O L I V R O D O S M É D I U N S

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Transcrição:

O LIVRO DOS MÉDIUNS

Espiritismo Experimental O LIVRO DOS MÉDIUNS OU GUIA DOS MÉDIUNS E DOS EVOCADORES CONTÉM O ENSINO ESPECIAL DOS ESPÍRITOS SOBRE A TEORIA DE TODOS OS GÊNEROS DE MANIFESTAÇÕES, OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO COM O MUNDO INVISÍVEL, O DESENVOLVIMENTO DA MEDIUNIDADE, AS DIFICULDADES E OS ESCOLHOS QUE SE PODEM ENCONTRAR NA PRÁTICA DO ESPIRITISMO, CONSTITUINDO O SEGUIMENTO DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS. por Allan Kardec Tradução de Evandro Noleto Bezerra FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA

S UMÁRIO Introdução....................................... 13 P RIMEIRA P ARTE Noções Preliminares CAPÍTULO I HÁ ESPÍRITOS?.................. 21 CAPÍTULO II O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL... 31 CAPÍTULO III MÉTODO............................. 45 CAPÍTULO IV SISTEMAS.............................. 61 S EGUNDA P ARTE Manifestações Espíritas CAPÍTULO I AÇÃO DOS ESPÍRITOS SOBRE A MATÉRIA. 89 CAPÍTULO II MANIFESTAÇÕES FÍSICAS. MESAS GIRANTES......................... 97

CAPÍTULO III MANIFESTAÇÕES INTELIGENTES...... 103 CAPÍTULO IV TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS. 109 Movimentos e suspensões........................... 110 Ruídos......................................... 118 Aumento e diminuição do peso dos corpos.............. 125 CAPÍTULO V MANIFESTAÇÕES FÍSICAS ESPONTÂNEAS... 127 Ruídos, barulhos e perturbações...................... 128 Arremesso de objetos.............................. 138 Fenômeno de transporte............................ 145 CAPÍTULO VI MANIFESTAÇÕES VISUAIS Perguntas sobre as aparições......................... 159 Ensaio teórico sobre as aparições...................... 171 Espíritos glóbulos................................. 177 Teoria da alucinação............................... 181 CAPÍTULO VII BICORPOREIDADE E TRANSFIGURAÇÃO.. 189 Aparições dos Espíritos de pessoas vivas................ 190 Homens duplos.................................. 195 Santo Afonso de Liguori e Santo Antônio de Pádua....... 195 Vespasiano...................................... 198 Transfiguração................................... 200 Invisibilidade.................................... 203

CAPÍTULO VIII LABORATÓRIO DO MUNDO INVISÍVEL Vestuário dos Espíritos............................. 205 Formação espontânea de objetos tangíveis.............. 208 Modificação das propriedades da matéria............... 210 Ação magnética curadora............................ 216 CAPÍTULO IX LUGARES ASSOMBRADOS............ 219 CAPÍTULO X NATUREZA DAS COMUNICAÇÕES..... 227 Comunicações grosseiras............................ 228 Comunicações frívolas............................. 229 Comunicações sérias.............................. 230 Comunicações instrutivas........................... 231 CAPÍTULO XI SEMATOLOGIA E TIPTOLOGIA Linguagem dos sinais e das pancadas.................. 233 Tiptologia alfabética.............................. 236 CAPÍTULO XII PNEUMATOGRAFIA OU ESCRITA DIRETA. PNEUMATOFONIA Escrita direta..................................... 243 Pneumatofonia................................... 248 CAPÍTULO XIII PSICOGRAFIA Psicografia indireta: cestas e pranchetas................. 251 Psicografia direta ou manual......................... 255

