Docente: Dr. Carlos Amadeu Botelho Byington. Resumo da 28ª Aula:

Documentos relacionados
Docente: Dr. Carlos Amadeu Botelho Byington

As Principais diferenças entre a Psicologia Analítica e a Psicologia Simbólica Junguiana

Instituto Sedes Sapientiæ Curso de Supervisão com Técnicas Expressivas 4º Ano Curso de Psicologia e Psicopatologia Simbólica Junguiana 7º Ano

Docente: Dr. Carlos Amadeu Botelho Byington. Resumo da 32ª Aula:

Instituto Sedes Sapientiæ. Curso de Psicologia e Psicopatologia Simbólica Junguiana 8º Ano Curso de Supervisão com Técnicas Expressivas 5º Ano

Docente: Dr. Carlos Amadeu Botelho Byington. Resumo da 27ª Aula:

Prof. Me. Renato R. Borges. facebook.com/prof. Renato.Borges -

Docente: Dr. Carlos Amadeu Botelho Byington. Reflexões sobre a Aula

Prof. Dr. Sérgio Freire

ABORDAGEM JUNGUIANA PSICOLOGIA CURSO DE

LIÇÃO 5 - QUEM É JESUS CRISTO. Prof. Lucas Neto

LIÇÃO 3 A SALVAÇÃO E O ADVENTO DO SALVADOR. Prof. Lucas Neto

Instituto Sedes Sapientiæ. Curso de Psicologia e Psicopatologia Simbólica Junguiana 8º Ano Curso de Supervisão com Técnicas Expressivas 5º Ano

O Cristianismo no Império Romano

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

O livro continua a avaliação do sentido e da função da autoridade.

4ª FASE. Prof. Amaury Pio Prof. Eduardo Gomes

Instituto Sedes Sapientiæ. Curso de Psicologia e Psicopatologia Simbólica Junguiana 8º Ano Curso de Supervisão com Técnicas Expressivas 5º Ano

(C.G.Jung, Livro Vermelho, p.253)

Sumário. Prefácio... 13

LIÇÃO 01 O melhor presente

É possível detectar a presença da cruz, seja na forma religiosa, mística ou esotérica, na história de povos distintos (e distantes) como os egípcios,

TEMA-PROBLEMA. A experiência religiosa como afirmação do espaço espiritual do mundo FENÓMENO UNIVERSAL

O livro continua a avaliação do sentido e da função da autoridade.

A ELEIÇÃO DE DEUS RM

O CONHECIMENTO E SEUS NÍVEIS

LIÇÃO 8 - A ENTRADA TRIUNFAL DE JESUS EM JERUSALÉM. Prof. Lucas Neto

Aprenda sobre Alquimia em

Escola de Aprendizes do Evangelho à Distância. Gabarito e sugestões de respostas da EAE

Prefácio 1. A Conceituação da Neurologia Simbólica para Estudar a Droga-Adição

CONCEPÇÕES ÉTICAS Mito, Tragédia e Filosofia

Instituto Sedes Sapientiæ Curso de Supervisão com Técnicas Expressivas 4º Ano Curso de Psicologia e Psicopatologia Simbólica Junguiana 7º Ano

PROFECIAS NEWS Boletim Informativo de Religiões Proféticas

Religiões Proféticas

Instituto Sedes Sapientiæ Curso de Supervisão com Técnicas Expressivas 4º Ano Curso de Psicologia e Psicopatologia Simbólica Junguiana 7º Ano

LIÇÃO 1 A CARTA AOS HEBREUS E A EXCELÊNCIA DE CRISTO. Prof. Lucas Neto

A era dos patriarcas

PAPÁ DIALUNGANGA SEGUNDO FILHO DE PAPÁ SIMON KIMBANGU

LIÇÃO 7 A NECESSIDADE DO NOVO NASCIMENTO. Prof. Lucas Neto

Introdução a Carta de Tiago

A SINGULARIDADE DA REVELAÇÃO CRISTÃ

Carlos Amadeu Botelho Byington

Instituto Sedes Sapientiæ Curso de Psicologia e Psicopatologia Simbólica Junguiana 8º Ano Curso de Supervisão com Técnicas Expressivas 5º Ano

LIÇÃO 9 A MISSÃO ENSINADORA DA IGREJA. Prof. Lucas Neto

O Papel da Maternidade no Processo de Individuação Feminino

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Conhecimento que leva à adoração

VidaePalavra.Comunidade(s)

Quem é Marcos? Marcos, autor do primeiro Evangelho, vivia em Jerusalém. A mãe se chamava Maria. Em sua casa reuniam-se os cristãos da cidade.

