Simulação numérica prevê comportamento do aço na estampagem de micropeças

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Transcrição:

26 Corte & Conformação de Metais Agosto 2012 Simulação numérica prevê comportamento do aço na estampagem de micropeças A tendência crescente à miniaturização de produtos em setores como o eletroeletrônico, biomédico e automobilístico tem levado ao desenvolvimento de processos que permitem fabricar peças em tamanhos bastante reduzidos. A miniaturização de peças é um desafio para a indústria, uma vez que esse tipo de componente requer um tratamento diferenciado. Neste trabalho, a simulação numérica computadorizada foi empregada para prever o comportamento de dois tipos de aço na conformação de micropeças. A comparação dos resultados da simulação com os obtidos em ensaios práticos confirmou a eficácia da análise numérica computadorizada para prever defeitos na peça durante a conformação e para auxiliar no projeto das ferramentas. U. Boff e L. Schaeffer a miniaturização de peças surgiu em meio à grande competição existente na indústria e ao surgimento de novas tecnologias, impulsionada por uma tendência crescente à fabricação de produtos por táteis. A concepção de produtos micro tem de levar em conta as limitações e potenciais relacionados às novas tecnologias de produção. Por um lado, a miniaturização constitui uma limitação para a aplicação da maioria das tecnologias de fabricação; por outro, abre possibilidades para o emprego de novas tecnologias. A quantidade e a diversidade de tecnologias usadas para produzir micropeças e microcomponentes são enormes. Processos de conformação mecânica são os que conseguem Uilian Boff é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e Materiais (PPGEM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador do Laboratório de Transformação Mecânica (LdTM) da universidade, em Porto Alegre (RS). Lírio Schaeffer é professor doutor na mesma instituição e coordenador do LdTM. Reprodução autorizada pelos autores. produzir a maior quantidade de peças, em um menor tempo e com o menor custo, além de possibilitar um controle mais acurado dos parâmetros do processo. O entendimento de como os materiais irão se comportar na conformação de micropeças é de extrema importância. Durante a miniaturização de peças, nem todos os parâmetros podem ser alterados, como é o caso do atrito, que aumenta com a diminuição do porte do processo. Isso impede o fluxo

Corte & Conformação de Metais Agosto 2012 27 de material e, consequentemente, reduz a relação de estampagem (7, 8, 4). Outro aspecto está relacionado ao desenvolvimento de ferramentas e máquinas de alta precisão que sejam adequadas à produção de peças miniaturizadas (3). Além disso, também estão relacionados com a miniaturização de peças o tamanho de grão (6) e o enrugamento do material. O enrugamento ocorre pelo simples fato de que a área de contato entre o blanque e o prensa-chapas é muito pequena, o que faz com que a força, que tem grande importância para um processo convencional, se torne insignificante quando a peça é miniaturizada (1). A simulação numérica tornase um importante instrumento para avaliar os efeitos dessa técnica, uma vez que os resultados obtidos na simulação, quando Tab. 1 Propriedades usadas para definir o material da geratriz no Dynaform Propriedades do material Inox 304 ABNT 1010 Densidade 7,85 g/cm³ 7,83 g/cm³ Módulo de Young 207.000 N/mm² 207.000 N/mm² Coeficiente de Poisson 0,28 0,28 Índice de encruamento (n) 0,50 0,185 Constante do material (C) 1.426 726 Índice de anisotropia 1 1,38 Tensão de escoamento 300 N/mm² 272 N/mm² bem tratados, mostram uma realidade muito próxima à obtida em processos experimentais. Este trabalho procurou analisar o comportamento da simulação numérica durante o processo de estampagem de um copo miniaturizado e compará-lo aos resultados obtidos em experimentos práticos. Metodologia A simulação numérica fornece um meio para estudar em detalhes problemas complexos que conduzem a uma melhor compreensão e, eventualmente, à otimização do processo. Métodos numéricos podem ser aplicados de diversas maneiras, permitindo comparar resultados obtidos experimentalmente com resultados obtidos pela simulação, alcançando um nível mais alto de precisão nos parâmetros de identificação. Dessa forma, uma síntese entre experimentos e simulação busca atingir um maior conhecimento entre os materiais e processos. Para as análises com simulação numérica empregadas no presente estudo, foi usado o software de simulação em estampagem Dynaform versão 5.6, com o solver LS-Dyna versão 971, desenvolvidos pela empresa norte-americana ETA (Engineering Technology Associates, Inc.). O Dynaform combina as análises do LS-Dyna versão 971 com as funções pré e pós-processador do próprio Dynaform. Os materiais empregados na simulação foram chapas de aço-carbono 1010 e aço inoxidável 304, ambas com espessura de 0,4 mm. As propriedades aplicadas a esses materiais, usadas como dados de entrada no Dynaform, estão descritas na tabela 1. Utilizou-se como critério de falha a curva-limite de conformação (CLC) criada pelo Dynaform pelo encruamento do material n, e pela espessura inicial da Fig. 1 Representação esquemática da montagem no Dynaform para uma simulação em dois estágios para o aço inoxidável 304 e aço 1010 Fig. 2 Vista em corte do copo a ser obtido em dois estágios pelo processo de estampagem

