3ª Geração Social - Condoreira



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Transcrição:

3ª Geração Social - Condoreira Causas humanitárias Educação República Escravidão Abolicionismo Amor erótico A praça é do povo Como o céu é do condor O condor é o pássaro que voa mais alto na América do Sul, metáfora para a linguagem e para a preocupação social do poeta.

Castro Alves (1847 1871) Único poeta relevante da geração Relacionamento com Eugênia Câmara (atriz portuguesa, para quem escreve o drama Gonzaga) Obra: Espumas Flutuantes (1870) Gonzaga (drama) (1875) A cachoeira de Paulo Afonso (1876) Os escravos (1883)

Características e temas: Poesia declamatória Grandiloqüência Amor erótico / sensual Social Condoreira Doutrinária Reflexão existencial Louvor ao progresso da América Amor platônico / Idealizado ABOLICIONISMO

O "Adeus" de Teresa A vez primeira que eu fitei Teresa, Como as plantas que arrasta a correnteza, A valsa nos levou nos giros seus... E amamos juntos... E depois na sala "Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala... E ela, corando, murmurou-me: "adeus." Uma noite... entreabriu-se um reposteiro... E da alcova saía um cavaleiro Inda beijando uma mulher sem véus... Era eu... Era a pálida Teresa! "Adeus" lhe disse conservando-a presa... Postura de amor realizado E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!

Passaram tempos... sec'los de delírio Prazeres divinais... gozos do Empíreo...... Mas um dia volvi aos lares meus. Partindo eu disse - "Voltarei!... descansa!... Ela, chorando mais que uma criança, Ela em soluços murmurou-me: "adeus!" Quando voltei... era o palácio em festa!... E a voz d'ela e de um homem lá na orquesta Preenchiam de amor o azul dos céus. Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa! Foi a última vez que eu vi Teresa!... E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"

Boa-noite Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora. A lua nas janelas bate em cheio. Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde... Não me apertes assim contra teu seio. Boa-noite!... E tu dizes Boa-noite. Mas não digas assim por entre beijos... Mas não mo digas descobrindo o peito Mar de amor onde vagam meus desejos. É noite, pois! Durmamos, Julieta! Recende a alcova ao trescalar das flores, Fechemos sobre nós estas cortinas... São as asas do arcanjo dos amores.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos Treme tua alma, como a lira ao vento, Das teclas de teu seio que harmonias, Que escalas de suspiros, bebo atento! Ai! Canta a cavatina do delírio, Ri, suspira, soluça, anseia e chora... Marion! Marion!... É noite ainda. Que importa os raios de uma nova aurora?!... Como um negro e sombrio firmamento, Sobre mim desenrola teu cabelo... E deixa-me dormir balbuciando: Boa-noite!, formosa Consuelo!...

Mocidade e Morte Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate. Dante. Oh! Eu quero viver, beber perfumes Na flor silvestre, que embalsama os ares; Ver minh'alma adejar pelo infinito, Qual branca vela n'amplidão dos mares. No seio da mulher há tanto aroma... Nos seus beijos de fogo há tanta vida... Árabe errante, vou dormir à tarde A sombra fresca da palmeira erguida. Mas uma voz responde-me sombria: Terás o sono sob a lájea fria.

Morrer... quando este mundo é um paraíso, E a alma um cisne de douradas plumas: Não! o seio da amante é um lago virgem... Quero boiar à tona das espumas. Vem! formosa mulher camélia pálida, Que banharam de pranto as alvoradas. Minh'alma é a borboleta, que espaneja O pó das asas lúcidas, douradas... E a mesma voz repete-me terrível, Com gargalhar sarcástico: impossível!

