AS TEORIAS DEMOGRÁFICAS II: A TEORIA NEOMALTHUSIANA E OUTRAS TEORIAS

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Transcrição:

AS TEORIAS DEMOGRÁFICAS II: A TEORIA NEOMALTHUSIANA E OUTRAS TEORIAS Aula 6 META Demostrar que a teoria neomalthusiana como uma política demográfica agressiva de controle da natalidade aplicado aos países mais pobres e ao mesmo tempo como discurso ideológico de afirmar que os pobres são pobres porque tem altas taxas de fecundidade. Mas também entender que existem correntes que não aceitam OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: entender o contexto histórico da teoria malthusiana e seus fundamentos como política de controle demográfico. analisar criticamente que o neomalthusianismo também operou como discurso de justificação da pobreza dos países subdesenvolvidos, e entender que outras teorias também contestam essas afirmações. PRÉ-REQUISITO Ter lido e compreendido a aula anterior, que trabalhou dentro da análise das chamadas teorias clássicas da demografia, como a teoria malthusiana (Fonte: http://static.hsw.com.br).

Geografia da População INTRODUÇÃO O estudo das teorias demográficas é fascinante. O aluno deve entender que dentro dela existe todo um interesse de justificação para explicar fenômenos históricos de desigualdades, dominação e poder de determinados países sobre outros. A questão da teoria neomalthusiana tem essa característica. Ela faz parte de um contexto histórico marcado pela chamada explosão demográfica ocorrida nos países mais pobres a partir dos anos pós-segunda guerra mundial e nela, da aplicação de métodos e técnicas de controle demográfico. Ou seja, o neomalthusianismo não seria apenas uma mera teoria, mas da força política e econômica que deu a ela, por ser eminentemente prática e que trouxe desdobramentos nos países chamados naquela época de países subdesenvolvidos. As conseqüências reais da aplicação de seus métodos e técnicas de controle demográfico geraram contestações, porém, a adoção foi realizada pelos próprios governos destes países. Entender esse processo é de fundamental importância para o aluno de Geografia na medida em que foi um marco histórico de grande envergadura, onde o aspecto ideológico teve importância, mas também na tentativa de desvirtuar os verdadeiros motivos da reprodução da pobreza nos países economicamente mais pobres. Por outro lado, outras teorias também contestaram a corrente neomalthusiana, e isso pode ser destacado pela teorias teorias reformistas e de transição demográfica onde a questão demográfica não pode ser vista estritamente, mas dentro de um amplo processo de transformação econômica e social. (Fonte: http://www.vivaterra.org.br). 54

Teorias demográficas II: a teoria Neomalthusiana e outras teorias O aluno pode verificar que as teorias relacionadas às questões populacionais têm como fundamentos elementos de natureza econômica e mais importante, da justificação de determinadas políticas que possam favorecer sempre os mais fortes. Não podemos dissociar questões demográficas sem analisar as questões econômicas. Afinal, o crescimento populacional rebate na organização da economia capitalista, em especial na questão da formação do mercado de trabalho, do desemprego, do nível de escolaridade, etc. O excesso demográfico aparentemente poderá trazer conseqüências sociais e economicamente desfavoráveis, ou o contrário, o pequeno crescimento populacional contribuirá para a falta de mão-de-obra, maior envelhecimento da população e ampliação do mercado interno. Entretanto, o aluno deverá perceber que justificações demográficas dependem do contexto histórico em que elas estão inseridas. Assim, o aparecimento da chamada Teoria Neomalthusiana foi dentro de um momento de grandes diferenças econômicas entre os países capitalistas. O descobrimento da existência de pobres no continente africano, na Ásia e na América Latina e em grande volume, assustou representantes políticos dos países mais ricos, tornando uma preocupação e na busca de explicações, é evidente que a ressurreição da teoria de Thomas Malthus seria uma saída justificável. Ou seja, a existência da pobreza nessas regiões é decorrente de seus próprios problemas e não em função de relações econômicas e históricas desiguais, ou da exploração de um país economicamente mais forte sobre outro mais fraco. Assim, sob a temática explosão demográfica, e que se processou a partir dos anos 50 do século passado, os representantes da teoria neomalthusiana reagiram do susto demográfico, e dentro de seus fundamentos tinham como estratégia central construir políticas de contenção ou de controle demográfico. E como se deu essa explosão demográfica e ainda assim concentrado nos países pobres? Com certeza não seria em função da melhoria das condições de vida da maioria da população, mas por questões estritamente demográficas. Para Milton Santos, em seu livro Manual de Geografia Urbana (1981), assim analisa o crescimento demográfico nos países subdesenvolvidos e compara com a dinâmica demográfica dos países mais ricos: A principal causa da aceleração do crescimento demográfico dos países subdesenvolvidos foi a diminuição das taxas de mortalidade. Enquanto os países ocidentais (desenvolvidos) atingiram um nível industrial relativamente avançado no momento em que a diminuição das taxas de mortalidade se aceleravam, os países subdesenvolvidos, num curto espaço de tempo, aproveitaram-se de todas as descobertas de ordem sanitária provenientes dos países industrializados (pp. 06). Nessa linha de pensamento, é evidente que a explosão demográfica era uma realidade, decorrente da queda brutal das taxas de mortalidade e persistência das altas taxas de natalidade. Mas isso dentro de uma análise Aula 6 55

