CASO LA GRAND (ALEMANHA v. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA)



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Transcrição:

CASO LA GRAND (ALEMANHA v. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA) (MEDIDAS CAUTELARES) Decisão de 3 de março de 1999 Histórico do caso e exposição das demandas (parágrafo 1º ao 12) A Corte começou por recordar que, em 2 de março de 1999, às 19 h 30 min. (hora de Haia), a Alemanha instaurou um processo contra os Estados Unidos da América em razão de violações da Convenção de Viena [de 24 de abril de 1963] sobre as Relações Consulares (doravante denominada a Convenção de Viena ) que teriam sido cometidas pelos Estados Unidos. A Alemanha fundou a competência da Corte no parágrafo 1º do artigo 36 do Estatuto da Corte no artigo 1º do Protocolo de Assinatura Facultativa concernente à solução obrigatória das controvérsias que acompanha a Convenção de Viena sobre as Relações Consulares (doravante denominado Protocolo de Assinatura Facultativa ). No requerimento da Alemanha, indicou-se que, em 1982, as autoridades do Estado do Arizona prenderam dois nacionais alemães, Srs. Karl e Walter LaGrand; que sustentou que estes foram julgados e condenados à pena capital sem terem sido informados, como o exige a alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção de Viena, de seus direitos nos termos dessa alínea; que se precisou que a dita disposição obriga as autoridades competentes de um Estado-parte a advertir sem demora um nacional de um outro Estadoparte, que as referidas autoridades prenderam ou detiveram, de seu direito a se beneficiar da assistência consular que garante o artigo 36; que foi igualmente alegado que o fato que a notificação requisitada não tenha sido feita impediu a Alemanha de proteger os interesses de seus nacionais nos Estados Unidos, como o prevêem os artigos 5 e 36 da Convenção de Viena, perante os tribunais dos Estados Unidos, tanto em primeira instância quanto em grau de apelação. A Alemanha expôs que, até bem recentemente, as autoridades do Estado do Arizona afirmavam que não tinham conhecimento do fato de que os Srs. Karl e Walter LaGrand eram nacionais alemães; que havia aceitado como verídica a referida afirmação; mas que, todavia, no curso do processo que se desenvolveu em 23 de fevereiro de 1999 perante a Arizona Mercy Committee, o procurador (State Attorney) admitiu que as autoridades do Estado do Arizona sabiam, desde 1982, que os dois acusados eram cidadãos alemães. A Alemanha especificou, ainda, que os Srs. Karl e Walter LaGrand, finalmente assistidos por agentes consulares alemães, alegaram efetivamente violações da Convenção de Viena perante a jurisdição federal de primeira instância; que essa jurisdição, fundando-se na doutrina de direito interno da carência de ação (procedural default), decidiu, uma vez que os interessados não haviam feito valer os direitos que eles teriam em virtude da Convenção de Viena quando do processo anterior em nível estadual, que eles não poderiam invocá-las no processo federal de habeas corpus; e que a corte de apelação federal de nível intermediário, última via de recurso judiciário que lhes estava aberta nos Estados Unidos, confirmou essa decisão. A Alemanha pediu à Corte que declarasse e julgasse que: 1) prendendo, detendo, julgando, declarando culpáveis e condenando Karl e Walter LaGrand, nas condições indicadas na exposição dos fatos que precede, os Estados Unidos violaram suas obrigações jurídicas internacionais em face da Alemanha, em seu próprio nome no exercício do direito que ela tem de assegurar a proteção diplomática de seus nacionais, assim como está previsto nos artigo 5º e 36 da Convenção de Viena; 2) a Alemanha tem, por conseguinte, direito a reparação; 3) os Estados Unidos têm a obrigação jurídica internacional de não aplicar a doutrina dita da carência de ação (procedural default), nem qualquer outra doutrina de seu direito interno, de maneira que crie obstáculo ao exercício dos direitos conferidos pelo artigo 36 da Convenção de Viena; e 4) os Estados Unidos têm a obrigação jurídica internacional de agir conforme as obrigações jurídicas internacionais acima mencionadas, no caso em que eles coloquem em detenção qualquer outro nacional alemão sobre seu território ou engajem uma ação penal a seu encontro no futuro, que esse ato seja realizado por um poder delegado, legislativo, executivo, judiciário ou outro, que esse poder ocupe um lugar superior ou subordinado na organização dos Estados Unidos ou que as funções desse poder apresentem um caráter internacional ou interno; e que, conforme as obrigações jurídicas internacionais acima mencionadas: 1) qualquer responsabilidade penal que tenha sido atribuída a Karl e Walter LaGrand, em violação de obrigações jurídicas internacionais, é nula e deve ser reconhecida como nula pelas autoridades legais dos Estados Unidos;

2) os Estados Unidos deveriam acordar uma reparação, sob a forma de uma indenização ou de satisfação, pela execução de Karl LaGrand, em 24 de fevereiro de 1999; 3) os Estados Unidos devem restaurar o status quo ante no caso de Walter LaGrand, isto é, restabelecer a situação que existia antes dos atos de detenção, de perseguição, de declaração de culpabilidade e de condenação desse nacional alemão cometido em violação às obrigações jurídicas internacionais dos Estados Unidos; 4) os Estados Unidos devem dar à Alemanha a garantia de que tais atos ilícitos não se reproduzirão. Em 2 de março de 1999, a Alemanha igualmente apresentou uma demanda urgente de indicação de medidas cautelares, a fim de proteger seus direitos. Em sua demanda de indicação de medidas cautelares, a Alemanha relembrou que o Sr. Karl LaGrand foi executado em 24 de fevereiro de 1999, apesar de todos os pedidos de clemência e das numerosas intervenções diplomáticas efetuadas no mais alto nível pelo governo alemão; que a data da execução do Sr. Walter LaGrand no Estado do Arizona foi marcada para 3 de março de 1999; e que a demanda de indicação de medidas cautelares foi apresentada no interesse desse último; e considerando que a Alemanha ressaltou que a importância e o caráter sagrado da vida humana são princípios consolidados do direito internacional. Como o reconhece o artigo 6 do Pacto Internacional Relativo aos Direitos Civis e Políticos, o direito à vida é inerente à pessoa humana e esse direito deve ser protegido pela lei. A Alemanha acrescentou o que se segue: Dadas as circunstâncias graves e excepcionais do presente caso e tendo em vista o interesse primordial que a Alemanha dá à vida e à liberdade de seus nacionais, é urgente indicar as medidas cautelares para proteger a vida do nacional alemão Walter LaGrand e salvaguardar o poder da Corte de ordenar a medida à qual a Alemanha tem direito, em se tratando de Walter LaGrand, a saber: o restabelecimento do status quo ante. Se as medidas cautelares demandadas não forem tomadas, os Estados Unidos executarão Walter LaGrand como executaram seu irmão Karl - antes que a Corte possa examinar as razões das pretensões da Alemanha e essa será para sempre privada de obter o restabelecimento do status quo ante se a Corte vier a se pronunciar em seu favor. A Alemanha pediu à Corte que indicasse, esperando a decisão definitiva da instância, que: Os Estados Unidos tomem todas as medidas em seu poder para que Walter LaGrand não seja executado, até a decisão final da presente instância, e que eles informem a Corte de todas as medidas que eles tomaram para efetivar essa decisão. Ela pediu, ainda, à Corte que examinasse sua demanda com a maior urgência devido à extrema gravidade e a iminência da ameaça de execução de um cidadão alemão. Por carta de 2 de março de 1999, o Vice-Presidente da Corte dirigiu-se ao governo dos Estados Unidos nos termos seguintes: Exercendo a presidência da Corte em virtude dos artigo 13 e 32 do Regulamento da Corte, e agindo conforme as disposições do parágrafo 4º do artigo 74 do referido Regulamento, chamo, pela presente, a atenção do governo [dos Estados Unidos] sobre a necessidade de agir de maneira que qualquer decisão da Corte sobre a demanda de indicação de medidas cautelares possa ter os efeitos pretendidos. Em 3 de março de 1999, às 9 horas (hora de Haia), o Vice-Presidente da Corte recebeu os representantes das partes para se informar junto a elas sobre a seqüência do processo; considerando que o representante do governo alemão indicou que o Governador do Estado do Arizona havia rejeitado uma recomendação do Arizona Mercy Committee, que tentava o sursis da execução do Sr. Walter LaGrand, e que este seria, assim, executado em 3 de março de 1999, às 15 horas (hora de Phoenix); que ressaltou a extrema urgência da situação; que, referindo-se às disposições do artigo 75 do Regulamento, ele pediu à Corte que indicasse antes de qualquer audiência e sem demora medidas cautelares de ofício; e considerando que o representante dos Estados Unidos indicou que o caso havia sido longamente examinado pelos tribunais dos Estados Unidos, que a demanda de medidas cautelares apresentada pela Alemanha era tardia e que os Estados Unidos teriam fortes objeções contra qualquer processo, tal como aquele evocado somente na mesma manhã pelo representante da Alemanha, que conduziria a Corte a tomar uma decisão de ofício sem ter devidamente ouvido as duas partes previamente. O raciocínio da Corte (parágrafo 13 ao 28) A Corte começou por indicar que, na presença de uma demanda de indicação de medidas cautelares a Corte não necessita, antes de decidir, indicar ou não tais medidas, assegurar-se de uma maneira definitiva de que ela tem competência quanto ao mérito do caso, mas que ela apenas pode indicar essas medidas se as disposições invocadas pelo demandante parecerem, prima facie, constituir uma base na qual a competência da Corte poderia estar fundada.