Adeus, pálida amante dos meus sonhos! Adeus, vida! Adeus, glória! amor! anelos! Escuta, minha irmã, cuidosa enxuga Os prantos de meu pai nos teus cabelos. Fora louco esperar! fria rajada Sinto que do viver me extingue a lampa... Resta-me agora por futuro a terra, Por glória nada, por amor a campa. Adeus! arrasta-me uma voz sombria Já me foge a razão na noite fria!.. Consciência da morte apesar das glórias da vida

O Livro e a América AO GRÊMIO LITERÁRIO Talhado para as grandezas, P'ra crescer, criar, subir, O Novo Mundo nos músculos Sente a seiva do porvir. Estatuário de colossos Cansado doutros esboços Disse um dia Jeová: "Vai, Colombo, abre a cortina "Da minha eterna oficina... "Tira a América de lá Por uma fatalidade Dessas que descem de além, O sec'lo, que viu Colombo, Viu Guttenberg também. Quando no tosco estaleiro Da Alemanha o velho obreiro A ave da imprensa gerou... O Genovês salta os mares... Busca um ninho entre os palmares E a pátria da imprensa achou...

Por isso na impaciência Desta sede de saber, Como as aves do deserto As almas buscam beber... Oh! Bendito o que semeia Livros... livros à mão cheia... E manda o povo pensar! O livro caindo n'alma É germe que faz a palma, É chuva que faz o mar. Vós, que o templo das idéias Largo abris às multidões, P'ra o batismo luminoso Das grandes revoluções, Agora que o trem de ferro Acorda o tigre no cerro E espanta os caboclos nus, Fazei desse "rei dos ventos Ginete dos pensamentos, Arauto da grande luz!... Bravo! a quem salva o futuro Fecundando a multidão!... Num poema amortalhada Nunca morre uma nação. Como Goethe moribundo Brada "Luz!" o Novo Mundo Num brado de Briaréu... Luz! pois, no vale e na serra... Que, se a luz rola na terra, Deus colhe gênios no céu!...

O NAVIO NEGREIRO CANTO I: A poesia inicia com uma evocação de beleza: o mar e o céu formando dois espaços infinitos por onde passam os barcos. O poeta observa um barco e busca saber de onde vem, para onde vai. No final, pergunta-se: por que razão aquele barco foge dele? O poeta termina pedindo ajuda ao albatroz, para que este lhe dê asas e o faça aproximar-se do barco que passa ao longe. 'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço Brinca o luar dourada borboleta; E as vagas após ele correm... cansam Como turba de infantes inquieta. (...) Por que foges assim barco ligeiro? Por que foges do pávido poeta?... Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira Que semelha no mar doudo cometa.

CANTO II: Na segunda parte o poeta dedica-se a elogiar os marinheiros que, ao longo da história da humanidade, realizaram esta tarefa, a de descobrir e interligar novos mundos. Assim, espanhóis, italianos, ingleses, franceses e até os gregos, representados mitologicamente por Ulisses, herói da Odisséia, são relembrados por suas façanhas e por seu valor. CANTO III:Nas asas do albatroz, o poeta aproxima-se do barco inicialmente citado e espanta-se com o que acontece ali dentro. Aqui se dá a virada no poema. O que antes era visto como algo belo e divino (estar no mar, ser um marinheiro...), passa a ser visto por um outro ângulo, que vai ser apresentado nas partes seguintes, Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! Desce mais, inda mais... não pode o olhar humano, Como o teu mergulhar no brigue voador... Porém que vejo aí... que quadro de amarguras! Que canto funeral!... que tétricas figuras! Que cena infame e vil!... Meu Deus! meu Deus! Que horror!

CANTO IV: Buscando imagens infernais (daí a citação a Dante, poeta italiano, autor d A divina comédia), o poeta passa a descrever os horrores que acontecem naquele navio. Negros escravos são açoitados cruelmente, e os sons que habitam aquele navio (chicotes, ferros que são arrastados pelos escravos, os gritos e gemidos) parecem ser música produzida por uma orquestra irônica: é uma música de terror e não de beleza. E todo este horror só pode trazer contentamento a Satanás; é o inferno. Era um sonho dantesco... O tombadilho, Que das luzes avermelha o brilho, Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar do açoite... Legiões de homens negros como a noite Horrendos a dançar... Negras mulheres suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães. Outras, moças... mas nuas, espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas Em ânsia e mágoa vãs.