Geografia da População estritamente demográfica e não econômica. E é aí que os neomalthusianos, temerosos com o número de nascimentos, do crescimento do socialismo em várias partes do mundo, poderia toda essa população buscar explicações o porquê de tanta pobreza, com eminência de ameaçar até mesmo o sistema capitalista; e dentro disso, nada melhor que justificar a desigualdade jogando culpa nos outros. Assim, o neomalthusianismo, além de ressuscitar os fantasmas da absurda teoria de Malthus serviu para aplicar políticas públicas de controle da natalidade através da aplicação de técnicas higiênicas e sanitárias, para que a fecundidade diminuísse drasticamente. Fato que efetivamente ocorreu em várias partes do mundo. A disseminação das pílulas anticoncepcionais, a aplicação do dispositivo ultra-uterino (DIU), as esterilizações generalizadas e até mesmo a realização de abortos; foram as técnicas mais comuns visando controlar essa explosão demográfica. Assim, podemos fundar os seguintes elementos para tentar entender a teoria neomalthusiana: a) que a explosão demográfica seria um fenômeno socialmente incontrolável. b) que seria necessário o controle da natalidade, através da ação das políticas de planejamento familiar, isso sob a intervenção de governos e entidades internacionais. c) O que causa da pobreza e o crescimento demográfico? d) Para os países mais pobres, caso queiram para superar sua pobreza, necesário que o crescimento da população fosse contido o mais rápido possível. A neomalthusianismo, durante muito tempo serviu como base para conter a expansão de outros fenômenos além da questão demográfica, como a expansão do socialismo nos países subdesenvolvidos, na independência das colônias européias (como as nações africanas), etc. Mas a questão central foi à maneira violenta que se operou contra os mais pobres, condenando a pobreza simplesmente porque tinham filhos demais! Em uma tremenda posição preconceituosa, alegava que os mais pobres teriam que conter, não por valores morais (como a observada na teoria clássica de Malthus), mas por uma questão de sobrevivência. Ou seja, a melhoria das condições de vida se daria com uma família com menor número de filhos. O neomalthusianismo teve seu auge entre as décadas de 50 e 60 do século passado. Após esse período, percebeu-se que as tais políticas de planejamento familiar em nada surtiram efeito, onde, mesmo sob a aplicação rigorosa das políticas de controle da natalidade, com a disseminação de milhões de pílulas anticoncepcionais, esterilizações de milhões de mulheres, cursos de planejamento familiar, etc. seus fundamentos não foram provados. Pelo contrário, a explosão demográfica, já na década de 56

Teorias demográficas II: a teoria Neomalthusiana e outras teorias 70, não tinha mais força em relação ás décadas anteriores, e mesmo com êxito dessas políticas em muitos lugares pobres do planeta, a condição de vida dessas pessoas em nada melhorou. Logo, a questão da pobreza não seria explicada pelo excesso populacional, mas por questões muito mais amplas. O que impõe uma explicação bem singela para o aluno e que pode ser respondido, como atividade, em seguida: Aula 6 ATIVIDADES O neomalthusianismo foi uma política demográfica ou um discurso ideológico para explicar a existência da pobreza a partir da explosão demográfica, justificando que apenas os pobres são os culpados de sua pobreza? COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES O aluno não pode esquecer o significado da expressão ideologia. Que não significa um conjunto de idéias, sendo essa posição um tanto ingênua. Ideologia aqui colocada nada mais é uma tentativa de explicar a realidade a partir de uma falsa idéia. OUTRAS TEORIAS DEMOGRÁFICAS Como dissemos acima, o surgimento de teorias, principalmente dentro do âmbito social, depende do contexto histórico em que ela é elaborada. Assim, dentro do contexto demográfico é evidente que o neomalthusianismo não poderia ser sustentado por muito tempo, até porque seus fundamentos não foram provados e a realidade demográfica em nível mundial estava passando por uma nova dinâmica. Ou seja, a explosão demográfica não era mais uma realidade na década de 70 e mesmo não tendo esse fenômeno, a pobreza continuava mais forte do que nunca. Além disso, teríamos que agregar elementos de natureza cultural e religiosa. Você acha que um muçulmano aceitaria controlar o tamanho de sua família, quando um dos princípios de sua religião é justamente incentivar a ter filhos e essa intervenção não pode ser feita, por ser contrária às leis de Deus (ou de Alá)? Nessa linha, é claro que, para entender a nova dinâmica demográfica, outras explicações mais sistemáticas teriam que surgir. Daí o surgimento de dois fundamentos e que tentaremos explicar logo em seguida. Trata-se da teoria dos chamados reformistas e o da transição demográfica. 57

