Exclusão segue crescendo na cidade olímpica

Documentos relacionados
Jornada de lutas lança carta pelo direito à manifestação na cidade olímpica

Aconteceu neste domingo (16) a 3a manifestação contra a presidenta Dilma Roussef. Em São Paulo, a manifestação aconteceu na avenida Paulista.

UM LEGADO DE VIOLÊNCIA HOMICÍDIOS PRATICADOS PELA POLÍCIA E REPRESSÃO A PROTESTOS NA OLIMPÍADA RIO 2016

Atualidade em foco. Manifestação contra as reformas trabalhista e da previdência e por Diretas já, 24 de maio 198 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE #60

CUIDANDO DO LEGADO OLÍMPICO PARQUE OLÍMPICO DA BARRA

FOGO CRUZADO REGISTRA MÉDIA DE 18 NOTIFICAÇÕES DIÁRIAS DE VIOLÊNCIA ARMADA NO GRANDE RIO NOS ÚLTIMOS SEIS MESES DE 2016.

Rio 2016: a ameaça do terrorismo

Mais de 200 mil pessoas protestam contra reformas e por Diretas Já! no Ocupa Brasília Seg, 29 de Maio de :35

Rua Lucio de Mendonça, 63 Tijuca

Anais do III Fórum de Pesquisa Científica e Tecnológica de Ponte Nova - ISSN:

Minha cidade virou sede de um megaevento esportivo. O que pode acontecer

Violência Armada: Fogo Cruzado registra média de 18 tiroteios/disparos de armas de fogo por dia no Rio de Janeiro nos últimos dois meses.

O enquadramento noticioso dos Jogos Olímpicos Rio 2016: G1 x Mídia Ninja 1. Laura Sanábio Freesz Rezende 2 Universidade Federal de Juiz de Fora

SOMOS DA MARÉ. TEMOS DIREITOS! EXIGIMOS RESPEITO! SOMOS CIDADÃOS E CIDADÃS. DO RIO DE

Aplicativo Fogo Cruzado: mais de 400 notificações de tiroteios e disparos de armas de fogo no Rio de Janeiro em uma semana.

Se combater batedores de carteira fosse um esporte olímpico, as autoridades brasileiras seriam candidatas à medalha.

Guerra de facções em comunidades com UPP na região central do Rio marcam o mês de outubro

Jogos Olímpicos Vôlei. Jelena Bozovic, Ana Carolina Russo, Fernanda Verde, Carolina Bellato, Noemi da Silva, Rafaela Murbach

Olimpíadas Brasil Rio/2016 JUDÔ

Balanço da efetividade da Propriedade Intelectual para o êxito de grandes eventos desportivos, patrocínio de atletas e uso de sua imagem

Ferramenta desenvolvida pela Anistia Internacional teve mais de 35 mil downloads.

Fotografia entre confronto e arte

A batalha de São Bráz

O que a mídia não falou sobre o caso Marielle? Ter, 20 de Março de :02

Ministro quer compromisso de Estados para nova política de segurança pública

Taxa de homicídios no Brasil aumenta mais de 10% de 2005 a 2015

Violência(s), Direitos Humanos e Periferia(s): Quais relações?

Foto: arquivo CFEMEA

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO QUARTEL DO COMANDO GERAL XVII CORRIDA POLÍCIA MILITAR HOMENS DO MATO REGULAMENTO GERAL

Colega da JF/SBC é vítima de feminicídio: Mara Helena, presente!

EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO 1993 EM DIANTE...

Boletim informativ Centro de Antropologia e Arqueologia Forense

CFESS fortalece estratégias em defesa do Serviço Social do INSS

VIII CORRIDA RÚSTICA DE CAÇADOR - 81 ANOS REGULAMENTO

REGULAMENTO 17ª CORRIDA E CAMINHADA DE CONFRATERNIZAÇÃO PELA RECONSTRUÇÃO DO ESTÁDIO DE ATLETISMO CÉLIO DE BARROS

MEMÓRIAS DE DOR NA PAISAGEM URBANA DE SÃO PAULO. Grupo 39: Cassio Endo, 5o, Eduardo Amaral, 4o, Natali Polizeli, 3o e Rebeca Lopes, 6o.

POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ 5º COMANDO REGIONAL DA POLÍCIA MILITAR BATALHÃO DE POLICIA DE FRONTEIRA SEÇÃO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

As fichas de inscrição estarão disponíveis no site Categorias Principais e caminhada (5 km): a partir de 18 anos.

n 06 - janeiro-abril de 2011 ISSN

Grupo de Trabalho 13 Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e às Trabalhadoras e ao Movimento Sindical Comissão Nacional da Verdade. Nome.

120mi. Prisão de Nuzman cria vácuo de poder inédito no esporte POR REDAÇÃO

Resultados da pesquisa amostral

Alternar entre páginas

liberdade de expressão e senso crítico dos estudantes, além de defender a privatização do ensino público.

AO CONSELHO DE SELEÇÃO DOS RELATORES NACIONAIS

Preso acusado de arrombar Fórum de Justiça é encontrado morto em Delegacia

BOMBA RELÓGIO: VÍDEO-DOCUMENTÁRIO QUE RETRATA A CRISE DO SISTEMA PRISIONAL ATRAVÉS DE RELATOS DE ENCARCERADOS DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA

Ferramenta desenvolvida pela Anistia Internacional já registra mais de 2100 notificações.

POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ SUBCOMANDO GERAL BATALHÃO DE POLICIA DE FRONTEIRA SEÇÃO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

DELEGADOS FAZEM PARALISAÇÃO HISTÓRICA

Defesa promove exercício conjunto de enfrentamento ao terrorismo*

UNIVERSIDADE DE COIMBRA ESTUDOS SÓCIO-ANTROPOLÓGICOS DO JOGO E DO DESPORTO

Falhas que preocupam - Após atentados em paris, problemas na segurança da copa causam apreensão para os jogos

ADPF-RJ. Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal

Meus amigos e minhas amigas,

5 Considerações finais

Preso no Pará um dos maiores assaltantes de carros-fortes do Brasil

Senhoras senadoras, senhores senadores, representantes de entidades e demais convidados, bom dia!

Porto Alegre prepara-se para receber, no período de 16 a 27 de outubro de 2013, o maior acontecimento esportivo dos últimos 50 anos.

Ferramenta desenvolvida pela Anistia Internacional já registra mais de 1600 notificações.

RECORTES DE IMPRENSA JULHO 2014 COM O APOIO:

- Regulamento Geral -

Organizações e movimentos sociais assinam carta sobre as manifestações populares que tomaram conta Seg, 24 de Junho de :21

SEGURANÇA PÚBLICA E REALIDADE NACIONAL.

Lula presta depoimento a Sérgio Moro em Curitiba PR

Redação. Prof. Rafael Costa

REGULAMENTO 22ª CORRIDA E CAMINHADA DE CONFRATERNIZAÇÃO PELA RECONSTRUÇÃO DO ESTÁDIO DE ATLETISMO CÉLIO DE BARROS

936mi. COB inicia projeto Tóquio 2020 com nova campanha

Jogos Olímpicos Rio Luiza, Laura, Bruna, Carolina S., João Batista, Ronnie e Eduardo

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECER AO PROJETO DE LEI Nº 4850, DE 2016, DO SR

XVIII - CORRIDA DE PEDESTRIANISMO CIDADE DO CRATO REGULAMENTO GERAL -

XIX - CORRIDA DE PEDESTRIANISMO CIDADE DO CRATO Regulamento Geral -

O PL 7.376/2010, que cria a Comissão Nacional da Verdade, está prestes a entrar na pauta da Câmara dos Deputados em regime de urgência urgentíssima.