Ela notou que o artigo 1º do Protocolo de Assinatura Facultativa, que a Alemanha invocou como base da competência da Corte no presente caso, é assim escrito: As controvérsias relativas à interpretação ou à aplicação da Convenção recaem na competência obrigatória da Corte Internacional de Justiça, a quem, por esse título, poderá ser apresentado um requerimento de qualquer parte na controvérsia que seja, ela própria, parte no presente Protocolo ; e que a Alemanha e os Estados Unidos são partes na Convenção de Viena e no Protocolo de Assinatura Facultativa. A Corte considerou que, em seu requerimento, a Alemanha expôs que as questões em litígio entre ela mesma e os Estados Unidos concerniam aos artigos 5º e 36 da Convenção de Viena e recaem na competência obrigatória da Corte, em virtude do artigo 1º do Protocolo de Assinatura Facultativa. A Corte concluiu que, tendo em vista as demandas formuladas pela Alemanha em seu requerimento e as conclusões que ela aqui apresentou, existe prima facie uma controvérsia relativa à aplicação da Convenção de Viena, no sentido do artigo 1º do Protocolo de Assinatura Facultativa; e que a Corte tem, prima facie, competência em virtude do artigo 1º do Protocolo de Assinatura Facultativa acima mencionado para conhecer do caso. A Corte destacou que uma boa administração da justiça exige que uma demanda de indicação de medidas cautelares fundada no artigo 73 do Regulamento da Corte seja apresentada em tempo hábil; que a Alemanha ressaltou que teve pleno conhecimento dos fatos do caso somente em 24 de fevereiro de 1999 e que ela, desde então, prosseguiu com seus procedimentos diplomáticos; que, nos termos do parágrafo 1º do artigo 75 de seu Regulamento, a Corte pode a qualquer momento decidir examinar de ofício se as circunstâncias do caso exigem a indicação de medidas cautelares que as partes ou uma delas deveria tomar ou executar ; que tal disposição figura em substância no Regulamento desde 1936, e que, se a Corte não fez, até hoje, uso do poder que essa disposição lhe confere, isso não significa estar estabelecido que a Corte não possa usar desse poder; que ela pode usar desse poder, tendo sido ou não apresentada pelas partes uma demanda de indicação de medidas cautelares; que, em hipótese similar, ela pode, em caso de extrema urgência, proceder sem audiência; e considerando que cabe à Corte decidir em cada caso se, tendo em vista as particularidades do caso específico, ela deve fazer uso do referido poder. A Corte observou que o poder de indicar medidas cautelares, que tem em virtude do artigo 41 de seu Estatuto, tem por objeto salvaguardar o direito de cada uma das partes que aguardam sua decisão; que tais medidas só são justificadas se há urgência; e que a Corte não indicará medidas cautelares se um prejuízo irreparável não for causado aos direitos em litígio. A Corte salientou, em seguida, que a ordem de execução de Walter LaGrand foi dada para 3 de março de 1999; e que tal execução traria um prejuízo irreparável aos direitos reivindicados pela Alemanha no caso em questão. Ela observou, a esse propósito, que as questões levadas perante a Corte no caso específico não concernem ao direito dos Estados federados que compõem os Estados Unidos de recorrer à pena de morte para os crimes mais gravosos; e, ainda, que a função da Corte é de solucionar controvérsias jurídicas internacionais entre Estados, principalmente quando elas decorrem da interpretação ou da aplicação de convenções internacionais, e não agir como corte de apelação em matéria criminal. Levando em conta as considerações acima mencionadas, a Corte concluiu que as circunstâncias exigem que ela indique, com toda urgência e sem outro processo de medidas cautelares, conforme o artigo 41 de seu Estatuto e o parágrafo 1º do artigo 75 de seu Regulamento; ela relembrou que as medidas indicadas pela Corte para fins de obter um sursis à execução prevista seriam necessariamente de natureza cautelar e não prejulgariam em nada as conclusões às quais a Corte poderia chegar sobre o mérito. Ela ressaltou, enfim, que a responsabilidade internacional de um Estado é engajada pela ação dos órgãos e autoridades competentes agindo nesse Estado, quaisquer que sejam; que os Estados Unidos devem tomar todas as medidas das quais eles dispõem para que Walter LaGrand não seja executado, até que a decisão definitiva na presente instância tenha sido tomada; que, segundo as informações das quais dispõe a Corte, a utilização das medidas indicadas na presente decisão recai sobre a competência do Governador do Estado de Arizona; que o governo dos Estados Unidos está, assim, na obrigação de transmitir a presente decisão ao referido governador; e que o Governador do Arizona está na obrigação de agir conforme os compromissos internacionais dos Estados Unidos. O texto completo do dispositivo da decisão (parágrafo 29) é assim escrito: Por esses motivos, A CORTE Por unanimidade,

I. Indica, a título provisório, as seguintes medidas cautelares: a) os Estados Unidos da América devem tomar todas as medidas das quais dispõem para que o Sr. Walter LaGrand não seja executado até que a decisão definitiva na presente instância tenha sido tomada; e devem levar ao conhecimento da Corte todas as medidas que serão tomadas na aplicação da presente decisão; b) o governo dos Estados Unidos da América deve transmitir a presente decisão ao Governador do Estado de Arizona. II. Decide que, até que a Corte tome sua decisão definitiva, ela permanecerá dirimindo as questões que são objeto da presente decisão.