Capítulo XIV MÉDIUNS.............................. 257 Médiuns de efeitos físicos........................... 258 Pessoas elétricas................................... 263 Médiuns sensitivos ou impressionáveis................. 264 Médiuns audientes................................ 265 Médiuns falantes.................................. 266 Médiuns videntes................................. 267 Médiuns sonambúlicos............................. 272 Médiuns curadores................................ 274 Médiuns pneumatógrafos........................... 277 CAPÍTULO XV MÉDIUNS ESCREVENTES OU PSICÓGRAFOS. 279 Médiuns mecânicos............................... 280 Médiuns intuitivos................................ 281 Médiuns semimecânicos............................ 282 Médiuns inspirados ou involuntários.................. 282 Médiuns de pressentimentos......................... 285 CAPÍTULO XVI MÉDIUNS ESPECIAIS Aptidões especiais dos médiuns....................... 287 Quadro sinótico das diferentes espécies de médiuns....... 291 CAPÍTULO XVII FORMAÇÃO DOS MÉDIUNS Desenvolvimento da mediunidade.................... 311 Mudança de caligrafia.............................. 326 Perda e suspensão da mediunidade.................... 327

CAPÍTULO XVIII INCONVENIENTES E PERIGOS DA MEDIUNIDADE Influência do exercício da mediunidade sobre a saúde...... 333 Influência do exercício da mediunidade sobre o cérebro.... 334 Influência do exercício da mediunidade sobre as crianças.. 335 CAPÍTULO XIX O PAPEL DOS MÉDIUNS NAS COMUNICAÇÕES ESPÍRITAS Influência do Espírito pessoal do médium............. 339 Sistema dos médiuns inertes......................... 344 Aptidão de certos médiuns para coisas que não conhecem, como línguas, música, desenho, etc.................... 346 Dissertação de um Espírito sobre o papel dos médiuns..... 347 CAPÍTULO XX INFLUÊNCIA MORAL DO MÉDIUM Perguntas diversas................................. 359 Dissertação de um Espírito sobre a influência moral do médium........................................ 368 CAPÍTULO XXI INFLUÊNCIA DO MEIO................. 373 CAPÍTULO XXII MEDIUNIDADE NOS ANIMAIS......... 377 CAPÍTULO XXIII OBSESSÃO........................... 387 Obsessão simples.................................. 388 Fascinação....................................... 389

Subjugação...................................... 391 Causas da obsessão................................ 396 Meios de combater a obsessão........................ 400 CAPÍTULO XXIV IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS Provas possíveis de identidade........................ 411 Distinção entre os Espíritos bons e os maus............. 418 Perguntas sobre a natureza e a identidade dos Espíritos.... 428 CAPÍTULO XXV EVOCAÇÕES Considerações gerais.............................. 441 Espíritos que se podem evocar....................... 446 Linguagem a ser usada com os Espíritos................ 450 Utilidade das evocações particulares................... 453 Perguntas sobre as evocações......................... 455 Evocação de animais............................... 468 Evocação de pessoas vivas........................... 470 Telegrafia humana................................ 479 CAPÍTULO XXVI PERGUNTAS QUE SE PODEM FAZER AOS ESPÍRITOS Observações preliminares........................... 481 Perguntas simpáticas ou antipáticas aos Espíritos......... 485 Perguntas sobre o futuro............................ 487 Perguntas sobre as existências passadas e futuras.......... 490

Perguntas sobre os interesses morais e materiais........... 492 Perguntas sobre a sorte dos Espíritos................... 497 Perguntas sobre a saúde............................. 499 Perguntas sobre as invenções e descobertas.............. 500 Perguntas sobre os tesouros ocultos.................... 502 Perguntas sobre os outros mundos.................... 504 CAPÍTULO XXVII CONTRADIÇÕES E MISTIFICAÇÕES Contradições.................................... 507 Mistificações..................................... 519 CAPÍTULO XXVIII CHARLATANISMO E EMBUSTE Médiuns interesseiros.............................. 523 Fraudes espíritas.................................. 530 CAPÍTULO XXIX REUNIÕES E SOCIEDADES ESPÍRITAS Reuniões em geral................................. 539 Sociedades propriamente ditas....................... 549 Assuntos de estudo................................ 559 Rivalidade entre as Sociedades....................... 563 CAPÍTULO XXX REGULAMENTO DA SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS.............. 567

CAPÍTULO XXXI DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS............ 581 Sobre o Espiritismo............................... 582 Sobre os Médiuns................................ 590 Sobre as Sociedades Espíritas........................ 596 Comunicações apócrifas............................ 610 CAPÍTULO XXXII VOCABULÁRIO ESPÍRITA............ 621 Nota Explicativa.................................... 625 Índice Geral........................................... 633

