Potabilização de água de chuva através de filtração lenta e desinfecção ultravioleta para abastecimento descentralizado de comunidades

Documentos relacionados
23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

II INFLUÊNCIA DO TEMPO DE FUNCIONAMENTO DAS LÂMPADAS UV NA EFICIÊNCIA DE REATORES DE DESINFECÇÃO DE ESGOTO SANITÁRIO POR RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA

Escritório Central: Rua Aderbal R. da Silva, s/n Centro CEP: Doutor Pedrinho SC Fone: (47)

I AVALIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA ÁGUA BRUTA DE ABASTECIMENTO DA UFLA

ESTUDO DE TRATABILIDADE DA ÁGUA DO CÓRREGO DOS MAYRINK, MUNICÍPIO DE PONTE NOVA - MG

REVISTA ELETRÔNICA DE EDUCAÇÃO DA FACULDADE ARAGUAIA, 8: ,

II EFICIÊNCIA DA FILTRAÇÃO LENTA EM AREIA E MANTA NÃO TECIDA NO TRATAMENTO DE ÁGUAS DE ABASTECIMENTO PARA PEQUENAS COMUNIDADES

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUAS DE CISTERNAS NA COMUNIDADE RURAL DE SANTA LUZIA, EM PICUÍ-PB

Escritório Central: Rua Leandro Longo, s/n Centro CEP: Rio dos Cedros SC Fone: (47)

Análises físico-químicas e microbiológicas de água

Eixo Temático ET Recursos Hídricos

FILTRAÇÃO. P r o f a. M A R G A R I T A Mª. D U E Ñ A S O R O Z C O m a r g a r i t a. u n i g m a i l. c o m

DIRETORIA DE PRODUÇÃO DEPARTAMENTO DE TRATAMENTO DE ÁGUA SETOR DE QUALIDADE MONITORAMENTO DA ÁGUA TRATADA

Escritório Central: Rua Celso Ramos, 1303 Centro CEP: Benedito Novo SC Fone: (47)

FERRAMENTA COMPUTACIONAL

Desinfecção de esgoto tratado pela técnica de radiação ultravioleta:

RELATÓ RIÓ DE QUALIDADE DA A GUA

UTILIZAÇÃO DA FILTRAÇÃO LENTA PARA TRATAMENTO DE ÁGUA COM VARIAÇÕES DA TURBIDEZ RESUMO

TRATAMENTO DE ÁGUA: SISTEMA FILTRO LENTO ACOPLADO A UM CANAL DE GARAFFAS PET

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE UM FOTORREATOR SIMPLIFICADO DE RADIAÇÃO UV PARA INATIVAÇÃO DE COLIFORMES E OVOS DE HELMINTOS EM ESGOTOS TRATADOS

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DE PARÂMETROS QUALITATIVOS DE ÁGUAS PLUVIAIS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DISPONIBILIZADA NO CANAL DO SERTÃO ALAGOANO

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA A IMPORTÂNCIA DA SUBSTITUIÇÃO DOS LEITOS FILTRANTES

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS UTILIZADAS PARA ABASTECIMENTO HUMANO NO MUNICÍPIO DE PARAÍSO DO TOCANTINS-TO

AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DA CODISPOSIÇÃO DE LODO SÉPTICO EM LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE LIXIVIADO DE ATERROS SANITÁRIOS

INFLUÊNCIA DA VAZÃO NO DESEMPENHO DO PROCESSO DE DESINFECÇÃO EM UNIDADES DE FLUXO CONTÍNUO.

XX Encontro Anual de Iniciação Científica EAIC X Encontro de Pesquisa - EPUEPG

DIRETORIA DE PRODUÇÃO DEPARTAMENTO DE TRATAMENTO DE ÁGUA SETOR DE QUALIDADE MONITORAMENTO DA ÁGUA TRATADA

Tratamento alternativo do corpo hídrico do Ribeirão Vai e Vem no município de Ipameri GO contaminado por efluente doméstico.

II EFEITO DO DECAIMENTO DA INTENSIDADE DE RADIAÇÃO DE LÂMPADAS UV NA DESINFECÇÃO DE ESGOTO TRATADO A NÍVEIS SECUNDÁRIO E TERCIÁRIO

ANALISE DA QUALIDADE DA ÁGUA ATRAVÉS DO USO DE INDICADORES SENTINELAS EM ESCOLAS PÚBLICAS DE ENSINO INFANTIL DE CAMPINA GRANDE - PB

Saneamento Ambiental I. Aula 12 Parâmetros de Qualidade de Água - Potabilização

II DESAGUADORES ESTÁTICOS VERTICAIS PARA REMOÇÃO NÃO MECANIZADA DA ÁGUA LIVRE DE LODOS DE REATORES UASB

II OZONIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS DOMICILIARES APÓS TRATAMENTO ANAERÓBIO - ESTUDO PRELIMINAR

II- 005 REMOÇÃO DE COLIFORMES TOTAIS E FECAIS NA FASE INICIAL DE OPERAÇÃO DE VALAS DE FILTRAÇÃO RECEBENDO EFLUENTE ANAERÓBIO

IV Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental

II PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTES DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO ATRAVÉS DE PROCESSOS FÍSICO-QUÍMICOS OBJETIVANDO REUSO

