TAM I - aula 3 UFJF - IAD. Prof. Luiz E. Castelões

Documentos relacionados
TAP - 13 / 11 / 2009 UFJF - IAD. Prof. Luiz E. Castelões

TAM I - aula 5 UFJF - IAD. Prof. Luiz E. Castelões luiz.casteloes@ufjf.edu.br

I- Música É a arte dos sons. É constituída de melodia, ritmo e harmonia. II- Representação violão ou guitarra Gráfica do braço do

Sumário. Unidade 1. Unidade 2. Unidade 3. Prefácio da tradução Prefácio...13

001. Prova de Conhecimento e Habilidade em Música

Teoria Musical. Prof. Rodrigo Faleiros. Prof. Rodrigo Faleiros. blog: rodfaleiros.wordpress.com

42. Construa a escala maior e indique os tetracordes de cada uma das tonalidades indicadas abaixo:

TEORIA. Atividades de teoria e treinamento auditivo para adolescentes. Hannelore Bucher. volume 7 1.ª edição. Recapitulação do volume 6

MÚSICA. 1ª QUESTÃO A tonalidade relativa de Mi Bemol Maior é. A) Sol Menor. B) Ré Sustenido Maior. C) Dó Menor. D) Dó Maior. E) Mi Bemol Menor.

Para responder às questões 1 e 2, ouça atentamente o trecho musical 1 e considere o exemplo musical I, que corresponde a esse trecho musical.

Parte 1 Aspectos estáticos. Paulo de Tarso Salles ECA/USP Harmonia I CMU0230

Escola de Artes SAMP. Matriz para a Prova de Passagem Formação Musical

Segunda Etapa SEGUNDO DIA 2ª ETAPA TEORIA MUSICAL COMISSÃO DE PROCESSOS SELETIVOS E TREINAMENTOS

Harmonia I. Prof. Dr. Paulo de Tarso Salles CMU0230 ECA/USP 2017

Programa do concurso

A análise harmônica e suas questões recorrentes: o legado de Rameau

INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO ESCOLA SUPERIOR DE ARTES APLICADAS. Concurso Local de Acesso

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA COMISSÃO PERMANENTE DE SELEÇÃO - COPESE CONCURSO VESTIBULAR 2010 E MÓDULO III DO PISM - TRIÊNIO 2007/2009

TEORIA MUSICAL. 01. Os tons vizinhos de Ré Maior são: 02. Classifique os intervalos abaixo:

01. Assinale CORRETAMENTE a alternativa que corresponde às possibilidades de tonalidades apresentadas na sequência a seguir.

Vejamos abaixo, por exemplo, o campo harmônico de C Maior com suas dominantes secundárias: C7M Dm7 Em7 F7M

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA CURSO TÉCNICO EM INSTRUMENTO MUSICAL

MATRIZ DA PROVA ESCRITA DE APTIDÃO MUSICAL CANDIDATOS AO 1º GRAU EM MÚSICA

Acordes geradores de Acordes

MÚSICA. Transcreva o trecho musical I, por completo e sem rasura, para o pentagrama correspondente na folha de respostas. O espaço

O Acorde Napolitano. Uso convencional do Napolitano

Sumário. B Modelos diatônicos e fragmentos melódicos para o canto de intervalos: 2M e 2m 28

Grelhas de conteúdos programáticos

TEORIA. Atividades de teoria e treinamento auditivo para adolescentes. Hannelore Bucher. volume 5 1.ª edição. Vitória ES 2017.

2 a Etapa SÓ ABRA QUANDO AUTORIZADO. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS PERCEPÇÃO MUSICAL. Duração total das Questões de 01 a 08: TRÊS HORAS.

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de São Paulo. Curso null - null. Ênfase. Disciplina LEM1418T1 - Percepção e Rítmica II

Curso Básico de Música

PROCESSO SELETIVO 2008

- MATRIZES DAS DISCIPLINAS -

TESTE ESPECÍFICO - PROVA ESCRITA Processo Seletivo UFAL 2017 Edital N. 09/2017/PROGRAD-UFAL. Curso INSTRUÇÕES GERAIS

1. Abwärts (Abw.) descendente. 2. Aufwärts (Aufw.) ascendente.

LICENCIATURA EM MÚSICA

01. Escute o Exemplo Auditivo 1. Assinale a alternativa que indica corretamente a autoria do trecho da música executada.

Escalas Armadura de Clave (Revisão) Profa. Kadja Emanuelle

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ECA ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE MÚSICA FUVEST VESTIBULAR 2006 PROVA DE APTIDÃO EM MÚSICA

DADOS PARA A ATIVIDADE LÚDICA. QUAL É A MÚSICA?

