Brasil: eleições 2012

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Analítico Temas Brasil: eleições 2012 Notas para um balanço Valter Pomar 10.11.2012 A secretaria nacional de organização do Partido dos Trabalhadores divulgou, logo após o segundo turno, um conjunto de dados muito úteis para o balanço das eleições municipais de 2012. O primeiro dado diz respeito ao número total de prefeituras eleitas. Das mais de 5 mil cidades brasileiras, o PT foi vitorioso em 635 cidades (das quais 8 no segundo turno). Em relação a 2008, aumentamos em 14% o número de prefeituras administradas pelo PT. Evidentemente, este número pode conduzir a diversos enganos. O primeiro é óbvio: dentre estas 635 cidades, temos São Paulo e temos pequenas cidades com 10 mil habitantes. O segundo não é tão óbvio: apesar de exibirmos um crescimento constante desde 1982, a velocidade deste crescimento não é constante. Quando observamos o desempenho distribuído pelos 27 estados que integram o Brasil, fica evidente outro tema: a correlação entre nosso desempenho nas eleições municipais e o fato de estarmos ou não dirigindo o respectivo governo estadual. O caso do Acre é chocante: um decréscimo de 58% e uma vitória suada no segundo turno da capital, Rio Branco. UF 1982 1985 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 EVOL AC 1 3 7 10 12 5-58% AL 1 2 1 2 100% AM 1 3 6 4-33% AP 1 2 2 3 3 3 0% BA 1 2 4 7 19 66 93 41% CE 1 2 2 1 2 12 15 29 93% ES 2 1 3 5 6 6 0% GO 1 1 1 1 10 13 17 31% MA 1 1 3 2 7 9 10 11% MG 6 13 30 34 85 110 114 4% MS 1 3 11 18 10 12 20% MT 1 2 1 2 7 18 10-44% PA 2 1 6 18 27 23-15% PB 2 4 6 6 0% PE 2 2 4 8 8 13 63% PI 1 1 7 19 21 11% PR 2 1 6 10 28 32 41 28% RJ 1 1 2 1 9 10 11 10% RN 1 1 2 4 6 50% RO 3 4 6 7 4 6 50% RR 2 1 2 100% RS 5 8 26 35 43 61 72 18% SC 1 7 13 23 35 45 29% SE 1 2 4 7 7 0%

SP 1 13 11 13 38 57 63 68 8% TO 1 2 16 12 9-25% BRASIL 2 1 38 54 116 187 409 558 635 14% Outra análise que deve ser feita diz respeito ao desempenho do PT frente aos demais partidos. O PT teve menos vitórias do que o PMDB (1024) e o PSDB (702). Mas em relação a 2008 estes dois partidos perderam prefeituras, enquanto o PT ampliou o número de prefeitos. A verdade é que, dentre os principais partidos, apenas o PT e o PSB conseguiram melhorar seu desempenho frente aos resultados obtidos em 2008. O PSD, que está em quarto lugar quanto ao número total de prefeituras eleitas não existia em 2008, logo não é possível comparar. Em relação a 2008, o DEM perdeu 217 prefeituras e o PMDB 180 prefeituras. O PT e PSB elegeram, respectivamente, 77 e 132 prefeitos a mais que em 2012. O Partido dos Trabalhadores recebeu 17.264.643 votos para prefeito, somando os que foram eleitos e os que não foram eleitos. Estes números indicam que o PT recebeu a maior votação partidária, dentre todos os que disputaram as eleições de 2012. Aqui, contudo, fica claro algo que dissemos antes, sobre a velocidade do crescimento do PT. Nosso crescimento, nas eleições de 2012, foi de apenas 4,35% dos votos em relação a 2008. Mesmo sem fazer cálculos demográficos, está claro que marcamos passo. Já o PSB cresceu 52,76% em relação a 2008. É com base nestes números que certa imprensa tem apresentado o PSB como o grande vencedor do processo eleitoral. Se o PSB fosse homogêneo e se houvesse uma relação mecânica e direta entre 2012 e 2014, isto poderia ser verdade. PARTIDO VOTOS VÁLIDOS % EVOL PT 17.264.643 16,77% 4,35% PMDB 16.675.787 16,20% -9,83% PSDB 13.927.212 13,53% -4,18% PSB 8.664.886 8,42% 52,76% PDT 6.248.933 6,07% 2,45% PSD 5.852.282 5,69% PP 5.381.855 5,23% -12,41% DEM 4.535.653 4,41% -51,39% PTB 4.037.981 3,92% -20,20% PR 3.767.540 3,66% -12,65% PRB 2.524.452 2,45% 66,13% PPS 2.449.650 2,38% -12,91% PSOL 2.388.385 2,32% 200,32% PV 2.132.706 2,07% -28,12% PC do B 1.880.028 1,83% 6,37% PSC 1.676.653 1,63% 65,60% PMN 567.741 0,55% -15,39% PTC 407.375 0,40% 114,41% PRP 395.842 0,38% 109,52% PTN 347.914 0,34% 90,72% PRTB 317.602 0,31% 60,90% PHS 311.438 