Instituto Sedes Sapientiæ Curso de Supervisão com Técnicas Expressivas 4º Ano Curso de Psicologia e Psicopatologia Simbólica Junguiana 7º Ano

A REVELAÇÃO E A MISSÃO DE DEUS (MISSIO DEI)

Núcleo 2.1 Abordagem Junguiana: fundamentos teóricos e intervenção.

A Liturgia da Paixão do Senhor não tem a celebração da Eucaristia, mas apenas a distribuição da comunhão. Além de uma introdução e conclusão

O que vem a ser identidade? O que vem a ser uma identificação?

Preparado por: Pr. Wellington Almeida. LIÇÃO O Filho de Davi. O Evangelho. Mateus

Guia orientador de meditação bíblica diária Epístola aos Romanos (2)

1 RELATO DE UMA VIVÊNCIA SIMBÓLICA DE BELEZA, ALEGRIA E AMOR.

Lição 1. A plenitude dos tempos 1 O mundo judaico

Igreja Batista Memorial de Pompeia. Miqueias Parte 08

A liturgia propõe hoje um dos trechos fundamentais da Bíblia, fonte perene de inspiração para quem quer ser cristão. É o célebre Hino á caridade,

COMO USAR O CHECKLIST

AGRUPAMENTO de ESCOLAS Nº1 de SANTIAGO do CACÉM Ano Letivo 2013/2014 PLANIFICAÇÃO ANUAL

Instituto Sedes Sapientiæ. Curso de Psicologia e Psicopatologia Simbólica Junguiana 8º Ano Curso de Supervisão com Técnicas Expressivas 5º Ano

GRUPOS SOCIAIS DA ÉPOCA DE JESUS. Ctrl L para apresentar slides

Lição 1- JESUS, O VERBO QUE VOCÊ REPRESENTA

O significado do Evangelho

Filmes. Debates. Role-play

(1) A arca no deserto e sua trajetória: Erros a evitar: Como Moisés, convidar um homem para guiar o povo no deserto. Tipifica a carne tentando

PROPAGAR O CRISTO RESSURRETO, ASCENDIDO E TODO-INCLUSIVO COMO O DESENVOLVIMENTO DO REINO DE DEUS. Mensagem Um

Slide 2

Lição nº 3 VERDADE SOBRE A UNÇÃO ESPIRITUAL. 18 jan Pr. Adriano Diniz

A ORIGEM E A NATUREZA DO NATAL. IPC 21/12/2008; Pirangi 28/12/2008

Preparado por: Pr. Wellington Almeida LIÇÃO. O Evangelho. Mateus

Panorama Bíblico O Pentateuco

Síntese do Novo Testamento (Curso de Formação Ministerial, 2014) Prof. Marco Aurélio Correa

Leitura do Livro de Isaías. Is 60, 1-6

Ano Litúrgico Ano C

1 TESSALONICENSES

Encontro de Formação e Preparação para Pentecostes e para o Tempo Comum II. Comissão de Liturgia da Região Episcopal Sé.

Escrito por Hélio Clemente Seg, 10 de Outubro de :13 - Última atualização Seg, 14 de Novembro de :50

Giovanni Cipriani A GLÓRIA DA CRUZ

Apresentação no Templo

EJA 4ª FASE PROF. LUIS CLAÚDIO

«Brilha sobre ti a glória do Senhor»

OS SÍMBOLOS DO NATAL

Lição 1-6 de abril de 2019

NOSSA HISTÓRIA: OS EFEITOS DO PECADO E A REDENÇÃO DA SEXUALIDADE. 40 audiências gerais

1º tema: Modos de viver o natal; 2º tema: Os símbolos e tradições de natal; 3º tema: O nascimento de Jesus; 4º tema: O Natal é tempo de amor;

A VERDADE SOBRE JESUS CRISTO

PLANEJAMENTO Jeitos de explicar a origem do universo. O que diz a ciência sobre a criação. Campanha da Fraternidade 2016

Natal do Senhor de Missa do Dia

Evangelhos e atos. Observações

Saber é conhecer, ser ou estar informado, tendo conhecimentos gerais ou específicos sobre algum tema ou sobre a própria vida.

