CONCORDÂNCIA DE NÚMERO NOS PREDICATIVOS ADJETIVOS E PARTICÍPIOS PASSIVOS DO PORTUGUÊS FALADO EM MACEIÓ: UM ESTUDO VARIACIONISTA

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Transcrição:

CONCORDÂNCIA DE NÚMERO NOS PREDICATIVOS ADJETIVOS E PARTICÍPIOS PASSIVOS DO PORTUGUÊS FALADO EM MACEIÓ: UM ESTUDO VARIACIONISTA Solyany Soares Salgado (autora bolsista), Renata Lívia de Araújo Santos (co autorabolsista), Emanuelle Camila Moraes de Melo Albuquerque (co autora bolsista), Maria Denilda Moura (Profa. Tutora e orientadora). PET Letras UFAL (Universidade Federal de Alagoas). Fundamentado na Teoria Variacionista de William Labov e partindo da observação do uso de variantes lingüísticas pelos falantes em Maceió, o trabalho investiga e aponta possíveis variáveis sociais, que estejam influenciando a concordância dos predicativos, como a escolarização e o sexo. Partindo de um corpus próprio e de um teste de percepção, pode se observar que as mulheres fazem um uso maior da variante padrão que os homens e que a escolarização não exerce uma efetiva determinação ao uso da variante padrão. As variantes na fala dos habitantes de Maceió seguem uma sistematização, podendo ser determinado por fatores lingüísticos ou sociais. 1. INTRODUÇÃO Na perspectiva da Gramática Normativa (doravante GN), a concordância de número nos predicativos e nos particípios passivos no sintagma nominal segue uma série de regras dependendo do respectivo sujeito, concordando em gênero e número, ou dependendo do objeto a que se refere no caso dos predicativos do objeto (cf. SACCONI, 1989, p.253 255 e p.284 290). Os predicativos e os particípios passivos são comumente considerados como adjetivos, uma vez que eles conferem um caráter qualitativo ao ente referido no sintagma nominal, vejamos dois exemplos retirados desse manual supracitado com as devidas concordâncias: (1) a) Os campeões foram aplaudidos pelos torcedores.

b) Todas as crianças ficaram doentes. Em situações de uso efetivo da língua, no entanto, podemos encontrar construções em que a concordância de número entre predicativos adjetivos e particípios e os sujeitos a que estão relacionados não obedece o que é prescrito pela GN, conforme mostram os exemplos em (2): (2) a) As palestras foram bem preparada0. b) Nós ficamos bastante triste0. É importante frisar que a não concordância nos moldes da GN muitas vezes acarreta desprestígio, por parte de quem usa a forma padrão, apresentada em (1), em relação àqueles que fazem uso da forma não padrão, exemplificada em (2). Dessa forma, o objetivo deste trabalho é buscar um maior esclarecimento da opção do uso dessas variantes (padrão e não padrão) pela população e mostrar como a população de Maceió está se comportando diante delas, sistematizando o que aparentemente seria aleatório, pois, conforme pretendemos mostrar, as variantes seguem, na verdade, uma motivação através de variáveis lingüísticas e, no caso focado neste trabalho, é levantada a hipótese de que a realização das formas variantes pode ser condicionada por variáveis extralingüísticas como a escolarização e o sexo dos informantes. Para o desenvolvimento de tal sistematização, o trabalho apresenta uma fundamentação teórica de cunho sociolingüístico mais precisamente da Teoria da Variação, calcada no modelo empírico de William Labov (1963) 1. 1 No referido trabalho de Labov, esse lingüista investigou a centralização de ditongos em Martha s Vineyard, ilha de Massachusestts, verificando que fatores sociais, ou extralingüísticos, de fato, condicionavam uma relação com as formas verificadas que estudou.