DIRETORIA DE PRODUÇÃO DEPARTAMENTO DE TRATAMENTO DE ÁGUA SETOR DE QUALIDADE MONITORAMENTO DA ÁGUA TRATADA

TRATAMENTO DE EFLUENTE DOMÉSTICO DE LODOS ATIVADOS POR MEMBRANA DE ULTRAFILTRAÇÃO

Aproveitamento de água de chuva Cristelle Meneghel Nanúbia Barreto Orides Golyjeswski Rafael Bueno

DIRETORIA DE PRODUÇÃO DEPARTAMENTO DE TRATAMENTO DE ÁGUA SETOR DE QUALIDADE MONITORAMENTO DA ÁGUA TRATADA

DIRETORIA DE PRODUÇÃOLOCAL DEPARTAMENTO DE TRATAMENTO DE ÁGUA SETOR DE QUALIDADE MONITORAMENTO DA ÁGUA TRATADA

II-197 DETERMINAÇÃO DAS CARACTERíSTICAS DO ESGOTO BRUTO NA ENTRADA DA ESTAÇÃO ELEVATÓRIA DE ESGOTO DO UNA - REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM/PA.

II EFICIÊNCIA NO TRATAMENTO DE EFLUENTE DE FÁBRICA DE PAPEL POR LAGOAS E RESERVATÓRIO DE ESTABILIZAÇÃO

DIRETORIA DE PRODUÇÃOLOCAL DEPARTAMENTO DE TRATAMENTO DE ÁGUA SETOR DE QUALIDADE MONITORAMENTO DA ÁGUA TRATADA

10 Estações de Tratamento de Água. TH028 - Saneamento Ambiental I 1

II AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE DESAGUAMENTO DE DIFERENTES TIPOS DE LODOS DE ESGOTOS ATRAVÉS DE DRENAGEM NATURAL DA ÁGUA LIVRE

10.2 Parâmetros de qualidade da água

I DIAGRAMA DE COAGULAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE MISTURAS PARA ÁGUA COM TURBIDEZ ELEVADA UTILIZANDO CLORETO DE POLIALUMÍNIO

II-081 PÓS-TRATAMENTO DO EFLUENTE DE LAGOA FACULTATIVA PRIMARIA ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE COAGULANTES METÁLICOS E POLÍMEROS

Saneamento I. João Karlos Locastro contato:

Palavras-chave: Coliforme. Dessedentação animal. Qualidade de água. Sazonalidade

Relatório de Potabilidade

II TECNOLOGIA DE FILTRAÇÃO DIRETA DESCENDENTE APLICADA AO TRATAMENTO DE EFLUENTE DE ETE PARA REÚSO DIRETO

I Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental - I COBESA

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DE POÇO ARTESIANO DE UMA ESCOLA RURAL EM BAGÉ/RS

TECNOLOGIA DE TRATAMENTO DE ÁGUA: ACOPLAMENTO DO SISTEMA DE FILTRO LENTO A UM CANAL DE GARAFFAS PET

VI-035 INFLUÊNCIA DOS RESERVATÓRIOS NOS PARÂMETROS FÍSICO- QUÍMICOS DOS POÇOS DA UFRN

INFLUÊNCIA DE FOSSAS NEGRAS NA CONTAMINAÇÃO DE POÇOS SUBTERRÂNEOS NA COMUNIDADE VILA NOVA, ITAIÇABA-CEARÁ 1

Saneamento Ambiental I. Aula 15 Flotação e Filtração

Capítulo 26- Filtro de piscina

I-139 ESTUDO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE MANANCIAIS SUBTERRÂNEOS UTILIZADOS COMO FONTE DE ABASTECIMENTO DO MUNICÍPIO DE CRATO - CEARÁ

RELATÓRIO DE ANÁLISE N / A Revisão 0

/7/14 20:50 hs SAIDA DO TRATAMENTO - AV. ROLÂNDIA - D-01 Q-O

Helio Remião Gonçalves Diego Altieri Luiz Olinto Monteggia Larissa Pingnet Santos Diego Oliveira

I-028 UTILIZAÇÃO DE FILTRO ESPONJA PARA ENSAIOS DE BANCADA

Relatório de Potabilidade

Flúor Cloro Turbidez Cor. VMP = 1,5 mg/l 0,2 até 5,0 mg/l VMP = 5,0 ut VMP = 15 uh 6,0 a 9,5 Sorensen. Nº Amostras Realizadas. Nº Amostras Exigidas

I-140 REMOÇÃO DE COR EM FILTRO LENTO E COLUNA DE POLIMENTO DE CARVÃO ATIVADO GRANULAR

II AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO CLORADOR POR DIFUSÃO NA INATIVAÇÃO DE E. COLI EM ÁGUA SINTÉTICA DE TURBIDEZ BAIXA E COR MODERADA

Poluição Ambiental Indicadores Microbiológicos de Poluição Hídrica. Prof. Dr. Antonio Donizetti G. de Souza UNIFAL-MG Campus Poços de Caldas

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DE CHICANAS NO DESEMPENHO DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE ESGOTOS DOMÉSTICOS.