Processo Seletivo UFAL 2013 Curso

TEORIA E PERCEPÇÃO MUSICAL

TEORIA E PERCEPÇÃO MUSICAL

TEORIA E PERCEPÇÃO MUSICAL

PROVA DE APTIDÃO ESPECÍFICA B

AULA 7 - ACENTO MÉTRICO E SÍNCOPE

Formas de Sonata nos séculos XVIII e XIX. Análise Musical II CMU 0367 Prof. Paulo de Tarso Salles ECA/USP 2015

Nível 1 básico Prof. Andersen Medeiros 1. Tocando de ouvido 10. Melodia + harmonia mão direita 2. Preparações 11.

Nome: (ATENÇÃO: coloque seu nome em todas as páginas deste teste) I. TESTE PERCEPTIVO

FUVEST - VESTIBULAR 2008 PROVA DE APTIDÃO EM MÚSICA

HARMONIA E ANÁLISE II 2013/2º RELATÓRIO DA DISCIPLINA

Introdução 11 Sobre este Livro 11 Para quem é este livro? 11 Como está organizado este livro 12 Para onde ir a partir daqui 13 PARTE I 15 Ritmo 15

Arnold Schoenberg. Projeto composicional

A ANÁLISE MUSICAL. No âmbito da música popular, ao falarmos de análise musical, estamos nos referindo:

Fundamentos de harmonia

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS. Pró-Reitoria de Graduação PROGRAD Escola Técnica de Artes - ETA

TEORIA E PERCEPÇÃO MUSICAL

TEORIA E PERCEPÇÃO MUSICAL

TEORIA E PERCEPÇÃO MUSICAL

TEORIA E PERCEPÇÃO MUSICAL

TEORIA E PERCEPÇÃO MUSICAL

Prova de Habilitação Específica. Música Teste Teórico-Perceptivo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS. Pró-Reitoria de Graduação PROGRAD Escola Técnica de Artes - ETA

Formação Musical Ensino Secundário Prova Escrita e Oral

MATERIAL DE APOIO TEÓRICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Parte Cinco CROMATISMO 2

Você ouvirá quatro trechos musicais, com instrumentação variada, que contêm intervalos melódicos que se repetem.

Capítulo 10 Cadências, Frases e Períodos

trecho musical ì í î ï ð

- TEORIA MUSICAL - Sistema Harmônico Tonal Tradicional - Parte 1

Excursão 1 Formas Simples

1.1. CIFRA DE ACORDES CIFRA DE ACORDES CIFRA DE ACORDES

INTERVALO MUSICAL. Nota.: Os intervalos são contados em semitom, que é o menor intervalo entre duas notas, no sistema musical ocidental.

Para responder à questão 1, ouça atentamente o trecho musical I.

SÉRIE HARMÔNICA. As notas do contraponto são formadas com intervalos de repouso e/ou tensão,

MINISTÉRIO DA DEFESA DECEx - DETMil EXÉRCITO BRASILEIRO ESCOLA DE SARGENTOS DAS ARMAS ESCOLA SARGENTO MAX WOLF FILHO

GRADE CURRICULAR CAVALLIERI TECLADO

C-FSG-MU/2014 CÓD. 11

C-FSG-MU/2015 CÓDIGO - 11

FUVEST - VESTIBULAR 2009 PROVA DE APTIDÃO EM MÚSICA

Processo Seletivo

MÚSICA LEIA AS INSTRUÇÕES

NELSON FARIA HARMONIA. Um estudo das possibilidades para guitarra Solo (Chord Melody) Chord Melody

Prof. Juarez Barcellos

Grelhas de conteúdos programáticos

DURAÇÃO DA PROVA: 3 horas. Nome: Carteira Nº:

CADERNO DE PROVA (Manhã)

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular HARMONIA II Ano Lectivo 2014/2015

INSTITUTO GREGORIANO DE LISBOA CURSOS BÁSICO E SECUNDÁRIO DE MÚSICA PIANO OBJECTIVOS GERAIS

INSTITUTO GREGORIANO DE LISBOA VIOLINO CURSO DE MÚSICA TESTES FINAIS E PROVAS GLOBAIS 2016/2017

2º Ciclo ANO/DISC CORAL RÍTMICA HARMONIA POPULAR 1º ANO

ENSINO ARTÍSTICO ESPECIALIZADO PROGRAMA DE INSTRUMENTO DE TECLA UNIÃO EUROPEIA. Fundo Social Europeu REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

APOSTILA: REPERTÓRIO. Volume 02. Repertório em Partitura e Cifra, Exemplos criteriosamente escolhidos.

