EVOLUÇÃO DA TEXTURA DE DEFORMAÇÃO DE UM AÇO ELÉTRICO GNO COM 1,2 5% SI 1

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EVOLUÇÃO DA TEXTURA DE DEFORMAÇÃO DE UM AÇO ELÉTRICO GNO COM 1,2 5% SI 1 Maria do Carmo Amorim da Silva 2 Fernando José Gomes Landgraf 3 Ivan Gilberto Sandoval Falleiros 4 RESUMO Um aço elétrico de grão não orientado com 1,25% de Si foi submetido a laminação a frio com graus de redução variando de 10 a 90% na espessura. O objetivo deste trabalho é a observação da evolução da textura com o grau de deformação. A textura de deformação está ligada à textura de recristalização, e esta tem importância grande nas propriedades magnéticas. As amostras foram caracterizadas em MEV equipado com EBSD, microscopia óptica e ensaios de dureza. Grãos subdivididos, alterações bruscas de orientação são facilmente perceptíveis a partir de 10% de redução. A partir de 40%, linhas de deformação foram observadas por Mev tornando-se visíveis em microscópio Óptico a 70% redução. Após 20% do grau de redução caracteriza-se por apresentar orientações preferenciais ao longo de duas fibras: α {hkl} <110> e γ 111<uvw>, que são texturas características de aços laminados a frio em graus de redução de 50%. PALAVRAS-CHAVE: Aço elétrico GNO, textura, EBSD 1 59 0 Congresso Anual da ABM; julho de 2004, São Paulo, Brasil. 2 Eng de Materiais, aluna de Doutorado da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo 3 Professor Doutor do Departamento de materiais magnéticos do Intituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo-IPT 4 Professor Doutor do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo-EPUSP 2834

1-Introdução Aços elétricos de grão não orientado são materiais magnéticos utilizados principalmente em motores elétricos. A aplicação dos aços elétricos deve-se a sua capacidade de amplificar um campo magnético externamente aplicado As propriedades magnéticas destes aços são dependentes de diversos fatores, entre eles a textura cristalográfica. Um dos objetivos do controle da textura dos aços elétricos é evitar a presença de grãos com plano {111} paralelo à superfície da chapa (essa fibra é denominada {111}<uvw>, <111>//DN ou fibra gama). (Landgraf et al (2003) A microestrutura de um metal sofre sucessivas mudanças durante a deformação plástica. A primeira e mais óbvia é a mudança no formato dos grãos, que se tornam mais alongados, acompanhada de um considerável aumento na área total dos contornos de grão. Simultaneamente, discordâncias são geradas continuamente durante a deformação e passam a interagir entre si levando a formação de subestruturas mais complexas. Heterogeneidade de deformação são regiões que apresentam maior quantidade de defeitos cristalinos e geralmente exibem maiores diferenças de orientação que a encontrada nas vizinhanças. A heterogeneidade da deformação foi reconhecida primeiramente por Barnett (1939). Segundo este autor, os grãos deformados subdividem-se em regiões dentro das quais a orientação cristalina é constante, mas é significativamente diferente da orientação presente em qualquer outra região naquele grão. Barnett chamou essas regiões de bandas de deformação. Existe uma vasta nomenclatura e pouco consenso em relação a elas. Alguns autores usam o mesmo termo para evidências diversas. Contudo, sabe-se que as heterogeneidades de deformação influem decisivamente no processo de recuperação e recristalização de metais e ligas, uma vez que as elevadas diferenças de orientação associadas a estas heterogeneidades favorecem a nucleação de novos grãos na recristalização, e por sua vez influem nas propriedades finais dos produtos comerciais. Nos materiais cúbicos de corpo centrado, as texturas de laminação a frio se caracterizam por apresentarem suas orientações principais ao longo de duas fibras parciais: {hkl}<110>} e {111}<uvw>. A estrutura celular já fica bem estabelecida com graus de deformação 10% ou pouco mais.(falleiros, De Campos-2003) Há vários métodos de representar a textura de um material, Tradicionalmente tem-se usado a difração de raios-x, onde são medidas as frações volumétricas de material associada a uma dada orientação cristalina. Recentemente, o uso do EBSD ( Electron Back-Scatter Diffraction ) associado à microscopia eletrônica de varredura (MEV) permitiu a determinação da orientação individual de cada grão. Neste trabalho, as texturas de deformação serão apresentadas através de Função de Distribuição de Orientação (FDO) usando a notação de Bunge, na forma da seção de ϕ 2 =0 e 45 0. 2835

