COMPOSTAGEM PARA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS: ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUIÇÃO DE PESQUISA

Documentos relacionados
Compostagem de resíduos orgânicos: avaliação de resíduos disponíveis no amapá. Organic Composting: assessment of the available waste in Amapá state

UTILIZAÇÃO DA COMPOSTAGEM PARA O TRATAMENTO DE RESÍDUOS DE MADEIRA E APARAS DE GRAMA

COMPOSTAGEM DOS RESÍDUOS ORGÂNICOS DA FCT/UNESP EM LEIRA CONVENCIONAL

COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS DE ANIMAIS. Karolina Von Zuben Augusto Zootecnista Dra em Engenharia Agrícola B.I.T.A. Busca Inteligente em Tecnologia Animal

COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS DE FÁBRICA DE CELULOSE E PAPEL

1. INTRODUÇÃO 2. MATERIAL E MÉTODOS

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE COMPOSTAGEM UTILIZANDO PODAS VERDES E RESÍDUOS DO SANEAMENTO

RESPIRAÇÃO MICROBIANA NO SOLO CONTENDO TORTA DE MAMONA EM FUNÇÃO DA VARIAÇÃO DA UMIDADE. Algodão,

X Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP Rio Claro, SP. ISSN

VARIAÇÃO DE TEMPERATURA E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE COMPOSTOS ORGÂNICOS COM ESTERCO BOVINO OU CAPRINO. Resumo

10º ENTEC Encontro de Tecnologia: 28 de novembro a 3 de dezembro de 2016

AGRICULTURA GERAL. Conceito COMPOSTAGEM COMPOSTAGEM POMBAL PB. Prof. Dr. Francisco Hevilásio F. Pereira (UAGRA/CCTA/UFCG)

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DA CASCA DE LARANJA NA COMPOSTAGEM DA PODA DE ÁRVORE COM DEJETO BOVINO

COMPOSTAGEM: TRATAMENTO AERÓBIO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS

OBTENÇÃO E QUALIDADE DE COMPOSTO ORGÂNICO DE PODAS DE ÁRVORES COM DIFERENTES FONTES DE NITROGÊNIO

Ensaio de aceleração de compostagem de resíduos de podas de árvores urbanas através da adição de RINENBAC.

X Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP Rio Claro, SP. ISSN

Métodos de disposição final de resíduos sólidos no solo. Disposição final AVALIAÇÃO. Impactos ambientais. Lixão. Aterro Sanitário DOMICILIAR

RESÍDUOS SÓLIDOS TEMPERATURA E REDUÇÃO DE MASSA E VOLUME EM PROCESSO DE COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS ORGÂNICOS DOMICILIARES E PODA DE ÁRVORES

FERTILIDADE E MANEJO DE SOLOS. Prof. Iane Barroncas Gomes Engenheira Florestal

ICTR 2004 CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho Florianópolis Santa Catarina

COMPOSTAGEM ORGÂNICA: MÉTODO EFICIENTE PARA A GESTÃO DE RESÍDUOS DE ANIMAIS DA AQUICULTURA

ph e granulometria em compostagem de pequena escala com diferentes fontes de resíduos

III-072 CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO E AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO CARBONO NITROGÊNIO NA COMPOSTAGEM

PRODUÇÃO DE SUBSTRATO ATRÁVES DE PODAS DE ÁRVORES DA CIDADE DE PORTO VELHO-RO

USO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS NA RECUPERAÇÃO DA FERTILIDADE DE ÁREAS DEGRADADAS. Apresentação: Pôster

DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA E REDUÇÃO DE PESO DE CARCAÇAS EM COMPOSTAGEM COM DIFERENTES PROPORÇÕES

COMPOSTAGEM EM PEQUENA ESCALA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO ASSOCIADO A PODA DE ÁRVORES

menu NISAM20 04 menu inic ial próxima

Tratamento de Resíduos Orgânicos COMPOSTAGEM

APRESENTAÇÃO: FERTILIZANTE TERRAPLANT

Monitoramento e avaliação de aspectos relacionados à compostagem de lodo de abatedouro de frangos

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS ORGÂNICOS

AVALIAÇÃO DA COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS ORGÂNICOS DA ÁREA VERDE DO CAMPUS MARECHAL DODORO IFAL EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE REVOLVIMENTOS

