fls. 288 SENTENÇA Processo Digital nº: 1020163-53.2015.8.26.0003 Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro Requerente: Edineia Oliveira Cavalcante Requerido: Gafisa S/A Juiz(a) de Direito: Dr(a). Laura Mota Lima de Oliveira Macedo Vistos. EDINEIA OLIVEIRA CAVALCANTI ajuizou ação de rescisão contratual contra GAFISA S/A, alegando, em síntese, ter celebrado, em outubro de 2012, contrato de compromisso de compra e venda do imóvel unidade 12, Empreendimento "Condomínio Easy Maracá". Narra que compareceu no local do empreendimento e foi atendida por funcionário da empresa Abyara, contratada pela ré e que se encontrava no local para operacionalizar a venda. Afirma que lhe foi cobrada a quantia de R$31.041,14 a título de comissão de corretagem, além de R$1.300,00 a título de taxa Sati, valores por ela questionados. Relata que o contrato foi assinado no local e que não recebeu sua via no ato. Aduz que houve modificação de suas condições financeiras e que tentou soliciar o distrato amigável, mas a ré concordou apenas com a devolução de 36% dos valores pagos. Sustenta que arcou com a importância de R$253.255,94, sendo R$220.914,80 de parcelas do contrato e o restante de comissão e taxa Sati. Requer a restituição de 90% das parcelas e 100% das comissão e taxa, pagamento a ser feito pela ré em uma única parcela. Devidamente citada, a requerida apresentou contestação (fls. 94/105), com preliminar de ilegitimidade passiva com relação aos pedidos de restituição de comissão de corretagem e taxa Sati. No mérito, concorda com o pedido de rescisão contratual, mas impugnou o pedido de restituição formulado pela autora. Requer a aplicação das cláusula contratuais, que prevê a devolução de 60% dos valores pago e em 1020163-53.2015.8.26.0003 - lauda 1
fls. 289 doze parcelas mensais. Aduz que a autora deu causa à rescisão e que é justa a retenção. Impugnou a devolução da taxa de corretagem e sati. Alternativamente, requereu a retenção de 30% dos valores pagos, com imediata liberação do imóvel. Juntou documentos. Houve réplica (fls. 159/183). O feito foi suspenso até o julgamento do REsp n. 1551956 (fl. 190), o que ocorreu em 24 de agosto de 2016 e foi comunicado nos autos pela autora (fl. 193/199), que requereu o julgamento do feito, sem modificação do pedido. É o relatório. FUNDAMENTO E DECIDO. Julgada a questão afeta aos recursos repetitivos pelos Superior Tribunal de Justiça, o prosseguimento do feito é medida que se impõe. A prova documental autoriza o imediato julgamento do pedido, nos termos do artigo 355, I, do CPC. São fatos incontroversos que a autora não mais possui interesse no contrato e que arcou com o valor indicado na inicial. A rescisão é possível, e nem poderia ser diferente, discutindo-se apenas os valores a serem restituídos à autora, observando-se que não chegou a ser imitida na posse do bem. O pedido deve ser julgado PARCIALMENTE PROCEDENTE. Afasto a preliminar de ilegitimidade passiva. A questão foi decidida nos autos do REsp n. 1.551.951 e do REsp n. 1.551.968, em julgamento proferido em incidente de recurso repetitivo, sendo a incorporadora, promitente vendedora, parte legítima para responder a demanda em que é pleiteada a restituição dos valores pagos a título de comissão de corretagem e taxa de assessoria técnico-imobiliária. De rigor, contudo, também diante do julgamento proferido em incidente de recurso repetitivo (Acórdão proferido no REsp n. 1.551.956), a decretação da 1020163-53.2015.8.26.0003 - lauda 2