FORMAÇÃO MUSICAL 9.º Ano/5.º Grau

07 de JUNHO de Conteúdo: NOME: CARTEIRA Nº. 20 questões. Este caderno não será liberado

MÚSICA. Transcreva o trecho musical I, por completo e sem rasura, para o pentagrama correspondente na folha de respostas, no espaço

INSTITUTO GREGORIANO DE LISBOA VIOLINO CURSO DE MÚSICA TESTES FINAIS E PROVAS GLOBAIS 2017/2018

Transcrição:

TAM I - aula 3 UFJF - IAD Prof. Luiz E. Castelões luiz.casteloes@ufjf.edu.br

Plano Geral da Aula: (1) Princípios básicos de Teoria Musical; (2) Aplicação da Teoria do item (1) na análise de pequenos trechos de um prelúdio de S. L. Weiss (1686-1750);

(1) Princípios básicos de Teoria Musical 1.1) Diferença entre História e Teoria da Música; 1.2) Relação entre Teoria e Análise Musicais; 1.3) Princípios gerais de Teoria da Música Tonal;

1.1) Diferença entre História e Teoria da Música A História é, a grosso modo, um relato em torno do que aconteceu (ou do que se sabe sobre o que aconteceu), portanto essencialmente temporal, enquanto que a Teoria almeja ser um relato sobre como se explica o funcionamento de certas coisas (musicais, no nosso caso) retiradas de seu contexto e tempo, o que faz da Teoria algo, em certa medida, atemporal (mesmo que cada teoria seja aplicada para um repertório historicamente específico e sofra das vicissitudes históricas próprias do período em que foi desenvolvida).

1.2) Relação entre Teoria e Análise Musicais A Teoria é análise congelada, enquanto que a Análise é teoria aplicada; Ou seja, a Teoria cria e desenvolve os conceitos que serão usados pela Análise. E a Análise modifica, adapta e adeqüa estes conceitos a exemplos da vida real (i.e., do repertório musical).

1.3) Princípios gerais de Teoria da Música Tonal 1.3.1) Harmonia 1.3.2) Melodia (apostila da aula 5)

1.3.1) Harmonia (aspecto simultâneo [vertical] da Música) 1.3.1.1) formação de acordes na música tonal; 1.3.1.2) relações entre acordes sucessivos (funções harmônicas) na música tonal; 1.3.1.3) relação entre harmonia e forma na música tonal;

1.3.1.1) formação de acordes No contexto da música tonal, os acordes de um tom (Maior ou menor) qualquer são formados a partir de sua respectiva escala (Maior ou menores); mais precisamente, a partir da sobreposição (ou empilhamento) de terças sobre CADA UM dos graus desta escala; cada acorde assim formado recebe um algarismo romano DE ACORDO com o grau da escala sobre o qual ele é construído, maiúsculo para acordes Maiores e minúsculo para acordes menores (para tons maiores: I, ii, iii, IV, V, etc.; para menores (usando as três escalas menores): i, iiº, ii, III, III+, iv, IV, V, v, etc.);

Exemplo (1.3.1.1a): acordes formados a partir da escala de Dó Maior

Exemplo (1.3.1.1b): acordes formados a partir da escala de ré menor harmônico (com exceção do III, advindo da menor natural)

1.3.1.2) relações entre acordes sucessivos (funções harmônicas); No contexto da música tonal, defende-se a idéia de que o que determina a passagem de um acorde para o seguinte são as FUNÇÕES que estes acordes detêm (daí o nome Harmonia Funcional ). Existem três funções básicas que um acorde pode assumir: TÔNICA (geralmente relacionada ao repouso ), SUBDOMINANTE (geralmente relacionada ao distanciamento ) e DOMINANTE (geralmente relacionada à tensão ). A teoria da música tonal, portanto, descreve a música tonal como uma alternância entre estados de repouso e tensão (entremeados por distanciamentos ).

