LEVANTAMENTO DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL: POSSIBILIDADES PARA O ENSINO DE ETNOBOTÂNICA

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Transcrição:

LEVANTAMENTO DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL: POSSIBILIDADES PARA O ENSINO DE ETNOBOTÂNICA Cleomária Gonçalves da Silva 1 ; Maria das Graças Veloso Marinho 2 ; Alexandre Flávio Anselmo 3 ; Adriana de Fátima Meira Vital 4 Universidade Federal de Campina Grande, cleomariasilva@yahoo.com.br 1 ; Universidade Federal de Campina Grande, mgvmarinho@bol.com.br 2 ; Universidade Federal de Campina Grande, alehfa07@gmail.com 3 ; Universidade Federal de Campina Grande, vital.adriana@hotmail.com 4 Resumo: O presente trabalho teve como objetivo realizar um levantamento sobre o uso de plantas medicinais pelos alunos do Ensino Fundamental II no seu dia a dia, contextualizando suas potencialidades no ensino de Etnobotânica em sala de aula. Os dados foram coletados através de uma pesquisa quantitativa (questionário estruturado com perguntas claras e objetivas), realizada individualmente, com 30 alunos do 6º ano na faixa etária entre 9 a 12 anos. Os resultados demonstraram que o gênero feminino (66,67%) conhece plantas medicinais, enquanto o gênero masculino (33,33%) conhece e sabe um pouco. Verificou-se que as partes da planta utilizada foram às folhas (96,67%), seguido de outras partes da planta, como raízes, casca do caule, sementes (3,33%). O modo de preparo dos remédios indicou o chá (66,67%) como o mais consumido, seguido de lambedor (20%). As espécies mais citadas pelos estudantes foram Chenopodium ambrosioides L. (mastruz) com 09 (nove), Punica granatum L. (romã), Cymbopogon citratus (DC.) Stapf (capim-santo), Vernonia condensata Baker (boldo) com 04 (quatro) cada, Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson (erva-cidreira), Mentha x villosa Huds. (hortelã miúda) com 03 (três) cada, e outras espécies 02 (duas). Os dados encontrados verificaram que mesmo os estudantes tendo acesso a medicamentos convencionais, boa parte deles conservam os ensinamentos repassados pelos seus familiares, em utilizar remédios produzidos por plantas medicinais, onde necessita que as escolas voltem a ensinar os saberes populares, seus conhecimentos tradicionais, já que os livros didáticos de Ciências não relatam sobre o referido assunto. Palavras-chave: Fitoterápicos, Etnobotânica, Ensino Contextualizado. INTRODUÇÃO O uso de plantas medicinais é a forma de medicina mais antiga na civilização, pois existem registros desde o ano de 2500 a.c. na China. Neste sentido, de acordo com Alves (2013), além da China, existem também observações registradas sobre o uso terapêutico das plantas medicinais desde a antiguidade pelas civilizações indiana, egípcia e grega. Para que uma planta seja caracterizada como medicinal e possa ser utilizada como fitoterápico, é necessário que ela possua em um ou vários de seus órgãos, substâncias que possam ser empregadas para fins terapêuticos, ou seja, precursoras de substâncias utilizadas para tais fins (AMAROZO, 2002). Para Guarim-Neto et al. (2000), é através da etnobotânica que se busca o conhecimento e o resgate do saber botânico tradicional, particularmente relacionado ao uso dos recursos da flora.