2-Materiais e Métodos O aço estudado tem composição, apresentada na Tabela 2, usada para aplicações magnéticas. Tabela 1: Composição química do aço estudado. A diferença corresponde ao teor de ferro. % C % Si % Mn %Al % P % S % N 0,03 1,25 0,30 0,27 < 0,01 0,005 0,005 Neste trabalho foram analisadas amostra de um aço elétrico, grão não orientado, com 1,25% de silício produzidos em escala laboratorial pelo Instituto de pesquisas tecnológicas de São Paulo (IPT). As amostras foram submetidas à laminação a frio com intervalos de 10% de redução até 90%. O grau de redução é definido como: e f ei % do grau de redução = onde: ei e f =espessura final da chapa e i =espessura inicial da chapa Após a laminação as amostras foram cortadas e embutidas a quente de forma que os estudos fossem realizados na superfície da chapa, paralelo a direção de laminação. A seguir as amostras foram lixadas com granas que variavam de 240 a 1500. Após o lixamento realizou-se um polimento com sílica coloidal por um tempo que variava de 15 a 25 minutos dependendo do grau de deformação. Este processamento foi realizado com a finalidade de preparar as amostras para EBSD e microscopia óptica. No caso das amostras preparadas para microscopia óptica realizou-se um ataque com nital 5% por 10 segundos a fim de revelar os contornos de grão. As análises por EBSD eram feitas logo após o polimento com sílica coloidal que normalmente já revelava os contornos de grão, já que o ataque com nital diminuía o índice de confiança. As análises de textura das amostras foram realizadas em um microscópio eletrônico de varredura Philips XL-30 com filamento de tungstênio e um sistema de difração de elétrons retroespalhados da TSL. Os seguintes parâmetros foram utilizados para o microscópio: aceleração do feixe 20kV, spotsize variando numa escala de 1 a 5, inclinação da amostra de 75 0. 2836

3-Resultados e Discussão 3.1-Análise por microscopia óptica e microscopia eletrônica de varredura No material original temos a presença de grãos equiaxiais com tamanhos que variam de 5µ m a 30 µ m. Amostras com 10 % de deformação (Figura 1a), não apresentam características diferentes do material original. A partir de 40% de deformação podemos observar, através do MEV, alguns grãos com presença de linhas de deformação a aproximadamente 45 0 da direção de laminação, conforme mostra a Figura 1b. Barnett at al (1997) mostraram evidências microestrutural semelhantes, denominadas pelos autores como Bandas de cisalhamento intragranular (a) (b) (c) (d) Figura1- Microscopia Óptica e microscopia eletrônica de varredura de aços elétricos com 1,25% de silício a 10, 40, 80 e 90% de deformação, respectivamente estas linhas persistem para cada grau de redução posteriores até que a partir de 80% do grau de deformação, se torna nítida por microscopia óptica. O ângulo que essas linhas fazem com a direção de laminação continua próximo a 45 0 mesmo quando a deformação aumenta. Até que com 80% do grau de deformação a rotação do cristal fez o ângulo das bandas iniciais aumentarem para aproximadamente 90 0 em relação a direção de laminação, mas a 90% de redução novas bandas formaram-se a aproximadamente 45 0 (Figura 1d). 2837

A microestrutura da espécie deformada ilustra que existe uma diferença de coloração entre os grãos após o ataque. Alguns grãos aparecem com a coloração mais escura, enquanto outros aparecem mais claramente atacados. A diferença no ataque pode ser relacionado a diferença de energia armazenada na deformação a frio. No presente momento não se pode dizer se os grãos de coloração mais escura possuem a mesma orientação, posteriormente através de estudos pela técnica de EBSD em áreas pré-determinadas esta hipótese poderá ser mais bem avaliada. Contudo em estudos realizados por J. Tae Park et al (2003) medidas de EBSD confirmaram, para amostras de um aço elétrico de grão não orientado recozidos, que os grãos mais escuros pertencem ao {111} componentes de fibra-ϒ e os grãos atacados mais claramente pertencem aos componentes de fibra α. Posteriormente, quando estivermos discutindo as ODFs veremos a presença maciça da textura ao longo destas duas fibras. 2- Análise por microdureza Na tabela 2 abaixo são apresentadas as medidas de microdurezas Vickers. Como esperado, houve um aumento de dureza com o grau de deformação, no entanto, não houve variação significante de dureza entre grãos com e sem bandas de cisalhamento intergranular. Tabela 2- Resultados de microdurezas (carga 300kg ) obtidos em diferentes grãos e diferentes estados de deformação com tamanho de grão de aproximadamente 30µc Porcentagem de deformação Medidas de microdurezas(hv) em média 0% 126,9 10% 181,3 20% 197,5 30% 188,42 40% 203,2 50% 205,54 60% 227,04 70% 247,46 80% 250.54 90% 266,42. 3-Análise de textura através da técnica de EBSD Nas figuras 2 abaixo, são apresentadas as Funções Distribuição de Orientação (ODF), do material analisado, para graus de redução variando de 10 a 90%. Os componentes de textura foram avaliados segundo a notação de Bunge ϕ2=0 e 45 0 (apud Landgraf et al 2003). Todas as ODFs apresentadas neste trabalho foram construídas somando-se dados de uma mesma amostra em micro-regiões diferentes totalizando um mínimo de 500 grãos medidos. 2838