Ginástica Olímpica. Sexto esporte em audiência na mídia, Quarto esporte em audiência entre o público feminino;

Protokoll vom Runden Tisch 2017 Kein Recht weniger! Kampfzone Menschenrechte

Grupo Folha do Estado

A vida e as lutas de Marielle Franco*

COLÉGIO NOSSA SENHORA DE SION LIÇÕES DE PORTUGUÊS E HISTÓRIA - 2 ano Semana de 8 a 12 de agosto de 2016 SURGIMENTO DOS JOGOS

A Situação de Jovens discriminados e a falta de Políticas Públicas

ATO DEMOCRÁTICO DOS PROFISSIONAIS

LISTA DE MORTOS POR POLICIAIS E ENCAPUZADOS (de 1 a 31 de março de 2007)

8 de Março: Ato Público em Porto Alegre, às 17h, no Largo Glênio Peres

XIII Marcha da Consciência Negra - 20 de Novembro de Um milhão de negras e negros nas ruas do Brasil!

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Storyboard. Lucas Napoles RA

PLANO DE REDUÇÃO DE DANOS ÀS VIOLÊNCIAS NA MARÉ

Brasil: Jornada de Luta das mulheres já mobiliza 6 mil trabalhadoras em nove estados

Ao mesmo tempo, de acordo com a pesquisa da Anistia Internacional, a maioria dos brasileiros condena a tortura: 83% concordam que é preciso haver

22 de Setembro: Paralisação Nacional contra as reformas trabalhista e da Previdência

ACIDENTES DE TRABALHO. Acidentes no local de trabalho devido à negligencia e descumprimento das Normas Regulamentadoras

CASA BRASIL A VITRINE DO BRASIL NOS JOGOS OLÍMPICOS E PARALÍMPICOS RIO 2016

As Representações Sociais em Torno das Favelas

MEMÓRIAS MORRO ACIMA: A DITADURA NAS FAVELAS CARIOCAS E AS COMISSÕES DA VERDADE

Prefeitura realiza atividades para prevenção do câncer de mama, útero e boca

ESTATUTO DO DESARMAMENTO!!! Prof. Ana Maria Bernadelli. Em discussão

Retrospectiva 2016 FEVEREIRO MARÇO ABRIL MAIO

Graciela Daleo, ex-militante montonera, detida no campo de detenção clandestino ESMA tendo sido das poucas a sobreviver.

REGULAMENTO 27ª CORRIDA E CAMINHADA DE CONFRATERNIZAÇÃO PELA RECONSTRUÇÃO DO ESTÁDIO DE ATLETISMO CÉLIO DE BARROS

RELATÓRIO DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA

RITA DE C. P. LIMA REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E PRÁTICAS EDUCATIVAS

Lula: Impeachment é conduzido por quadrilha legislativa

Transcrição:

Exclusão segue crescendo na cidade olímpica Nos primeiros dias dos Jogos da Exclusão, temos várias demonstrações de as violações de direitos na garantia de seus negócios Estado tem servido aos negócios e violado direitos. (Foto: Victor Adams Mantelli) Nos primeiros dias dos Jogos da Exclusão temos várias demonstrações de como o Estado, o Comitê Olímpico Internacional (COI), o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e seus patrocinadores seguem ampliando as violações de direitos na garantia de seus negócios. Enquanto vemos os atletas merecidamente disputarem provas para as quais treinaram a vida inteira, seguem as políticas de repressão e segregação na cidade olímpica. Vimos isso no ato que realizamos no dia da abertura das Olimpíadas, no assassinato de

um homem do lado de fora do Maracanã, no uso da Lei Geral das Olimpíadas e também nos tiros da Polícia Militar na Cidade de Deus, enquanto uma moradora de lá, Rafaela Silva, ganhava o ouro olímpico no judô. Na sexta-feira (5), voltamos à Tijuca, na Zona Norte, bairro onde o Maracanã está localizado. Estar naquelas ruas próximas ao local de abertura dos Jogos teve o objetivo de lembrar todos os mortos, removidos de suas casas e atingidos por outras violações de direitos em nome de megaeventos, como as olimpíadas. Inicialmente, o nosso trajeto passaria próximo ao estádio. Pouco antes de sairmos da concentração na Praça Saens Peña, fomos informados pela Polícia Militar de que não poderíamos seguir o percurso já definido e divulgado, tanto para o Estado quanto para a imprensa e no convite à população via redes sociais. Militarização nas ruas cariocas. (Foto: Luiz Baltar)