Albuquerque e Andrade (2002) assinalam que todas as ciências que se ocupam de investigar a relação pessoas/plantas estão preocupadas em registrar e conhecer as estratégias e conhecimentos dos povos locais, procurando também usar essa informação em benefício dessas próprias pessoas. Autores como Santomé (1995), Mortimer (1998), Lopes (1999), Brandão (2003), Chassot (2006) e Perrelli (2008) defendem a ideia de que os saberes tradicionais/populares devem fazer parte do currículo escolar, uma vez que fazem parte da vida dos estudantes e precisam ser reconhecidos e explorados pela escola. Nogueira (1997) afirma que os processos de ensino e de aprendizagem de Botânica são considerados pelos professores e alunos uma dificuldade, evidenciando o pouco interesse e o baixo rendimento neste conteúdo. Justifica-se, portanto, a necessidade de recuperar nos professores e alunos uma nova visão e o prazer pelo estudo da Botânica. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi realizar um levantamento sobre o uso de plantas medicinais pelos estudantes do Ensino Fundamental II no seu dia a dia, contextualizando suas potencialidades no ensino de Etnobotânica em sala de aula. METODOLOGIA O presente estudo foi realizado com alunos do 6º ano, da Unidade Municipal de Ensino Fundamental Presidente Vargas, município de Sumé - PB. O município de Sumé está localizado na microrregião do Cariri Ocidental da Paraíba, sob as coordenadas geográficas 7º40 10 S, 36º52 48 W, a uma altitude de 532 m (Figura 01). Com área territorial de 838 Km 2, e com uma população de 16.060 habitantes (IBGE, 2010). SUMÉ Figura 01. Mapa do Estado da Paraíba, destacando-se em vermelho, o município de Sumé, Nordeste do Brasil. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/sum%c3%a9_(para%c3%adba). Acesso em: 12 de julho de 2016. Os dados foram coletados durante o mês de junho de 2016, através de uma pesquisa quantitativa (questionário estruturado com perguntas claras e objetivas), realizadas individualmente, com 30 alunos na faixa etária entre 9 a 12 anos, seguindo a metodologia de Brandão (1984),

considerando os objetivos do trabalho, além da possibilidade de voltar os olhares ao ensino contextualizado do conhecimento científico e do saber popular. As plantas medicinais citadas foram trazidas para identificação botânica, como uma forma estudar com os estudantes suas partes vegetativas, suas potencialidades fitoterápicas, assim como, suas propriedades medicinais para combater/amenizar determinadas doenças do cotidiano, já que os livros didáticos de Ciências não comentam sobre o referido assunto. A frequência absoluta e percentual dos dados foi produzida no programa Microsoft Excel para análise e tratamento dessas informações. RESULDADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos por meio dos questionários mostraram que o gênero feminino (66,67%) conhece plantas medicinais e sabe para qual doença é utilizada, enquanto o gênero masculino (33,33%) conhece e sabe um pouco sobre plantas medicinais. Estudos realizados por Marinho, Silva e Andrade (2011), no município São José de Espinharas-PB, assim como, Silva et al. (2012), no município de São João da Ponte-MG confirmam que a maioria dos informantes são do sexo feminino. Durante a entrevista perguntou-se sobre o conhecimento botânico, as partes da planta que eram utilizadas para fazer remédio, onde se constatou que as folhas apresentaram um número bastante significativo (96,67%), onde apenas (33,33%) utilizavam outras partes como raízes, cascas do caule e sementes. As folhas são tradicionalmente a parte mais utilizada para tratamento medicinal popular, provavelmente por causa da facilidade de coleta e por estar presente na planta durante a maior parte do ano (ALVES et al., 2008). O modo de preparo dos remédios indicaram diversas formas como lambedor (xarope caseiro), chás, banhos, maceração, no consumo de forma crua. Verificou os índices mais elevados para preparação dos remédios caseiros o chá (66,67%), seguido de lambedor (20%) (Figura 02). Esses resultados corroboram com os encontrados por Silva et al. (2015) e Guerra et al. (2010), onde nota-se a predominância dos chás em suas pesquisas.