Compostagem orgânica como manejo sustentável dos resíduos da aquicultura. PqC. Rose Meire Vidotti Zootecnista

PRODUÇÃO DE SUBSTRATOS ORGÂNICOS A PARTIR DA COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS DE CANA-DE-AÇÚCAR, BANANA E TOMATE

Resumos do VIII Congresso Brasileiro de Agroecologia Porto Alegre/RS 25 a 28/11/2013

COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS ORGÂNICOS DOMICILIARES E PODA DE ÁRVORES NA PRESENÇA DE DOIS BIOPOLÍMEROS A BASE DE AMIDO

Programa Analítico de Disciplina CIV446 Tratamento Biológico de Resíduos Sólidos Orgânicos

Corretivos Adubos e Adubações. Prof. ELOIR MISSIO

Resumos do IX Congresso Brasileiro de Agroecologia Belém/PA a

ELABORAÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS A PARTIR DE CO PRODUTOS DA PRODUÇÃO DE AGROENERGIA

RESÍDUOS SÓLIDOS PROJETO PILOTO DE COMPOSTAGEM NOS CAMPI I E II DO CEFET-MG

Categoria Trabalho Acadêmico\Resumo Expandido ANÁLISE DO USO DE ADUBO ORGÂNICO NO CULTIVO DE GIRASSOL

NITROGÊNIO NO TECIDO VEGETAL DE PLANTAS HIBERNAIS E ESTIVAIS

Avaliação de Métodos Alternativos para a Biodegradação da Casca do Coco Seco

ESTUDO EM CÉLULAS EXPERIMENTAIS DE RESÍDUOS SÓLIDOS: UMA SIMULAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS

4 Reciclagem do lodo para utilização final na agricultura

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES FONTES DE MATÉRIA ORGÂNICA NA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE VERMICOMPOSTO RESUMO

INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA E MATERIAL HÚMICO SOBRE A PRODUÇÃO DE ALFACE AMERICANA

Foto: George Amaro PRODUÇÃO DE COMPOSTO ORGÂNICO COM RESÍDUOS DA CULTURA

ESTAÇÃO DE COMPOSTAGEM

Degradação Bioquímica

Compostos orgânicos produzidos com resíduos vegetais e dejetos de origem bovina e suína

3º. A excepcionalidade prevista no 1º deste artigo não se aplica aos resíduos orgânicos industriais.

PALAVRAS-CHAVE: Compostagem, Resíduos alimentares, Ciclos de reviramento, UFMG.

Compostagem - Curso Prático e Teórico

Caracterização Parcial e Avaliação da Maturidade de Composto e Biofertilizante para a Aplicação em Áreas de Produção Orgânica

TAXA DE DECOMPOSIÇÃO DE ESTERCOS EM FUNÇÃO DO TEMPO E DA PROFUNDIDADE DE INCORPORAÇÂO SOB IRRIGAÇÃO POR MICRO ASPERSÃO

AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES QUÍMICAS DO SOLO SOB INFLUÊNCIA DA MATÉRIA ORGÂNICA DE EFLUENTE DAS FOSSAS SÉPTICAS BIODIGESTORA.

Materiais: Folhas secas de serapilheira ou serragem; Resíduos orgânicos devidamente triturados; Regador; Termômetro digital (opcional).

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

Geração de Renda a Partir dos Dejetos da Pecuária

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Rurais Departamento de Solos Disciplina de Biologia do Solo VERMICOMPOSTAGEM 26/05/2009

COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS DE ORIGEM INDUSTRIAL E POTENCIAL DO MERCADO DE FERTILIZANTES ORGÂNICOS NO BRASIL

PROJETO DE LEI N o 4137, DE 2004

DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA DE COMPOSTAGEM NO CAMPUS DA FAP

Mecanismos de suprimento de nutrientes de planta através da Tecnologia do Consórcio Probiótico (TCP) e seu efeito na produção da colheita

AVALIAÇÃO DA TAXA DE DECOMPOSIÇÃO DE ADUBOS VERDES 1 INTRODUÇÃO

TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS (RSU) COMPOSTAGEM. Profa. Margarita María Dueñas Orozco