ASPECTOS CONSTRUTIVOS E OPERACIONAIS DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTOS DA CIDADE DE ARARAQUARA

II-051 INFLUÊNCIA DA VARIAÇÃO CÍCLICA DE CARGA HIDRÁULICA NO COMPORTAMENTO DO REATOR UASB

Rua Iguatemi, 511 Samae / Distribuição /06/ :00 hs

LAUDO N.º 103 ANO:2013

10.2 Parâmetros de qualidade da água

TRATAMENTO DE ÁGUA DE ABASTECIMENTO UTILIZANDO FILTRO DE AREIA GROSSA COM ESCOAMENTO ASCENDENTE COMO PRÉ-TRATAMENTO À FILTRAÇÃO RÁPIDA DESCENDENTE

FIME. Basicamente, uma instalação FiME é composta por alguma combinação entre a: a pré-filtração dinâmica, Pré filtração grosseira. a filtração lenta.

AVALIAÇÃO DE SISTEMA DE TRATAMENTO DE ÁGUAS DE CHUVA COLETADAS EM TELHADO DE CIMENTO AMIANTO, UTILIZANDO FILTRAÇÃO E DESINFECÇÃO POR UV E CLORO

ANÁLISE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DO ATERRO SANITÁRIO DO MUNICÍPIO DE CUIABÁ, SOBRE A QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS NO SEU ENTORNO

Relatório de Potabilidade 2017

USO DE FILTROS DE AREIA NA REMOÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA DE RESÍDUOS LÍQUIDOS DE LEITO CULTIVADO

ESTUDO PRELIMINAR DA QUALIDADE BACTERIOLÓGICA DA ÁGUA DE CISTERNA DE POLIETILENO EM QUATRO MUNICÍPIOS DO SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

II FILTRAÇÃO TERCIÁRIA COM PRÉ-TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO EM UMA ETE DO TIPO UASB + BIOFILTROS AERADOS SUBMERSOS

I MONITORAMENTO E TRATAMENTO DE ÁGUA DE FONTE ALTERNATIVA COLETIVA ESTUDO DE CASO EM CONDOMÍNIO RESIDENCIAL

INFLUÊNCIA DA ALTURA DA COLUNA DE AREIA NO PROCESSO DE FILTRAÇÃO DIRETA

ESTUDO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE ABASTECIMENTO EM COMUNIDADES RURAIS DE UM MUNICÍPIO DO CENTRO-OESTE DE MINAS GERAIS

ESTUDO PRELIMINAR DE COLIFORMES TERMOTOLERANTES NA ÁGUA DOS ARROIOS PEREZ E BAGÉ. 1. INTRODUÇÃO

I AVALIAÇÃO DO DESAGUAMENTO DE LODO DE ETA EM LEITO DE SECAGEM

Rafael K. X. Bastos. III Congresso da Sociedade de Análise de Risco Latino Americana (SRA-LA)

Rua Nereu Ramos, 580, Centro, São Lourenço do Oeste CEP FONE (0xx)

APROVEITAMENTO SUSTENTÁVEL DE ÁGUAS PLUVIAIS NO PROCESSO INDUSTRIAL DA SCHULZ SA

II-149 CARACTERIZAÇÃO E CLARIFICAÇÃO DA ÁGUA DE LAVAGEM DO FILTRO DE UMA ETA QUE UTILIZA COMO COAGULANTE O SULFATO DE ALUMÍNIO

Monitoramento da qualidade das águas de fontes alternativas de abastecimento do Bairro dos Ingleses- Florianópolis/SC (1)

SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM SÃO FRANCISCO DO SUL

II AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE UM FILTRO ANAERÓBIO COM RECHEIO DE BAMBU, EM ESCALA REAL, UTILIZADO COMO PÓS- TRATAMENTO DE REATOR UASB

Transcrição:

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/303984819 Potabilização de água de chuva através de filtração lenta e desinfecção ultravioleta para abastecimento descentralizado de comunidades Conference Paper January 2012 CITATIONS 0 READS 4 1 author: Ricardo Franci Gonçalves Universidade Federal do Espírito Santo 57 PUBLICATIONS 285 CITATIONS SEE PROFILE Available from: Ricardo Franci Gonçalves Retrieved on: 25 August 2016