Exemplo (1.3.1.2a): esquema geral das funções harmônicas na música tonal (T = tônica; S = subdominante; D = dominante).

O que determina a função harmônica de um acorde É O GRAU DA ESCALA sobre o qual ele é construído. O sistema de funções harmônicas se baseia na premissa de que a função tônica é via de regra desempenhada pelo acorde I (ou i, para tons menores), a função subdominante pelo acorde IV (ou iv) e a função dominante pelos acordes V e V7. [ex. 1.3.1.2b] Os acordes construídos sobre os demais graus da escala atuam como substitutos de I, IV e V (ou i, iv e V), desempenhando suas respectivas funções de tônica, subdominante e dominante. [ex. 1.3.1.2c]

Exemplo (1.3.1.2b): esquema geral das funções harmônicas na música tonal com acordes I, IV e V correspondentes.

Exemplo (1.3.1.2b): esquema geral das funções harmônicas na música tonal com acordes i, iv e V correspondentes (para tons menores).

Ex. (1.3.1.2c): esquema geral das funções harmônicas na música tonal com acordes I, IV e V e seus substitutos ii, iii, vi e vii.

Ex. (1.3.1.2c): [para tons menores] esquema geral das funções harmônicas na música tonal com acordes i, iv e V e seus substitutos ii, III, VI e vii.

O esquema de funções harmônicas acima descrito (sinteticamente chamado de tonalidade ) é expandido pelo fato de que ele também pode ser aplicado, ao longo de uma obra musical, aos graus da escala sobre os quais o empilhamento de terças para formação de acordes gera tríades Maiores ou menores, ou seja, entre 2 e 6 para tons maiores e 3 e 7 para menores ( modulação a tons vizinhos ), ou seja, quando uma música modula, isto significa que ela transfere todo o esquema de funções harmônicas acima descrito da tônica original ou primária (I ou i) para a tônica de destino ou secundária, a qual passa a ser chamada de I (ou i ). (para tons Maiores: ii, iii, IV, V, ou vi; e para tons menores: III, iv, v, VI, ou VII [III, v e VII advindos da escala menor natural]).

- Qualquer obra musical do período da prática comum (a grosso modo, de Monteverdi a Beethoven tardio) contém tanto o esquema de funções harmônicas descrito acima quanto modulações a tons vizinhos - além de um punhado de exceções e situações harmônicas que a Teoria Musical não consegue explicar de maneira simples, elegante e satisfatória

1.3.1.3) relação entre harmonia e forma na música tonal No contexto da música tonal (no período da prática comum ), a Harmonia determina em larga medida a Forma de uma obra musical. Neste sentido, boa parte das formas binárias de Bach são compostas por uma 1a seção que modula de I para V (ou de i a III) e uma 2a seção que retorna de V para I (ou de III a i); grande parte das sonatas clássicas têm uma esposição onde o 1o tema (ou grupo de temas) é na tônica, e o 2o tema é na dominante, o desenvolvimento modula a tons vizinhos e a reexposição reitera 1o e 2o temas no tom da tônica, etc. É justamente o fato de que a Harmonia determina a Forma na música tonal que faz com que a análise harmônica seja um item fundamental na análise deste tipo de música

(2) Aplicação da Teoria do item (1) na análise de pequenos trechos de um prelúdio de S. L. Weiss (1686-1750) Proposta de prática lúdica individual: esqueçam por um momento a análise da grande forma (do macropro micro-) que vínhamos fazendo e concentrem-se em observar exemplos de casos descritos pela Teoria aprendida hoje (acordes construídos sobre graus da escala, relações entre acordes, funções harmônicas, modulações, diferença entre tons menores e Maiores, etc.) no Prelúdio da Suíte 34 de S. L. Weiss.

- Uma estratégia que facilita enormemente a análise harmônica é a redução harmônica (Schenker), que consiste em reescrever a harmonia do trecho em questão SEM o ritmo e as figurações originais (ex. 2a)

- Exemplo de redução harmônica nos comp. 1-5 do Prelúdio de S. L. Weiss (ex. 2b)

Referências (Teoria e Análise Musicais): Zarlino, Fux, Marpurg, Rameau, Schenker, Riemann, Schoenberg, Hindemith, Koellreutter, Forte, Kerman, Berry, Narmour, Cone, Lewin, etc.