Planejamento. 1. Introdução 2. Painel Histórico 3. Painel dos Livros 4. Painel Geográfico 5. Painel Temático

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

É verso único. Sem segundo. Não tem frente nem verso; nem face nem dorso. Nem manifesta nem imanifesta, está por trás de todo o manifesto.

MUNDO MISSIONÁRIO ESTRATÉGIAS MISSIONAIS NEGÓCIOS MISSIONAIS RESPONSABILIDADE MISSIONAL TECNOLOGIA MISSIONAL

A DIMENSÃO QUÂNTICA DA VIDA. Claudio C. Conti

ORIGEM DO CRISTIANISMO. Igreja é uma realidade histórica e, portanto passível de ser estudada sob o ponto de vista da objetividade científica.

Maria e seu FIAT COTIDIANO

Transcrição:

Instituto Sedes Sapientiæ Curso de Pedagogia Simbólica Junguiana 1º Ano Curso de Supervisão com Técnicas Expressivas 3º Ano Curso de Psicologia e Psicopatologia Simbólica Junguiana 6º Ano Docente: Dr. Carlos Amadeu Botelho Byington Resumo da 28ª Aula: 22.10.2015 Boa noite a todos. Hoje é a nossa 28ª aula, na qual continuaremos o estudo da vivência da sexta-fase da vida, com uma atenção especial ao desapego de dominância patriarcal na passagem da quinta para a sexta fase na dimensão individual e no período mitológico do início de nossa era. Em todas as passagens das fases arquetípicas são ativados os Arquétipos do Heroi e da Morte, mas estes arquétipos estão especialmente presentes no Mito Cristão, com o tema da jornada heroica, com a morte e a ressurreição. Nossa referência hoje será o Mito Cristão ilustrado pela vida de Jesus, no filme Jesus de Nazaré, de Franco Zeffirelli (1977). O Arquétipo do Heroi é ativado em todas as situações existenciais em que o Ego individual ou coletivo se depara com um desafio extraordinário, que requer o desempenho de uma grande missão (vida) e um grande desapego do que deve ser ultrapassado (morte). Essas situações trazem uma grande transformação de Ego que frequentemente pode ser compreendida pelo tema da morte e da transformação. Criei o conceito do Arquétipo da Vida e da Morte, para expressar a inseparabilidade desses dois grandes polos do desenvolvimento. Meu conceito inspirouse em Sabina Speilhein que, com seu artigo A Destruição como Causa da Transformação (1912), descreveu que os gametas masculino e feminino morrem na fecundação que forma o ovo e dá origem à vida. Seu artigo foi influenciado e influenciou a obra Símbolos de Transformações, de Jung (1912) e, posteriormente, influenciou também a obra de Freud Além do Princípio do Prazer (1920), baseada no conflito entre o Instinto de Vida e o Instinto de Morte. 1