Potabilização de água de chuva através de filtração lenta e desinfecção ultravioleta para abastecimento descentralizado de comunidades Ricardo Franci Gonçalves (1) Engenheiro Civil e Sanitarista - UERJ (1984), pós-graduado em Enga de Saúde Pública - ENSP/RJ (1985), DEA Ciências do Meio Ambiente - Universidade Paris XII, ENGREF, ENPC, Paris (1990), Doutor em Engenharia do Tratamento e Depuração de Águas - INSA de Toulouse, França (1993), Prof. Associado IV do Depto. Enga. Ambiental e do Programa de Pós Graduação em Engenharia Ambiental UFES. Fernanda Pereira Bastos (2) Farmacêutica e Bioquímica pela Faculdade Brasileira - UNIVIX (2004), Especialista em Farmacologia: atualizações e novas perspectivas UFLA (2005). Aluna de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Engenharia Ambiental da UFES. (1) Endereço: Departamento de Engenharia Ambiental Universidade Federal do Espírito Santo Av. Fernando Ferrari, n 514 Vitória ES CEP: 29060-970 Brasil Tel: +55-(027) 3335-2857 - e-mail: franci@npd.ufes.br RESUMO Este trabalho descreve o desenvolvimento de um sistema de potabilização de água de chuva para abastecimento descentralizado de comunidades isoladas. A estratégia adotada foi selecionar processos específicos de potabilização caracterizados pela simplicidade construtiva e pela reduzida demanda de operação e manutenção. A adequação da demanda de energia à produção foi um dos objetivos do estudo, buscando otimizar a configuração do sistema de suprimento energético. Para a realização da pesquisa, construiu-se uma estação de tratamento de água em escala piloto, composta por uma etapa de filtração lenta vertical e seguida de uma etapa de desinfecção ultravioleta. Os filtros foram testados sob vazões que variaram de 0,28 a 0,56m 3 /d e sob taxas de filtração de 4 a 8 m 3 /m 2.d, enquanto que as doses de radiação UV variaram de 11 a 148 mw.s/cm 2 no reator ultravioleta. Os resultados demonstram que o sistema foi capaz de produzir água potável, de acordo com os padrões estabelecidos pela portaria nº 2914/11, do Ministério da Saúde, congregando características importantes para sistemas descentralizados de saneamento: baixo custo de implantação, simplicidade operacional e reduzida demanda de manutenção. PALAVRAS-CHAVE: Água de Chuva, Comunidade Indígena, Filtração Lenta, Desinfecção Ultravioleta. INTRODUÇÃO Os indicadores de cobertura dos sistemas de saneamento básico nas áreas rurais brasileiras denotam dois aspectos fundamentais da política nacional de saneamento: a falência das estratégias de gestão do problema até hoje utilizadas e a ausência de soluções tecnológicas comprovadamente funcionais para estas regiões. Tome-se como exemplo a população indígena brasileira, hoje estimada em mais de 400.000 pessoas, pertencentes à cerca de 215 povos, falantes de 180 línguas identificadas. A ausência de soluções de saneamento para os Povos Indígenas repercute na precariedade geral das condições de saúde, com taxas de morbimortalidade muito superiores às da população brasileira em geral. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 70% da mortalidade infantil no Brasil está relacionada às doenças causadas por água contaminada. Assim, para as pequenas comunidades, onde não há um controle efetivo na captação e abastecimento, o desenvolvimento de soluções tecnológicas de baixo custo e com reduzida demanda qualificada de operação e manutenção é estratégico para o país. O objetivo principal da pesquisa é o desenvolvimento de um sistema composto por filtração lenta e desinfecção UV capaz de assegurar o suprimento de água potável em quantidade e qualidade para as comunidades, reduzindo a descontinuidade da produção devido a problemas de manutenção e de logística. Os aspectos culturais assumem especial importância na definição do referido sistema de potabilização, tendo em vista que muitas comunidades indígenas recusam consumir água potável clorada em função do gosto característico. A estratégia adotada foi selecionar processos específicos de potabilização caracterizados pela simplicidade construtiva e pela reduzida demanda de operação e manutenção. Outro aspecto em estudo é a aplicação do sistema na potabilização de água de chuva, tendo em vista os elevados índices de precipitação pluviométrica na região amazônica, onde se encontram a maioria das tribos indígenas do país. A remoção de cor e turbidez da água bruta será realizada por filtração lenta descendente em leito arenoso, que, dependendo da qualidade desta água, exerce demanda muito reduzida na operação e na manutenção. Este processo também atua na inativação de microrganismos patogênicos, através de mecanismos físico-químicos e biológicos. A desinfecção será 1

complementada por radiação ultravioleta, em um reator UV com lâmpadas emersas de baixa pressão, cuja manutenção consiste apenas na troca das lâmpadas a cada 6 meses. Para energização dos conjuntos motor-bomba de captação de água e do reator UV, propõe-se a utilização de painéis fotovoltaicos para aproveitamento da energia solar. A adequação da demanda de energia à produção é um dos objetivos do estudo, buscando otimizar a configuração do sistema de suprimento energético. MATERIAL E MÉTODOS Esta pesquisa foi desenvolvida no Núcleo Água da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) onde foi construída uma estação de tratamento de água em escala piloto, composta por filtração lenta vertical e posterior desinfecção ultravioleta. A energia necessária para o sistema seria fornecida por painéis solares, porém devido a problemas com fornecimento do produto, essa parte da pesquisa ainda não foi concluida. A água bruta consiste em água de chuva captada a partir dos telhados das edificações existentes. O Aparato experimental foi composto basicamente de quatro caixas d água, sendo três de 2000L e uma de 1000L, uma bomba peristáltica, dois filtros lentos, duas lâmpadas germicidas UV para desinfecção, dois painéis solares e duas baterias compatíveis com as necessidades de geração de energia para o processo. As figuras de 1 a 12 ilustram o piloto experimental. Figura 1 Telhado de coleta da água de chuva Figura 2 Calha Figura 3 Condutores da água da chuva Figura 4 Tela em Nylon Figura 5 Reservatório de armazenamento da água da chuva (pré - tratamento) Figura 6 Bombas dosadoras Figura 7 Filtro Lento de areia Figura 8 Reservatório de água filtrada Figura 9 Reator UV 2

