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Transcrição:

* Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, Anexo à Casa do Capelão / IO, Largo D. Dinis, 2675-332 Odivelas. Infobus, Comunicação & Serviços, Lda, Rua de Moçambique, 9, 2745-180 Queluz. ** Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Departamento de Química, 2819-515 Caparica. AMONET Associação Portuguesa das Mulheres Cientistas, Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, Campolide, 1099-085 Lisboa.

Isabel Gago uma mulher resistente M. MARGARIDA PEREIRA-MÜLLER * ANA M. LOBO** Quando a conhecemos ia já a caminho dos 95 anos. Franzina, de corpo magro, cara afiada, só os olhos vivos e brilhantes denotavam a vivacidade que lhe ia na alma. Quem era aquela mulher aparentemente frágil que só após muita insistência acedia a conversar sobre a sua vida? Nascida em 1913, nos primeiros anos da República, Isabel Gago era filha de um jovem capitão do exército português, falecido em França na 1ª Grande Guerra. Aos 8 anos entrou como aluna interna para o Instituto de Odivelas. Não, não se chamava assim. O meu Instituto na altura chamava-se Instituto Feminino de Educação e Trabalho. Lá conheceu aquela que viria a ser a sua grande amiga, Vera Monteiro Torres, também ela órfã de um aviador, cujo avião havia sido abatido durante o mesmo conflito que lhe levara o pai. E como era a vida no Instituto? Era dura. Não havia luxos. Lavávamonos com água fria mesmo no Inverno. Banhos quentes só havia duas vezes

206 Faces de Eva (Auto)-Retrato por semana. Mas fazíamos ginástica sueca, ao ar livre se possível, e todos os dias, na forma, antes do pequeno-almoço, fazíamos exercícios de respiração. A adaptação inicial não foi fácil. Isabel ressentiu-se com o regime de internato. Quando vinha a casa chorava frequentemente e a avó, com pena dela, aconselhava a mãe a tirá-la do colégio. A mãe recusou sempre. A instituição era muito boa e a filha iria receber uma educação que a acompanharia pela vida fora. Com o passar do tempo e as amizades com as colegas veio a adaptação. As minhas lágrimas foram secando, dando lugar à satisfação de estar num bom colégio. De facto é o ensino que Isabel Gago mais elogia. A educação, os valores morais já os trazia de casa, ali só foram alicerçados. Mas o ensino era muito bom. Na sala de aula havia sempre uma balança, com os respectivos pesos e medidas de capacidade, feitos de alumínio. A pesar e a medir volumes, aprendia-se praticando. No final do 2ºano do liceu, dado não haver a certeza de poder finalizar o curso liceal no Instituto, saiu para frequentar em Lisboa o Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho. No registo existente de uma fotografia da época, nada a distingue das colegas, jovens lisboetas da classe média, para quem a educação secundária das raparigas começava a ser um dado adquirido. A universidade veio a seguir, em 1933, e com ela não uma escolha normal que a preparasse para ser esposa e mãe. Não, nada disso. Ao escolher o Instituto Superior Técnico, uma escola maioritariamente masculina, onde as mulheres se contavam pelos dedos, Isabel não deve ter medido o alcance e as repercussões que essa decisão teria sobre a sua vida. Matriculou-se no curso de Engenharia Química com outra colega que com ela acabou a licenciatura no mesmo ano de 1939. Foram as primeiras engenheiras químicas portuguesas licenciadas por essa escola. Pode dizer-se que nunca mais deixou o Técnico. Foi a sua grande paixão. Alugou um 3º andar numa casa próxima sem elevador. Após o curso ali ficou como assistente tendo seguido a carreira docente universitária. Nunca se doutorou. Quando a reforma universitária e a mudança de nomes dos vários escalões da carreira académica chegaram, nunca pôde usar o título de professora. Era simplesmente 1ª assistente. Mas deu aulas teóricas e práticas de qualidade na área da electroquímica e manteve o nível do ensino experimental o melhor que pôde. Na década de sessenta do séc. XX fez parte da equipa de académicos que montaram os laboratórios na então

Isabel Gago : uma mulher resistente M. Margarida Pereira-Müller Ana M. Lobo 207 criada Universidade de Lourenço Marques em Moçambique. Foi uma profissional de corpo inteiro até se aposentar em 1984, com 70 anos. Depois, ainda continuei a lá ir, sem ganhar dinheiro, pois muito me ligava ao meu laboratório. Falava pouco da sua vida profissional, algo lhe ficou a doer. A distância entre o sonho de realização pessoal e a realidade numa sociedade ainda tacanha, onde a custo a mulher profissional se ia afirmando, teve um preço de que não gostava de falar. Contudo o seu exemplo ficou e, seguindo as suas pisadas, centenas de mulheres portuguesas integraram ano após ano o curso de Engenharia Química do I.S.T., que é hoje um curso universitário onde as mulheres são alunas normais, fazem carreiras normais, e de onde saiu a primeira catedrática dessa escola, Sílvia Brito Costa, quatro anos antes de Isabel Gago se retirar. Morreu a 8 de Maio de 2012 aos 99 anos. O seu Instituto foi extinto por decreto do então Ministro da Defesa Aguiar Branco três anos mais tarde em 2015, para garantir a igualdade de género às alunas, que foram transferidas para o Colégio Militar em Lisboa, um colégio só de rapazes, onde começaram a sua educação masculina. Agradecimentos: À Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, ao Instituto de Odivelas e ao Instituto Superior Técnico pelos elementos biográficos sobre Isabel Gago. * Este artigo foi escrito de acordo com a antiga ortografia.

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