0,30% -4,72% PT do B 294.938 0,29% 37,43% PSL 287.112 0,28% 44,83% PSDC 227.149 0,22% -5,97% PSTU 176.336 0,17% 133,33% PPL 146.686 0,14% PCB 45.119 0,04% -29,26% PCO 4.284 0,00% -57,03% BRASIL 102.938.182 100,00% Se considerarmos não o conjunto das cidades brasileiras, mas sim apenas aquelas 119 cidades que possuem mais de 150 mil eleitores, vemos que o quadro é mais complexo ainda. Destas 119 cidades, o PT saiu vitorioso em 21 cidades, sendo 4 capitais (São Paulo, Goiânia, Rio Branco e João Pessoa). E vemos que o PSDB e o DEM seguem com uma força expressiva nessa categoria de cidades, apesar das dificuldades crescentes. Mas estas cidades que possuem mais de 150 mil habitantes também são muito desiguais entre si. Se levarmos em conta o número de eleitores em cada cidade, vamos constatar que nas 21 cidades que o PT passará a governar em janeiro de 2013, moram 16,1 milhões de eleitores. O PMDB governará 8,9 milhões de eleitores e o PSDB 8,3 milhões de eleitores.

Portanto, a estatística da eleição deve ser analisada com muito cuidado. Por exemplo: se considerarmos o porte das cidades, vemos que o PT cresceu em todas as categorias, menos nas cidades com mais de 150 mil habitantes. Logo, o fato de governarmos mais eleitores está ligado basicamente a vitória na cidade de São Paulo. Outra variável a ser analisada é o desempenho do PT nas eleições proporcionais, para vereadores. Enquanto no número de prefeituras tivemos um crescimento de 14%, aumentamos em 25% o número total de vereadores e vereadoras petistas. O PT não é o Partido com maior número de vereadores. Mas os partidos com melhor desempenho absoluto decaíram em relação a 2008, enquanto o PT, o PSB e o PDT aumentaram suas bancadas municipais. Um dado muito interessante é o da votação na legenda. Dentre todos os partidos, o PT é o que recebeu maior votação na legenda, aquela em que o eleitor escolhe votar diretamente e unicamente no Partido, sem indicar o candidato de sua preferência. Por outro lado, repete-se o que já havíamos verificado ao falar da votação para prefeitos: quando comparamos os dados de 2012 com os dados de 2008, vemos um crescimento de 4,25% na votação do Partido. No caso das prefeituras, a evolução 2008/2012 foi de 4,35%. Como dissemos, estes números revelam uma tendência que já se manifestou quando comparamos as eleições de 2010 com 2006: há sinais de que a votação global do Partido pode ter atingido seu teto. Nas atuais condições de financiamento privado de campanhas eleitorais e de monopólio da comunicação por parte das forças de direita, a velocidade de crescimento global do PT vai diminuindo. PARTIDO VOTOS LEGENDA VOTOS NOMINAIS VOTOS VÁLIDOS % EVOL PMDB 1.109.790 10.007.751 11.117.541 10,51% -7,06% PT 1.488.957 9.488.412 10.977.369 10,38% 4,25% PSDB 1.195.548 7.824.004 9.019.552 8,53% -15,67% PP 561.434 6.154.657 6.716.091 6,35% -7,17% PSB 512.508 5.981.368 6.493.876 6,14% 8,56% PDT 629.175 5.734.362 6.363.537 6,02% -5,37% PSD 368.901 5.778.635 6.147.536 5,81% PTB 328.375 5.162.672 5.491.047 5,19% -13,02% PR 334.316 4.760.227 5.094.543 4,82% -6,21% DEM 362.165 4.336.651 4.698.816 4,44% -41,20% PV 223.436 3.754.235 3.977.671 3,76% 0,45% PPS 220.976 3.682.178 3.903.154 3,69% -11,25% PSC 146.279 3.224.238 3.370.517 3,19% 18,47% PRB 293.148 2.784.685 3.077.833 2,91% 32,11% PC do B 145.000 2.699.107 2.844.107 2,69% 31,15% PSL 62.596 1.907.821 1.970.417 1,86% 24,60% PHS 54.453 1.757.864 1.812.317 1,71% 29,46% PTN 51.982 1.680.569 1.732.551 1,64% 47,15% PTC 50.616 1.592.871 1.643.487 1,55% 35,36% PT do B 42.034 1.564.406 1.606.440 1,52% 11,87% PMN 75.093 1.525.802 1.600.895 1,51% -13,19% PSDC 36.814 1.551.629 1.588.443 1,50% 20,31% PRP 89.214 1.496.994 1.586.208 1,50% 3,24% PRTB 39.328 1.189.879 1.229.207 1,16% 42,45% PSOL 295.079 818.232 1.113.311 1,05% 77,36% PPL 25.366 387.959 413.325 0,39% PSTU 32.241 88.462 120.703 0,11% 59,05% PCB 11.206 39.566 50.772 0,05% -52,61% PCO 1.589 1.875 3.464 0,00% -29,18% BRASIL 8.787.619 