(MÉRITO) Decisão de 27 de junho de 2001 Resumo do processo e das conclusões das partes (parágrafo 1º ao 12) A Corte relembrou que, em 2 de março de 1999, a Alemanha depositou na Secretaria da Corte um requerimento instaurando um processo contra os Estados Unidos da América por violações da Convenção de Viena [de 24 de abril de 1963] sobre as Relações Consulares (doravante denominada Convenção de Viena ); e que, em seu requerimento, a Alemanha fundou a competência da Corte no parágrafo 1º do artigo 36 do Estatuto da Corte e o artigo 1º do Protocolo de Assinatura Facultativa concernente à solução obrigatória das controvérsias que acompanha a Convenção de Viena (doravante denominado Protocolo de Assinatura Facultativa ). Ela relembrou também que, no mesmo dia, o governo alemão igualmente depositou uma demanda de indicação de medidas cautelares e que, por decisão de 3 de março de 1999, a Corte indicou certas medidas cautelares (ver infra). Depois que as peças processuais e alguns documentos foram devidamente depositados, audiências públicas ocorreram de 13 a 17 de novembro de 2000. Durante o processo oral, as conclusões finais abaixo foram apresentadas pelas partes: Em nome do governo da Alemanha, A República Federal da Alemanha pede respeitosamente à Corte que declare e julgue que 1) não informando imediatamente Karl e Walter LaGrand após sua prisão, de seus direitos em virtude da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção de Viena sobre as Relações Consulares, e privando a Alemanha da possibilidade de fornecer sua assistência consular, o que finalmente conduziu à execução de Karl e Walter LaGrand, os Estados Unidos violaram suas obrigações jurídicas internacionais vis-à-vis à Alemanha, a título do artigo 5º e do parágrafo 1º do artigo 36 da referida Convenção, tanto no que concerne aos direitos próprios à Alemanha, quanto ao direito dessa última de exercer sua proteção diplomática com relação a seus nacionais; 2) aplicando regras de seu direito interno, principalmente a doutrina conhecida como carência de ação, que impediram Karl e Walter LaGrand de fazerem valer suas reclamações a título da Convenção de Viena sobre as Relações Consulares, e procedendo finalmente à sua execução, os Estados Unidos violaram a obrigação jurídica internacional, à qual eram obrigados com relação à Alemanha, em virtude do parágrafo 2º do artigo 36 da Convenção de Viena, a permitir a plena realização dos fins para os quais são acordados os direitos enunciados no artigo 36 da referida Convenção; 3) não tomando todas as medidas das quais dispunham para que Walter LaGrand não fosse executado enquanto a Corte Internacional de Justiça não tomasse sua decisão definitiva no caso, os Estados Unidos violaram sua obrigação jurídica internacional de se conformar com a decisão de indicação de medidas cautelares tomada pela Corte em 3 de março de 1999 e de se abster de qualquer ato que pudesse interferir no objeto de uma controvérsia enquanto o processo está em curso; e que, conforme às obrigações jurídicas internacionais acima mencionadas, 4) os Estados Unidos deverão dar à Alemanha a segurança de que não repetirão tais atos ilícitos e que, em todos os casos futuros de detenção de nacionais alemães ou de ações penais contra tais nacionais, os Estados Unidos velarão para assegurar, em direito e na prática, o exercício efetivo dos direitos visados pelo artigo 36 da Convenção de Viena sobre as Relações Consulares. Em particular, nos casos em que um acusado é passível de pena de morte, isso implica para os Estados Unidos a obrigação de prever o reexame efetivo das condenações penais maculadas por uma violação dos direitos enunciados no artigo 36 da Convenção, assim como os meios para remediá-la. Em nome do governo dos Estados Unidos, Os Estados Unidos da América pedem respeitosamente à Corte que declare e julgue: 1) que eles violaram a obrigação à qual estavam vinculados em face da Alemanha em virtude da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção de Viena sobre as Relações Consulares, posto que as autoridades competentes dos Estados Unidos não informaram imediatamente Karl e Walter LaGrand dos seus

direitos, assim como o exigia esse artigo, e que os Estados Unidos apresentaram suas escusas à Alemanha por essa violação e estão tomando medidas concretas, visando impedir que ela se reproduza; e 2) que todas as outras demandas e conclusões da República Federal da Alemanha são rejeitadas. O histórico da controvérsia (parágrafo 13 ao 34) Ver Comunicado à Imprensa 2001/16, p.2. Competência da Corte (parágrafo 36 ao 48) A Corte observou que os Estados Unidos, sem levantar exceções preliminares em virtude do artigo 79 do Regulamento, fizeram, contudo, valer certas objeções à competência da Corte. A Alemanha fundou a competência da Corte sobre o artigo 1º do Protocolo de Assinatura Facultativa concernente à solução obrigatória das controvérsias que acompanha a Convenção de Viena de 24 de abril de 1963, que se lê como segue: As controvérsias relativas à interpretação ou à aplicação da Convenção recaem na competência obrigatória da Corte Internacional de Justiça, que poderá ser apresentada por um requerimento de qualquer parte na controvérsia que seja, ela mesma, parte no presente protocolo. No que concerne à primeira conclusão da Alemanha (parágrafo 37 ao 42) A Corte examinou, primeiramente, a questão de sua competência para conhecer da primeira conclusão da Alemanha. Essa se prevaleceu do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção de Viena segundo o qual: A fim de que o exercício das funções consulares relativas aos nacionais do Estado de envio seja facilitado: a) os funcionários consulares devem ter a liberdade de se comunicar com os nacionais do Estado de envio e de se encontrar com estes. Os nacionais do Estado de envio devem ter a mesma liberdade de se comunicar com os funcionários consulares e de se encontrar com estes; b) se o interessado apresentar uma demanda, as autoridades competentes do Estado de residência devem advertir imediatamente o posto consular do Estado de envio, no momento em que, em sua circunscrição consular, um nacional desse Estado é preso, encarcerado ou posto em estado de detenção preventiva ou qualquer outra forma de detenção. Toda comunicação endereçada ao posto consular para a pessoa presa, encarcerada ou posta em estado de detenção preventiva ou qualquer outra forma de detenção deve igualmente ser transmitida imediatamente às referidas autoridades. Estas devem imediatamente informar o interessado de seus direitos nos termos da presente alínea; c) os funcionários consulares têm o direito de se encontrar com um nacional do Estado de envio que está encarcerado, em estado de detenção preventiva ou qualquer outra forma de detenção, de conversar e de se corresponder com ele e de prover sua representação na justiça. Têm igualmente o direito de se encontrar com um nacional do Estado de envio que, em sua circunscrição, está encarcerado ou detido no curso de um julgamento. Não obstante, os funcionários consulares devem se abster de intervir em favor de um nacional encarcerado ou posto em estado de detenção preventiva ou qualquer outra forma de detenção quando o interessado se opõe expressamente. A Alemanha alegou que, não informando os irmãos LaGrand de seu direito de se comunicar com as autoridades alemãs, os Estados Unidos a impediram de exercer os direitos que lhe conferem as alíneas a) e c) do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção e violaram os diferentes direitos conferidos ao Estado de envio vis-à-vis seus nacionais em prisão, em detenção preventiva ou provisória, tais como previsto pela alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção. Ela sustentou, ainda, que ignorando sua obrigação de informação, os Estados Unidos igualmente violaram os direitos individuais que a alínea a) do parágrafo 1º do artigo 36, segunda frase, e a alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 conferem às pessoas detidas. A Alemanha afirmou que, por conseguinte, ela sofreu um prejuízo na pessoa de seus dois nacionais, prejuízo que ela invocou a título do procedimento de proteção diplomática em favor de Karl e Walter LaGrand. Os Estados Unidos reconheceram que tal violação da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 fez surgir uma controvérsia entre os dois Estados e reconheceram que a Corte tem competência em virtude do Protocolo de Assinatura Facultativa para conhecer dessa controvérsia, na medida em que essa última concerne a direitos próprios à