Planejamento e Gestão de RSU COMPOSTAGEM

Marina Andrada Maria Pesquisadora em Tecnologia, DSc

Substratos orgânicos para mudas de hortaliças produzidos a partir da compostagem de cama de cavalo

RESÍDUOS SÓLIDOS COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS ORGÂNICOS DOMICILIARES E PODA DE ÁRVORES: PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS

Atributos químicos do solo sob diferentes tipos de vegetação na Unidade Universitária de Aquidauana, MS

III AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS URBANOS: O CASO DOS RESÍDUOS DO RESTAURANTE E DE PODA DE UM CAMPUS UNIVERSITÁRIO

Produção Orgânica de Alface e Atributos de Solo pela Aplicação de Composto de Dejetos de Suínos

PRODUÇÃO DE MUDAS DE CAFEEIRO EM TUBETES UTILIZANDO SUBSTRATOS CONSTITUÍDOS POR CASCA DE ARROZ CARBONIZADA E CASCA DE CAFÉ COMPOSTADA

Desaguamento e higienização do lodo da ETE Castelo utilizando estufa agrícola

O uso do lodo como fertilizante: a experiência da SABESP

IX Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí IX Jornada Científica

EFEITO DO ÁCIDO ACÉTICO SOBRE A GERMINAÇÃO DE GENÓTIPOS DE ARROZ 1. INTRODUÇÃO

A QUALIDADE AGRONÔMICA DO COMPOSTO PRODUZIDO A PARTIR DE CARCAÇAS DE FRANGO E DIFERENTES MATERIAIS ORGÂNICOS

37º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS

III EFICIÊNCIA DE TRANSFORMAÇÃO DE CARBONO TOTAL E NUTRIENTES NO PROCESSO DE COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS

A Digestão Anaeróbia em ETAR / Conceitos. Leonor Amaral

Uso de Lodo de Esgoto em Solos. Experiência Brasileira

COMPOSTAGEM DE RESÍDUO DE CERVEJARIA ASSOCIADO A CAMA DE AVIÁRIO DE PERU COMPOSTING OF WASTE BREWERY ASSOCIATED WITH POULTRY LITTER

NITROGÊNIO. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Campus Experimental de Dracena Faculdade de Zootecnia

USO AGRÍCOLA DE LODO DE ESGOTO: DE RESÍDUO A FERTILIZANTE

COMPOSTAGEM DE LODO DE ESGOTO ASSOCIADO A RESÍDUO DE PODA URBANA

DECAIMENTO DE PATÓGENOS EM BIOSSÓLIDOS ESTOCADOS EM VALAS

EFEITO DO RESÍDUO EXAURIDO DO CULTIVO DE COGUMELOS SOBRE A GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Eucalyptus dunnii

ESTUDO E AVALIAÇÃO DO BALANÇO DE UMIDADE NA COMPOSTAGEM

Bioindicadores de Qualidade do Solo. Simone Cristina Braga Bertini

Tratamento orgânico dos resíduos de um frigorífico

Circular Técnica. Modelos de composteira para compostagem de aves mortas. Introdução. Autores. ISSN Versão Eletronica

QUANTIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS NO RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO DO CAMPUS DE RIO CLARO-UNESP: AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE COMPOSTAGEM

Avaliação de métodos alternativos de compostagem para biodegradação da casca de coco verde

Transcrição:

COMPOSTAGEM PARA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS: ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUIÇÃO DE PESQUISA Idemê Gomes Amaral (*), Madson Maciel da Costa * Museu Paraense Emílio Goeldi/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e-mail: ideamaral@hotmail.com RESUMO As questões relacionadas à geração de resíduos das atividades realizadas em instituições públicas e privadas são cada vez mais preocupante dado às suas características. Objetivou-se com esta pesquisa fazer uma avaliação do processo inicial de compostagem, no espaço de trinta dias, de resíduos orgânicos vegetais gerados no Campus de Pesquisa de uma Instituição Pública, em Belém, Pará, mediante análise das seguintes variáveis: umidade, temperatura, ph, COT, N total e relação C/N. O experimento foi conduzido no referido Campus de Pesquisa, em um delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e três repetições. Cada tratamento foi conduzido na forma de pilha em composteiras com as seguintes dimensões: 1,0 m de largura, 1,0 m de comprimento e 1,0 m de altura. Os tratamentos consistiram em: T1 (testemunha): 100% RPC (resíduos de poda e capina); T2: 75% RPC + 25% RR (resíduos dos restaurantes); T3: 50% RPC + 50% RR; T4: 25% RPC + 75% RR. Os resultados indicaram que a granulometria do resíduo de poda e o volume dos resíduos em tratamento influenciam o processo inicial de compostagem. As variáveis analisadas demonstram serem bons indicadores do estágio inicial de compostagem, Estes parâmetros são de fácil medição e, portanto, aplicáveis como forma de monitoramento do processo. Palavras-chave: Compostagem, meio ambiente, resíduos de poda, empresa pública. INTRODUÇÃO Com a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei Federal nº 12305/2010 as instituições (públicas e privadas) e toda a sociedade passam a integrar a cadeia de gestão destes resíduos, sendo obrigatório destinar corretamente o que é gerado em suas atividades de forma que a disposição não seja impactante ao meio ambiente. Entretanto, as questões relacionadas à geração de resíduos das atividades realizadas em instituições públicas e privadas são cada vez mais preocupante dado às suas características. No caso das instituições de pesquisa, a geração de resíduos é significativa e bastante heterogênea, devido à complexidade e às particularidades das diversas atividades exercidas, tornando o processo e gestão desses resíduos um desafio. Estes resíduos podem ser classificados como perigosos e não perigosos conforme a NBR 10004/2004, exigindo, portanto, um planejamento que garanta um manejo adequado dos mesmos, de acordo com as suas características. Dentre eles, incluem-se a parcela orgânica vegetal dos resíduos gerados nos restaurantes e os resíduos provenientes de podas e carpinas, gerados pelo serviço de manutenção e limpeza no referido Campus. Um das técnicas mais difundidas em todo mundo para o tratamento e disposição de resíduos orgânicos é a compostagem, utilizada no tratamento dos mais diferentes tipos de resíduos orgânicos. A técnica da compostagem, sendo bem conduzida, produz como produto final um material estabilizado quimicamente e livre de microrganismos patogênicos. Tal produto, denominado composto, caracteriza-se por ser um material humificado e excelente condicionador do solo (PAIVA et al., 2013). Ademais a compostagem constitui um sistema tecnológico de baixo custo, pois permite, não só reduzir a quantidade de resíduos sólidos orgânicos (RSO), quanto permite que instituições deem um destino correto para estes resíduos, com a eliminação do custo de transporte do material até os lixões. A avaliação físico-química desse processo permite assegurar o emprego correto da tecnologia, a fim de produzir compostos de melhor qualidade quanto ao fornecimento de nutrientes às plantas e, também como condicionadores do solo. IBEAS Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais 1

Porto Alegre/RS - 23 a 26/11/2015 OBJETIVO Avaliação do processo inicial de compostagem, no espaço de trinta dias, utilizando resíduos vegetais gerados em uma Instituição de Pesquisa, mediante análise das seguintes variáveis: temperatura, umidade, ph, carbono orgânico total (COT), nitrogênio total (N total) e relação C/N. METODOLOGIA O experimento foi realizado em uma Instituição de Pesquisa, localizada no município de Belém, Estado do Pará. O sistema experimental foi do tipo inteiramente casualizado com quatro tratamentos e três repetições. Cada tratamento foi conduzido em forma de pilha, em composteiras com as seguintes dimensões: 1,0 m de largura, 1,0 m de comprimento e 1,0 m de altura, previamente identificadas pelas letras " T" (tratamento) e " R" (repetição), seguidas dos numerais 1, 2,3 ou 4, fazendo alusão ao número do tratamento e sua respectiva repetição. Os tratamentos consistiram em: T1 (testemunha): 100% resíduos de poda e capina (RPC); T2: 75% (RPC) + 25% resíduos dos restaurantes (RR); T3: 50% RPC + 50% RR; T4: 25% RPC+ 75% RR. Não foram utilizados quaisquer tipos de inoculante ou aditivo. Na base de cada composteira foram colocadas lonas plásticas para evitar a contaminação do solo pelo lixiviado produzido no processo. No procedimento utilizado não foi realizada nenhuma forma de controle referente à umidade, como acréscimo de água e revolvimento do material, no período avaliado. As temperaturas eram lidas com auxílio de um termômetro digital, tipo espeto, com precisão de ±1 C, realizando as leituras diariamente (exceto sábado e domingo), sempre pela mesma pessoa para evitar distorções nos resultados. O valor médio das temperaturas foi calculado a partir de valores de temperatura registados em cinco pontos aleatórios das pilhas, alternados entre os extremos e a zona central das mesmas. As variáveis: umidade e ph foram avaliadas aos quinze e 30 dias; COT e N total analisadas aos 30 dias. Com base nos valores de COT e N total foi possível obter a relação C/N. As análises foram realizadas conforme Tedesco et al. (1995). Os dados coletados durante a pesquisa foram transcritos para planilhas eletrônicas do Programa Microsoft Excel versão dez, o qual gerou os gráficos, a partir desses dados. Os resultados foram discutidos com base na média dos atributos físico-químicos avaliados em cada tratamento, plotados em gráficos. RESULTADOS OBTIDOS O comportamento da temperatura média diária em cada tratamento, no período avaliado (30 dias, exceto sábado e domingo), pode ser observado na figura 1. Todos os tratamentos apresentaram temperaturas em torno de 35ºC, na primeira semana da instalação do experimento. E reduções graduais, posteriormente, quando ocorreram temperaturas abaixo de 30 C. Figura 1: Temperatura média diária nos tratamentos avaliados. 2 IBEAS Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais

De acordo com Kiehl (2012) a compostagem ocorre tanto em temperatura termofílica (45 a 85ºC) quanto mesofílica (25 a 43ºC). A fase termófila característica do processo de compostagem, não foi atingida nesta pesquisa, devido provavelmente, à granulometria dos resíduos de poda. Comportamento semelhante também foi observado por outros pesquisadores como Heerden et al. (2002). A umidade na primeira quinzena manteve-se alta, sempre acima de 50% (Figura 2), chegando a valores acima de 70%, sendo que a considerada ideal para a biodecomposição varia no intervalo 40-70% (Fernandez et al., 2008). Um meio com umidade acima de 70% proporciona uma decomposição lenta, condições de anaerobiose e lixiviação de nutrientes, principalmente na fase inicial. Valor inferior a 40% reduz a atividade microbiológica e, consequentemente, aumenta o período de compostagem (PEREIRA NETO, 2007). Figura 2: Valores médios de umidade nos tratamentos avaliados. Na segunda quinzena observou-se uma diminuição do teor de umidade em todos os tratamentos (Figura 2), mas ficando dentro da faixa ideal sugerida por Fernandez et al. (2008). Isso pode estar ligado com a evolução do processo de degradação dos resíduos e por ainda não haverem sido tomadas medidas de manutenção de água nas composteiras. Com relação ao ph dos tratamentos, durante os primeiros quinze dias do processo de compostagem estes apresentaram características ácidas e com pouca variação nos quatro tratamentos analisados, conforme pode ser verificado na figura 3. De acordo com Haug (1993) no início da compostagem, geralmente pode ser observada uma redução do ph, tornando o composto levemente ácido, decorrente da ação de decomposição da matéria orgânica pelos fungos e as bactérias, ocasionado devido a liberação de ácidos nessa etapa. Posteriormente estes ácidos são decompostos até serem completamente oxidados, atingindo na etapa final do processo um ph levemente alcalino. Figura 3: Valores médios de ph nos tratamentos avaliados. Na segunda quinzena, observou-se um aumento nos valores de ph em todos os tratamentos, com índices superiores a 6,00 (Figura 3). Iyengar & Bhave (2005) relatam que isso pode acontecer quando ácidos orgânicos são convertidos a CO2 e sempre que o processo se desenvolve, o ph do composto se eleva com o IBEAS Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais 3