a) b) c) d) e) f) g) h) i) j) Figura 2- Função Distribuição de Orientações com cortes ϕ 2 =0 0 e 45 0 em a) sem deformação, b) 10%, c)20%, d)30%, e)40%, f)50%, g)60%, h)70%, i) 80% e j)90% de deformação No material com ausência de deformação, as ODFs revelam que a amostra não apresenta um padrão de microtextura, embora apresentem um leve componente de fibra α, mais intenso que o de fibra γ. Mesmo em deformações a frio até 10% nenhum padrão de microtextura característico é observado A partir de um grau de redução de 20% as amostras apresentam um padrão de textura com fibras <110> //DL e <111>//DN. Na literatura estas duas texturas são características dos aços laminados a frio com graus de redução de 50% (Ray et al. 1994 e Hutchinson 1999). Este padrão só foi obtido após um somatório de áreas 2839

que totalizasse um mínimo de mil grãos medido. Abaixo de quinhentos grãos os padrões não são representativos. Áreas individuais permitem a caracterização da fibra com um elevado grau de redução. Contudo, os padrões ficam melhores definidos após a soma. Na seção ϕ2=0, os picos das funções, correspondem em sua maioria a orientação {001}<110> 5- OIM Em análise no mapa de orientações de orientações cristalográficas as heterogeneidades começam a aparecer a partir de 10% do grau de redução. Neste caso são marcadas por desvio de coloração intragrão. Observa-se que para um grau de redução intermediário as rotações dentro do grão acontece com maior intensidade, até que com o aumento do grau de redução as heterogeneidades dentro do grão diminuem,vistas por um menor desvio de coloração. (a) (b) (c) (d) Figura 3- Mapas de Imagem de Orientação das amostras deformadas (a) sem deformação, (b) 10% de deformação, (c) 60% de deformação e (d) 90% de deformação 2840

6-Conclusões O aço em questão com 1,25% de Si e deformado a frio é caracterizado por: Após 20% do grau de redução caracteriza-se por apresentar orientações preferenciais localizadas ao longo de duas fibras {hkl}<110> e 111<uvw>. A primeira fibra denominada fibra α ou DL e a segunda chamada fibra γ ou DN. Com o aumento do grau de redução, os padrões de ODFs obtidos nas áreas individuais, permitem a caracterização da fibra com um número menor de grãos. As heterogeneidades de deformação começam a partir de 10% do grau de redução e tornam-se mais homogêneas para grandes deformações. Agradecimentos Os autores agradecem a Fapesp (projeto temático 99/10796-8) e ao CNPq pelo suporte financeiro e apoio as pesquisas envolvida. Referências Bibliográficas [1] F.J.G.Landgraf, R.Takanohashi, M.F.de campos- tamanho de grão e textura dos aços elétricos de grão não-orientado-ii Wokshop sobre Textura e relações de orientação-epusp-ipen-ipt-2003. [2] Barrett, C.S. stucture of Metals. McGraw-Hill, N.Y.,1952. [3]Falleiros. I.G.S, M.F.de Campos- Nucleação da recristalização-ii Workshop sobre Textura e relações de orientação -EPUSP-IPEN-IPT-2003 [4] Barnett,M.R., Jonas,J.J- Influence of Ferrite Rolling Temperature of Microstructure and texture in deformed Low C and IF Steels-ISIJ International, V.37, n-7 p-697-705,1997 [5] tae Park, J. Szpunar A. J- Evolution of recrystallization texture in nonoriented electrical steels-acta Materialia-51-(2003) 3037-3051 [6] RAY, R. K.; JONAS, J. J.;HOOK, R. E. Cold rolling and annealing textures in low carbon and extra low carbon steels. International Materials Reviews. V.30, n.4, 129-172. 1994. [7] HUTCHINSON B. Deformation microstructures and textures in steels. The Phil Trans. Royal Society. v. 357, 1471-1485. 1999 2841

EVOLUTION OF DEFORMATION TEXTURE OF THE GNO WITH 1.25% SI ELECTRIC STEEL Abstract An oriented grain electric steel with 1.25 wt % was cold rolled varying reduction degree in thickness from 10 to 90%. In this paper the texture evolution with deformation degree is observed. The deformation texture is related to the recrystallization texture, which affects in magnetic properties. Samples were characterized by MEV equipped with EBSD, optical microscopy and hardness measurements. Subdivided grain, abrupt changes orientation are easily seen since 10% reduction. For reduction 40% deformation lines were observed. The were observed by optical microscopyon sample reduced 70% or more. After 20% reduction fiber preferred orientation was observed α {hkl} <110> e γ 111<uvw>, wich are typical textures of cold rolled. i 59 0 Congresso Anual da ABM; julho de 2004, São Paulo, Brasil. 2 Eng de Materiais, aluna de Doutorado da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo 3 Professor Doutor do Departamento de materiais magnéticos do Intituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo-IPT 4 Professor Doutor do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo-EPUSP 2842