Alemanha. Os Estados Unidos, por sua vez, entenderam ser particularmente mal fundamentado o pedido da Alemanha segundo o qual teria havido violação das alíneas a) e c) do parágrafo1º do artigo 36, tendo em vista que o comportamento criticado é o mesmo que aquele visado pela alegação de violação da alínea b) do parágrafo1º do artigo 36. Também fizeram valer que a pretensão alemã, fundada no direito geral da proteção diplomática, não recai na competência da Corte em virtude do Protocolo de Assinatura Facultativa, visto que essa pretensão não concerne à interpretação ou à aplicação da Convenção de Viena. A Corte não aceitou as objeções formuladas pelos Estados Unidos. Com efeito, a controvérsia que opõe as partes sobre o ponto de saber se as alíneas a) e c) do parágrafo1º do artigo 36 da Convenção de Viena foram violadas, no presente caso, em conseqüência da violação da alínea b), tem relação com a interpretação e aplicação da Convenção. O mesmo ocorre sobre o ponto de saber se a alínea b) cria direitos para indivíduos e se a Alemanha tem legitimidade para fazer valer esses direitos em nome de seus nacionais.essas controvérsias entram, portanto, nas previsões do artigo1º do Protocolo de Assinatura Facultativa. Por outro lado, a Corte não pode aceitar a tese dos Estados Unidos segundo a qual a demanda da Alemanha fundada nos direitos individuais dos irmãos LaGrand não recai na sua competência, pelo motivo de que a proteção diplomática seria uma noção de direito internacional costumeiro. Isso não é obstáculo para que um Estado parte em um tratado que criou direitos para os indivíduos possa defender um de seus nacionais e instaurar uma ação judicial internacional em favor desse nacional com base em uma cláusula atributiva de competência que figura em tal tratado. A Corte concluiu que tem, portanto, competência para conhecer da primeira conclusão da Alemanha na sua totalidade. No que concerne à segunda e à terceira conclusões da Alemanha (parágrafo 43 ao 45) Mesmo que os Estados Unidos não contestem a competência da Corte para conhecer da segunda e da terceira conclusões da Alemanha, a Corte observou que a terceira conclusão da Alemanha trata das questões que decorrem diretamente da controvérsia que opõe as partes perante a Corte, com relação às quais a Corte já concluiu que tem competência, e que recaem, portanto, no artigo 1º do Protocolo de Assinatura Facultativa. Quanto a isso, a Corte reafirmou o que disse no Caso da Competência em Matérias Pesqueiras, quando estimou que, a fim de considerar a controvérsia sob todos seus aspectos, ela poderia também conhecer de uma conclusão que se funda em fatos posteriores ao depósito do requerimento, mas que são diretamente decorrentes da questão que é objeto desse requerimento. A esse título, ela recai na competência da Corte (Caso da Competência em Matérias Pesqueiras (República Federal da Alemanha v. Islândia), mérito, sentença C.I.J. Recueil 1974, p. 203, parágrafo 72). Quando a Corte tem competência para dirimir uma controvérsia, ela tem igualmente competência para se pronunciar sobre conclusões que lhe pedem para constatar que uma decisão de indicação de medidas tomada a fim de preservar os direitos das partes nessa controvérsia não foi executada. No que concerne à quarta conclusão da Alemanha (parágrafo 46 ao 48) Os Estados Unidos contestaram que a Corte seja competente para estatuir sobre a quarta conclusão da Alemanha, na medida em que essa conclusão tende à obtenção de seguranças e garantias de não-repetição. Eles ressaltaram que a quarta conclusão da Alemanha vai bem além de qualquer medida de reparação que a Corte pode ou deveria acordar, e que ela deveria, por conseguinte, ser rejeitada. O poder que a Corte tem de dirimir litígios não engloba o de ordenar a um Estado que forneça uma garantia visando conferir direitos adicionais ao Estado requerente Os Estados Unidos não crêem que caiba à Corte impor obrigações que venham a se acrescentar àquelas que eles aceitaram no momento em que ratificaram a Convenção de Viena ou que diferem dessas. A Corte considerou que uma controvérsia, tratando sobre as vias de direito aplicáveis, a título de uma violação da Convenção que invocou a Alemanha, é uma controvérsia concernente à interpretação ou à aplicação da Convenção e que, por esse fato, recai na competência da Corte. Se está estabelecido que a Corte tem competência para conhecer de uma controvérsia tratando sobre uma questão determinada, ela não precisa de uma base de competência distinta para examinar os remédios demandados por uma parte pela violação em causa (Usina de Chorzów, C.P.J.I. série A n 9, p. 22). A Corte tem, portanto, competência no caso específico para conhecer da quarta conclusão da Alemanha. Admissibilidade das conclusões da Alemanha (parágrafo 49 ao 63) Os Estados Unidos fizeram valer objeções no que concerne à admissibilidade das conclusões da Alemanha, por diversos motivos. Sustentaram, primeiramente, que a segunda, terceira e quarta conclusões da Alemanha seriam inadmissíveis, pelo motivo de que a Alemanha pretendeu que a Corte tivesse o papel de uma jurisdição que decida em último grau de apelação sobre questões penais submetidas aos tribunais internos, papel que ela não está habilitada a exercer. Aduziram que numerosos argumentos desenvolvidos pela Alemanha, em particular aqueles relativos à regra da carência de ação, tornam necessário para a Corte

examinar e reparar pretendidas violações do direito dos Estados Unidos e erros de apreciação que teriam sido cometidos pelos juízes dos Estados Unidos na ocasião das ações penais perante as jurisdições internas. A Corte não acolheu essa argumentação. Ela observou que, em sua segunda conclusão, a Alemanha demandou à Corte que interpretasse o alcance do parágrafo 2º do artigo 36 da Convenção de Viena; que, em sua terceira conclusão, ela pediu à Corte que declarasse que os Estados Unidos violaram uma decisão que ela tomou conforme o artigo 41 de seu Estatuto; e que, em sua quarta conclusão, a Alemanha demandou à Corte que determinasse quais são os remédios a adotar nas violações alegadas da Convenção. Apesar de a Alemanha ter se estendido longamente sobre a prática dos tribunais americanos relativa à aplicação da Convenção, essas três conclusões visavam exclusivamente pedir à Corte para aplicar as regras pertinentes de direito internacional às questões litigiosas que opõem as partes no processo. O exercício dessa função, expressamente prevista pelo artigo 38 de seu Estatuto, não faz dessa Corte uma jurisdição que estatui em grau de recurso sobre questões penais submetidas aos tribunais internos. Os Estados Unidos sustentaram igualmente que a terceira conclusão da Alemanha é inadmissível, levando em conta circunstâncias nas quais esta instaurou o presente processo perante a Corte. Aduziram que os agentes consulares alemães tiveram conhecimento, em 1992, das ações relativas aos LaGrand, mas que, somente em 22 de fevereiro de 1999, ou seja, dois dias antes da data prevista para a execução de Karl LaGrand, a Alemanha levantou a questão da falta de notificação consular. A Alemanha, em seguida, apresentou à Corte um requerimento de instauração de processo, bem como um de demanda de indicação de medidas cautelares, na noite de 2 de março de 1999, após o horário normal de funcionamento da Secretaria, ou seja, por volta de vinte e sete horas antes da hora marcada para a execução de Walter LaGrand. A Alemanha reconheceu, por sua vez, que o atraso de um Estado demandante pode tornar um requerimento inadmissível, mas sustentou que o direito internacional não fixa nenhum prazo específico na matéria. Ela acrescentou que, apenas sete dias antes do depósito de seu requerimento, teve conhecimento de todos os fatos pertinentes sobre os quais ela fundou sua ação, e em particular do fato de que as autoridades do Arizona tinham conhecimento, desde 1982, da nacionalidade alemã dos irmãos LaGrand. A Corte reconheceu que a Alemanha pode ser criticada pela maneira pela qual o processo foi instaurado e pelo momento escolhido para instaurá-lo. A Corte relembrou, todavia, que, mesmo estando ciente das conseqüências da instauração do processo pela Alemanha em uma data tão avançada, ainda assim considerou apropriado tomar sua decisão de 3 de março de 1999, já que um prejuízo irreparável parecia iminente. Nessas condições, a Corte estimou que a Alemanha estava no direito de pleitear hoje a nãoaplicação, alegada por ela, da referida decisão pelos Estados Unidos. Consequentemente, a Corte concluiu que a terceira conclusão da Alemanha é admissível. Os Estados Unidos sustentaram, também, que a primeira conclusão da Alemanha, enquanto concernente ao seu direito de exercer sua proteção diplomática com relação a seus nacionais, é inadmissível posto que os irmãos LaGrand não haviam esgotado os recursos internos. Afirmaram que a falta alegada concernia à obrigação de informar os irmãos LaGrand de seu direito de se comunicar com seu consulado e que tal falta poderia facilmente ser reparada no estágio do processo se a questão tivesse sido levantada em tempo oportuno. A Corte notou que não foi contestado que os irmãos LaGrand buscaram prevalecer-se das disposições da Convenção de Viena perante os tribunais americanos, após terem tido conhecimento, em 1992, do direito que eles teriam em virtude da dita Convenção; não mais foi contestado que, nessa época, a regra da carência de ação fez com que os LaGrand não pudessem obter a remediação da violação desse direito. Os advogados constituídos de ofício para defendê-los não levantaram essa questão em tempo hábil. Os Estados Unidos, contudo, não poderiam prevalecer-se hoje, perante a Corte, dessa circunstância para fazer obstáculo à admissibilidade da primeira conclusão da Alemanha, uma vez que eles haviam falhado na execução de sua obrigação, em virtude da Convenção, de informar os irmãos LaGrand. Os Estados Unidos sustentaram igualmente que as conclusões da Alemanha são inadmissíveis pelo motivo de ela buscar aplicar para os Estados Unidos uma norma diferente daquela que prevalece na prática alemã. A Corte considerou que não pode decidir se o argumento dos Estados Unidos em questão, supondo que fosse verdadeiro, tornaria as conclusões da Alemanha inadmissíveis. Ela considerou que os elementos produzidos pelos Estados Unidos não permitem concluir que a prática da Alemanha se afasta das normas cuja aplicação ela pede, no caso em tela, por parte dos Estados Unidos. Mas os casos citados concerniam a penas relativamente leves e não constituíam provas da prática que a Alemanha segue, no momento em que uma pessoa presa, que não foi informada imediatamente dos seus direitos, sob risco de uma pena severa, como o foi nesse caso. A Corte considerou que os remédios a adotar no caso de violação do artigo 36 da Convenção