E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Se o velho arqueja... se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala E voam mais e mais... Presa nos elos de uma só cadeia A multidão faminta cambaleia E chora e dança ali... Um de raiva delira, outro enlouquece... Outro, que de martírios embrutece, Cantando geme e ri...

No entanto o capitão manda a manobra... E após, fitando o céu que se desdobra Tão puro sobre o mar, Diz, do fumo entre os densos nevoeiros: "Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar." E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais!... Qual num sonho dantesco as sombras voam... Gritos, ais, maldições, preces ressoam E ri-se Satanás!...

CANTO V: Numa súplica aos céus, o poeta pergunta-se quem são estes homens que tanto sofrem. E a resposta vem através da fala de uma musa, a partir da terceira estrofe desta parte. São apresentados como heróis em suas terras, transformados em escravos pelos conquistadores. No final, o poeta pede ao mar que engula este navio, pede ao tufão que apague este horror que transita pelos mares. Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! Quem são estes desgraçados Que não encontram em vós Mais que o rir calmo da turba Que excita a fúria do algoz? Quem são? Se a estrela se cala, Se a vaga à pressa resvala Como um cúmplice fugaz, Perante a noite confusa... Dize-o tu, severa Musa, Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto, Onde a terra esposa a luz. Onde vive em campo aberto A tribo dos homens nus... São os guerreiros ousados Que com os tigres mosqueados Combatem na solidão. Ontem simples, fortes, bravos. Hoje míseros escravos, Sem luz, sem ar, sem razão... Ontem a Serra Leoa, A guerra, a caça ao leão, O sono dormido à toa Sob as tendas d'amplidão! Hoje... o porão negro, fundo, Infecto, apertado, imundo, Tendo a peste por jaguar... E o sono sempre cortado Pelo arranco de um finado, E o baque de um corpo ao mar... Ontem plena liberdade, A vontade por poder... Hoje... cúm'lo de maldade, Nem são livres p'ra morrer.. Prende-os a mesma corrente Férrea, lúgubre serpente Nas roscas da escravidão. E assim zombando da morte, Dança a lúgubre coorte Ao som do açoute... Irrisão!...

E existe um povo que a bandeira empresta Pra cobrir tanta infâmia e cobardia!... E deixa-a transportar-se nessa festa Em manto impuro de Bacante fria!... Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta Que impudente na gávea tripudia?!... Silêncio!... Musa! chora, chora tanto, Que o pavilhão se lave no teu pranto... Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra, E as promessas divinas da esperança... Tu, que da Liberdade após a guerra Foste hasteado dos heróis na lança, Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!... Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu na vaga Como um íris no pélago profundo!...... Mas é infâmia demais... Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo... Andrada! arranca esse pendão dos ares!... Colombo! fecha a porta de teus mares!... CANTO VI: Nesta parte, certamente a mais importante do poema, aquela que legitima Castro Alves como um autor da terceira geração romântica, dentro dos ideais condoreiros, o poeta lembra horrorizado que existe um país que permite que esta cena selvagem se repita. Existe um país que empresta sua bandeira para cobrir tanta infâmia e cobardia, e este país é o Brasil. O poeta lamenta que uma bandeira que simbolizou a liberdade (na Independência) agora sirva de mortalha para um povo, para os escravos. Na estrofe final, o poeta apela para os heróis dos mares e da pátria (Colombo e José Bonifácio de Andrada) para que evitem que este mal permaneça.