Desta maneira, vemos que Freud, manteve a posição polarizada patriarcal, como fez na maior parte de sua obra, e separou radicalmente as pulsões de vida e de morte. Jung, por sua vez, como em grande parte de sua obra, adotou a posição dialética de alteridade, como também fez Sabina Spilhein, e interpretou a morte simbolicamente, podendo tanto significar a morte literal como a morte simbólica que traz a transformação e, por conseguinte, desempenha um papel criativo no processo de individuação. A Psicologia Simbólica Junguiana reuniu essas duas perspectivas e, para expressá-las, concebeu o Arquétipo da Vida e da Morte. Dentro dessa perspectiva, a Vida e a Morte interagem dialeticamente, como pensaram Sabina e Jung. Do início ao fim do processo de desenvolvimento, a vida traz o crescimento e a adaptação criativa do organismo, mas para transcender as grandes etapas arquetípicas, ela deve submeter-se à função estruturante do sacrifício e da morte, para renascer transformada. Como vemos no gráfico 1, (as sete etapas da vida), assim ocorre no nascimento, depois, na primeira infância, com a aquisição da locomoção, do controle esfincteriano, e da fala (2a), na segunda infância, com o progresso da fala e o início da socialização dentro da família, (2 aos 12 anos), com a adolescência pela ocorrência da puberdade e a construção da socialização fora da família (12 aos 20 anos), com a passagem para a vida adulta, expressa pelo desempenho profissional, a formação de uma nova família e o desempenho parental (21 aos 40 anos), com a maturidade e a diferenciação da individualidade única (41 aos 60 anos), e finalmente com o desapego do corpo físico, da família e da sociedade, para vivenciar a transição do corpo físico para o corpo cósmico na vivência da morte e do renascimento para a vida eterna (60 anos em diante). Em todas essas etapas, o Arquétipo da Vida e da Morte relaciona dialética e criativamente a vida e a morte com o Arquétipo do Heroi, que reforça o Ego para enfrentar esses grandes desafios e com a função estruturante ou Arquétipo do Sacrifício, que entrega à morte o que passou em troca da nova vida. As neurociências fazem parte da Psicologia Simbólica Junguiana e confirmam plenamente que a vida e a morte formam um arquétipo, que faz parte do Arquétipo Central. Como podemos ver no livro Molecular Biology of the Cell, que é uma verdadeira bíblia da biologia molecular (Alberts, Bruce e outros. New York: Garland Science, 2008), a morte celular é parte do funcionamento normal do organismo. Num ser humano adulto normal, milhões de células morrem por hora, na medula óssea e no intestino. A apoptose (morte celular) é a forma mais comum de se exercer a morte programada das células, que são verdadeiros suicídios. Isto pode ocorrer devido a ferimentos, doenças ou até 2

normalmente para manter o equilíbrio entre as células vivas e o funcionamento normal do organismo. Os glóbulos brancos neutrófilos, que combatem as infecções, por exemplo, morrem em grande número dentro da medula óssea. Um número extraordinário deles morre alguns dias depois de nascer, por apoptose, sem jamais ter feito nada, com a única finalidade de manter esses soldados do corpo sempre jovens e prontos para a luta contra as infecções. E assim por diante (Molecular Biology of the Cell, cap. 18). O Mito Cristão é um mito no qual o Arquétipo do Heroi e o Arquétipo do Sacrifício são muito ativados para conseguir a passagem da dominância patriarcal no Self Cultural (correspondente à quinta fase da vida no Self Individual) para a dominância de alteridade (correspondente à sexta fase da vida). Esse mito é de extraordinária importância na história da civilização, a ponto de estabelecer a passagem do Velho Testamento (dominância patriarcal, centralizada no poder) para o Novo Testamento (dominância de alteridade, centralizada na compaixão) na Santíssima Trindade. Dentro da Teoria Arquetípica da História, concebida pela Psicologia Simbólica Junguiana a partir da obra de Erich Neumann, vemos que o Mito Cristão ativado pela mensagem profética de Jesus no início de nossa Era (0-33 AD), integrou na Consciência coletiva durante os dois últimos milênios, a posição quaternária dialética de alteridade. Foi ela que deu origem à busca da interação social dentro do ideal de liberdade, igualdade e fraternidade do socialismo democrático, à interação sujeito e objeto na busca da verdade, que foi a raiz do método experimental e das ciências modernas, à relação de sustentabilidade na economia e na ecologia, enfim, ao que há de mais criativo no humanismo ocidental. O Mito do Heroi no Cristianismo tem muitas características iguais e muito diferentes dos mitos heróicos patriarcais, como, por exemplo, na Mitologia Grega, Germânica ou Assírio-Babilônica. Em todos eles, o nascimento do heroi é milagroso, seu pai é dual, sua vinda é revolucionária e ameaçadora e, por isso, ele é ameaçado de morte ao nascer. No entanto, o heroi patriarcal geralmente está a serviço de uma missão subordinada ao poder, pela qual ele luta, mata e geralmente morre, enquanto que o heroi da alteridade, por seu lado, está a serviço de uma missão de transformação espiritual subordinada ao amor e à compaixão, como é o caso de Cristo, Buda e Krishna. Como muitos outros mitos do heroi, o heroi messiânico cristão é anunciado milagrosamente, ou seja, contrariando as leis naturais. Como ele é destinado a mudar a consciência coletiva e o poder tradicional vigente, o nascimento do heroi é considerado ameaçador e, por isso, ele é frequentemente perseguido para ser morto. É o que o Rei 3

