QUEM GANHOU AS ELEIÇÕES DE 2012? UMA ANÁLISE DE DESEMPENHO ELEITORAL DOS PARTIDOS

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1 24 QUEM GANHOU AS ELEIÇÕES DE 2012? UMA ANÁLISE DE DESEMPENHO ELEITORAL DOS Denise Paiva Universidade Federal de Goiás (UFG) Ana Lúcia Henrique Universidade Federal de Goiás (UFG) Resumo: Quem ganhou e quem perdeu nas eleições municipais de 2012? Para responder a esta pergunta, a imprensa tomou como referência o percentual de eleitos (prefeitos e vereadores) com ênfase na conquista das capitais maiores cidades do País. O desempenho dos partidos é, portanto avaliado, pela análise quantitativa do número de eleitos e sua repercussão na governabilidade. O presente artigo introduz uma nova perspectiva para a avaliação do desempenho partidário, com ênfase no recrutamento para analisar a taxa de sucesso das candidaturas nas eleições locais de Palavras-chave: eleições 2012, partidos políticos, sucesso eleitoral. Abstract: Who won and who lost the Brazilian local elections in 2012? To answer this question, the media has referred to the percentage of elected officials (mayors and /aldermen) with emphasis on the achievement in the major cities in the country. The performance of the parties is therefore assessed by quantitative analysis of the number of elected officials and their impact in governance. This paper introduces a new perspective for evaluating the electoral performance of political parties, with a focus on organization to analyze the success rate in local elections in Keywords: 2012 Brazilian local polls, political parties, electoral success

2 Introdução Uma breve passada de olhos nas principais definições sobre partidos aponta uma priorização da função deles como governo, em detrimento das funções junto ao eleitorado e organizacionais (KEY, 1964; MAIR, 1997; WHITE, 2011). Esta perspectiva não decorre do acaso, mas vem na esteira da visão maisntream de democracia como disputa competitiva pelo voto (SCHUMPETER, 1975), avaliada pelo aumento do sufrágio e da alternância de partidos no poder (DAHL, 1997). No mesmo sentido, a teoria preponderante também está presente na definição de partido de Kenneth Janda (1993), como uma organização que tem por objetivo colocar seus representantes no governo. Não por acaso, a avaliação de desempenho dos partidos nas eleições também se concentra no número de participantes do governo. Além disso, a preponderância da visão institucionalista, também acaba por priorizar os resultados das eleições majoritárias e a análise quantitativa das bancadas legislativas dos partidos pela sua repercussão nas relações com o Executivo, tendo como pano de fundo a governabilidade. Entretanto, também na política, nem sempre mais é mais. O fato de um partido apresentar uma numerosa lista de candidatos não necessariamente significa um maior número de eleitos. O sucesso das candidaturas passa por inúmeros fatores ligados à administração da organização partidária, como as regras de recrutamento, o treinamento, a alocação de recursos e, principalmente, a escolha da coligação, no caso brasileiro. Conforme afirma Mair (1997) em consonância com outros estudiosos do assunto, partidos políticos são, sobretudo, organizações e têm como uma de suas funções clássicas indicarem candidatos para concorrer às eleições e buscar maximar seu sucesso eleitoral. Em outras palavras, atingir seus objetivos, maximizando ganhos e minimizando custos. Nessa perspectiva, uma forma de 25

3 medir a eficácia e a eficiência do partido, na chave de Janda, é a análise da taxa de sucesso das candidaturas nas eleições. O presente artigo pretende, portanto, responder à pergunta: Quem ganhou as eleições? Para tanto, adotamos uma nova perspectiva: a análise da eficiência e eficácia administrativa da organização partidária, a partir da taxa de sucesso das candidaturas, com ênfase no partido como organizador da representação, ou seja, sua capacidade colocar representantes nas legislatures, neste caso as Câmaras de Vereadores. Menos nem sempre é menos: o ranking dos partidos por candidatos eleitos A Lei das Eleições permite que cada agremiação registre candidatos para a Câmara dos Deputados, Câmara Legislativa, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais até cento e cinquenta por cento do número de lugares a preencher (Art. 10, Lei 9504/1997). O Código Eleitoral faculta a dois ou mais partidos coligarem-se para o registro de candidatos comuns a deputado federal, deputado estadual e vereador (Art. 105, Lei de 1965). As coligações podem registrar até o dobro do número de lugares a preencher. Assim, a oferta de candidatos em geral é bastante numerosa nas eleições proporcionais. O sistema eleitoral proporcional de lista aberta permite aos partidos e coligações, que obtiverem o quociente eleitoral 1, concorrer à distribuição de cadeiras (Código Eleitoral, 2º, Art. 109). Sendo assim, as coligações ampliam, consideravelmente, as chances de eleição de legendas menores, que agregadas, têm mais chances de conseguir uma vaga. Nas eleições de 2012, candidatos disputaram uma vaga nas câmaras de vereadores em municípios. Desse total, apenas 13,66% foram eleitos. Em outras palavras, esta é a taxa de sucesso média em todo o país. O 26 1 Quociente eleitoral é o resultado da divisão do número de votos válidos apurados pelo número de lugares a preencher em cada circunscrição eleitoral (Art. 106, Código Eleitoral).