REALISMO E SUAS TENDÊNCIAS

La Liberté guidant le peuple Eugène Delacroix, 1830

Les Casseurs de pierres Gustave Coubert,, 1849

IDÉIAS PREDOMINANTES Ideologia do progresso Racionalismo materialista Evolucionismo: Charles Darwin Evolucionismo social: Herbert Spencer Positivismo: Auguste Comte Determinismo: Hippolyte Taine Socialismo científico: Karl Marx Pessimismo: Arthur Schopenhauer

CARACTERÍSTICAS GERAIS Oposição ao Romantismo: perspectiva crítica Descritivismo: observação e análise da realidade TENDÊNCIAS Realismo: análise psicológica Naturalismo: análise patológica/cientificismo/zoomorfismo/estética do feio Expressionismo: deformação e intensificação da realidade Impressionismo: sugestão da realidade por sensações e impressões Parnasianismo: esteticismo (Arte pela Arte)

MARCOS DA LITERATURA REALISTA França 1857: Madame Bovary, Gustave Flaubert 1857: As flores do Mal, Charles Baudelaire 1867: Thérèse Raquin, Émile Zola Portugal 1865: Odes modernas, Antero de Quental 1865: Questão Coimbrã 1871: Conferências do Cassino Lisbonense 1875: O crime do padre Amaro, Eça de Queirós Brasil 1881: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis 1881: O mulato, Aluísio Azevedo

Características: O REALISMO A)A objetividade e a impessoalidade - narrador, na maioria das vezes, em 3ª pessoa, buscando o máximo de impessoalidade B) Racionalismo (fruto do desenvolvimento científico) Análise Psicológica + Análise Social

C) Verossimilhança O REALISMO - criar uma supra-realidade, ser verdadeiro D) Contemporaneidade - os autores escrevem sobre seu tempo E) Pessimismo - ceticismo e niilismo F) Caráter Reformador: - A literatura tem a capacidade de influenciar na sociedade modificando-a

O NATURALISMO Características: A) Todas as características do Realismo, menos a análise psicológica B) Romance de tese, ou experimental : O romance deve ser um estudo objetivo das paixões. (...) Limito-me a fazer em dois corpos vivos aquilo que os cirurgiões fazem em seus cadáveres. Émile Zola

C)Determinismo do meio ambiente: o homem é produto do instinto (momento): o maior racionalismo não pode combater o menor dos instintos da hereditariedade (raça): temperamento por herança (EUGENIA)

D) Personagens patológicos: para comprovar as teses (acúmulo de horrores cientificamente comprovados) E) Crítica social explícita: crítica direta que se torna pessimismo fatalista F) Forma descritiva: para poder se fazer o dossiê do F) Forma descritiva: para poder se fazer o dossiê do caso era necessário dar todos os detalhes, objetivamente escritos.

REAL NATURALISMO 1875- O crime do padre Amaro 1878 O primo Basílio REALISMO 1857-Madame Bovary NATURALISMO 1867 - Thérèse Raquin

José Maria Eça de Queirós (Póvoa do Varzim, 1845 Paris, 1900) Filho de um magistrado, mas em circunstâncias irregulares Estudante de leis em Coimbra Diplomata em Havana em 1872, e em 1874 na Inglaterra Fixa-se em Paris, para onde é nomeado cônsul em 1889. Possui vida intelectual ativa.

I Fase: Romântica O Mistério da Estrada de Sintra Farpas Prosas bárbaras (1902) II Fase: Real-naturalista Cenas portuguesas: O Crime do Padre Amaro (cenas da vida devota), 1876. Segunda edição refundida, 1880. O Primo Basílio (episódio doméstico), 1878.

EÇA DE QUEIRÓS Sobre O primo Basílio, diz Eça de Queirós em uma carta a Teófilo Braga, em 1878: Ataco a família, - a família lisboeta produto do namoro, reunião desagradável de egoísmos que se contradizem (...). A minha ambição seria pintar a sociedade portuguesa (...) e mostrar-lhe, como num espelho, que triste país eles formam, - eles e elas.

III Fase: Crítica irônica A Ilustre Casa de Ramires, 1900. Correspondência de Fradique Mendes (memórias e notas), 1900. A Cidade e as Serras, 1901. Contos, 1902.

O Realismo em Portugal não significou apenas uma renovação da própria literatura, nas suas formas de expressão: temas, linguagem e visão de mundo. Representou uma tentativa de tirar todo o país da mentalidade romântico-cristã e levá-lo à modernidade, por meio do contato com as novas idéias filosóficas e científicas que circulavam na Europa.

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