Porto Alegre/RS - 23 a 26/11/2015 aumento das concentrações de bases na pilha. O valor máximo de ph, ocorreu no tratamento T4 provavelmente, devido à maior proporção (75%) de RR adicionada a esse tratamento. Rodrigues et al. (2006), relatam que a faixa de ph inicial considerada ótima para o desenvolvimento dos microorganismos responsáveis pela compostagem situam-se entre 5,5 e 8,5, uma vez que, a maioria das enzimas encontram-se ativas nesta faixa de ph. Em geral, o teor de COT durante o processo de compostagem aumentou e o de N total diminuiu (Figura 4), aos trinta dias do processo de compostagem. Kiehl (1985) admite que o teor de N dos resíduos a serem decompostos deve ter teoricamente 17 g kg-1. Quando o conteúdo é inferior a esse valor, o tempo de decomposição será maior. Figura 4: Valores médios, aos trinta dias, de COT (g kg-1), N total (g kg-1) e razão C/N em cada tratamento avaliado. A razão C/N tem sido utilizada como indicador do grau de decomposição dos materiais orgânicos (LARNEY & HAO, 2007). Os valores médios da relação C/N determinados nas amostras coletadas em cada tratamento constam na figura 4. De acordo com os resultados obtidos, pode-se verificar que, em sua maioria, os tratamentos apresentaram alta relação C/N aos 30 dias de compostagem. O tratamento T4 foi o que apresentou menor resultado. Kiehl (2012) enfatiza que a relação C/N ideal para iniciar o processo de compostagem está entre 25/1 e 35/1. Entretanto tanto a falta de N quanto a falta de C limita a atividade microbiológica. Se a relação C/N inicial for muito baixa pode ocorrer grande perda de nitrogênio pela volatização da amônia. Se for elevada (em torno de 60 a 80:1), fará com que o tempo de compostagem seja maior, devido à deficiência de N para os microrganismos, enquanto o C será eliminado na forma de gás carbônico (PEREIRA NETO, 2007). O fato de não se constatar a fase termófila no processo de compostagem estudado, pode indicar uma atividade microbiana lenta, que acarretaria em um processo mais longo de degradação da matéria orgânica. O tratamento T1 (100% RPC) foi aquele que apresentou C/N mais elevada, estando acima dos valores de referência. O elevado valor da relação C/N neste tratamento pode ser em função da granulometria do resíduo de poda, desfavorável ao processo, dificultando a degradação. Este tipo de resíduo, normalmente, é volumoso e difícil de ser degradado, a menos que seja triturado, o que não foi possível ser feito neste trabalho. Isso pode aumentar o período de compostagem. CONCLUSÕES A compostagem pode ser uma tecnologia eficiente para o tratamento e reciclagem dos resíduos sólidos orgânicos na própria fonte de geração. As variáveis analisadas demonstram serem bons indicadores do estágio inicial de compostagem. Estes parâmetros são de fácil medição e, portanto, aplicáveis como forma de monitoramento do processo. 4 IBEAS Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. FERNANDEZ, Jose; PEREZ, Montserrat; ROMERO, Luis Isidoro. Effect of substrate concentration on dry mesophilic anaerobic digestion of organic fraction of municipal solid waste (OFMSW). Bioresource Technology, v.99, p.75-80, 2008. 2. HAUG, Roger Tim. The Pratical Handbook of Compost Engineering. 1.ed. Lewis: Boca Ratón, 1993. 752 p. 3. HEERDEN, Ian Van et al. Microbial, chemical and physical aspects of citrus wastes composting. Bioresource Technology, v.81, p.71-76, 2002. 4. IEYNGAR, Srinath R.; BHAVE, Prashant P. In-vessel composting of household wastes. Waste Management, v.26, p.1070-1080, 2006. 5. KIEHL, Edmar José. Fertilizantes orgânicos. 1.ed. São Paulo: Editora Agronômica Ceres, 1985. 492p. 6. KIEHL, Edmar José. Manual de compostagem: maturação e qualidade do composto. 6.ed. Piracicaba: E.J. Kiehl, 2012. 171p. 7. LARNEY, Francis J.; HAO, Xiying. A review of composting as a management alternative for beef cattle feedlot manure in southern Alberta, Canada. Bioresource Technology, v.98, p.3221-3227, 2007. 8. PEREIRA NETO, João Tinoco. Manual de compostagem: processo de baixo custo. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2007. 129p. 9. RODRIGUES, Mário Sérgio et al. Compostagem: reciclagem de resíduos sólidos orgânicos. In: SPADOTTO, Claudio A. & RIBEIRO, Wagner C. (Org.). Gestão de resíduos na agricultura e agroindústria. 1.ed. Botucatu: Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais. 2006, v.1, p. 63-94. 10. TEDESCO, Marino José et al. Análise de solo, plantas e outros materiais. 2.ed. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1995. 147p. (Boletim Técnico, 5). IBEAS Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais 5