Figura 02. Formas de uso das plantas medicinais entre os alunos do 6º ano da Unidade Municipal de Ensino Fundamental Presidente Vargas, Sumé PB. Como muitos estudantes residem na zona rural, à pesquisa investigou onde os mesmos adquirem as plantas medicinais. Os resultados demonstraram que 60% dos entrevistados buscam em jardins ou quintais de suas casas ou vizinhos, (10%) na mata, enquanto outros compram em feiras livres (23,33%) e mercantis/supermercados (6,67%). As espécies mais citadas pelos estudantes foram Chenopodium ambrosioides L. (mastruz) com 09 (nove), Punica granatum L. (romã), Cymbopogon citratus (DC.) Stapf (capim-santo), Vernonia condensata Baker (boldo) com 04 (quatro) cada, Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson (erva-cidreira), Mentha x villosa Huds. (hortelã miúda) com 03 (três) cada, e outras espécies 02 (duas) (Tabela 01). Tabela 01. Espécies de plantas medicinais indicadas pelos alunos do 6º ano da Unidade Municipal de Ensino Fundamental Presidente Vargas, Sumé PB. Nome popular Nome científico Uso da planta Nº de citação Porcentagem (%) Boldo Vernonia condensata Baker Mal estar, dor de 4 13,33 barriga Capim-santo Cymbopogon citratus Falta de sono, dor 4 13,33 (DC.) Stapf de barriga Erva-cidreira Lippia alba (Mill.) N.E. Br. Abrir o apetite, 3 10 ex Britton & P. Wilson dor de barriga Hortelã-miúda Mentha x villosa Huds. Dor de cabeça, 3 10 Mastruz Chenopodium ambrosioides L. tosse Tosse, gripe, circulação do sangue 9 30 Romã Punica granatum L. Tosse, dor de 4 13,33 garganta, gripe, Outras espécies - - 2 6,67 Segundo Moraes, Nunes e Pessoa (2010) por meio da experiência e da observação, durante longos períodos da história o ser humano aprendeu a fazer uso da flora para a cura de seus males.

À medida que os estudantes comentavam sobre determinada planta medicinal, abriu-se um debate para relatar às experiências vividas em suas casas, assim como, as mesmas influenciavam no combate as enfermidades. Trabalhos como o de Silva et al. (2015) demonstra a importância de desenvolver estudos sistemáticos com as plantas nativas de uma dada região, valorizando a importância do saber popular para cura das enfermidades. Ao perguntar sobre o motivo que levou ao utilizar o remédio feito por plantas medicinais verificou-se que 46,66% responderam que era mais natural, enquanto 20% não tinham dinheiro para comprar o remédio convencional, e a farmácia era longe ou outro motivo o qual não informaram 16,67% cada. Resultados como estes demonstram que a medicina popular se mantém viva ao longo do tempo. CONCLUSÕES Neste trabalho verificou-se que mesmo os estudantes tendo acesso a medicamentos convencionais, boa parte deles conservam os ensinamentos repassados pelos seus familiares, em utilizar remédios produzidos por plantas medicinais, onde ainda tem-se o hábito de cultivar estas plantas em seus quintais. É necessário que as escolas sejam elas urbanas ou rurais, voltem a ensinar os saberes populares, seus conhecimentos tradicionais, como forma de repassar o estudo da etnobotânica contextualizada, enfatizando a importância da relação, homem e plantas medicinais, para que estes possam ser os futuros multiplicadores de conhecimento do saber botânico para gerações seguintes. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, U. P.; ANDRADE, L. H. C. Conhecimento botânico tradicional e conservação em uma área de caatinga no estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Acta Botanica Brasilica, São Paulo, v. 16, n. 3, p. 273-285, 2002. ALVES, E. O.; MOTA, J. H.; SOARES, T. S.; VIEIRA, M. DO C.; SILVA, C. B. DA. Levantamento etnobotânico e caracterização de plantas medicinais em fragmentos florestais de Dourados-MS. Ciência agrotécnica., v. 32, n. 2, p. 651-658.2008. ALVES, L. F. Produção de fitoterápicos no Brasil: história, problemas e perspectivas. Revista Virtual de Química, v.5, n.3, p.450-513, 2013. AMOROZO, M. C. M. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antonio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v.16, n.2, p.189-203, 2002.

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