Exclusão segue crescendo na cidade olímpica Nos primeiros dias dos Jogos da Exclusão, temos várias demonstrações de as violações de direitos na garantia de seus negócios Estado tem servido aos negócios e violado direitos. (Foto: Victor Adams Mantelli) Nos primeiros dias dos Jogos da Exclusão temos várias demonstrações de como o Estado, o Comitê Olímpico Internacional (COI), o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e seus patrocinadores seguem ampliando as violações de direitos na garantia de seus negócios. Enquanto vemos os atletas merecidamente disputarem provas para as quais treinaram a vida inteira, seguem as políticas de repressão e segregação na cidade olímpica. Vimos isso no ato que realizamos no dia da abertura das Olimpíadas, no assassinato de
um homem do lado de fora do Maracanã, no uso da Lei Geral das Olimpíadas e também nos tiros da Polícia Militar na Cidade de Deus, enquanto uma moradora de lá, Rafaela Silva, ganhava o ouro olímpico no judô. Na sexta-feira (5), voltamos à Tijuca, na Zona Norte, bairro onde o Maracanã está localizado. Estar naquelas ruas próximas ao local de abertura dos Jogos teve o objetivo de lembrar todos os mortos, removidos de suas casas e atingidos por outras violações de direitos em nome de megaeventos, como as olimpíadas. Inicialmente, o nosso trajeto passaria próximo ao estádio. Pouco antes de sairmos da concentração na Praça Saens Peña, fomos informados pela Polícia Militar de que não poderíamos seguir o percurso já definido e divulgado, tanto para o Estado quanto para a imprensa e no convite à população via redes sociais. Militarização nas ruas cariocas. (Foto: Luiz Baltar)
Apesar da clara violação do direito constitucional à manifestação, decidimos não abandonar a ideia de fazer o ato. Como opção, definimos a caminhada pela Rua Conde de Bonfim, em direção à Praça Afonso Pena, nosso destino final. No meio do trajeto, todavia, o Estado novamente reprimiu nossa manifestação, cercando a todos e todas com cavalaria e agentes do Choque. O argumento, como sempre, foi o de criminalizar aqueles de nós que estavam com o rosto tapado e, naquele momento, queimavam uma bandeira com os arcos olímpicos. Passar por essa tensão nos fez lembrar de toda a violência institucional que sofremos em diversos outros protestos. Após muita negociação, conseguimos seguir, sempre cercados de oficiais fortemente armados. Chegamos à praça por volta das 17h30 e, já após a dispersão dos manifestantes, a Polícia Militar usou gás de pimenta e jogou pelo menos três bombas de efeito moral na direção de pequenos grupos. Havia ali, inclusive, famílias com idosos e crianças que apenas se divertiam na praça. Uma das bombas de efeito moral lançadas na praça. (Foto: Luiz Baltar) Tiros de verdade foram reservados para Ronaldo Fagner Marques de Souza, de 22 anos, morto em outra rua próxima ao Maracanã. Segundo o Ministério da Justiça, a morte envolve três agentes do Estado o delegado federal Felipe Seixas, diretor de Projetos da Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos (Sesg), um agente federal e um policial Militar de Santa Catarina cedido à
Sesg. Inicialmente, meios de comunicação noticiaram que ele teria sido assassinado por um agente da Força Nacional. Nas matérias, o discurso criminalizador teve bastante espaço, lembrando a ficha criminal de Ronaldo e insinuando que ele teria participado de um assalto perto do estádio. Nenhuma linha trouxe a ponderação de que, estivesse ou não cometendo um crime, nada justificaria um assassinato. Mais tiros também nas favelas do Rio de Janeiro, apesar da dita trégua olímpica. A Cidade de Deus, comunidade da atleta que conquistou a primeira medalha de outro do Brasil nessa Olimpíada, se via sitiada novamente em uma ação da Polícia Militar. O mesmo aconteceu em outras favelas e periferias desde o início dos Jogos, mas a naturalização da violência contra negros e pobres já faz parte da nossa sociedade racista e classista. Diante da situação, repudiamos a ideia de que denunciar essas violações quando o mundo se volta para a festa dos Jogos se trata de ser estraga-prazer ou de ter complexo de vira-lata. É preciso sim dar visibilidade e lutar contra as violações ocorridas no contexto e em nome dos Jogos. Olimpíadas não podem ocultar uma realidade de violação de direitos. (Foto: Fábio Caffé)
Reforçamos que a repressão olímpica é fruto de uma política que vem sendo aplicada e aprimorada desde de os Jogos Panamericanos, em 2007, quando movimentos sociais foram criminalizados por usar a imagem do mascote daquele megaevento, o Cauê, com um fuzil na mão. Agora, temos a inconstitucional Lei Geral das Olimpíadas assinada por Dilma Rousseff no último dia de seu governo antes do golpe que, ironicamente, vinha sendo usada para proibir atos contra Michel Temer em locais dos Jogos. É emblemático como, infelizmente, as práticas repressoras atravessam os governos, consolidando-se como uma política estrutural. Protesto nas ruas da Tijuca no dia da abertura dos Jogos. (Foto: Victor Adams Mantelli) Uma recente decisão judicial trouxe alguma esperança democrática, já que proibiu o COI e o Estado de expulsarem das arquibancadas pessoas que se manifestam politicamente. Esperamos que a decisão seja mantida.
Estamos apenas na primeira semana das Olimpíadas e já temos a certeza de que não podemos deixar de estar atentos e nas ruas, denunciando e protestando contra essas violações. Mais do que nunca, fica claro que os Jogos da Exclusão seguem ampliando seu legado trágico para a cidade e para o país. Jornada de Lutas Rio 2016-Os Jogos da Exclusão