Figura 10 Painéis solares Figura 11 Baterias Figura 12 Vista geral do sistema Os filtros lentos foram construídos a partir de um tubo de PVC de 300 mm de diâmetro, preenchido por uma camada suporte de 0,1m de altura com pedregulhos de granulometria entre 1,7mm e 3,17mm e pelo leito filtrante de 0,9m de altura, composto de areia de granulometria entre 0,2mm e 1,2mm (figura 13). Os filtros foram projetados para uma vazão de 0,28, 0,42 e 0,56m 3 /d e taxa de filtração de 4, 6 e 8 m 3 /m 2.d. Os ensaios de desinfecção ultravioleta foram realizados com dois reatores UV com lâmpada emersa instalados no Piloto de tratamento de água de chuva, logo após a saída dos filtros lentos de areia. Trata-se de um reator com escoamento livre, construído a partir de tubo de PVC de 100 mm de diâmetro e 450 mm de comprimento (figura 14). Cada reator é composto de uma lâmpada germicida UV de baixa pressão, com potência de 8W, posicionada paralelamente ao sentido do fluxo do líquido. Figura 13: Desenho esquemático do Filtro Lento Figura 14: Desenho esquemático do reator UV Foi realizado um monitoramento após a construção do sistema de tratamento para avaliação da água da chuva antes e após o tratamento com filtração lenta e desinfecção uv. Foram realizadas as seguintes análises físicoquímicas e microbiológicas semanalmente: cor, sólidos totais, suspensos e dissolvidos, acidez, alcalinidade, dureza, cloretos, coliformes termotolerantes, coliformes totais e Escherichia coli. As análises foram realizadas de acordo com as metodologias estabelecidas pelo Standard Methods for Examination of Water & Wastewater (1995). Foi feito também um monitoramento diário da temperatura, ph, turbidez, vazões de entrada e saída dos filtros lentos e da Perda de Carga Hidráulica. Foram feitas análises microbiológicas de Escherichia coli, coliformes totais e termotolerantes para verificação da eficiência da desinfecção uv. RESULTADOS Características da água de chuva - Pode ser observada nas tabelas 5.3 e 5.4 que a água de chuva que alimentava os filtros lentos era uma água de boa qualidade, tendo uma média dos parâmetros de acordo com o estabelecido pelos padrões de qualidade de água. Porém, quanto ao aspecto bacteriológico, as amostras coletadas apresentaram valores acima do máximo permitido pela Portaria nº 518 de 25 de março de 2004. Segundo Tordo (2004), 3

resultados semelhantes foram encontrados por Gould (2003), Ghanayem (2001), Yaziz et al. (1989), Pelczar et al., 1980, Zhu et al. (2004), Simmons et al. (2001) e Uba e Aghogho (2000). Eles demonstraram que a quantidade de organismos patogênicos encontrados na água de chuva é alta, não sendo recomendada para consumo humano sem prévio tratamento por desinfecção. Valores elevados dos resultados das análises de coliformes totais e baixos valores de Escherichia coli, sugerem que a água de chuva contém coliformes ambientais como Enterobacter, Citrobacter ou Klebsiella, que segundo VANDERZANT et al. (1996), podem resistir por longos períodos no meio ambiente e se multiplicarem em ambientes não fecais. Tabela 5.3: Estatística descritiva das características da água de chuva para alimentação dos filtros lentos. Temperatura ( C) ph Turbidez (NTU) Cor (uc) ST (mg/l) SS (mg/l) SD (mg/l) Acidez (mg/l) Dureza (mg/l) Cloretos (mg/l) Alcalinidade (mg/l) Coliformes Termotolerantes (NMP/100ml) Coliformes totais (NMP/100ml) E. coli (NMP/100ml) Mín Média Percentil Percentil 25 Mediana 75 Máx Desvio padrão Coeficiente variação (%) 19.8 26.9 25.6 27 28.2 35.9 2.3 8.5 5.9 6.8 6.6 6.8 6.9 7.5.30 4.5.00.83.05.33.70 14.8 2.1 255.5.00 7.9.00 2.9 8.6 108.3 16.9 215.9.00.3.04.07.17 2.7.53 192.4.00.18.01.02.05 3.8.74 406.4.00.06.01.04.07.80.09 170.4 2.5 5.9 4.4 5.3 7.1 12.6 1.9 33.3.00 9.1.00 6.4 14.2 31.9 9.5 103.8.00 2.8 1.03 1.99 3.5 17.5 2.9 105.9 5.4 12.6 9.9 12.6 14.3 21 3.6 28.8.00 551.4.00 980.4 3043.8 46110 8664.6 213.4.00 135.3.00.00 1.25 3873 581.8 429.9 Através dos valores médios obtidos pode-se classificar a água de chuva pesquisada como classe 1, de acordo com o CONAMA 357/05, e por meio dos resultados das análises de coliformes totais, a água de chuva pode ser classificada como Tipo B de acordo com a NBR 12.216/92. De acordo com a Resolução CONAMA 357/05, a água de classe 1 deverá receber um tratamento simplificado para ser destinada ao abastecimento para consumo humano e conforme a NBR 12.216/92, água do tipo B, para atender ao padrão de potabilidade, pode receber um tratamento que não exija coagulação química. Porém, segundo Di Bernardo (2005), as tecnologias de tratamento sugeridas na literatura são frequentemente uma simplificação da realidade, que visa apenas servir de orientação. Para definir o melhor tratamento é necessária a realização de ensaios em laboratório ou em escala piloto. Tabela 5.4: Comparação entre as classes d`água estabelecidas pelo CONAMA 357/05, os tipos d`água estabelecidos pela ABNT na NBR 12.216/92 e a média da água de chuva analisada nesta pesquisa. Água CONAMA 357/05 NBR 12216 (ABNT, 1992) Chuva Parâmetros Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Tipo A Tipo B Tipo C Tipo D Média Turbidez (UNT) 40 100 100 - - - - - 0,83 Cor (uh) - 75 75 - - - - - 7,86 ph 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0 5 a 9 5 a 9 5 a 9 3,8 a 10,3 6,76 SD (mg/l) 500 500 500 - - - - - 0,06 Cloretos (mg/l) 250 250 250 - <50 50 a 250 250 a 600 >600 2,76 C. Termo (NMP/100ml) 200 1.000 4.000 - - - - - 12,64 C. Totais 100 a 5000 a (NMP/100ml) - - - - 50 a 100 5000 20000 >20000 551,43 Observação: C. Termo = Coliformes Termotolerantes; C. Totais = Coliformes Totais 4

