuação midiática, haverá de se defrontar com as vantagens e as perdas desta condição. Mas isto diz respeito à dimensão institucional desta igreja, a qual não a esgota e nem a explica em sua totalidade.
A outra mesma igreja é a que não se vê representada nesta institucionalidade, antes se reinventa nas vivências do cotidiano e repensa a relevância e o sentido de sua vocação ante os dilemas da sociedade e da cultura. Uma igreja que renuncia ao poder e ao lugar junto dele, seja representado este pelo estado, pelo governo ou qualquer outra instância decisória. Há de se repensar se um dia retornaremos ao modelo de cristandade que foi hegemônico no ocidente durante séculos, o qual gerou tantas contradições que afloram e desdizem o testemunho do Evangelho do Reino. Há de se repensar se queremos um país evangélico. Síntese das Reações O censo religioso é uma fotografia, um retrato de um momento e de uma realidade em mutação. Os sem religião representam evangélicos desiludidos com a igreja evangélica e ex-católicos. O censo detectou uma obviedade, a queda do catolicismo com a penetração dos evangélicos na base da pirâmide social. Se houve crescimento dos evangélicos a sua qualidade tem sido ruim e de confusão no entendimento do que seja o Evangelho, demonstrado no nomadismo evangélico. O estado laico não significa um estado ateu antes de convivência com as diferentes religiões enquanto manifestações sociais legítimas. É preciso cruzar os dados do censo religioso com outros indicadores como cor, raça, sexo, faixa etária, grau de instrução, não somente apreciar os percentuais de crescimento. É preciso reler os dados do censo a fim de se criar pastorais voltadas às suas demandas. A curva de crescimento evangélico tende a chegar a um limite, daí não ultrapassar muito ao que já alcançou.
Referências Bibliográficas e Fontes ALTMAAN, W. Censo do IBGE 2010 e Religião. In: Revista Horizonte. Dossiê: Religião e o Censo IBGE 2010. Belo Horizonte, v. 10, n. 28, p. 1122-1129. IBGE. Censo Demográfico 2010. Características Gerais da População, Religião e Pessoas com Deficiência. 2012. SANCHIS, Pierre. O campo religioso será ainda hoje o campo das religiões? In: História da Igreja na América Latina e no Caribe: 1945-1995: o debate metodológico. Petrópolis: Vozes, 1995. Pp. 81-131. SANTOS, Lyndon de A. As outras faces do sagrado: protestantismo e cultura na primeira república brasileira. São Luis: EDUFMA; São Paulo: Ed. ABHR, 2006. Pp. 191 a 195.. O Brasil religioso. In: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-brasilreligioso. http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2170. Jornal O Christão, dezembro de 1898, Ano VII, Número 84, 03.
ANEXOS
ANEXO 1(SLIDE 13)
ANEXO 2 Ranking: Grupos de Religião por número de adeptos Católica Apostólica Romana 123.280.172 Sem Religião 14.595.979 Igreja Assembleia de Deus 12.314.410 Evangélica não determinada 9.218.129 Outras Igrejas Evangélicas de Origem Pentecostal 5.267.029 Espírita 3.848.876 Igreja Evangélica Batista 3.723.853 Igreja Congregação Cristã do Brasil 2.289.634 Igreja Universal do Reino de Deus 1.873.243 Igreja Evangelho Quadrangular 1.808.389 Igreja Evangélica Adventista 1.561.071 Outras religiosidades cristãs 1.461.495 Testemunhas de Jeová 1.393.208 Igreja Evangélica Luterana 999.498 Igreja Evangélica Presbiteriana 921.209 Igreja Deus é Amor 845.384 Não determinada e múltiplo pertencimento 643.598 Religiosidade não detemrinada/mal definida 628.219 Ateu 615.096 Católica Apostólica Brasileira 560.781 Umbanda 407.331 Igreja Maranata 356.021 Igreja Evangélica Metodista 340.938 Budismo 243.966 Igreja de Jesus Cristo dos Santos do Últimos Dias 226.509 Igreja O Brasil para Cristo 196.665 Comunidade Evangélica 180.130 Candomblé 167.363 Novas religiões orientais 155.951 Católica Ortodoxa 131.571 Igreja Casa da Bênção 125.550 Agnóstico 124.436 Igreja Evangélica Congregacional 109.591 Judaísmo 107.329 Igreja Messiânica Mundial 103.716 Igreja Nova Vida 90.568 Tradições Esotéricas 74.013 Tradições Indígenas 63.082 Espiritualista 61.734 Outras novas religiões orientais 52.235 Islamismo 35.167 Outras evangélicas de missão 30.666 Evangélica renovada não determinada 23.461 Declaração de múltipla religiosidade 15.379 Outras delcarações de religiosidade afro brasileira 14.103 Outras religiosidades 11.306 Outras religiões orientais 9.675 Hinduísmo 5.675
ANEXO 3(SLIDE 14) Ranking Igrejas Evangélicas Igreja Assembleia de Deus 12.314.410 Evangélica não determinada 9.218.129 Outras Igrejas Evangélicas de Origem Pentecostal 5.267.029 Igreja Evangélica Batista 3.723.853 Igreja Congregação Cristã do Brasil 2.289.634 Igreja Universal do Reino de Deus 1.873.243 Igreja Evangelho Quadrangular 1.808.389 Igreja Evangélica Adventista 1.561.071 Igreja Evangélica Luterana 999.498 Igreja Evangélica Presbiteriana 921.209 Igreja Deus é Amor 845.384 Igreja Maranata 356.021 Igreja Evangélica Metodista 340.938 Igreja O Brasil para Cristo 196.665 Comunidade Evangélica 180.130 Igreja Casa da Bênção 125.550 Igreja Evangélica Congregacional 109.591 Igreja Nova Vida 90.568 Outras evangélicas de missão 30.666 Evangélica renovada não determinada 23.461
ANEXO 4