4 PMDB, o PT e o PSDB, nesta ordem, foram os partidos que mais lançaram candidatos a vereador, conforme mostra a lista dos dez partidos com maior número de candidatos (tabela 1), isto é esse 26,53%. Tabela 1 - Partidos com maior número de candidatos à Câmara de Vereadores Posição Partido Total de Candidatos 1 PMDB PT PSDB PP PDT PSB PTB PSD DEM PR Fonte: TSE Os três maiores partidos, de acordo com a configuração partidária na Câmara dos Deputados, também conseguiram os três primeiros lugares no ranking do número de candidatos eleitos, conforme mostra a tabela 2. Tabela 2 - Percentual de Vereadores Eleitos por Partido Posição Partido % eleitos 1 PMDB 13,89% 2 PSDB 9,17% 3 PT 9,03% 4 PP 8,60% 5 PSD 8,11% 6 PDT 6,39% 7 PTB 6,23% 8 PSB 6,21% 9 DEM 5,71% 10 PR 5,54% Fonte: TSE De fato, observa-se que os dez partidos com maior número de candidatos são também aqueles que mais elegem, embora não na mesma ordem. O PMDB ocupa o primeiro lugar nas duas listas, mas o PSDB elegeu mais vereadores que o 27

5 PT, embora o último tenha lançado mais candidatos ao pleito. A lista também não confere com a ordem da bancada eleita para a Câmara dos Deputados em 2010, ou seja, os maiores partidos de acordo com a configuração partidária, embora todos estejam entre os dez primeiros (Tabela 3). Tabela 3 - Distribuição de Cadeiras entre os Partidos na 54ª Legislatura/Câmara dos Deputados 2 Partido Membros Bancada (%) Total de Cadeiras por Distrito Eleitoral PT 85 16,57% 22 PMDB 78 15,20% 25 PSDB 51 9,94% 22 PSD 47 9,16% 18 PP 39 7,60% 19 PR 36 7,02% 18 PSB 29 5,65% 15 DEM 27 5,26% 18 PDT 27 5,26% 16 PTB 20 3,90% 14 PSC 17 3,31% 12 PC do B 13 2,53% 10 PPS 11 2,14% 8 PV 10 1,95% 7 PRB 10 1,95% 8 PTdoB 3 0,58% 3 PSOL 3 0,58% 2 PMN 2 0,39% 2 PHS 1 0,19% 1 PRTB 1 0,19% 1 PRP 1 0,19% 1 PTC 1 0,19% Fonte: SGM, Câmara dos Deputados. Os dados são de 02 de fevereiro de 2012.

6 PSL 1 0,19% 1 Total ,00% 27 distritos Fonte: Bancada eleita, Secretaria Geral da Mesa da Câmara de Deputados (SGM-CD) - Elaboração: HENRIQUE, Ana Lúcia. 29 Os dados da tabela 4 permitem afirmar que, em matéria de eficiência nos resultados eleitorais, o PT tem o desempenho menos satisfatório, com uma taxa de sucesso (número de eleitos/número de candidatos) de 13,37%, abaixo da média nacional de 13, 66% (tabela 4). Tabela 4 - Ranking da Taxa de Sucesso Eleitoral dos partidos para a eleição para a Câmara dos Vereadores em 2012 Posição Partido % Sucesso Eleitoral 1 PSD 21,49% 2 PMDB 19,61% 3 PP 18,04% 4 PSDB 16,40% 5 DEM 15,84% 6 PR 15,50% 7 PTB 15,34% 8 PSB 14,88% 9 PDT 14,73% 10 PT 13,37% Fonte: TSE Mesmo nas capitais, onde o PT mais registrou candidatos (5,47%) e elegeu o maior percentual de vereadores (10,36% dos eleitos), o partido ficou em terceiro lugar em taxa de sucesso (9,11%). Só nos municípios com mais de 200 mil habitantes, o PT foi a agremiação partidária que elegeu o mais alto percentual, 11,98%, lançou mais candidatos (6,28%) e obteve maior sucesso na relação candidato/eleitos (9,15%). Os dados permitem afirmar que o partido obteve melhor retorno eleitoral nas capitais, regiões metropolitanas e cidades maiores. O PSDB é o quarto em eficiência administrativa, tomando por base a relação candidato/eleitos (16,40%). O melhor desempenho do partido ocorre