Desempenho dos sistemas de tratamento As séries históricas da turbidez na entrada e na saída dos dois filtros lentos estudados atestam a estabilidade e a eficiência deste tipo processo na remoção de trubidez da água de chuva (Figura XX e tabela YY). A redução da taxa indica uma sensível melhora nos níveis de remoção pelos filtros lentos. Este fato pode ser observado na tabela acima da taxa 6 para taxa de 8 m 3 /m 2.dia. Porém, em geral a taxa de filtração de 6 m 3 /m 2.dia teve melhor eficiência que a taxa 4 m 2 /m 3.dia, que apresentou variações significativas em relação ao desempenho dos filtros. Esse fenômeno pode ter ocorrido pelo fato da pesquisa estar no início e os filtros ainda não se encontravam totalmente estabilizados. Entrada 4,0 Saída Turbidez (NTU) 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 Taxa 4 m 3 /m 2.dia Taxa 6 m 3 /m 2.dia Taxa 8 m 3 /m 2.dia 0,5 0,0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 Dias de monitoramento Turbidez (NTU) 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Taxa 4 m 3 /m 2.dia Taxa 6 m 3 /m 2.dia Entrada Saída Taxa 8 m 3 /m 2.dia 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 Dias de monitoramento Figura 5.15: Monitoramento da turbidez durante as três taxas de filtração analisadas. Tabela 01: Eficiência média de remoção nos filtros lentos 1 e 2 nas respectivas taxas analisadas. Eficiência de Remoção (%) Parâmetros Analisados Taxa 4m 3 /m 2.dia Taxa 6m 3 /m 2.dia Taxa 8m 3 /m 2.dia FL1 FL2 FL1 FL2 FL1 FL2 Turbidez (NTU) 95,5 77,9 100,0 99,3 89,5 94,0 Cor (uc) 1,7 40,0 90,5 86,1 82,9 85,5 ST (mg/l) 86,2 0,0 66,7 75,4 74,1 68,6 SS (mg/l) 85,9 53,5 83,0 89,3 79,7 67,0 SD (mg/l) 7,3 0,0 62,5 73,7 45,0 41,8 Acidez (mg/l) 0,0 4,8 17,2 12,9 19,1 12,0 Dureza (mg/l) 0,0 0,0 70,0 42,1 21,0 29,4 Cloretos (mg/l) 18,6 11,2 49,6 42,2 52,8 42,4 Alcalinidade (mg/l) 8,3 1,1 9,8 7,6 13,0 14,8 Colif. Termot. (NMP/100ml) 84,3 0,0 100,0 100,0 87,8 87,6 Coliformes totais (NMP/100ml) 64,5 87,3 68,8 81,6 65,2 70,6 E. coli (NMP/100ml) 100,0 * 100,0 100,0 78,3 76,3 * Não foi detectado este microorganismo em nenhuma coleta neste filtro. O processo de filtração lenta tem sido indicado pela literatura especializada como alternativa de largo potencial de aplicabilidade, especialmente em pequenas comunidades. São atribuídas a esta técnica características como 5