28 Corte & Conformação de Metais Agosto 2012 Tab. 2 Parâmetros geométricos para estampagem do copo em dois estágios Primeiro estágio Diâmetro da geratriz D (mm) 18,0 Diâmetro do copo d 1 (mm) 9,0 Altura do copo h 1 (mm) 6,75 Relação de estampagem β 1,98 Segundo estágio Diâmetro do copo d 2 (mm) 7,0 Altura do copo h 2 (mm) 10,0 Relação de estampagem β 1,3 geratriz. Essa forma de criação da CLC foi concebida por Keeler por meio de uma relação empírica. A CLC criada por esse método é bastante próxima da maioria das CLCs medidas por meio de ensaios. Alguns parâmetros foram definidos para realizar as simulações: o raio de curvatura (filete) de todas as matrizes foi de 2 mm; a matriz, o punção e o prensa-chapas foram modelados como corpos rígidos; o coeficiente de atrito entre as ferramentas e o blanque foi de Fig. 3 Desenho em corte das ferramentas utilizadas para estampagem do copo: a) conjunto de ferramentas para o primeiro estágio; b) conjunto de ferramentas para o segundo estágio. 0,05. Para modelagem do blanque foram usados elementos finitos de casca com malha de 0,5 mm. A figura 1 (pág. 27) mostra uma representação esquemática das ferramentas montadas no Dynaform para uma simulação em dois estágios para o aço inox 304 e o aço 1010. Para os experimentos práticos, as ferramentas de estampagem do copo foram projetadas e construídas com base nos resultados obtidos pelo método de simulação empregado, porque a simulação numérica, além de prever os defeitos que podem ocorrer na peça, também possibilita otimizar as ferramentas para a obtenção da geometria final do componente. A figura 2 (pág. 27) ilustra uma vista em corte do copo a ser obtido em dois estágios. A tabela 2 apresenta os parâmetros geométricos para estampagem do copo em dois estágios.

Corte & Conformação de Metais Agosto 2012 29 As ferramentas utilizadas no processo de estampagem do copo são compostas por duas bases superior e inferior, matriz, punção, prensa-chapas e suporte do punção. Uma representação em corte dessas ferramentas pode ser vista na figura 3 (pág. 28). A ferramenta construída é completamente independente da prensa, não necessitando ser fixada por meio de espigas ou grampos. Sendo assim, a prensa age somente fornecendo a força para o processo de estampagem, diminuindo a possibilidade de desalinhamentos entre punção e matriz. O equipamento utilizado para o processo de estampagem foi uma Fig. 4 Equipamento utilizado para estampagem do copo prensa hidráulica com capacidade de 294 kn. A figura 4 mostra a máquina, junto com a ferramenta de estampagem. A escolha por este equipamento deve-se ao fato de que a força exigida para estampar o copo é relativamente baixa; além disso, ele permite que se tenha um maior controle do processo. Os lubrificantes utilizados para os ensaios práticos são de uso comercial e de base mineral. A metodologia de aplicação do lubrificante consistiu em passar o produto em ambos os lados da chapa a ser estampada. Como a quantidade de lubrificante espalhada na chapa foi excessiva, este se espalhou para o punção e as ferramentas, não necessitando assim lubrificá-las. Resultados e discussões Resultados da simulação numérica para o processo de estampagem do copo Neste estudo foram desenvolvidos modelos utilizando, para

30 Corte & Conformação de Metais Agosto 2012 uma mesma geometria, o aço 1010 e o aço inox 304. O objetivo foi avaliar o comportamento da simulação numérica durante o processo de miniaturização de um copo pelo processo de estampagem, possibilitando também o dimensionamento de forma otimizada do conjunto de ferramentas utilizado nos experimentos práticos para a estampagem do copo. A s simulações foram realizadas de forma a obter o copo em dois estágios. A figura 5 mostra os resultados obtidos por simulação numérica para o aço 1010. Os resultados da simulação mostraram que, para o aço 1010, há regiões na borda do copo em que ocorrerá enrugamento severo. Esse enrugamento leva ao amassamento e ao surgimento de trincas na lateral do copo durante o segundo estágio, inviabilizando a utilização desse material em um processo em dois estágios, quando miniaturizado. Isso ocorre porque a força necessária para um processo em que a peça é miniaturizada torna-se insignificante em comparação com um processo convencional, devido à diferença de pressão na área de contato, ou seja, em um processo de miniaturização, a área de contato entre o blanque e o prensa-chapas é muito pequena, levando, assim, ao enrugamento do copo. A figura 6 mostra os resultados obtidos pela simulação numérica para o aço inox 304. Para o aço inox, o enrugamento não foi tão severo quando comparado ao Fig. 5 Resultados da simulação numérica para a estampagem do copo em dois estágios para o aço 1010 Fig. 6 Resultados da simulação numérica para a estampagem do copo em dois estágios para o aço inox 304 do aço 1010. Isso pode ter ocorrido devido às características de estampabilidade do material, que o levam a apresentar um Fig. 7 Ferramentas utilizadas para o processo de estampagem do copo: a) ferramenta de corte do blanque; b) ferramenta de estampagem do copo. melhor comportamento durante o processo de miniaturização em dois estágios. Estampagem do copo Primeiramente foram retirados os blanques a partir de uma ferramenta de corte por cisalhamento representada na figura 7a. Posteriormente ao corte, foram embutidas cinco peças em aço 1010 e outras cinco em aço inox 304, por meio de um conjunto de ferramentas construído especificamente para este