I NTRODUÇÃO odos os dias a experiência nos traz a confirmação de que as dificuldades e os desenganos encontrados na prática do Espiritismo resultam da ignorância dos princípios desta ciência, e felizes nos sentimos por haver podido comprovar que o nosso trabalho, feito com o objetivo de prevenir os adeptos contra os perigos do aprendizado, produziu frutos e muitos conseguiram evitar os escolhos, graças à leitura atenta desta obra. Um desejo muito natural entre as pessoas que se ocupam com o Espiritismo é o de poderem entrar em comunicação com os Espíritos. Esta obra se destina a lhes facilitar o caminho, levando-as a tirar proveito dos nossos longos e laboriosos estudos, porquanto formaria idéia muito falsa quem julgasse que, para tornar-se perito nesta matéria, basta saber colocar os dedos sobre uma mesa, a fim de fazê-la girar, ou segurar um lápis, para escrever.

O LIVRO DOS M ÉDIUNS Enganar-se-ia igualmente quem pensasse encontrar nesta obra uma receita universal e infalível para formar médiuns. Embora cada um traga em si o gérmen das qualidades necessárias para se tornar médium, tais qualidades existem em graus muito diferentes e o seu desenvolvimento depende de causas que criatura alguma pode provocar à vontade. As regras da poesia, da pintura e da música não fazem que se tornem poetas, pintores ou músicos os que não possuem o gênio dessas artes; apenas os guiam no emprego de suas faculdades naturais. Dá-se a mesma coisa com o nosso trabalho. Seu objetivo consiste em indicar os meios de desenvolver a faculdade mediúnica, tanto quanto o permitam as disposições de cada um e, sobretudo, dirigir-lhe o emprego de maneira proveitosa, quando não existir a faculdade. Este, porém, não é o único objetivo a que nos propusemos. Ao lado dos médiuns propriamente ditos, aumenta diariamente o número de pessoas que se ocupam com as manifestações espíritas. Guiá-las em suas observações, assinalar- -lhes os obstáculos que certamente encontrarão por se tratar de uma coisa tão nova, iniciá-las na maneira de conversarem com os Espíritos, ensinar-lhes os meios de conseguirem boas comunicações, tal é a esfera que devemos abranger, sob pena de fazermos trabalho incompleto. Ninguém se surpreenda, pois, se nele encontrar instruções que, à primeira vista, pareçam descabidas; a experiência mostrará a sua utilidade. Quem estudar cuidadosamente este livro compreenderá melhor os fatos de que venha a ser testemunha, parecendo-lhe menos estranha a linguagem de alguns Espíritos. Como instrução prática, portanto, ele não se destina exclusivamente aos médiuns, mas a todos os que estejam em condições de observar os fenômenos espíritas. Algumas pessoas gostariam que tivéssemos publicado um manual prático muito sucinto, contendo em poucas palavras 14

I NTRODUÇÃO a indicação dos processos que se devem empregar para entrar em comunicação com os Espíritos. Pensam elas que um livrinho dessa natureza, em razão do seu baixo custo e pela possibilidade de se espalhar profusamente, representaria um poderoso meio de propaganda, pela multiplicação do número de médiuns. A nosso ver, semelhante obra, em vez de ser útil, seria nociva, ao menos por enquanto. A prática do Espiritismo é cercada de muitas dificuldades e nem sempre é isenta de perigos, que só um estudo sério e completo pode prevenir. Seria, pois, de temer que uma indicação muito resumida provocasse experiências feitas com leviandade, das quais os experimentadores viessem a arrepender-se. São coisas inconvenientes e imprudentes, com as quais não se deve brincar, de modo que julgaríamos prestar mau serviço, pondo-as ao alcance do primeiro estouvado que achasse divertido conversar com os mortos. Dirigimo-nos aos que vêem no Espiritismo um objetivo sério, aos que compreendem toda a sua gravidade e não fazem mero passatempo das comunicações com o mundo invisível. Havíamos publicado uma Instrução Prática 1 com o objetivo de guiar os médiuns. Essa obra está hoje esgotada e, embora a tenhamos feito com um fim grave e sério, não a reimprimiremos, porque ainda não a consideramos bastante completa para esclarecer acerca de todas as dificuldades que se possam encontrar. Substituímo-la por esta, na qual reunimos todos os dados que uma longa experiência e conscienciosos estudos nos permitiram colher. Esperamos que ela contribua para imprimir ao Espiritismo o caráter sério que constitui a sua essência e para evitar que haja quem nele veja objeto de frivolidade e de divertimento. 1 N. do T.: Trata-se da obra Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, traduzida e publicada pela FEB. 15

