UM QUADRO DE PARASITOSES INTESTINAIS EM ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA), DE ESCOLAS PÚBLICAS, BOA VISTA, RORAIMA. Jucicleia Castro Eda 1 ¹Graduada em Ciências Biológicas, Faculdade Cathedral, sede Boa Vista-RR. jcastroeda@hotmail.com Arlene Oliveira Souza 2 ²Mestre em Recursos Naturais, professora do Curso de Ciências Biológicas, Faculdade, Cathedral, sede Boa Vista-RR, e-mail: profarlene@oi.com.br Resumo As parasitoses intestinais são doenças causadas por vermes e protozoários. A contaminação pode ocorrer de várias formas, dentre elas, destacam-se a ingestão de alimentos e água contaminada. Este trabalho mostra os resultados da monografia da Faculdade Cathedral que teve como público alvo alunos da Educação de Jovens e Adultos de escolas públicas municipais localizadas em bairros periféricos de Boa Vista. A estratégia utilizada na pesquisa foi a seleção de um grupo de alunos da 8ª série para a realização de exames parasitológicos. Foram analisadas 18 amostras de fezes, através do método Hoffman e Faust. Realizou-se também, a aplicação de questionários aos alunos selecionados, que assinaram termo de consentindo da sua participação na pesquisa. Os resultados evidenciaram que mais de 50% dos exames apresentaram resultados positivos para as seguintes espécies: cistos de Entamoeba histolytica, ovos de Áscaris lumbricóides, Entamoeba coli e Endolimax nana. Palavras-chave: Ingestão de alimentos. Água contaminada. Parasitoses Intestinais. Roraima. Abstract The intestinal parasitoses are diseases caused by worms and protozoa. The contamination can happen in several ways, among them, they stand out the ingestion of foods and polluted water. This work shows the results of Faculdade Cathedral monograph that he/she had as public white students of the Education of Youths and Adults of municipal public schools located in outlying neighborhoods of Boa Vista. The strategy used in the research was the selection of a group of students of the 8th series for the accomplishment of exams parasitológicos. 18 samples of feces were analyzed, through the method Hoffman and Faust. He/she also took place, the application of questionnaires to the selected students, that you/they signed term of consenting of his/her participation in the research. The results evidenced that more than 50% of the exams presented positive results for the following species: cysts of Entamoeba histolytica, eggs of Áscaris lumbricóides, Entamoeba coli and Endolimax sleeps. Word-key: Ingestion of foods. Polluted water. Intestinal Parasitoses. Roraima.
Introdução As parasitoses intestinais são enfermidades causadas por vermes e protozoários que afetam a qualidade de vida, principalmente, nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, nas áreas rurais e nos subúrbios das grandes cidades (Pinho, 2000). Estudos revelam que contaminações por verminoses podem acometer a saúde das pessoas trazendolhes sérias complicações na vida (REY, 2002; PRADO, 2001). Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que os fatores que favorecem a proliferação dos parasitos vão desde a ausência de saneamento básico, clima quente, carência alimentar, até a falta de informação. A transmissão dos parasitas intestinais é mantida pela liberação dos estágios do ciclo de vida (cisto, ovo e larvas) nas fezes. Na maioria dos casos, as novas infecções dependem, direta ou indiretamente, do contato do homem com o material fecal e, portanto, as taxas de infecção refletem os padrões de higiene e medidas sanitárias (SIQUEIRA, 1996). A prevenção por meio de medidas educativas constitui-se a forma mais segura e eficaz no combate das parasitoses. É, também, de fundamental importância a ação do poder público, através da adoção de medidas de saneamento básico, noções básicas de higiene e educação sanitária. O esgotamento do parasita no homem, seguido de educação sanitária, levaria à interrupção da cadeia de transmissão. A tecnologia atual, torna no agravo passível de ser erradicado (VALADARES, p.45, 1997). Segundo Corrêa (1994), o diagnóstico dos parasitas, por meio de exames parasitológicos de fezes, vem sem dúvida, preencher sensível lacuna em nossa literatura, tarefa indispensável para a avaliação exata da atividade dos diferentes agentes. Tendo em vista a importância da identificação do agente causador e o tratamento das pessoas afetadas com o uso de medicamentos antiparasitários, medidas que, segundo Correia (2001), reduzem bastante o índice de infecções numa comunidade, propôs-se a realização desta pesquisa abrangendo pessoas de nível socioeconômico baixo, residentes em bairros periféricos da capital, Boa Vista. Elegeu-se como objetivo principal avaliar a presença de espécies de parasitas num grupo amostral de alunos da Educação de Jovens e Adultos- EJA, selecionados nas escolas Nova Canaã e Francisco Cassio de Moraes, em Boa Vista, Roraima.