Apesar da clara violação do direito constitucional à manifestação, decidimos não abandonar a ideia de fazer o ato. Como opção, definimos a caminhada pela Rua Conde de Bonfim, em direção à Praça Afonso Pena, nosso destino final. No meio do trajeto, todavia, o Estado novamente reprimiu nossa manifestação, cercando a todos e todas com cavalaria e agentes do Choque. O argumento, como sempre, foi o de criminalizar aqueles de nós que estavam com o rosto tapado e, naquele momento, queimavam uma bandeira com os arcos olímpicos. Passar por essa tensão nos fez lembrar de toda a violência institucional que sofremos em diversos outros protestos. Após muita negociação, conseguimos seguir, sempre cercados de oficiais fortemente armados. Chegamos à praça por volta das 17h30 e, já após a dispersão dos manifestantes, a Polícia Militar usou gás de pimenta e jogou pelo menos três bombas de efeito moral na direção de pequenos grupos. Havia ali, inclusive, famílias com idosos e crianças que apenas se divertiam na praça. Uma das bombas de efeito moral lançadas na praça. (Foto: Luiz Baltar) Tiros de verdade foram reservados para Ronaldo Fagner Marques de Souza, de 22 anos, morto em outra rua próxima ao Maracanã. Segundo o Ministério da Justiça, a morte envolve três agentes do Estado o delegado federal Felipe Seixas, diretor de Projetos da Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos (Sesg), um agente federal e um policial Militar de Santa Catarina cedido à

Sesg. Inicialmente, meios de comunicação noticiaram que ele teria sido assassinado por um agente da Força Nacional. Nas matérias, o discurso criminalizador teve bastante espaço, lembrando a ficha criminal de Ronaldo e insinuando que ele teria participado de um assalto perto do estádio. Nenhuma linha trouxe a ponderação de que, estivesse ou não cometendo um crime, nada justificaria um assassinato. Mais tiros também nas favelas do Rio de Janeiro, apesar da dita trégua olímpica. A Cidade de Deus, comunidade da atleta que conquistou a primeira medalha de outro do Brasil nessa Olimpíada, se via sitiada novamente em uma ação da Polícia Militar. O mesmo aconteceu em outras favelas e periferias desde o início dos Jogos, mas a naturalização da violência contra negros e pobres já faz parte da nossa sociedade racista e classista. Diante da situação, repudiamos a ideia de que denunciar essas violações quando o mundo se volta para a festa dos Jogos se trata de ser estraga-prazer ou de ter complexo de vira-lata. É preciso sim dar visibilidade e lutar contra as violações ocorridas no contexto e em nome dos Jogos. Olimpíadas não podem ocultar uma realidade de violação de direitos. (Foto: Fábio Caffé)

Reforçamos que a repressão olímpica é fruto de uma política que vem sendo aplicada e aprimorada desde de os Jogos Panamericanos, em 2007, quando movimentos sociais foram criminalizados por usar a imagem do mascote daquele megaevento, o Cauê, com um fuzil na mão. Agora, temos a inconstitucional Lei Geral das Olimpíadas assinada por Dilma Rousseff no último dia de seu governo antes do golpe que, ironicamente, vinha sendo usada para proibir atos contra Michel Temer em locais dos Jogos. É emblemático como, infelizmente, as práticas repressoras atravessam os governos, consolidando-se como uma política estrutural. Protesto nas ruas da Tijuca no dia da abertura dos Jogos. (Foto: Victor Adams Mantelli) Uma recente decisão judicial trouxe alguma esperança democrática, já que proibiu o COI e o Estado de expulsarem das arquibancadas pessoas que se manifestam politicamente. Esperamos que a decisão seja mantida.

Estamos apenas na primeira semana das Olimpíadas e já temos a certeza de que não podemos deixar de estar atentos e nas ruas, denunciando e protestando contra essas violações. Mais do que nunca, fica claro que os Jogos da Exclusão seguem ampliando seu legado trágico para a cidade e para o país. Jornada de Lutas Rio 2016-Os Jogos da Exclusão