O LIVRO DOS M ÉDIUNS A essas considerações ainda acrescentaremos outra, muito importante: a má impressão que produzem nos novatos as experiências feitas com leviandade e sem conhecimento de causa. Elas apresentam o inconveniente de gerar idéias falsas acerca do mundo dos Espíritos e de se prestarem à zombaria e à crítica, quase sempre fundada. É por isso que os incrédulos raramente saem convertidos dessas reuniões e pouco dispostos a reconhecer que haja alguma coisa de sério no Espiritismo. A ignorância e a leviandade de certos médiuns têm gerado mais prejuízos do que se pensa na opinião de muita gente. Nos últimos anos o Espiritismo tem realizado grandes progressos, imensos progressos, sobretudo os que conseguiu efetivar depois que tomou o rumo filosófico, porque passou a ser apreciado pelas pessoas esclarecidas. Hoje, já não é um espetáculo, mas uma Doutrina de que não mais riem os que zombavam das mesas girantes. Esforçando-nos por levá-lo para esse terreno e aí mantê-lo, estamos certos de que lhe conquistaremos mais adeptos úteis, do que provocando a torto e a direito manifestações que se prestariam a abusos. Temos a prova disso todos os dias pelo número de adeptos conquistados pela simples leitura de O Livro dos Espíritos. Depois de havermos exposto a parte filosófica da ciência espírita em O Livro dos Espíritos, damos nesta obra a parte prática, para uso dos que queiram ocupar-se com as manifestações, seja por iniciativa própria, seja para se inteirarem dos fenômenos a que sejam chamados a observar. Verão aí as dificuldades que podem encontrar e terão também um meio de evitá-las. Estas duas obras, embora uma seja a continuação da outra, são independentes até certo ponto. Diremos, porém, a quem desejar ocupar-se seriamente da matéria, que primeiro leia O Livro dos Espíritos, porque contém princípios 16

I NTRODUÇÃO fundamentais sem os quais talvez seja difícil a compreensão de algumas partes desta obra. Importantes melhorias foram introduzidas na segunda edição, muito mais completa do que a primeira. Foi corrigida com especial cuidado pelos Espíritos, que lhe acrescentaram grande número de notas e instruções do mais alto interesse. Como eles reviram tudo, aprovando-a ou modificando-a à vontade, pode-se dizer que ela é, em grande parte, obra deles, porque a sua intervenção não se limitou a alguns artigos que assinaram. Só indicamos os nomes quando isso nos pareceu necessário, para assinalar que algumas citações um tanto extensas procederam deles textualmente. A não ser assim, teríamos de citá-los quase que em todas as páginas, especialmente em seguida a todas as respostas dadas às perguntas que lhes foram feitas, providência que julgamos inútil. Em tais assuntos, como se sabe, os nomes têm pouca importância. O essencial é que o conjunto do trabalho corresponda aos objetivos a que nos propusemos. O acolhimento dado à primeira edição, embora imperfeita, faz-nos esperar que a presente seja considerada, pelo menos, com a mesma benevolência. Como lhe acrescentamos muitas coisas e muitos capítulos inteiros, suprimimos alguns artigos, que ficariam em duplicata, entre outros o que tratava da Escala espírita, que já se encontra em O Livro dos Espíritos. Suprimimos igualmente do Vocabulário Espírita o que não se ajustava bem ao plano desta obra, substituindo vantajosamente o que foi excluído por coisas mais práticas. Esse vocabulário, além do mais, não estava completo, sendo nossa intenção publicá-lo mais tarde, em separado, sob o formato de um pequeno dicionário de filosofia espírita. Conservamos nesta edição apenas as palavras novas ou especiais, relativas ao assunto com o qual nos ocupamos. 17