7 nos municípios com mais de 200 mil habitantes, onde ocupa o terceiro lugar (7,92%), atrás do PT e do PMDB, nesta ordem. O partido foi o terceiro mais votado nos municípios maiores (8,59%), mas nas capitais ocupa o quarto lugar entre os mais votados e o quinto lugar em eficiência (7,92%). O PMDB é o primeiro partido em número de candidatos, o primeiro em número de eleitos e o segundo na relação candidato/eleitos (19,61%). As explicações para a alta taxa de sucesso podem residir em sua maior densidade eleitoral (possui representantes 30 no maior número de distritos eleitorais, Cf. tabela 3). O partido foi o mais votado no interior (13,95%) e nos municípios de até 200 mil habitantes (14,07). Em ambos os casos, foi o partido que mais apresentou candidatos, mas não foi o primeiro em taxa de sucesso. PSD: o verdadeiro ganhador, em termos de desempenho. Se levarmos em conta a relação candidato/eleitos, o PSD é o grande ganhador das eleições legislativas de A criação do partido foi liderada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, por meio de um recrutamento interno nos quadros da Câmara dos Deputados na qual já figura como o quarto maior partido. Em sua estreia na disputa eleitoral em 2012 o PSD logrou alcançar a melhor taxa de sucesso: 21,49%. O partido obteve, ainda, a maior taxa de sucesso (11,14%) e a terceira maior bancada nas capitais (4,69%). Da mesma forma, nas cidades do interior, sua taxa de sucesso foi a mais alta (21, 65%), tendo obtido quinto lugar em número de votos. Os pessedistas também foram os primeiros em eficiência nos municípios até 200 mil habitantes, onde ocupam o sétimo lugar entre os partidos que mais elegeram seus candidatos. Nas capitais, no entanto, o partido ficou em sétimo lugar em número de eleitos, mas alcançou o primeiro lugar em eficiência, com 11,14%. 3 De acordo com informações disponíveis na página do TSE, o PSD obteve o registro definitivo em setembro de 2011.

8 Mais nem sempre é mais. O PT e o PSDB ganharam os holofotes da mídia em função da disputa nas eleições majoritárias em São Paulo, a maior cidade do país. Todavia, a performance de ambos não foi muito satisfatória nas eleições para os legislativos estaduais. Da mesma forma, o PSB, tido como o grande ganhador pela conquista de prefeituras importantes e o aumento das bancadas no legislativo, ficou em oitavo lugar. Nas Câmaras de Vereadores, PSD e PMDB foram os grandes ganhadores. As conclusões mostram o papel central não só das estratégias eleitorais, mas também a importância do recrutamento, da dinâmica organizacional em termos de estratégias eleitorais para as agremiações partidárias. Abrem ainda novas perspectivas de estudo e análise do desempenho eleitoral, com ênfase na dinâmica e estrutura interna dos partidos, uma área que tem sido negligenciada pela literatura nos anos mais recentes. 31 Referências DAHL, R. Poliarquia: Participação e Oposição. São Paulo: Edusp, JANDA, K. Political Science: The State of the Discipline II. Washington, D.C. American Political Science Association, p MAIR, P. Party System Change. Approaches and Interpretations. Oxford: Oxford University Press, KEY, V. O. Politics, Parties and Pressure Groups. New York: Crowell, SCHUMPETER, J. A. Capitalism, Socialism and Democracy. New York: Harper & Row Publishers, WHITE, J. K. Definition of Party. In: KATZ, R. S.; CROTTY, W. Handbook of Party Politics. London: Sage Publications, Acesso em: 03 dez Acesso em: 05 dez Acesso em: 01 dez