de Viena não são necessariamente idênticos em todas as situações. Se simples escusas podem constituir um remédio apropriado em certos casos, elas poderiam se revelar insuficientes em outros. Também a Corte considerou que esse motivo de inadmissibilidade deveria ser rejeitado. Exame do mérito das conclusões da Alemanha (parágrafo 64 ao 127) Tendo estabelecido que era competente e que as conclusões da Alemanha eram admissíveis, a Corte examinará a seguir o mérito de cada uma das quatro conclusões em questão. Primeira conclusão da Alemanha (parágrafo 67 ao 78) A Corte começou citando a primeira conclusão da Alemanha (ver acima) e considerou que os Estados Unidos não contestaram a principal demanda da Alemanha e reconheceram que violaram a obrigação decorrente da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção de informar sem demora os irmãos LaGrand de seu direito de demandar que sua prisão e detenção fossem notificadas a um posto consular alemão. A Alemanha pretendeu, também, que a violação pelos Estados Unidos da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 implicou, por conseguinte, a das alíneas a) e c) do parágrafo 1º do artigo 36. Segundo a Alemanha, uma vez que a obrigação de informar sem demora a pessoa presa de seu direito de contactar o consulado é ignorada, segue-se que os outros direitos que enuncia o parágrafo 1º do artigo 36 perdem, na prática, toda pertinência, quiçá toda significação. Os Estados Unidos aduziram que, fundamentalmente, a Alemanha se queixou de um único comportamento, a saber: o fato de que eles não informaram os irmãos LaGrand, como prescreve a alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36. Eles contestaram, então, qualquer outro fundamento às demandas da Alemanha, segundo as quais outras disposições, tais como as alíneas a) e c) do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção, teriam também sido violadas. Afirmaram que as alegações da Alemanha concernentes às alíneas a) e c) do parágrafo 1º do artigo 36 são particularmente mal fundamentada, já que os LaGrand puderam comunicar-se livremente com os funcionários consulares após 1992 e efetivamente o fizeram. Em resposta, a Alemanha afirmou que é recorrente que um único comportamento se traduza em várias faltas a obrigações diferentes. A Alemanha sustentou igualmente que há um nexo de causalidade entre a violação do artigo 36 e a execução final dos irmãos LaGrand. Ela aduziu que, se ela tivesse podido exercer corretamente seus direitos em virtude dessa Convenção, ela teria podido intervir a tempo e de apresentar, de maneira convincente, um dossiê de circunstâncias atenuantes, de sorte que é provável que os irmãos LaGrand teriam a vida salva. Ademais, ela sustentou que, em razão da doutrina da carência de ação e das condições rigorosas que impõe o direito dos Estados Unidos àquele que busca provar, depois do veredito de culpabilidade, que o advogado era incompetente, sua intervenção em um estágio posterior àquele do processo não poderia reparar o prejuízo grave causado pelos advogados constituídos de ofício para os LaGrand. Segundo os Estados Unidos, esses argumentos da Alemanha advêm de especulação e não são passíveis de análise. A Corte observou que a violação apenas da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 nem sempre implica necessariamente a violação das outras disposições desse artigo, mas a Corte foi levada a concluir que tal é o caso em questão, pelas razões expostas acima. O parágrafo 1º do artigo 36 considerou a Corte institui um regime cujos diversos elementos são interdependentes e que é concebido para facilitar a aplicação do sistema da proteção consular. O princípio de base que rege a proteção consular é enunciado assim: o direito de comunicação e de acesso (alínea a) do parágrafo 1º do artigo 36). A disposição seguinte especifica as modalidades segundo as quais se deve efetuar a notificação consular (alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36). Enfim, a alínea c) do parágrafo 1º do artigo 36 enuncia as medidas que os agentes consulares podem tomar para fornecer sua assistência aos nacionais de seu país detidos no Estado de residência. Segue-se que, quando o Estado de envio não tem conhecimento da detenção de um de seus nacionais, posto que o Estado de residência não efetuou sem demora a notificação consular requisitada, o que ocorreu no caso em questão, entre 1982 e 1992, o Estado de envio se encontra na impossibilidade prática de exercer, para todos os fins úteis, os direitos que lhe confere o parágrafo 1º do artigo 36. A Alemanha sustentou, em seguida, que a violação do artigo 36 pelos Estados Unidos não traz prejuízos somente a seus direitos como Estado-parte na Convenção, mas constitui igualmente uma violação dos direitos individuais dos irmãos LaGrand. Agindo a título da proteção diplomática, ela demandou igualmente a condenação dos Estados Unidos sobre esse assunto. Os Estados Unidos, por sua vez, questionaram-se sobre o que essa pretensão suplementar relativa à proteção diplomática traz ao caso em tela e sustentaram que não há nada em comum entre o presente caso e os casos de proteção diplomática que tratam da defesa por um Estado de reclamações de ordem econômica de seus nacionais. Os Estados Unidos sustentaram, ainda, que são os Estados e não os indivíduos que são titulares dos direitos que reconhece a Convenção de Viena em matéria de notificação consular, mesmo que os indivíduos possam beneficiar-se

desses direitos, pelo fato de os Estados estarem autorizados a lhe oferecer uma assistência consular. Eles afirmaram que o tratamento que deve ser reservado aos indivíduos nos termos da Convenção é indissociavelmente ligado ao direito do Estado, agindo por intermédio de seus agentes consulares, de se comunicar com seus nacionais e decorre desse direito e que não constitui nem um direito fundamental, nem um direito humano. Levando em conta o texto das disposições do parágrafo 1º do artigo 36, a Corte concluiu que o parágrafo 1º do artigo 36 criou direitos para indivíduos que, em virtude do artigo 1º do Protocolo de Assinatura Facultativa, podem ser invocados perante a Corte pelo Estado do qual a pessoa detida tem a nacionalidade. No caso em tela, esses direitos foram violados. Segunda conclusão da Alemanha (parágrafo 79 ao 91) A Corte examinou, então, a segunda conclusão da Alemanha (ver acima). A Alemanha sustentou que, nos termos do parágrafo 2º do artigo 36 da Convenção de Viena, os Estados Unidos têm a obrigação de fazer com que suas leis e regulamentos [internos] permitam a plena realização dos fins para os quais os direitos são acordados em virtude do presente artigo [e que eles] faltaram com essa obrigação, observando regras de direito interno que tornaram impossível a constatação de uma violação do direito à notificação ao consulado quando do processo consecutivo à declaração de culpabilidade de um acusado por um júri. A Alemanha ressaltou que não é a regra da carência de ação enquanto tal que está em questão no presente processo, mas a maneira pela qual ela foi aplicada, uma vez que privou os irmãos LaGrand da possibilidade de questionar, durante os processos penais perante as instâncias judiciárias dos Estados Unidos, as violações de seu direito de advertir seu consulado. Segundo os Estados Unidos, a Convenção de Viena não obriga os Estados que dela são partes a instituir em seu direito interno um recurso que permita aos indivíduos invocar em processos penais queixas fundadas na Convenção [s]e a Convenção não impõe nenhuma obrigação de acordar tais medidas de reparação a indivíduos nos procedimentos criminais, a regra da carência de ação que exige apresentar o mais breve possível, e no momento apropriado, os meios que visam obter tais medidas de reparação não poderia, por conseguinte, violar a Convenção. A Corte citou o parágrafo 2º do artigo 36 da Convenção de Viena, assim redigido: Os direitos visados no parágrafo 1º do presente artigo devem se exercer no sistema das leis e regulamentos do Estado de residência, estando entendido, todavia, que essas leis e regulamentos devem permitir a plena realização dos fins para os quais os direitos são acordados em virtude do presente artigo. A Corte concluiu que não poderia acolher o argumento dos Estados Unidos que repousa, em parte, sobre a hipótese de que o parágrafo 2º do artigo 36 só se aplica aos direitos do Estado de envio, e não à pessoa detida. Ela salientou que o parágrafo 1º do artigo 36 criou direitos individuais para as pessoas detidas, além de direitos acordados com o Estado de envio, e que, por conseguinte, os direitos visados no parágrafo 2º designam não somente os direitos do Estado de envio, mas também aqueles das pessoas detidas. Ela ressaltou que a própria regra da carência de ação não viola o artigo 36 da Convenção de Viena. O problema se põe quando essa regra não permite a uma pessoa detida recorrer contra sua condenação e sua pena, pretendendo, com base no parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção, que as autoridades nacionais competentes não teriam desempenhado sua obrigação de informar sem demora as autoridades consulares competentes, impedindo essa pessoa de solicitar e de obter a assistência consular do Estado de envio. A Corte concluiu que, nas circunstâncias da presente ação, a regra da carência de ação teve por efeito impedir a plena realização dos fins para os quais os direitos são acordados em virtude do presente artigo e assim violou as disposições do parágrafo 2º do artigo 36. Terceira conclusão da Alemanha (parágrafo 92 ao 116) A Corte examinou, em seguida, a terceira conclusão da Alemanha, (ver acima) e observou que, em seu memorial, a Alemanha sustentou que as medidas cautelares indicadas pela Corte Internacional de Justiça tinham força obrigatória em virtude do direito estabelecido pela Carta das Nações Unidas e o Estatuto da Corte. Ela ressaltou que, em apoio à sua tese, a Alemanha desenvolveu vários argumentos, referindo-se ao princípio do efeito útil, às condições processuais para a adoção das medidas cautelares, ao caráter obrigatório das medidas cautelares como conseqüência necessária do caráter obrigatório da decisão definitiva, ao parágrafo 1º do artigo 94 da Carta das Nações Unidas, ao parágrafo 1º do artigo 41 do Estatuto da Corte, assim como à prática da Corte. Os Estados Unidos sustentaram que se conformaram com a decisão da Corte de 3 de março, levando em conta circunstâncias extraordinárias e inéditas nas quais foram forçados a agir. Os Estados Unidos especificaram, ainda, que: dois elementos principais reduziram a capacidade de agir dos Estados Unidos. Havia, primeiramente, o prazo extremamente breve entre o pronunciamento da decisão da Corte e a hora fixada para a execução de Walter LaGrand O segundo obstáculo era a própria natureza dos Estados Unidos da América comorepública federal, no seio da qual os poderes são divididos. Os Estados Unidos sustentaram igualmente que a redação da decisão da Corte de

