Biomembranas. Profa. Ana Paula Ulian de Araújo IFSC, USP

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Transcrição:

Biomembranas Profa. Ana Paula Ulian de Araújo IFSC, USP

As biomembranas formam estruturas fechadas A estrutura da bicamada é similar para as biomembranas; Composição: lipídica e protéica; Delimitam a célula e seus compartimentos; Controlam o movimento de moléculas;

Esquema dos principais componentes da arquitetura celular eucariótica

Face exoplásmica Face citosólica Faces das membranas celulares

Efeito hidrofóbico dos lipídeos: H 2 O se organiza ao redor

Fosfolipídeos formam espontaneamente bicamadas lipídicas

Membranas São estruturas dinâmicas, fluidas: a maioria das moléculas é capaz de se mover no plano da bicamada! São auto-selantes : rearranjamse para eliminar ângulos livres.

Bicamada da membrana Micrografia eletrônica de uma secção da membrana de um eritrócito. Grupos de cabeças polares Caudas hidrofóbicas Grupos de cabeças polares

Propriedades da bicamada Barreira impermeável a compostos hidrofílicos; Estabilidade: mantida via interações hidrofóbicas e van de Waals mantém sua arquitetura mesmo com variações de ph e força iônica do ambiente externo Permitem gradientes iônicos!

Composição lipídica das células animais: muitas possibilidades Fosfolipídeos Glicolipídeos Colesterol Fosfoglicerídeos Fosfatidilserina Fosfatidiletanolamina Fosfatidilcolina Fosfatidilinositol Esfingolipídeos Esfingomielina Gangliosídeos Galactocerebrosídeo Ác. siálico

Composição lipídica Fosfoglicerídeos (fosfatidilcolina) Cabeça polar Colesterol Esfingolipídeos (esfingomielina) Glicolipídeos Gangliosídeo G M1 TODOS SÃO MOLÉCULAS ANFIPÁTICAS!

As partes de um fosfolipídeo (fosfoglicerídeo): Fosfatidilcolina Os maiores componentes lipídicos das membranas biológicas são fosfolipídeos

Fosfoglicerídeos Fosfoglicerídeos Cauda hidrofóbica Cabeça polar As 2 cadeias acil graxas podem diferir: - No número de C (~14 a 24); - No grau de insaturação (0, 1 ou 2 =); O fosfoglicerídeo é classificado segundo a natureza de sua cabeça polar.

Fosfoglicerídeos

Esfingolipídeos esfingomielina Derivados da esfingosina = um álcool amino com uma longa cadeia de hidrocarbonos. A SM, é o esfingolipídeo mais abundante (é um fosfolipídeo também)

Fosfolipídeos dispersos em água espontaneamente formam esferas chamadas lipossomas. Cavidade aquosa Variam de 25nm até 1 um de diâmetro

Fluidez da bicamada: Uma bicamada de fosfolipídeos pode existir em 2 estados físicos dependendo da temperatura: - estado gel: em baixas temperaturas (baixa fluidez no plano da bicamada) - estado fluido (aumento temperatura) Membranas biológicas são fluidas... A temperatura de transição de fase (mudança de fluido para gel) é dita temperatura de transição. depende da natureza química dos componentes da membrana.

Forma gel e fluida dos fosfolipídeos da bicamada

Efeito da insaturação nos ác. graxos Efeito na bicamada

FLUIDEZ Cadeias acil graxas insaturadas = menos interações membrana + fluida Cadeias acil graxas curtas= > fluidez Longas caudas saturadas= menor fluidez bactérias, leveduras adaptam-se: sob altas T produzem lípideos com caudas mais longas e saturadas Plantas: produzem lipídeos insaturados (fluidos) Animais: já produzem gorduras saturadas, portanto, seus lipídeos são mais sólidos

Fluidez Fluidez da bicamada dependende de sua composição e da temperatura Fluidez permite: rápida difusão das proteínas de membrana no plano da bicamada interação com outras proteínas fusão de membranas diferentes com a consequente redistribuição dos lipídeos e proteínas

Movimento dos lipídeos nas bicamadas A movimentação térmica permite que as moléculas lipídicas movimentem-se no plano da bicamada. Difusão lateral 10 7 x/seg Rotação flip-flop é raro

A bicamada de muitas membranas não é composta exclusivamente de fosfolipídeos, frequentemente há também: COLESTEROL e GLICOLIPÍDEOS

Colesterol Especialmente abundante nas membranas plasmáticas de células de mamíferos. Não pode formar estrutura de bicamada, exceto quando misturado a fosfolipídeos.