96.977.111 105.764.730 100% Visto de conjunto, portanto, o resultado das eleições de 2012 é muito contraditório. Se contabilizarmos quem ganhou e quem perdeu as eleições, o que vemos é que nacionalmente ganharam os partidos da base do governo Dilma; perderam o PSDB, o DEM e o PPS. Ao mesmo tempo, os resultados eleitorais mostraram a insatisfação popular com os governos municipais. Isto ocorre por vários motivos, entre os quais uma piora nas condições orçamentárias em grande parte das cidades brasileiras. Seja como for, a maioria das candidaturas vitoriosas foi de oposição aos respectivos governos municipais. Tomado isoladamente, o PT foi o partido mais votado e é o partido que governa o maior número de pessoas em todo o Brasil. Mas, por outro lado, naquelas cidades onde candidatos do PT disputaram contra candidatos de outro partido da base do governo Dilma, estes candidatos geralmente receberam o apoio da oposição de direita e derrotaram o PT. Este é, simplificadamente, o cálculo da oposição: se 2014 for uma disputa entre Dilma contra um candidato tucano, apoiado por DEM e PPS, Dilma será reeleita. Mas se em 2014 ocorrer uma disputa entre Dilma e um candidato do PSB ou do PMDB, apoiado pela oposição, a reeleição corre riscos. E neste caso, quem

pode fazer a diferença é o PT e Lula. É por isto que o julgamento do chamado mensalão ainda não terminou. Ou, para ser mais exato, estamos fechando esta edição de Página 13 sem conhecer a dosimetria, as penas que serão aplicadas a cada um dos condenados pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470. Ressalvado isto, há uma série de coisas que precisam e já podem ser ditas. A começar pelo termo mensalão. Desde o dia em que Roberto Jefferson cunhou este termo, até o dia de hoje, não foi provada a existência de pagamento mensal a parlamentares para que votassem nas propostas do governo Lula. Não foi provado, não porque não se tentasse, mas porque não se conseguiu provar, e não se conseguiu provar porque não existe. O próprio autor do termo confessou, com a cara de pau que lhe é peculiar, que se tratou de, digamos, licença poética. Mesmo assim, o termo pegou. E pegou porque foi repetido ad nausean pelos grandes meios de comunicação. Esta é a segunda a coisa que deve ser dita: o PIG ( partido da imprensa golpista ) julgou e condenou os réus, muito antes do julgamento começar. E isto influenciou a postura dos juízes, tanto quanto o silêncio do PIG acerca do mensalão tucano contribuiu para que este outro assunto caísse num conveniente esquecimento, a tal ponto que um dos principais envolvidos, o ex-ministro Mares Guia, virou beneficiário de prescrição. Em terceiro lugar: o direito de defesa dos réus foi cerceado. Enquanto para o mensalão tucano foi adotado o desmembramento da Ação, permitindo entre outras coisas que os réus pudessem se defender em várias instâncias, tendo o STF como última etapa do processo, no caso da Ação Penal 470 não houve desmembramento. Noutras palavras: uma única instância julgadora, via rápida, menos direito de defesa. O tratamento desigual torna-se ainda mais escandaloso, quando lembramos que o caso dos tucanos é anterior ao caso envolvendo petistas; mesmo assim seu julgamento será, se existir, posterior; e os tucanos terão direito a várias instâncias julgadoras. Em quarto lugar: para poder condenar alguns dos réus petistas, o STF adotou duas jurisprudências escandalosas, a saber, a de que cabe aos réus provar sua inocência; e a de que uma autoridade pode ser considerada autora de um crime, não por tê-lo cometido, mas por supostamente estar em condições de saber e nada ter feito para evitá-lo. Esta segunda jurisprudência, até as pedras sabem, não tem como alvo José Genoíno, nem tampouco José Dirceu. O alvo é outro. O que nos remete a quinta coisa que deve ser dita: a maioria do STF manipulou este julgamento, com finalidades eleitorais. O exemplo máximo disto foi a escolha da data do julgamento. Ao fazer o balanço das eleições 