P RIMEIRA P ARTE Noções Preliminares Capítulo I Capítulo II Capítulo III Capítulo IV Há Espíritos? O Maravilhoso e o Sobrenatural Método Sistemas

Capítulo I HÁ ESPÍRITOS? 1. A dúvida relativa à existência dos Espíritos tem como causa principal a ignorância acerca da sua verdadeira natureza. Geralmente, são figurados como seres à parte na Criação e cuja necessidade não está demonstrada. Muitas pessoas somente os conhecem através dos contos fantásticos com que foram acalentadas em criança, mais ou menos como as que só conhecem a História pelos romances. Sem indagarem se tais contos, desprovidos dos acessórios ridículos, encerram algum fundo de verdade, essas criaturas só se deixam impressionar pelo lado absurdo que eles revelam. Não se dando ao trabalho de tirar a casca amarga, para achar a amêndoa, rejeitam o todo, como fazem, em relação à Religião, os que, chocados por certos abusos, englobam tudo na mesma reprovação. Seja qual for a idéia que se faça dos Espíritos, a crença neles necessariamente se baseia na existência de um

P RIMEIRA P ARTE CAPÍTULO I princípio inteligente fora da matéria. Essa crença é incompatível com a negação absoluta deste princípio. Tomamos, pois, como ponto de partida, a existência, a sobrevivência e a individualidade da alma, que têm no espiritualismo a sua demonstração teórica e dogmática e, no Espiritismo, a demonstração positiva. Contudo, deixemos de lado, por alguns instantes, as manifestações propriamente ditas e, raciocinando por indução, vejamos a que conseqüências chegaremos. 2. Desde que se admite a existência da alma e sua individualidade após a morte, é preciso que se admita, também: 1 o, que a sua natureza é diferente da do corpo, visto que, separada deste, deixa de ter as propriedades peculiares ao corpo; 2 o, que goza da consciência de si mesma, pois é passível de alegria ou sofrimento, sem o que seria um ser inerte e de nada nos valeria possuí-la. Admitido isto, tem-se que admitir que essa alma vai para alguma parte. Que vem a ser feito dela e para onde vai? Segundo a crença vulgar, a alma vai para o céu, ou para o inferno. Mas, onde ficam o céu e o inferno? Antigamente se dizia que o céu era em cima e o inferno embaixo. Porém, o que são o alto e o baixo no Universo, uma vez que se conhece a redondeza da Terra e o movimento dos astros, movimento que faz com que em dado instante o que está no alto esteja, doze horas depois, embaixo, e o infinito do espaço, através do qual o olhar penetra, indo a distâncias consideráveis? É verdade que por lugares inferiores também se designam as profundezas da Terra. Mas, que vêm a ser essas profundezas, desde que a Geologia as investigou? Que ficaram sendo, igualmente, as esferas concêntricas chamadas céu de fogo, 22

H Á E SPÍRITOS? céu das estrelas, desde que se verificou que a Terra não é o centro dos mundos, que mesmo o nosso Sol não é único, que milhões de sóis brilham no espaço, constituindo cada um o centro de um turbilhão planetário? A que ficou reduzida a importância da Terra, perdida nessa imensidade? Por que injustificável privilégio este imperceptível grão de areia, que não se distingue pelo seu volume, nem pela sua posição, nem por um papel particular, seria o único planeta povoado de seres racionais? A razão se recusa a admitir essa inutilidade do infinito e tudo nos diz que esses mundos são habitados. Ora, se são povoados, também fornecem seus contingentes para o mundo das almas. Mas, ainda uma vez, que terá sido feito dessas almas, depois que a Astronomia e a Geologia destruíram as moradas que lhes estavam destinadas e, sobretudo, depois que a teoria, tão racional, da pluralidade dos mundos, as multiplicou ao infinito? Não podendo a doutrina da localização das almas harmonizar-se com os dados da Ciência, outra doutrina mais lógica lhes deve marcar o domínio, não um lugar determinado e circunscrito, mas o espaço universal: é todo um mundo invisível, no meio do qual vivemos, que nos cerca e nos acotovela incessantemente. Haverá nisso alguma impossibilidade, alguma coisa que repugne à razão? De modo nenhum; tudo, ao contrário, nos diz que não pode ser de outra maneira. Mas, então, em que se transformam as penas e recompensas futuras, se lhes suprimis os lugares especiais onde se efetivam? Notai que a incredulidade, com relação ao local das penas e recompensas, é provocada pelo fato de umas e outras serem apresentadas, em geral, em 23