O colesterol apresenta efeito de ordenamento na bicamada de PC Colesterol = em concentrações normais, tende a tornar as membranas menos deformáveis e menos permeáveis à água, mas não menos fluidas. [colesterol] = inibe possíveis transições de fase para cristalização

Composição de lipídeos x propriedades físicas da membrana As propriedades características de cada membrana são dadas por uma composição particular de lipídeos; Podem refletir uma especialização

Efeito da composição de lipídeos na curvatura da membrana

A assimetria da bicamada A composição lipídica das 2 monocamadas da bicamada é distinta! Essa assimetria é funcionalmente importante, principalmente na sinalização; Diminuem a fluidez

Glicolipídeos

Glicolipídeos Encontrados na superfície de todas as membranas plasmáticas Lipídeos com maior assimetria de distribuição nas membranas; Localizam-se exclusivamente na monocamada nãocitosólica, principalmente em microdomínios Face não-citosólica

Microdomínios A maior parte dos tipos de lipídeos de membrana está misturada ao acaso na monocamada; Alguns lipídeos e proteínas podem unir-se temporariamente em pequenos microdomínios especializados (lipid rafts ou balsas lipídicas); Comuns nas membranas animais, são ricos em esfingolipídeos e colesterol; Bicamada é mais espessa e pode acomodar melhor certas proteínas.

Membranas biológicas As quantidades e tipos de proteínas das membramas são altamente variáveis

Proteínas de membrana A bicamada lipídica promove a estrutura básica de todas as membranas celulares e é uma barreira semipermeável a moléculas. A maior parte das funções da membrana são desempenhadas pelas proteínas de membrana. Podem ser: - transportadoras; âncoras; receptoras e enzimas

Como as proteínas de membrana se associam a bicamada lipídica? Bicamada lipídica Proteínas integrais de membrana: é preciso desmontar a bicamada para extraí-las. Proteínas ancoradas a lipídeos Proteínas periféricas de membrana

Barris de fitas β podem atravessar a membrana periplasma Modelo de uma porina (OmpX) encontrada na membrana externa de E. coli

Barris β formados a partir de diferentes números de fitas β (1) E. coli OmpA (8 fitas β) serve como um receptor viral. (2) E. coli OMPLA (12 fitas β) é uma lipase (3) Porina de Rhodobacter capsulatus, que forma poros na memb. ext. (4) E. coli FepA (22 fitas β) é um tranportador de íons. Dentro do barril há um domínio globular (azul) que liga ferro.

As hélices α embebidas na membrana são as estruturas secundárias predominantes nas proteínas transmembrana Modelo estrutural da bacteriorrodopsina, que atua como fotorreceptor em algumas bactérias (exporta H + ativamente)

Proteínas transmembrana Domínio exoplásmico - Polipeptídeo que se extende da membrana para o lado externo da célula ou para o lúmen de organelas. - Obedece as mesmas regras que as proteínas solúveis, pode ter funções variadas e é frequentemente glicosilado. Domínio citoplásmico - Polipeptídeo que se extende da membrana para o citoplasma da célula. Também é solúvel. - Geralmente há 2 aminoácidos carregados (+) imediatamente após o domínio transmembrana.

Domínio exoplásmico Domínio citoplásmico

Plotagem de hidropatia para localizar potenciais segmentos de α-hélice que atravessam a membrana Glicoforina: Proteína de Membrana Unipassagem

Plotagem de hidropatia para Bacteriorrodopsina: 7 α-hélices transmembrana Proteínas de membrana multipassagem

Solubilização de proteínas integrais de membrana

Proteínas Periféricas de Membrana: Não interagem com a bicamada, ligam-se não-covalentemente à: - proteínas integrais de membrana (interações eletrostáticas e/ou ligações de hidrogênio) ou - superfície da própria bicamada (interações eletrostáticas)

The photosynthetic reaction centre of a purple bacterium Proteína extracelular periférica de membrana Proteína Integral de membrana (multi-passo com 11 hélices TM) Proteína Intracelular periférica de membrana

Proteínas ancoradas à Lipídeos : lipídeos ligados covalentemente à proteína. A proteína em si não penetra na bicamada. Fenilação Acilação

As proteínas de membrana são móveis Dependendo do tipo celular, 30 a 90% das proteínas de membrana são móveis; A taxa de difusão lateral na membrana intacta é ~10 a 30 x mais baixa do que da mesma proteína em lipossomos; mobilidade restrita por interações com o citoesqueleto! Formas de restringir a mobilidade lateral de proteínas: A) Auto-agrupamento; B e C) interações com macromoléculas; D) Interação com proteínas de superfície.

FRAP

Referências Alberts, B. Biologia Molecular da Célula - 5ª Ed., Editora: Artmed, 2010. Niemelä, P. S. Membrane Proteins Diffuse as Dynamic Complexes with Lipids. J. Am. Chem. Soc., 2010, 132 (22), pp 7574 7575 DOI: 10.1021/ja101481b