facilidade operacional, baixos custos de implantação e operação, e grande eficiência na remoção de sólidos (figuras 15 e 16), turbidez (figuras 17 e18), cor (figuras 19 e 20). Valores Médios (mg/l) 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 0,10 0,00 FL 2 Entrada ST Saída ST Entrada SS Saída SS Entrada SD Saída SD 0,12 0,13 0,022 0,010 0,035 0,046 0,092 0,017 0,023 0,012 0,039 0,018 0,409 0,063 0,518 0,251 0,089 0,044 4m3/m2.d 6m3/m2.d 8m3/m2.d Figura 15: Sólidos totais (ST), suspensos (SS) e dissolvidos (SD) da entrada e saída do Filtro lento1 Figura 16: Sólidos totais (ST), suspensos (SS) e dissolvidos (SD) da entrada e saída do filtro lento 2. Figura 17 Resultado de turbidez da entrada e da saída do filtro lento 1 sob as diferentes taxas de filtração. Figura 18 Turbidez da entrada e da saída do filtro lento 2 sob as diferentes taxas de filtração. Os resultados médios de turbidez foram satisfatórios em ambas as taxas de filtração, tendo uma eficiência de remoção de 80%, em média. Para este parâmetro, as entradas se mantiveram abaixo de 2 NTU e as saídas abaixo de 1 NTU, resultados que estiveram de acordo com o limite estabelecido pela Portaria 2914/11 do Ministério da Saúde que é de 1 NTU para filtração lenta. Figura 19 Resultado de cor da entrada e da saída do filtro lento 1 sob as diferentes taxas de filtração. Figura 20 Cor da entrada e da saída do filtro lento 2 sob as diferentes taxas de filtração A cor apresentou uma redução de 80% em média para as taxas de 6 e 8 m 3 /m 2.dia, pois na primeira taxa de filtração houve uma menor eficiência de remoção devido ao fato da pesquisa estar no início e o filtro não estava 6

totalmente amadurecido. Ainda assim todos os valores médios de saída dos filtros lentos estiveram abaixo do limite estabelecido pelo padrão de potabilidade do Ministério da Saúde (Portaria 2914/11). Em consonância com os resultados obtidos por ANNECCHINI (2005) na região metropolitana de Vitória, foram encontrados coliformes termotolerantes, totais e, em menor quantidade, Escherichia coli na água da chuva que alimentava os filtros lentos. Esta água era coletada do telhado e a presença dos microorganismos se deve provavelmente a presença de fezes de animais como pássaros e macacos no campus universitário da UFES. Observa-se uma significativa redução desses parâmetros microbiológicos após a passagem pela filtração lenta, chegando a 100% em algumas amostras (Tabela 02 e 03). Tabela 02: Estatística descritiva dos parâmetros microbiológicos avaliados no filtro lento 1. Filtro Lento 1 Taxa 4m 3 /m 2.dia Taxa 6m 3 /m 2.dia Taxa 8m 3 /m 2.dia n Média Máx Mín DV n Média Máx Mín DV n Média Máx Mín DV Entrada Colif. Termotol. 14 17,8 130 0 34,4 10 2,8 20 0 6,2 16 2017 28000 0 6970 Colif. Totais 5 373,6 727 26 272 10 629 2420 39 705 16 7601 46110 437 13204 Escherichia coli 5 0 1 0 0,4 10 0,3 2 0 0,7 16 193,6 41 0 14,5 Saída Colif. Termotol. 14 2,8 20 0 6,1 10 0 0 0 0 16 109 1700 0 511,3 Colif. Totais 5 132,8 510 10,8 213 10 189 687 2 288 16 3162 35550 63 10535 Escherichia coli 5 0 0 0 0 10 0 0 0 0 16 8,1 86 0 25,8 * Resultados em NMP/100ml Tabela 03: Estatística descritiva dos parâmetros microbiológicos avaliados no filtro lento 2. Filtro Lento 2 Taxa 4m 3 /m 2.dia Taxa 6m 3 /m 2.dia Taxa 8m 3 /m 2.dia n Média Máx Mín DV n Média Máx Mín DV n Média Máx Mín DV Entrada Colif. Termotol. 9 5,2 30 0 10,2 10 3,2 30 0 9,4 16 545,2 5000 0 1325 Colif. Totais 5 670 1900 16 807 10 849,5 2420 16,1 891,9 16 6940 43500 520 10960 Escherichia coli 5 0 0 0 0,0 10 0,6 5,2 0 1,64 16 330,1 3873 0 986,5 Saída Colif. Termotol. 9 7,4 40 0 14,3 10 0 0 0 0 16 21,13 280 0 69,38 Colif. Totais 5 61 170 11 71 10 96,6 461,1 7,3 141,1 16 2176 15530 38,4 3768 Escherichia coli 5 0 0 0 0 10 0,1 1 0 0,3 16 6,2 63 0 16,1 * Resultados em NMP/100ml Em pesquisa realizada por Valle et al (2005), após realizar o tratamento da água da chuva utilizando um filtro de areia, a chuva na saída do filtro apresentou resultados de coliformes totais da ordem de 100NMP/100ml e apresentou resultado negativo para este microorganismo após realizada a etapa final do tratamento, composta pela desinfecção em um reator ultravioleta. No que se refere à desinfecção ultravioleta, a dose de radiação UV aplicada foi estimada pelo produto do tempo de detenção hidráulico e intensidade média da lâmpada de 8W, avaliada através de um radiômetro digita (MOD. UVC 254 - COD. 2056 Marca Lutron /Instrutherm). Pode-se observar na tabela 04 o tempo de detenção, a intensidade medida e a dose de radiação UV aplicada. Tabela 04: Tempo de detenção, Intensidade média e dose aplicada no reator de lâmpada UV. Tempo de Detenção (s) Intensidade Média (mw/cm 2 ) Dose Calculada (mw.s/cm 2 ) UV 1 260 0,57 148 UV 2 195 0,57 111 Os resultados de coliformes totais antes e após passagem pelo reator UV encontram-se nas figuras 21 e 22, onde se observa remoção de aproximadamente 100% destes microorganismos. 7