3 de março não criou obrigações jurídicas vinculantes para eles. Aduziram a esse respeito que os termos empregados pela Corte nas passagens-chave de sua decisão não são os utilizados para criar obrigações jurídicas vinculantes e que não é preciso, no caso em tela, a Corte dirimir a questão jurídica difícil e controversa de saber se suas decisões de indicação de medidas cautelares são suscetíveis de originar obrigações jurídicas internacionais se elas são expressas em termos imperativos. Ainda sustentaram que essas decisões não podem ter tais efeitos e, em apoio a essa tese, desenvolveram argumentos que tratam da redação e da gênese do parágrafo 1º do artigo 41 do Estatuto da Corte e do artigo 94 da Carta das Nações Unidas, a prática da Corte e dos Estados com relação a essas disposições, assim como sobre a autoridade da doutrina dos publicistas. Enfim, os Estados Unidos expuseram que, de qualquer forma, o depósito no último momento do requerimento pela Alemanha, que não deixou nenhum tempo para reagir, fez com que os princípios fundamentais da solução judiciária não pudessem ser respeitados no caso da decisão tomada em 3 de março pela Corte e que desde então, qualquer que seja a conclusão à qual se possa chegar sobre um princípio geral aplicável às medidas cautelares, seria o menos anormal para a Corte ver na referida decisão uma fonte de obrigações jurídicas vinculantes. A Corte observou que a controvérsia existente entre as partes concerne essencialmente à interpretação do artigo 41, que foi objeto de abundantes divergências doutrinárias. Ela passou, então, à interpretação do artigo 41 do Estatuto. Ela procedeu a essa interpretação conforme o direito internacional costumeiro que encontrou sua expressão no artigo 31 da Convenção de Viena de 1969 sobre o Direito dos Tratados. Segundo o parágrafo 1º do artigo 31, um tratado deve ser interpretado de boa-fé, seguindo o sentido comum a atribuir a seus termos em seu contexto e à luz de seu objeto e de sua finalidade. O texto em francês do artigo 41 se lê como segue: 1. La Cour a le pouvoir d indiquer, si elle estime que les circonstances l exigent, quelles mesures conservatoires du droit de chacun doivent être prises à titre provisoire. 2. En l arrêt définitif, l indication de ces mesures est immédiatement notifiée aux parties et au Conseil de sécurité. (Grifo da Corte) A Corte notou que, nesse texto, os termos indiquer e l indication podem ser considerados como neutros com relação ao caráter obrigatório das medidas em questão; em contrapartida, as palavras doivent être prises têm um caráter imperativo. Por sua vez, a versão em inglês do artigo 41 é assim redigida: 1. The Court shall have the power to indicate, if it considers that circumstances so require, any provisional measures which ought to be taken, to preserve the respective rights of either party. 2. Pending the final decision, notice of the measures suggested shall forthwith be given to the parties and to the Security Council. (Grifo da Corte) Segundo os Estados Unidos, o emprego na versão inglesa dos verbos indicate ao invés de order, ought ao invés de must ou shall, e suggested ao invés de ordered implicaria que as decisões tomadas a título do artigo 41 não se revestem de um caráter obrigatório. Poder-se-ia, contudo, ressaltar, levando em conta o fato de que a versão francesa era, em 1920, a versão original, que os verbos tais como indicate e ought têm um sentido que é eqüivalente a order e must ou shall. Encontrando-se na presença de dois textos que não estão em total harmonia, a Corte notou, primeiramente, que, segundo o artigo 92 da Carta, o Estatuto é parte integrante da Carta. Em virtude do artigo 111 da Carta, as versões francesa e inglesa desta têm igualmente fé. O mesmo vale para o Estatuto. Em caso de divergência entre as versões igualmente autênticas do Estatuto, nem esse nem a Carta indicam a maneira a proceder. Na ausência de acordo entre as partes a esse respeito, convém, então, referir-se às disposições do parágrafo 4º do artigo 33 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados que, na opinião da Corte, reflete o direito internacional costumeiro. Nos termos dessa disposição, quando a comparação dos textos autênticos faz surgir uma diferença de sentido que a aplicação dos artigos 31 e 32 não permite eliminar, adotar-se-á o sentido que, levando em conta o objeto e a finalidade do tratado, concilia o melhor desses textos. A Corte passou, então, ao exame do objeto e da finalidade do Estatuto, assim como do contexto do artigo 41 do Estatuto. O objeto e a finalidade do Estatuto são permitir à Corte desempenhar as funções que lhe são atribuídas por esse instrumento, e em particular desempenhar sua missão fundamental, que é a solução judicial das controvérsias internacionais por meio de decisões obrigatórias, conforme o artigo 59 do Estatuto. O artigo 41, analisado no contexto do Estatuto, tem por finalidade evitar que a Corte seja impedida de exercer suas funções por atentado aos direitos respectivos das partes em uma controvérsia submetida à Corte. Resulta do objeto e da finalidade do Estatuto, bem como dos termos do artigo 41 lidos em seu contexto, que o poder de indicar medidas cautelares implica o caráter obrigatório delas, na medida em que o poder em questão é