Geografia da População A teoria reformista, é contrária a teoria neomalthusiana, simplesmente porque nega que a causa da pobreza é o excesso populacional. Para esta corrente, o que acontece é o inverso. Não se combate a pobreza combatendo o número de filhos, mas dando condições dignas de trabalho e de vida, concentrando mais em questões relacionadas a educação e saúde, da qual daí poderá o temeroso crescimento populacional ser trabalhado dentro de uma perspectiva de respeito e dignidade humana. O problema da teoria reformista são seus resultados sociais e econômicos e que só aparecem em longo prazo. Em outras palavras, com políticas públicas que favorecem a população mais pobre, onde sabemos que apresenta a população mais numerosa. Entretanto, sua crítica contundente ao neomalthusianismo foi importante, até porque serviu para descortinar as práticas de controle populacional, como se a pobreza fosse combatida diminuindo o número de pobres. A corrente que pensa dentro da perspectiva da transição demográfica, é mais realista e que de certa forma trabalha dentro dos fundamentos das correntes anteriores. Um primeiro aspecto, e isso o aluno deve perceber, é que transição significa mudança de um determinado padrão. E em questões populacionais, até pela sua dinâmica, esse processo é observado comumente. Assim, podemos observar esse fenômeno tanto em países ricos como em países pobres. A transição pode ser vista a partir da queda gradativa das taxas de natalidade e ao mesmo tempo do aumento da população idosa, fenômeno que acontece há mais de três décadas nos países europeus. Ou ela pode ser observada também o contrário, quando existe um aumento CONCLUSÃO O mais importante para o discente de Geografia é verificar como é fascinante estudar Geografia da População dentro de uma perspectiva interdisciplinar, diferenciando-se apenas que a nossa leitura é feita a partir da perspectiva espacial. Daí a necessidade de entender as correntes teóricas que tentaram explicar a dinâmica demográfica das ultimas décadas e que de certa forma estão inseridas diversos ramos do conhecimento humano, como a Demografia, a Economia e Sociologia, ou até mesmo a Medicina Social. E mais importante para o discente: é um tema inesgotável e polêmico e as teorias apenas tentam explicar, mas ao mesmo tempo são teorias que têm uma força prática muito grande. Foi o que observamos na corrente neomalthusiana e seus conhecidos efeitos realizados maioria dos países pobres e que apresentavam altas taxas de natalidade. E para completar, são teorias, que, dentro delas existem interesses poderosos em jogo, principalmente para quem proclama que a bomba populacional tem que ser contida imediatamente. Portanto, é aconselhável que o aluno continue em suas leituras sobre essa temática. 58

Teorias demográficas II: a teoria Neomalthusiana e outras teorias RESUMO Aula 6 Para entender a dinâmica demográfica, principalmente a partir de meados da década de 50 do século passado, diversas correntes teóricas da demografia analisaram esse processo. A principal delas e a mais conhecida foi a teoria neomalthusiana, uma espécie de versão moderna da teoria de Malthus escrita há dois séculos. Por outro lado, duas correntes também apareceram, uma fazendo a crítica ao neomalthusianismo e a outra mais realista, que analisa a dinâmica como algo permanente e que deve ser visto pelo Estado como uma política pública essencial, fazendo a leitura além da dimensão demográfica. O neomalthusianismo foi a maneira que pessimistas demográficos analisaram o crescimento populacional dos países pobres como uma ameaça ao poder de dominação dos países ricos, sendo a ideologia de combate a pobreza diminuindo o número de pobres, a mais nefasta de todas. O tempo provou que a teoria não sobreviveu, mesmo que atualmente alguns ainda defendem seus fundamentos. A concepção reformista peca pelos resultados a longo prazo, porém com uma proposta mais humana e socialmente mais justa. Finalmente a concepção da transição demográfica, como um processo real e continuo, onde a maior ou menor quantidade populacional pode ser feita dentro de uma realidade necessária de intervenção de políticas demográficas, mas em respeito ao ser humano. ATIVIDADES O Brasil nunca aplicou políticas populacionais neomalthusianas, porém a questão da transição demográfica toma importância nos dias atuais. Na sua concepção, que quadro você poderia descrever de nossa realidade, quando alguns dados colocam o problema da diminuição drástica das taxas de natalidade. Você acha que o Estado deve intervir nessa dinâmica? PRÓXIMA AULA Depois da presente aula, que serviu como continuidade da aula anterior, o aluno agora poderá adentrar em elementos mais concretos e principalmente geográficos e que veremos na próxima aula, quando vamos trabalhar com um tema realmente geográfico: a distribuição populacional no espaço. 59

Geografia da População REFERÊNCIAS OLIVEIRA, Francisco de. Crítica à razão dualista. São Paulo: Estudos Cebrap, 1972. SANTOS, Milton. Manual de Geografia Urbana. São Paulo: Editora HUCITEC, 1981. SINGER, Paul. Dinâmica populacional e desenvolvimento. São Paulo: HUCITEC, : 1976. 60