Metodologia A investigação foi realizada em novembro de 2008, nas Escolas Nova Canaã no bairro de mesmo nome, e Escola Francisco Cássio de Moraes, situada no União; trata-se, ambos, de bairros periféricos localizados no município de Boa Vista. Selecionou-se um grupo amostral de dezoito alunos, que representa 28,57% do total de alunos matriculados na 8ª série do período noturno, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), faixa etária 18 a 48 anos. Os referidos alunos assinaram um termo de consentimento da sua participação, compromento-se em ceder o material para a realização de exames coprocológicos. Para coleta do material para os exames, os alunos das escolas receberam um pote coletor etiquetado contendo solução conservante, responderam a um questionário, e as instruções sobre e a forma correta de coleta do material. Os discentes foram orientados a respeito da importância da sua participação no estudo. Ainda, foi realizado levantamento de dados por meio de questionários, visando ao conhecimento dos alunos quanto a medidas de higiene e saneamento básico nos bairros. Foram realizados exames de fezes (pesquisa de helmintos e protozoários), através dos métodos Faust e Holffman na Policlínica da Faculdade Cathedral. A última etapa da pesquisa consistiu na realização de palestra na escola sobre medidas de prevenção das parasitoses intestinais e entrega dos resultados dos exames, para que os alunos buscassem atendimento médico hospitalar. Resultados e Discussão Os resultados apontaram ocorrência de parasitas intestinais por ordem de importância nas amostras de fezes. Cistos de Etamoeba coli 27,8%, Cistos de Entamoeba histolytica,, Ascaris lumbricoides e Cistos de Endolimax nana. Dessas espécies não são consideradas patogênicas a E. coli e E. nana. Observou-se que do total dos exames analisados, 44,4% tiveram resultados negativos (Gráfico 1). Pesquisa realizada por Vinhal (2008) num bairro periférico de Boa Vista, Roraima, contatou a presença de A. lumbricoides, E. histolytica, E. coli, E. nana em crianças carentes. Essas mesmas espécies de parasitos são citadas por Correia (2005) como as mais freqüentes em diferentes faixas etárias, sexo e classes sociais.
Gráfico 1 Espécies de parasitas identificadas nas amostras de fezes de alunos da EJA. 5 45,0% 4 35,0% 3 25,0% 2 15,0% 1 5,0% 44,4% 27,8% A. Lumbricoides E.Histolytica E. Nana E. Coli Negativo Neste trabalho, verificou-se do total de mulheres (61,1%) que aceitaram participar da pesquisa, 33% delas se encontravam acometidas por parasitas intestinais; e de 38,9% dos homens, 22,2% deles apresentaram resultados positivos (Gráficos 2). A confirmação desses resultados indica a gravidade do problema além da necessidade de cuidados com a água e alimentos, pois esses podem constituir-se na via de transmissão de parasitos intestinais. Gráfico 2 Ocorrências de casos positivos e negativos por sexo identificados nas amostras de fezes de alunos da EJA. 7 6 61,1% 5 4 3 2 22,2% 33,3% 27,8% 38,9% 1 Positivo Negativo Total Masculino Feminino A distribuição das espécies de parasitas por sexo deu-se da seguinte forma: a espécie E. coli teve ocorrência mais significativa em ambos os sexos, masculino 11,1%; feminino
; enquanto que a menor freqüência foi registrada para a espécie A. lumbricóides masculino e nenhum caso no sexo feminino. E. nana ocorreu somente no sexo feminino ; já a E. histolytica ocorreu em maior número entre as alunas 11,1% e menor, entre os alunos (Gráfico 3). Em outra pesquisa realizada por Correia et. al., (2005), com alunos do Colégio militar em Feira de Santana na Bahia, localizado na periferia da cidade, detectaram-se os seguintes parasitas: Enterobius vermiculares, A. lumbricóides e E. coli. Gráfico 3 Percentual de espécies de parasitas identificadas nas amostras de fezes de alunos da EJA por sexo. 3 27,8% 25,0% 2 15,0% 1 5,0% 11,1% Masculino 11,1% Feminino A. Lumbricoides E.Histolytica E. Nana E. Coli Negativo Durante as pesquisas de campo, quando dezoito alunos responderam questionamentos a respeito de saneamento básico e educação sanitária, 50% afirmaram que o bairro onde moram possui atendimento nesse sentido. Isso demonstrou que os alunos desconhecem sobre a questão, pois dados da Secretaria Municipal de Obras indicam que nos referidos bairros não há sistema de esgotamento sanitário. Acredita-se que os alunos tenham relacionado a pergunta somente aos serviços de abastecimento de água, distribuída por meio de sistema de encanamento e de estações elevatórias. Quando questionados sobre a ingestão de água filtrada ou fervida, 66,6% responderam de forma negativa, o que leva a crer que a ingestão de água contaminada contribui significamente para a transmissão de parasitas intestinais. A desinformação dos alunos sobre a importância de hábitos constitui-se em risco à saúde e deve merecer atenção especial por parte da própria instituição educacional da qual fazem parte esses alunos. Neste sentido, devem-se buscar meios para divulgar cuidados higiênico-sanitários, a fim de evitar o comprometimento da qualidade da água e alimentos consumidos.