P RIMEIRA P ARTE CAPÍTULO I condições inadmissíveis. Dizei, em vez disso, que as almas tiram de si mesmas a sua felicidade ou a sua desgraça; que a sorte delas está subordinada ao estado moral de cada uma; que a reunião das almas boas e afins constitui para elas uma fonte de felicidade; que, de acordo com o grau de purificação que tenham alcançado, penetram e entrevêem coisas que almas grosseiras não distinguem, e todo mundo compreenderá sem dificuldade. Dizei também que as almas não atingem o grau supremo senão pelos esforços que façam para se melhorarem e depois de uma série de provas adequadas à sua purificação; que os anjos são almas que alcançaram o último grau da escala, grau que todas podem atingir, desde que tenham boa vontade; que os anjos são os mensageiros de Deus, encarregados de velar pela execução de seus desígnios em todo o Universo, que se sentem felizes com o desempenho dessas missões gloriosas, e tereis dado à felicidade deles um fim mais útil e mais atraente, do que a fazendo consistir numa contemplação perpétua, que não passaria de perpétua inutilidade. Dizei, finalmente, que os demônios são simplesmente as almas dos maus, ainda não purificadas, mas que podem, como as outras, alcançar o mais alto grau da perfeição, e isto parecerá mais conforme à justiça e à bondade de Deus, do que a doutrina que os apresenta como seres criados para o mal e perpetuamente devotados ao mal. Ainda uma vez: tendes aí o que a mais severa razão, a mais rigorosa lógica, o bom senso, em suma, podem admitir. Ora, essas almas que povoam o espaço são justamente aquilo a que chamamos Espíritos. Assim, pois, os Espíritos são apenas as almas dos homens, despojadas do 24

H Á E SPÍRITOS? invólucro corpóreo. Se os Espíritos fossem seres à parte, sua existência seria mais hipotética. Se, porém, se admitir que há almas, há que se admitir também os Espíritos que são simplesmente as almas e nada mais. Se se admitir que as almas estão por toda parte, ter-se-á que admitir igualmente que os Espíritos estão por toda parte. Não se pode, pois, negar a existência dos Espíritos sem negar a das almas. 3. Tudo isto, é verdade, não passa de uma teoria mais racional do que a outra. Porém, já é muito que seja uma teoria que nem a razão, nem a Ciência contradizem. Além disso, ela é corroborada pelos fatos e tem a seu favor a sanção do raciocínio e da experiência. Encontramos esses fatos nos fenômenos das manifestações espíritas, que constituem, assim, a prova patente da existência e da sobrevivência da alma. Entretanto, a crença de muita gente não passa desse ponto; admitem a existência das almas e, conseguintemente, a dos Espíritos, mas negam a possibilidade de nos comunicarmos com eles, pela razão, dizem, de que seres imateriais não podem atuar sobre a matéria. A dúvida tem como causa a ignorância da verdadeira natureza dos Espíritos, dos quais em geral fazem idéia muito falsa, supondo-os erradamente seres abstratos, vagos e indefinidos, o que não é verdade. Figuremos, primeiramente, o Espírito em sua união com o corpo. Ele é o ser principal, pois é o ser que pensa e sobrevive. O corpo não passa de um acessório do Espírito, de um envoltório, de uma veste, que ele deixa quando está usada. Além desse envoltório material, o Espírito tem um segundo, semimaterial, que o liga ao primeiro. 25