fundado na necessidade, quando as circunstâncias o exigem, de salvaguardar os direitos das partes, tais como determinados pela Corte em sua decisão definitiva, e de evitar que ocorram prejuízos. Pretender que medidas cautelares indicadas em virtude do artigo 41 não fossem obrigatórias seria contrariar o objeto e a finalidade dessa disposição. Um motivo conexo que vai no sentido do caráter obrigatório das decisões tomadas a título do artigo 41, e ao qual a Corte atribui importância, é a existência de um princípio que a Corte Permanente de Justiça Internacional já reconheceu quando evocou o princípio universalmente admitido perante as jurisdições internacionais e consagrado, aliás, em inúmeras convenções a partir do qual as partes na causa devem abster-se de toda medida suscetível de uma repercussão prejudicial à execução da decisão a ser tomada e, em geral, não deixar proceder a nenhum ato, de qualquer natureza que seja, suscetível a agravar ou a estender a controvérsia (Companhia de Eletricidade de Sofia e da Bulgária, decisão de 5 de dezembro de 1939, C.P.J.I. série A/B n o 79, p. 199). A Corte não considerou necessário mencionar os trabalhos preparatórios relativos ao Estatuto que, como observou, não se opõem à conclusão de que as decisões tomadas em virtude do artigo 41 têm força obrigatória. A Corte examinou, por fim, se o artigo 94 da Carta das Nações Unidas se opõe a que o efeito obrigatório seja reconhecido às decisões indicando medidas cautelares. Esse artigo é assim redigido: 1. Cada Membro das Nações Unidas se compromete a conformar-se com a decisão da Corte Internacional de Justiça em qualquer caso em que for parte. 2. Se uma das partes em um caso deixar de cumprir as obrigações que lhe incumbem em virtude de sentença proferida pela Corte, a outra parte terá direito de recorrer ao Conselho de Segurança, que poderá, se julgar necessário, fazer recomendações ou decidir sobre medidas a serem tomadas para o cumprimento da sentença. A Corte ressaltou que a questão era saber qual sentido deve ser atribuído às palavras a decisão da Corte Internacional de Justiça no parágrafo 1º desse artigo; ela notou que essa redação poderia ser entendida como visando não somente as sentenças da Corte, mas qualquer decisão tomada por ela, e aplicando-se, assim, às decisões de indicação de medidas cautelares. Essas palavras poderiam também ser interpretadas como designando somente as decisões tomadas pela Corte tais como visadas no parágrafo 2º do artigo 94. A esse respeito, a utilização feita nos artigos 56 a 60 do Estatuto da Corte das palavras decisão e sentença não contribuem para o esclarecimento do debate. Na primeira interpretação do parágrafo 1º do artigo 94, estaria confirmado o caráter obrigatório das medidas cautelares; na segunda, não se oporia a que esse caráter obrigatório lhes seja reconhecido a título do artigo 41 do Estatuto. A Corte concluiu que o artigo 94 da Carta não cria, de forma alguma, obstáculo ao caráter obrigatório das decisões tomadas a título do artigo 41. Em definitivo, nenhuma das fontes de interpretação mencionadas nos artigos pertinentes da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, incluindo os trabalhos preparatórios, contradiz as conclusões tiradas dos termos do artigo 41 lidos em seu contexto à luz do objeto e da finalidade do Estatuto. Assim, a Corte chegou à conclusão de que as decisões que indicam medidas cautelares a título do artigo 41 têm um caráter obrigatório. A Corte examinou, em seguida, a questão de saber se os Estados Unidos cumpriram a obrigação decorrente da decisão de 3 de março 1999 (ver acima). Após examinar as medidas tomadas pelas autoridades dos Estados Unidos (o Departamento de Estado, o Solicitor General dos Estados Unidos, o governador do Arizona e a Corte Suprema dos Estados Unidos), no que concerne à decisão de 3 de março de 1999, a Corte concluiu que as diversas autoridades competentes dos Estados Unidos não tomaram todas as medidas que poderiam ter tomado para dar efeito à decisão (ver o comunicado à imprensa 2001/16, p.3). A Corte ressaltou, finalmente, que, em sua terceira conclusão, a Alemanha demandou somente à Corte que declarasse e julgasse que os Estados Unidos violaram sua obrigação jurídica internacional de se conformar com a decisão de 3 de março de 1999; a referida conclusão não contém outro pedido sobre essa violação. Ademais, a Corte ressaltou que os Estados Unidos estavam sob forte pressão de tempo, resultante das condições nas quais a Alemanha havia instaurado o processo. Ela ressaltou igualmente, na época em que as autoridades dos Estados Unidos tomaram sua decisão, que a questão do caráter obrigatório das decisões de indicação de medidas cautelares havia sido abundantemente discutida na doutrina, mas não havia sido tratada pela jurisprudência. A Corte teria levado esses fatores em consideração se a conclusão da Alemanha tivesse incluído uma demanda a fim de indenização. Quarta conclusão da Alemanha (parágrafo 117 ao 127) A Corte examinou, enfim, a quarta conclusão da Alemanha (ver acima) e constatou que a Alemanha ressaltou que sua quarta conclusão foi redigida de forma a deixar aos Estados Unidos a escolha dos meios próprios para a aplicação das medidas [que lhe foram demandadas].

Em resposta, os Estados Unidos expuseram o que segue: A quarta conclusão da Alemanha é, evidentemente, de natureza completamente diferente das três primeiras. Em cada uma das três primeiras conclusões, a Alemanha demandou à Corte um pronunciamento, declarando que houve violação de uma obrigação jurídica internacional determinada. Tais pronunciamentos são a essência da função da Corte, representando um aspecto da reparação. Contrariamente, todavia, na forma da reparação demandada nas três primeiras conclusões, a demanda de garantias de não-repetição formulada na quarta é sem precedente na jurisprudência da Corte e ultrapassaria sua competência e seu poder no presente caso. É excepcional na prática dos Estados, mesmo a título de compromisso não-jurídico, e seria perfeitamente incongruente para a Corte exigir tais garantias a propósito da obrigação de informar, enunciada na Convenção sobre as Relações Consulares, vistas as circunstâncias do caso. Aduziram que as autoridades americanas estão trabalhando energicamente para reforçar a aplicação das regras em matéria de notificação consular no âmbito dos Estados e no âmbito local em todo o [seu] território a fim de reduzir os riscos de ver reproduzir-se uma situação como esta. Os Estados Unidos observaram, além disso, que: mesmo se a Corte considerasse que, ao opor a regra da carência de ação aos recursos dos LaGrand, os Estados Unidos cometeram um segundo ato internacionalmente ilícito, ela deveria limitar esse pronunciamento à aplicação que foi feita dessa regra no caso em particular dos LaGrand. Ela deve resistir ao convite que lhe foi feito para prescrever uma garantia absoluta cobrindo a aplicação futura pelos Estados Unidos de seu direito interno em todos os casos desse gênero. Impor tal obrigação adicional aos Estados Unidos seria sem precedente na jurisprudência internacional e ultrapassaria o poder e a competência da Corte. A Corte salientou que, em sua quarta conclusão, a Alemanha quis obter inúmeras garantias. Em primeiro lugar, ela queria obter dos Estados Unidos uma garantia pura e simples de que eles não repetiriam seus atos ilícitos. Essa demanda não especificou os meios a serem aplicados para assegurar a não-repetição de tais atos. Ainda, a Alemanha buscou obter dos Estados Unidos que para todos os casos futuros implicando a detenção de nacionais alemães ou de ações penais a seu encontro, o direito e a prática internas dos Estados Unidos não farão obstáculo ao exercício efetivo dos direitos previstos no artigo 36 da Convenção de Viena sobre as Relações Consulares. A Corte notou que essa demanda vai mais longe, na medida em que, ao se referir ao direito dos Estados Unidos, ela parece buscar a adoção de medidas específicas visando impedir que tais atos ilícitos se reproduzam. A Alemanha demandou, enfim, que, nos casos em que um acusado é passível de pena de morte, isso implicaria para os Estados Unidos a obrigação de prever o reexame efetivo das condenações penais maculadas por uma violação dos direitos enunciados no artigo 36 da Convenção, assim como os meios para remediá-la. A Corte observou que essa demanda vai ainda mais longe, pois ela é direcionada exclusivamente para que medidas específicas sejam tomadas nos casos em que um acusado é passível de pena de morte. Concernindo à demanda, de caráter geral, visando a obtenção de uma garantia de não-repetição, a Corte ressaltou que os Estados Unidos a informaram de medidas importantes que eles [tomam], paraimpedir que [essa violação da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36] se reproduza. A Corte ressaltou que os Estados Unidos reconheceram, no caso dos irmãos LaGrand, que descumpriram suas obrigações em matéria de notificação consular. Os Estados Unidos apresentaram desculpas à Alemanha por esse fato. A Corte considerou, entretanto, que escusas não são suficientes nesse caso, assim como em outros casos em que estrangeiros não foram avisados, sem demora, de seus direitos em virtude do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção de Viena e foram objeto de uma detenção prolongada ou foram condenados a penas severas. A esse respeito, a Corte levou em consideração o fato de que, em todos os estágios do processo, os Estados Unidos relembraram que colocavam em aplicação um programa vasto e detalhado para assegurar o respeito pelas autoridades competentes, tanto no âmbito federal, como no âmbito dos Estados e local, de suas obrigações resultantes do artigo 36 da Convenção de Viena. Os Estados Unidos comunicaram à Corte informações que eles julgam importantes sobre seu programa. Se, em um processo perante a Corte, um Estado faz referência de maneira repetida, como o fazem os Estados Unidos, às atividades substanciais às quais conduz para aplicar certas obrigações decorrentes de um tratado, isso traduz um compromisso, de sua parte, de prosseguir os esforços tomados para esse efeito. Decerto, o programa não pode fornecer a garantia de que jamais ocorrerá descumprimento, pelas autoridades dos Estados Unidos, da obrigação de notificação prevista no artigo 36 da Convenção de Viena. Mas nenhum Estado poderia fornecer tal garantia, e a Alemanha não busca obtê-la. A Corte estimou que o compromisso feito pelos Estados Unidos de assegurar a aplicação das medidas específicas adotadas em execução de suas obrigações a título da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 deve ser considerada como satisfatória à demanda da Alemanha visando obter uma garantia geral de não-repetição.