fls. 290 prescrição, fixada em três anos para a pretensão de restituição dos valores pagos a título de comissão de corretagem ou de serviço de assistência técnico imobiliária ou atividade congênere, aplicando-se o artigo 206, parágrafo 3o, IV, do Código Civil. Com efeito, o contrato foi celebrado em 21 de outubro de 2012 e a ação foi proposta em 25 de novembro de 2015, quando já decorrido, assim, o prazo trienal. Não mais cabe qualquer discussão, dessa forma, com relação ao pagamento da comissão de corretagem (observando-se, de todo modo, que foi prevista em contrato e era de conhecimento do consumidor) e taxa Sati. No que tange ao pedido de devolução das parcelas pagas, verifica-se que a cláusula 5.4 do contrato estabelece, no caso de rescisão, a retenção do percentual de 60% e a devolução em doze parcelas (fl. 127). Indiscutível que, uma vez apurado o inadimplemento do contrato pela autora, impõe-se a rescisão do contrato com o retorno das partes ao status quo ante, com a devolução de parte do que foi pago pelo adquirente. O art. 53, do Código de Defesa do Consumidor, prevê o direito de devolução de parte dos valores pagos em hipótese de rescisão do compromisso de compra e venda mesmo na hipótese de ser o inadimplemento por parte do consumidor adquirente, como ocorre no caso em tela. A relação negocial é claramente de consumo, logo plenamente aplicáveis as normas do Código de Defesa do Consumidor. Ainda, também encontram plena incidência no caso concreto as Súmulas TJSP nºs 01, 02 e 03, quais sejam: Súmula 1: O Compromissário comprador de imóvel, mesmo inadimplente, pode pedir a rescisão do contrato e reaver as quantias pagas, admitida a compensação com gastos próprios de administração e propaganda feitos pelo 1020163-53.2015.8.26.0003 - lauda 3
fls. 291 compromissário vendedor, assim como com o valor que se arbitrar pelo tempo de ocupação do bem. Súmula 2: A devolução das quantias pagas em contrato de compromisso de compra e venda de imóvel deve ser feita de uma só vez, não se sujeitando à forma de parcelamento prevista para a aquisição. Súmula 3: Reconhecido que o compromissário comprador tem direito à devolução das parcelas pagas por conta do preço, as partes deverão ser repostas ao estado anterior, independentemente de reconvenção. Pelo o que se observa, houve adimplemento acerca do pagamento até a parcela vencida em outubro de 2015 (fl. 111). Entendo razoável, desse modo, considerando os valores pagos, a retenção de 15%, percentual mais do que suficiente para ressarcir a vendedora dos gastos administrativos e compensar os prejuízos causados, observado que com a rescisão a ré poderá revender a unidade e realizar novos lucros. No mais, a ré, em defesa, não comprovou qualquer outras despesa Inadmissível a pretensão de devolução em parcelas. A Súmula n. 543 do STJ, publicada, em 31/08/2015, encerrou qualquer discussão, consolidando aquilo que a jurisprudência já vinha decidindo. Súmula 543: Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento. Ante o exposto e por tudo o mais que dos autos consta, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para RECONHECER a rescisão do contrato 1020163-53.2015.8.26.0003 - lauda 4
fls. 292 que vincula as partes objeto dos autos por conta da culpa/pedido da autora adquirente, e o faço para CONDENAR a ré a devolver, de uma só vez o equivalente a 85% de todos os valores desembolsados em função do contrato, especificados na inicial, corrigidos monetariamente pela tabela do TJSP a contar dos desembolsos, com exceção da comissão de corretagem e taxa Sati, ante o reconhecimento da prescrição. O total a ser devolvido sofrerá a incidência de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação. Rescindido o contrato, independentemente do trânsito em julgado, é direito da ré comercializar o imóvel a terceiro. Havendo sucumbência recíproca, cada parte deverá arcar com metade das custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios da parte contrária fixados em R$1.500,00. Caso interposto recurso de apelação, intime-se para contrarrazões, remetendo-se, após, ao E. Tribunal de Justiça. P.R.I. São Paulo, 26 de setembro de 2016. DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA 1020163-53.2015.8.26.0003 - lauda 5