Herodes, representante da ocupação romana, tenta fazer com a matança das crianças até dois anos, na cidade de Belém, episódio esse que é relatado no Novo Testamento como o Massacre dos Inocentes. Frequentemente, por sincronicidade, há sinais cósmicos, como no caso da estrela (possivelmente Vênus), que guiou os três reis magos para o nascimento de Jesus. A concepção de Maria como virgem e toda a mitologia da Virgem Maria que se desenvolveu dentro do Cristianismo é um exemplo da hipostasia, concretização ou literalização de aspectos simbólicos dos mitos, que comumente ocorre nas culturas. No caso, Maria é virgem espiritualmente porque ela vai receber por mediunidade ou revelação mística, a vivência de que Jesus será a encarnação histórica do Mesisas. A transformação dessa virgindade milagrosa espiritual numa virgindade física, geralmente feita no Cristianismo, limita muito a compreensão do processo religioso que foi sua vida como mãe do Messias. O Mito Cristão se desenrola na história de Israel durante a ocupação romana. Ele emerge dentro da tradição mística judaica da vinda do Messias, anunciada por muitos profetas, inclusive por Isaias, cujo texto Jesus lerá na sinagoga, na passagem do filme em que Jesus se declara o Messias e é expulso da Sinagoga e quase apedrejado como blasfemador. A principal discrepância entre Jesus, como heroi da alteridade, e as expectativas dos israelitas oprimidos por Roma era que, dentro do contexto patriarcal do Velho Testamento, o Messias seria um heroi patriarcal, que continuaria a glória dos grandes reis de Israel, como Davi e Salomão. Nesse sentido, o filho de um humilde carpinteiro (José), nascido numa manjedoura ao lado de um boi e de um jumento, em condições de extrema pobreza e humildade, para abençoar os humildes, perseguidos e abandonados, (Sermão da Montanha), é em tudo diferente do grande general aguardado em fausto, para guerrear e milagrosamente derrotar Roma, como Davi fez com Golias. Essa rebelião de natureza patriarcal ocorreu no ano 70 AD, quando os israelitas se rebelaram em luta armada contra a ocupação romana. Eles foram aniquilados e o Templo de Jerusalém destruído, o que deu origem à diáspora dos judeus espalhados pelo mundo, até voltarem para a Palestina em 1948, quase dois mil anos depois. A diferença entre o Messias de Alteridade representado por Jesus e o Messias guerreiro patriarcal, foi um dos principais fatores de Jesus ser considerado um blasfemador e entregue pelo Sinédrio às autoridades romanas para ser crucificado na Páscoa, entre dois ladrões. 4

Jesus repetidamente pregou a Boa Nova do Messias, para as pessoas se arrependerem do pecado e buscarem a salvação. Isso não se refere aos pecados habituais, mas, possivelmente, ao grande pecado da humanidade que adotou o padrão patriarcal e transformou Jesus no Messias, no carneiro sacrificial que veio morrer para redimr a humanidade desse pecado. Do ponto de vista simbólico e arquetípico, a implantação da alteridade era a Boa Nova que transformou a relação patriarcal e maniqueísta com Deus num paradigma dialético entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, na Santíssima Trindade. Possivelmente, o pecado da humanidade, que Jesus veio redimir com seu sacrifício é a própria dominância do padrão patriarcal com o seu apego ao poder, aos bens materiais, às tradições inflexíveis, ao elitismo, à opressão dos fracos, humildes e oprimidos, e a formação da Sombra que a Alteridade vem confrontar, elaborar e resgatar. Que o heroi morra junto com o sacrifício da transformação que ele propõe instalar é uma ocorrência habitual nos mitos heroicos, mas por que Jesus morre na cruz para transformar a dominância patriarcal quando o que ele traz é a alteridade com a compaixão e o amor? Essa talvez seja a parte do Mito mais difícil de compreender. Possivelmente, em assim fazendo, Jesus expôs até a última consequência, a soberba do Arquétipo Patriarcal representada tanto por Pilatos quanto pelo Sinédrio. Ao se transformar ele próprio no carneiro sacrificial, ele assume totalmente sua identificação com a bondade, a humildade e a compaixão, ou seja, tudo o que ele quer trazer para a humanidade em contraposição ao autoritarismo elitista da dominância patriarcal que ele quer ultrapassar. As condições de sua morte heroica como carneiro sacrificial dão a Jesus o significado do símbolo da Ressurreição dentro da Trindade com a relação entre o Pai e o Filho, não mais autocrática como na dominância patriarcal, mas dialética e amorosa do Deus transformado pelo amor. Compreendemos assim, que a instalação da alteridade pelo Mito Cristão, corresponde no Self Cultural à integração dos Arquétipos da Anima e do Animus na fase da maturidade do processo de individuação (41 aos 60 anos) no Self Individual. Na nossa próxima e 29ª aula, continuaremos o estudo da ultrapassagem da dominância patriarcal em busca da alteridade e da totalidade, com o mito do Buda. Boa noite a todos, e até quinta-feira. Byington 5