Em relação aos medicamentos antiparasitários, 77% dos alunos admitiram que há mais de seis meses não foram medicados e disseram que nunca tomaram remédios para combater parasitas intestinais. Estes resultados demonstram a displicência dos mesmos para com a própria saúde; muitos deles não têm como gerenciar a própria saúde, do ponto de vista financeiro; sem planos de saúde privados, recorrem à assistência médico-hospitalar gratuita oferecida pelo governo estadual ou municipal. Conclusão Os resultados dos exames indicaram que os alunos das Escolas de Jovens e Alunos, em especial nas escolas Nova Canaã e Francisco Cássio de Moraes, apresentam um resultado desfavorável à presença de parasitas intestinais, já que metade dos exames parasitológicos foi positiva. Percebe-se que essa positividade para diversas espécies de parasitas intestinais ocorre em virtude da falta de higiene e pelo fato de os alunos desconhecerem a forma de contaminação. Dessa maneira, constatou-se que a contaminação existe pela ausência de esclarecimentos sobre a forma de transmissão das parasitoses intestinais, comprovando o que afirma a literatura sobre o tema: o grau elevado de parasitoses intestinais é mais comum em pessoas de baixa renda, porque muitas delas não possuem hábitos de asseios pessoais e não acreditam na possível contaminação que, na maioria das vezes, se dá pela ingestão dos alimentos e água, sem a devida higienização. Este estudo possibilitou verificar a importância da realização de exames parasitários e tratamento dessas doenças que são negligenciadas pelos alunos. É importante salientar que foi comprovado ser a desinformação sobre hábitos de higiene e a preocupação com a qualidade da água o que contribui para a ocorrência das parasitoses intestinais. Consequentemente, torna-se necessário fornecer informações, através da escola, sobre os principais fatores que contribuem para a disseminação dos parasitas intestinais. E, principalmente, conscientizar os alunos sobre a importância da prevenção dessas doenças. Espera-se que a divulgação desta pesquisa resulte na sensibilização dos educadores, quanto ao seu papel de conscientiza dores, bem como na seriedade com que deve ser tratada, na sala de aula, a prevenção das parasitoses intestinais, através da veiculação de informações
sobre os principais fatores de risco de contaminação da água e de alimentos, além da importância de hábitos de higiene corretos. Referências CORREIA, A A ; BRANDÃO, S.; RIBEIRO, L.B. Estudo das parasitoses intestinais em alunos do colégio militar (CPM) de Feira de Santana-Bahia, 2005. CORREIA, L. L., Neto, A. V. Exame parasitológico das fezes. 2. ed. São Paulo: Sarvier USP, 1994. PINHO, L. B.; PALUDO, K. Doenças parasitárias intestinais: Problema de saúde pública, alerta para o enfermeiro. Revista eletrônica de enfermagem, v. 2, n. 2, jul dez, 2000. PRADO, F.S.M. et al. Incidência de parasitos intestinais em material sub-ungueal e fecal em crianças da Creche Aprisco Fortaleza, CE. Revista Brasileira de Análises Clínicas. v.35, n.1, p. 39-40. 2001. REY.L. Bases da Parasitologia Médica. 2ª ed. Rio de Janeiro: p.39-40, 2001. SIQUEIRA, A.R. Alguns comentários sobre a história da cisticercose e dos seus transtornos neuropsiquiátricos. Revista médica. Minas Gerais. v. 5 n. 2 abr/jun. 1995. VALADARES, M.D.M. Complexo teníase/cisticercose. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária. V.6,n.2, suplemento 1, ago, 1997. VINHAL, A.P. Parasitas Intestinais em Crianças Diagnosticadas na Policlínica Cosme e Silva em Boa Vista, Roraima. Monografia (Graduação em Ciências Biológicas-Bacharelado) Faculdade Cathedral de Ensino Superior, 2008.