2012, a ninguém pode escapar o fato de que, durante a reta final do segundo turno, a principal TV do país chegou a dedicar 19 minutos de seu principal noticiário a um único tema: espancar os réus petistas. O Procurador Geral da República, senhor Gurgel, chegou a dizer com todas as letras que esperava que o julgamento tivesse impacto no resultado nas eleições. E teve. Não o que eles gostariam, pois apesar de tudo o PT saiu-se suficientemente bem. Mas o massacre midiático da última semana pode ter pontos valiosos na preferência popular, em cidades como Fortaleza e Cuiabá, entre outras. A inexistência do mensalão, a campanha da mídia, o cerceamento do direito de defesa, uma jurisprudência indecorosa e a manipulação eleitoral do julgamento. Estas coisas precisam ser ditas. Não houvesse isto tudo, não apenas o resultado eleitoral teria sido ainda melhor para o PT; vários dos réus não teriam sido condenados. Por fim, há duas questões que devem ficar registradas, para melhor análise: a primeira delas é que o julgamento não terminará na dosimetria, nem mesmo no encarceramento, existindo setores da direita que pretendem processar Lula e criminalizar o PT. Se cometermos os mesmos erros cometidos desde 2003, contribuiremos para estes dois desfechos. A segunda delas é lembrar que este STF tem uma maioria de juízes indicada por Lula e por Dilma. Juízes que votaram de maneira progressista em alguns temas (células tronco, união civil) e de maneira muito conservadora noutros temas (como o caso da Anistia). A votação realizada no STF, acerca da Lei da Anistia, foi um reconhecimento explícito de que a tortura, o desaparecimento, o assassinato de militantes de esquerda durante a ditadura militar, foram crimes políticos. Foram crimes políticos, decididos pela cúpula do Estado, impetrados pelo aparato de segurança, amparados pela justiça de fato e depois protegidos por uma interpretação da Lei da Anistia que o STF agora reafirmou. É revelador que, exatamente nesta questão, que diz respeito ao comportamento adotado pelo núcleo duro do poder de Estado, numa situação em que consideravam estar em jogo a "civilização ocidental", o relator da matéria no STF tenha dito que só o Legislativo poderia alterar a Lei. Ou seja: a judicialização da política tem limite e a interpretação da Lei está submetida aos interesses fundamentais das classes dominantes, sua propriedade e seu poder. A interpretação do STF no caso da Anistia não diz respeito apenas ao passado. Diz respeito também ao presente e ao futuro. Lembremos das palavras de um dos integrantes do Supremo: "a ditadura foi um mal necessário". Naquela ocasião, já foram lamentáveis os votos dados por ministros do STF nomeados durante o governo Lula. Agora, na ação penal 470, a maioria do STF transformou o PT em bode expiatório do sistema de financiamento privado das campanhas eleitorais. O que nos remete para o tema fundamental: o que devemos fazer para acabar com este sistema de financiamento privado, antes que ele acabe com o PT? Pois no fundo, esta é a única parcela de verdade que existe no julgamento do chamado mensalão. O sistema de financiamento privado de campanhas eleitorais, seja financiamento legal, seja financiamento via caixa 2, é um mecanismo de corrupção estrutural da democracia, de compra de votos pela classe dominante, de compra de mandatos por quem tem dinheiro.

Este sistema foi feito por eles e para eles. Não foi feito para prostitutas, pretos e pobres. Nem para petistas. Um partido de trabalhadores não pode ser financiado por dinheiro do empresariado. O julgamento no STF serve para lembrar quem porventura tenha se esquecido disto. Artículos relacionados Actual Dilma Rousseff muestra una de sus mejores cartas 21.05.2013 Actual Dilma vive sus mejores momentos 20.03.2013 Actual Reitera Lula apoyo a reelección de Dilma Rousseff 01.03.2013 Analítico Exposição no Instituto Lula Valter Pomar 04.02.2013 Analítico

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