32 Corte & Conformação de Metais Agosto 2012 processo, o qual pode ser visto na figura 7b. O processo de estampagem ocorreu da seguinte forma: na primeira etapa, com o uso da ferrament a do primeiro estágio, foram estampadas as cinco peças de cada material. Em seguida fez-se o segundo estágio, a partir das peças do primeiro estágio. O resultado do processo de estampagem para o primeiro e o segundo estágios do aço 1010 pode ser visto na figura 8; para o aço inox 304, o resultado é mostrado na figura 9. Em ambos os casos, o prensa-chapas serviu apenas para alinhamento do conjunto, não sendo exercida nenhuma força sobre ele. Os resultados obtidos nos ensaios mostraram algumas particularidades do processo quando miniaturizado, o que já havia sido previsto na simulação numérica. Foi mostrado que ocorreria enrugamento tanto no primeiro quanto no segundo Fig. 8 Estampagem do copo em dois estágios para o aço 1010 Fig. 9 Estampagem do copo em dois estágios para o aço inox 304 estágio, e que o aço 1010 apresentaria um comportamento pior que o do aço inox 304. Conclusões A simulação numérica pelo software LS-Dyna apresentou uma boa concordância com os resultados obtidos nos ensaios práticos, prevendo os defeitos que ocorreriam ao longo do processo, como o enrugamento das peças durante os dois estágios. Além de prever os defeitos, a simulação numérica possibilitou o dimensionamento das ferramentas de forma

Corte & Conformação de Metais Agosto 2012 33 otimizada. Isso mostra que a simulação é uma grande aliada em processos em que a peça é miniaturizada. Assim como na simulação, os ensaios de estampagem do copo também mostraram algumas particularidades do processo quando miniaturizado, como é o caso do enrugamento, que ocorre porque a área de atuação do prensa-chapas é muito pequena. Agradecimentos Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento das bolsas, à Escola de Engenharia da UFRGS e ao Laboratório de Transformação Mecânica (LdTM) pelo uso de sua infraestrutura. Referências 1) Basti, A.; Khor asani, A.; Nateghi, A. R. Analysis and Comparison of Micro Scale and Bulk Scale Deep Drawing Process. In: 10 th International Conference on Technology of Plasticity ICTP 2011. Aachen, 2011. 2) Batalha, G. F.; Cerveir a, R. L. L. P.; Silva, F. R. D. A. Simulação de processo de microfabricação: influência do efeito de escala. In: 3º COBEF Congresso Brasileiro de Engenharia de Fabricação. Joinville- SC, 2005. Anais do 3º COBEF - Congresso Brasileiro de Engenharia de Fabricação; v. 3. Joinville-SC : ABCM-IST-UDESC-UFSC, 2005; p.1-10. 3) Geiger, M.; Kleiner, M.; Eckstein, R.; Tiesler, N.; Engel, U. Microforming. Ann. CIRP, 50/2/2001, p. 445-462. 4) Hu, Z.; Schul ze Niehoff, H.; Vollerstsen, F. Determination of the friction coefficient in deep drawing, process scaling. In: Vollerstsen, F.; Hollmann, F. (eds). Proceedings of the 1st colloquium of DFG priority program process scaling. BIAS-Verlag ISBN 3-933762-14-6. Bremen, 2003; p. 27-34. 5) LS-Dyna Theory manual. Livermore, California: Livermore Software Technology Corporation, 2006. 6) Vollertsen, F.; Hu, Z.; Schul ze Niehoff, H.; Theiler, C. State of the art in micro forming and investigations in micro deep drawing. Journal of Material Processing Technology, 151, 2004; p.70 79. 7) Vollertsen, F.; Hu, Z. Tribological Size effects in Sheet metal Forming Measured by a Strip Drawing Test. CIRP Annals Manufacturing Technology, v. 55, n. 1, 2006; p.291-294. 8) Vollertsen, F.; Hu, Z. On the Drawing Limit in Micro Deep Drawing. Journal for Technology of Plasticity, v. 32, n. 1-2, 2007.