P RIMEIRA P ARTE CAPÍTULO I Por ocasião da morte, despoja-se deste, porém não do outro, a que damos o nome de perispírito. Esse envoltório semimaterial, que tem a forma humana, constitui para o Espírito um corpo fluídico, vaporoso, mas que, pelo fato de nos ser invisível no seu estado normal, não deixa de ter algumas das propriedades da matéria. O Espírito não é, pois, um ponto, uma abstração, mas um ser limitado e circunscrito, ao qual só falta ser visível e palpável para se assemelhar aos seres humanos. Por que, então, não haveria de atuar sobre a matéria? Por ser fluídico o seu corpo? Porém, não é entre os fluidos mais rarefeitos, mesmo entre os que se consideram imponderáveis, como a eletricidade, que o homem encontra seus mais possantes motores? A luz imponderável não exerce ação química sobre a matéria ponderável? Não conhecemos a natureza íntima do perispírito. Imaginemo-lo, todavia, formado de matéria elétrica, ou de outra tão sutil quanto esta; por que, quando dirigido por uma vontade, não teria a mesma propriedade daquela matéria? 4. Como a existência da alma e a de Deus, conseqüência uma da outra, constituem a base de todo o edifício, antes de iniciarmos qualquer discussão espírita, precisamos saber se o nosso interlocutor admite essa base. Se a estas questões: Credes em Deus? Credes que tendes uma alma? Credes na sobrevivência da alma após a morte? ele responder negativamente, ou, mesmo se disser simplesmente: Não sei; desejaria que fosse assim, mas não 26

H Á E SPÍRITOS? tenho a certeza disso, o que, quase sempre, equivale a uma negação polida, disfarçada sob uma forma menos categórica, para não chocar bruscamente aquilo a que ele chama preconceitos respeitáveis, seria inútil ir além, tão inútil quanto querer demonstrar as propriedades da luz a um cego que não admitisse a existência da luz. Porque, em síntese, as manifestações espíritas não passam de efeitos das propriedades da alma. Assim, se não quisermos perder tempo com semelhante interlocutor, teremos de seguir uma ordem de idéias muito diversa. Se, porém, a base for admitida, não como simples probabilidade, mas como coisa evidente, incontestável, a existência dos Espíritos decorrerá muito naturalmente dessa base. 5. Resta agora a questão de saber se o Espírito pode comunicar-se com o homem, isto é, se com este pode trocar idéias. Por que não? Que é um homem, senão um Espírito aprisionado num corpo? Por que o Espírito livre não poderia comunicar-se com o Espírito cativo, como o homem livre se comunica com o prisioneiro? Desde que admitis a sobrevivência da alma, será racional não admitirdes a sobrevivência das afeições? Visto que as almas estão por toda parte, não será natural acreditarmos que a de um ente que nos amou durante a vida se acerque de nós, deseje comunicar-se conosco e se sirva para isso dos meios que estejam à sua disposição? Enquanto vivo não atuava sobre a matéria do corpo? Não era ele que lhe dirigia os movimentos? Por que razão não poderia a alma, após a morte, entrar em acordo com outro Espírito ligado a um corpo, utilizar-se desse corpo vivo, para manifestar o seu pensamento, como um mudo pode 27

P RIMEIRA P ARTE CAPÍTULO I servir-se de uma pessoa que fale, para se fazer compreendido? 6. Deixemos de lado, por alguns instantes, os fatos que, a nosso ver, tornam incontestável a sua realidade; admitamos a comunicação apenas como hipótese. Pedimos aos incrédulos que nos provem, não por simples negativas, visto que suas opiniões pessoais não podem constituir lei, mas por meio de razões categóricas, que tal coisa não é possível. Colocando-nos sobre o terreno em que eles se colocam, uma vez que desejam apreciar os fatos espíritas com o auxílio das leis da matéria, que tirem desse arsenal qualquer demonstração matemática, física, química, mecânica, fisiológica, e provem, por a mais b, partindo sempre do princípio da existência e da sobrevivência da alma: 1 o que o ser pensante, que existe em nós durante a vida, não deve mais pensar depois da morte; 2 o que, se continua a pensar, não deve mais pensar nos que amou; 3 o que, se pensa nos que amou, não deve mais querer comunicar-se com eles; 4 o que, se pode estar em toda parte, não pode estar ao nosso lado; 5 o que, se está ao nosso lado, não pode comunicar-se conosco; 6 o que não pode, por meio de seu envoltório fluídico, atuar sobre a matéria inerte; 28