Colif. Totais (NMP/100ml) 3,50E+03 3,00E+03 2,50E+03 2,00E+03 1,50E+03 1,00E+03 5,00E+02 0,00E+00 5,17E+02 6,87E+02 1,55E+02 6,30E+01 UV 1 Entrada Saída 1,10E+02 3,89E+02 5,48E+02 1,42E+03 2,91E+03 1,78E+03 1,85E+03 4,10E+00 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Colif. Totais (NMP/100ml) 8,00E+03 7,00E+03 6,00E+03 5,00E+03 4,00E+03 3,00E+03 2,00E+03 1,00E+03 0,00E+00 5,38E+01 2,42E+03 7,27E+03 2,36E+03 3,45E+02 5,20E+00 UV 2 Entrada Saída 3,28E+03 6,30E+00 4,35E+03 1,62E+03 8,80E+02 4,22E+02 4,10E+00 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Figura 21: Resultado de coliformes totais após passagem pela desinfecção do reator UV1 (Observação: Ponto saída 1: Início do teste (fase de adaptação) e Ponto saída 7: lâmpada UV queimada) Figura 22: Resultado de coliformes totais após passagem pela desinfecção do reator UV2 (Observação: Ponto saída 1: Início do teste (fase de adaptação); Ponto saída 5: lâmpada UV queimada e Ponto saída 8: lâmpada UV queimada) Em ambos os reatores ocorreram alguns resultados insatisfatórios (presença de coliformes totais), devido a queima das lâmpadas, problema detectado somente após a coleta das amostras. De uma maneira geral, os resultados comprovaram a ausência de Escherichia coli na saída do reator UV, atendendo aos padrões estipulados na Portaria 2914/11 do MS. Remoção de E. coli Entrada UV1 Saída UV1 Entrada UV2 Saída UV2 25 NMP/100ml 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Figura 23: Resultado de Escherichia coli antes e após passagem pela desinfecção dos reatores UV1 e UV2. CONCLUSÕES A filtração lenta apresenta uma elevada eficiência na remoção de sólidos coloidais e em suspensão, medidos pelo parâmetro turbidez. Os valores efluentes apresentaram-se consistentemente inferiores a 1,0 UNT e quase totalmente inferiores a 2,0 UNT. Conclui-se pela sua adequação ao consumo humano, considerando a Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde. Os resultados sugerem, em geral, um adequado desempenho da filtração lenta na remoção de bactérias. Foi observada remoção média de coliformes totais de 70% (FL1) e 73% (FL2), e remoção média de coliformes termotolerantes de 93% (FL1) e 84% (FL2) para as diferentes taxas de filtração. A filtração lenta constitui-se em um processo com excelente índice de remoção do grupo Escherichia coli, sendo freqüente a completa remoção, porém é necessária uma posterior desinfecção devido ao fato da remoção de coliformes totais não ser completa. A remoção de microorganismos foi realizada com os ensaios de desinfecção ultravioleta que se mostraram satisfatórios, uma vez que ocorreu um decaimento significativo no número de coliformes termotolerantes, tratando-se de um processo necessário para fins de potabilização de acordo com a Portaria nº 2914/11. O filtro lento pode se configurar em uma alternativa sustentável no tratamento de águas de abastecimento para comunidades de pequeno e médio porte, representando um potencial subutilizado de contribuição para a universalização do suprimento de água e melhoria dos indicadores sanitários e de saúde pública no País. Os padrões de potabilidade da água são definidos no Brasil pelo Ministério da Saúde, na Portaria 2914/11. Segundo essa Portaria, padrões de potabilidade são o conjunto de valores máximos permissíveis, das características das águas destinadas ao consumo humano. Todos os parâmetros após a filtração lenta e desinfecção uv estiveram de acordo com as especificações desta portaria, sendo considerada própria para consumo humano. O sistema estudado, baseado na aplicação de radiação UV, apresentou boa eficiência na inativação de coliformes totais e Escherichia coli, operando com tempos de contato entre 195 e 259,8 segundos e doses entre 111 e 148 mw.s/cm 2. 8

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - ANNECCHINI, K. P. V. - Aproveitamento de Água de Chuva para Fins Não Potáveis na Cidade de Vitória (ES). 150p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2005 - APHA AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for the examination of water and wastewater, 19.ed. Washington: American Public Health Association, 1995. - DI BERNARDO, Luiz; Dantas, Ângela Di Bernardo Métodos e técnicas de tratamento de água segunda edição. São Carlos: RiMa, 2005. - FUNASA - Fundação Nacional de Saúde. Disponível em: < www.funasa.org.br>. Acesso em: 03 jun. 2005. - TOMAZ, P. Aproveitamento de água de chuva. São Paulo: Navegar Editora, 2003. - Portaria MS n 2914/11 / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Vigilância em Saúde Ambiental Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2005. - VALLE, J. A. B. et al. Aproveitamento de água de chuva. In: CONGRESSO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 23., 2005, Campo Grande. Anais... Campo Grande: ABES, 2005. CD-ROM. 9