A Corte passou ao exame das outras garantias demandadas pela Alemanha em sua quarta conclusão. A esse respeito, a Corte constatou que pode estabelecer a violação de uma obrigação internacional. Se necessário, ela pode também constatar que uma lei interna foi a causa dessa violação. A Corte, no presente processo, concluiu, quando tratou da primeira e da segunda conclusões da Alemanha, pela violação das obrigações existentes a título do artigo 36 da Convenção de Viena. Mas ela não encontrou lei americana, material ou processual, que, por natureza, seja incompatível com as obrigações que a Convenção de Viena impõe aos Estados Unidos. No presente processo, a violação do parágrafo 2º do artigo 36 decorreu das circunstâncias nas quais foi aplicada a regra da carência de ação, e não da existência da própria regra. Contudo, a Corte estimou, quanto a isso, que, se os Estados Unidos, apesar do compromisso visado acima, faltam com sua obrigação de notificação consular em detrimento de nacionais alemães, escusas não serão suficientes nos casos em que os interessados tenham sido objeto de uma detenção prolongada ou sido condenados a penas severas. No caso de tal condenação, os Estados Unidos deveriam permitir o reexame e a revisão do veredito de culpabilidade e da pena, levando em conta a violação dos direitos previstos pela Convenção. Essa obrigação pode ser aplicada de diversas formas. A escolha dos meios deve caber aos Estados Unidos. O texto integral do dispositivo (parágrafo 128) é o seguinte: Por esses motivos, A Corte, 1) Por quatorze votos a um, Entende que tem competência, com base no artigo 1º do Protocolo de Assinatura Facultativa concernente à Solução Obrigatória das Controvérsias da Convenção de Viena sobre as Relações Consulares de 24 de abril de 1963, para conhecer do requerimento depositado pela República Federal da Alemanha em 2 de março de 1999; A FAVOR: Presidente Guillaume; Vice-Presidente Shi; juízes Oda, Bedjaoui, Ranjeva, Herczegh, Fleischhauer, Koroma, Vereshchetin, Higgins, Kooijmans, Rezek, Al- Khasawneh, Buergenthal; CONTRA: Parra-Aranguren; 2) a) Por treze votos a dois, Entende que a primeira conclusão da República Federal da Alemanha é admissível; A FAVOR: Presidente Guillaume; Vice-Presidente Shi; juízes Bedjaoui, Ranjeva, Herczegh, Fleischhauer, Koroma, Vereshchetin, Higgins, Kooijmans, Rezek, Al- Khasawneh, Buergenthal; CONTRA: Oda, Parra-Aranguren; b) Por quatorze votos a um, Entende que a segunda conclusão da República Federal da Alemanha é admissível; A FAVOR: Presidente Guillaume; Vice-Presidente Shi; juízes Bedjaoui, Ranjeva, Herczegh, Fleischhauer, Koroma, Vereshchetin, Higgins, Parra-Aranguren, Kooijmans, Rezek, Al-Khasawneh, Buergenthal; CONTRA: Oda; c) Por doze votos a três, Entende que a terceira conclusão da República Federal da Alemanha é admissível; A FAVOR: Presidente Guillaume; Vice-Presidente Shi; juízes Bedjaoui, Ranjeva, Herczegh, Fleischhauer, Koroma, Vereshchetin, Higgins, Kooijmans, Rezek, Al- Khasawneh; CONTRA: Oda, Parra-Aranguren, Buergenthal; d) Por quatorze votos a um, Entende que a quarta conclusão da República Federal da Alemanha é admissível; A FAVOR: Presidente Guillaume; Vice-Presidente Shi; juízes Bedjaoui, Ranjeva, Herczegh, Fleischhauer, Koroma, Vereshchetin, Higgins, Parra-Aranguren, Kooijmans, Rezek, Al- Khasawneh, Buergenthal; CONTRA: Oda; 3) Por quatorze votos a um, Entende que, ao não informar sem demora Karl e Walter LaGrand, após sua prisão, dos direitos que tinham em virtude da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção, e privando, por esse fato, a República Federal da Alemanha da possibilidade de fornecer aos interessados, em tempo hábil, a assistência prevista pela Convenção, os Estados Unidos da América violaram as obrigações às quais estavam vinculados

em face da República Federal da Alemanha e em face dos irmãos LaGrand, em virtude do parágrafo 1º do artigo 36; A FAVOR: Presidente Guillaume; Vice-Presidente Shi; juízes Bedjaoui, Ranjeva, Herczegh, Fleischhauer, Koroma, Vereshchetin, Higgins, Parra-Aranguren, Kooijmans, Rezek, Al- Khasawneh, Buergenthal; CONTRA: Oda; 4) Por quatorze votos a um, Entende que, ao não permitir, à luz dos direitos reconhecidos pela Convenção, o reexame e a revisão dos vereditos de culpabilidade dos irmãos LaGrand e de suas penas, uma vez constatadas as violações presentes no parágrafo 3) acima, os Estados Unidos da América violaram a obrigação à qual estavam vinculados em face da República Federal da Alemanha e em face dos irmãos LaGrand, em virtude do parágrafo 2º do artigo 36 da Convenção; A FAVOR: Presidente Guillaume; Vice-Presidente Shi; juízes Bedjaoui, Ranjeva, Herczegh, Fleischhauer, Koroma, Vereshchetin, Higgins, Parra-Aranguren, Kooijmans, Rezek, Al- Khasawneh, Buergenthal; CONTRA: Oda; 5) Por treze votos a dois, Entende que, ao não tomar as medidas das quais dispunha para que Walter LaGrand não fosse executado, enquanto a Corte Internacional de Justiça não tivesse tomado sua decisão definitiva no caso, os Estados Unidos da América violaram a obrigação à qual estavam vinculados em virtude da decisão de indicação de medidas cautelares, tomada pela Corte em 3 de março de 1999; A FAVOR: Presidente Guillaume; Vice-Presidente Shi; juízes Bedjaoui, Ranjeva, Herczegh, Fleischhauer, Koroma, Vereshchetin, Higgins, Kooijmans, Rezek, Al-Khasawneh, Buergenthal; CONTRA: Oda; Parra-Aranguren 6) Por unanimidade, Considera o compromisso assumido pelos Estados Unidos da América de assegurar a aplicação das medidas específicas adotadas na execução de suas obrigações a título da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção; e entende que esse engajamento deve ser considerado como satisfatório à demanda da República Federal da Alemanha, visando obter uma garantia geral de não-repetição; 7) Por quatorze votos a um, Entende que, se nacionais alemães deviam, não obstante, ser condenados a uma pena severa sem que os direitos que eles tinham em virtude da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção tenham sido respeitados, os Estados Unidos da América deverão, aplicando os meios de sua escolha, permitir o reexame e a revisão do veredito de culpabilidade e da pena, levando em conta a violação dos direitos previstos pela Convenção. A FAVOR: Presidente Guillaume; Vice-Presidente Shi; juízes Bedjaoui, Ranjeva, Herczegh, Fleischhauer, Koroma, Vereshchetin, Higgins, Parra-Aranguren, Kooijmans, Rezek, Al-Khasawneh, Buergenthal; CONTRA: Oda.