PSICOLOGIA SIMBÓLICA JUNGUIANA AS SETE FASES DA VIDA 1 a FASE: Intrauterina Arquétipo Central Arq. Patriarcal Ativo (Self Cultural) 2 a FASE: Primeira Infância (0-2 Anos) Arq. Matriarcal Passivo Arq. Patriarcal Ativo (Self Familiar) 3 a FASE: Segunda Infância (2-12 Anos) Arq. Matriarcal Passivo Arq. Patriarcal Passivo Arq. do Herói Passivo 4 a FASE: Adolescência (12 20 Anos) Arq. Matriarcal Ativo Inicial Arq. Patriarcal Ativo Inicial Arq. Anima / Animus Passivos Arq. do Herói Passivo Arq. de Alteridade Passivo 5 a FASE: Adulta (21-40 Anos) Arq. Matriarcal Ativo Arq. Patriarcal Ativo Arq. Alteridade (Anima e Animus) Ativos Arquétipo do Herói Ativo 6 a FASE: Maturidade (41 60 Anos) Arq. de Alteridade Ativo Arq. Anima e Animus Ativos Dom. Matriarcal Dom. Patriarcal Arquétipo do Herói Ativo Segunda Adolescência 7 a FASE: Terceira Idade (Acima dos 60 Anos) Arquétipo da Totalidade Desapego Existencial / Conjunção Cósmica O ARQUÉTIPO CENTRAL E O ARQUÉTIPO DA VIDA E DA MORTE ESTÃO PRESENTES EM TODAS AS FASES 6

Vivências PSICOLOGIA SIMBÓLICA JUNGUIANA ESTRUTURA E DINÂMICA DO SELF Processo de Elaboração Simbólica SUPRACONSCIÊNCIA Vivências CONSCIÊNCIA Eixo Simbólico SOMBRA Persona Criativa dominantemente dominantemente Persona Defensiva Consciente Inconsciente EGO OUTRO EGO OUTRO OUTRO OUTRO OUTRO OUTRO Introjeção Projeção Função Transcendente da Imaginação Introjeção Projeção Função Sacrificial Função Avaliadora Função Ética FUNÇÕES ESTRUTURANTES CRIATIVAS Função Estética FUNÇÕES ESTRUTURANTES DEFENSIVAS Fixações Compulsão de Repetição Resistência Estratégias Defensivas: Símbolos Estruturantes Neurose, Psicopatia, Borderline e Psicose Funções Estruturantes Sistemas Estruturantes POSIÇÕES ARQUETÍPICAS EGO OUTRO Arquétipo do Herói DIMENSÕES SIMBÓLICAS Indiferenciada Corpo-Natureza-Sociedade-Ideia Insular Imagem-Emoção-Palavra-Número-Comportamento-Silêncio Polarizada Quatérnio Arquetípico Regente Dialética FUNÇÕES DA CONSCIÊNCIA Contemplativa Pensamento-Sentimento-Intuição-Sensação Arquétipo da Alteridade ATITUDES EGO-OUTRO ATITUDES Passiva Arquétipo ARQUÉTIPO CENTRAL Arquétipo Extroversão Ativa Matriarcal Arquétipo da Vida e da Morte Patriarcal Introversão Arquétipo do Bem e do Mal demais arquétipos Arquétipo da Totalidade demais arquétipos 7

8