H Á E SPÍRITOS? 7 o que, se pode atuar sobre a matéria inerte, não pode atuar sobre um ser animado; 8 o que, se pode atuar sobre um ser animado, não pode dirigir sua mão para fazê-lo escrever; 9 o que, podendo fazê-lo escrever, não lhe pode responder às perguntas, nem lhe transmitir seus pensamentos. Quando os adversários do Espiritismo nos demonstrarem que isto é impossível, por meio de razões tão evidentes quanto as de que se serviu Galileu para provar que não era o Sol que gira em torno da Terra, então poderemos dizer que suas dúvidas têm fundamento. Infelizmente, até hoje, toda a argumentação deles se resume nestas palavras: Não creio, logo isto é impossível. Sem dúvida, retrucarão que cabe a nós provar a realidade das manifestações. Ora, nós lhes damos, pelos fatos e pelo raciocínio, a prova de que elas são reais. Se não admitem nem uma, nem outra coisa, se negam até o que vêem, compete a eles provar que o nosso raciocínio é falso e que os fatos são impossíveis. 29

Capítulo II O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL 7. Se a crença nos Espíritos e em suas manifestações fosse uma concepção isolada, o produto de um sistema, poderia, com certa razão, merecer a suspeita de ilusória. Que nos digam, então, por que a encontramos tão vivaz entre todos os povos, antigos e modernos, e nos livros santos de todas as religiões conhecidas? É, respondem alguns críticos, porque, desde todos os tempos, o homem teve amor ao maravilhoso. Mas, que entendeis por maravilhoso? O que é sobrenatural. Que entendeis por sobrenatural? O que é contrário às leis da Natureza. Conheceis, porventura, tão bem essas leis, que possais marcar limite ao poder de Deus? Pois bem! Provai então que a existência dos Espíritos e suas manifestações são contrárias às leis da Natureza; que não é, nem pode ser uma destas leis. Acompanhai a Doutrina Espírita e vede se esse encadeamento não apresenta todas as caracterís-

P RIMEIRA P ARTE CAPÍTULO II ticas de uma lei admirável, que resolve tudo o que as filosofias até agora não puderam resolver. O pensamento é um dos atributos do Espírito. A possibilidade, que eles têm, de atuar sobre a matéria, de nos impressionar os sentidos e, por conseguinte, de nos transmitir seus pensamentos, resulta, se assim nos podemos exprimir, da sua própria constituição fisiológica. Logo, nada há de sobrenatural neste fato, nem de maravilhoso. Que um homem morto e bem morto, volte a viver corporalmente, que seus membros dispersos se reúnam para lhe formarem de novo o corpo, isto sim, seria maravilhoso, sobrenatural, fantástico. Haveria aí uma verdadeira derrogação da lei, o que somente por milagre Deus poderia praticar. Não existe, porém, coisa alguma de semelhante na Doutrina Espírita. 8. Não obstante, objetarão, admitis que um Espírito pode suspender uma mesa e mantê-la no espaço sem ponto de apoio. Não constitui isto uma derrogação da lei de gravidade? Sim, mas da lei conhecida; a Natureza, contudo, já vos disse a sua última palavra? Antes que se houvesse experimentado a força ascensional de certos gases, quem diria que uma máquina pesada, carregando muitos homens, fosse capaz de vencer a força da atração? Aos olhos do povo, tal coisa não pareceria maravilhosa, diabólica? Aquele que há um século se tivesse proposto a transmitir um telegrama a 500 léguas de distância e a receber a resposta alguns minutos depois, teria passado por louco. Se o fizesse, todos acreditariam ter ele o diabo às suas ordens, visto que, naquela época, só o diabo era capaz de andar tão depressa. Por que, então, um fluido desconhecido não poderia, em dadas circunstâncias, ter a 32