Nessa análise as variáveis extralingüísticas têm um destaque maior, pois está sendo verificado se de fato as mulheres, habitantes de Maceió, apresentam uma maior marcação explícita de plural e investigando se um maior grau de escolarização favorece o uso da variante padrão. Devido à observação do uso da forma não padrão pelos habitantes de Maceió, inclusive daqueles com estudo superior, teve se como motivação a investigação dos fatores extralingüísticos que estão influenciando tais usos, visto que os fenômenos lingüísticos envolvidos, conforme veremos na seção fundamentação teórica, foram bem esclarecidos e tomados por vários autores como um fenômeno inerente ao sistema (cf. Labov, 1975a, p. 183 259; Lemle&Naro, 1977; Scherre & Naro, 1998; Scherre,1991,1994; 1996). O corpus tomado para análise consiste em gravação da fala de 8 informantes, que, de acordo com as variáveis extralingüísticas a serem consideradas, subdividem se em grupos da seguinte forma: SEXO ESCOLARIDADE UNIVERSITÁRIO NÃO UNIVERSITÁRIO MASCULINO 2 2 FEMININO 2 2 Ainda compõe o corpus um teste de percepção, o qual teve a participação de 16 informantes, subdivididos da mesma forma realizada com o grupo de 8 informantes. O trabalho está estruturado em capítulos sendo o primeiro composto pela introdução; o segundo pela fundamentação teórica; o terceiro pela metodologia e corpus utilizado; o quarto pelos resultados obtidos; o quinto consta da conclusão; e por último, há referências.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A Teoria da Variação ou Sociolingüística Quantitativa parte do pressuposto de que todas as línguas apresentam uma variabilidade lingüística, um dinamismo inerente, sendo, portanto heterogêneas. A heterogeneidade é tida como algo passível de ser sistematizado em decorrência de ser condicionada tanto por fatores internos ao sistema de língua, quanto por fatores externos à língua. Sendo o objeto de estudo da Sociolingüística a variação lingüística, implica dizer que para que haja a variação deve haver variantes em alternância nas determinadas comunidades de língua enfocadas, e muitas vezes, por uma série de avaliações sociais, uma das formas variantes é tida como estigmatizada. A Sociolingüística vai, portanto, a partir do objeto ou fato sociolingüístico, investigar os aspectos da variação, diagnosticando as variáveis (internas e externas) que exercem influências sobre as alternativas lingüísticas, para então prever o comportamento sistemático e regular do fenômeno estudado. O estudo sobre a concordância de número nos predicativos, adjetivos e particípios passivos no português falado do Brasil foi inicialmente apresentado, de forma específica, por Scherre (1991) com base em dados extraídos do Corpus Censo, do Programa de Estudos sobre o Uso da Língua (PEUL). O assunto foi retomado posteriormente ainda por Scherre, de forma mais geral, em alguns trabalhos sobre a concordância nominal, em especial sobre o sintagma nominal em posição sujeito no português do Brasil (cf. Scherre, 1994; Naro & Scherre, 1998). Esses estudos supracitados mostram que a marcação explícita ou a não marcação, do plural é correlacionada a variáveis lingüísticas e sociais, focalizando a saliência fônica e a posição linear como variáveis lingüísticas importantes no processo de realização das sentenças e focalizando escolarização, sexo e faixa etária como variáveis sociais determinantes na escolha do uso das variantes pelos falantes.

3. A METODOLOGIA E O CORPUS Inserido no que é proposto pela Sociolingüística e pelo modelo empírico de Labov (cf. Dados 1963;1972), o qual apresenta condições para se realizar um estudo dos fatores extralingüísticos dentre eles a delimitação da comunidade de fala e das possíveis variantes nela encontradas, esse trabalho buscou estabelecer correlações estatísticas entre as variantes analisadas (variáveis dependentes) e variáveis independentes de natureza extralingüística. Os dados foram coletados por habitantes de diversas localizações de Maceió, independentemente de serem naturais dessa cidade ou não, pois a população também é composta de migrantes e o intuito dessa investigação é de fazer uma análise de como essa população está agindo perante as variantes marcação versus não marcação da concordância. O corpus se constitui, primeiramente, de uma gravação com duração de 45 minutos e 25 segundos da fala de 8 informantes em conversas e entrevistas informais, ou seja, em conversas que não se tem muita preocupação com a correção gramatical e sim com a informação a ser passada, sendo o grupo composto por 4 mulheres e 4 homens e estes subdivididos em 2 não universitários ( variando de 1 a 11 anos de escolarização) e 2 universitários. Também constitui o corpus um teste de percepção, que visa contrastar os resultados colhidos na gravação, uma vez que nesse tipo de teste a atenção do informante se volta para a escolha de uma das opções levando em conta aquela que ele acha mais correta. É importante observar que nesse tipo de percepção escolha o fator escolaridade poderia apresentar uma relevante influência, pois o informante seria lembrado de prestar muita atenção às questões de linguagem (TARALLO, 1990, p. 30 31). No teste de percepção foram expostas frases com variantes que apresentavam as diversas formas de concordância segundo o ente referido e de variantes que não faziam a concordância

padrão, ou seja, estavam frases que apresentavam a marcação de plural no sintagma nominal e com frases com falta dessa marcação, como segue no exemplo: (3) 1. A família e a fortuna seriam: a Concorrentes. b Apreciada. Os falantes escolheram as opções, para eles mais adequadas, para completar as frases designadas pelo questionário composto de oito questões. A transcrição dos dados seguiu algumas normas ortográficas e os procedimentos adotados pelos dados que compõem a Amostra Censo 2000. Mas, os dados serão novamente transcritos segundo as normas adotadas pelo PRELIN (Programa de Estudos Lingüísticos), coordenado pela professora Dra. Maria Denilda Moura, da Universidade Federal de Alagoas. 4. ANÁLISES E RESULTADOS No decorrer deste tópico, vamos estabelecer comparações entre os dados colhidos pela gravação e os dados do teste de percepção. Os dados da gravação foram quantificados conforme o modelo de percentagens de Labov (1972), em que o tratamento estatístico se resume aos cálculos de freqüência expressos em percentuais. No teste de percepção o cálculo foi feito multiplicando a quantidade de informantes pela quantidade de questões apresentadas a cada um dos informantes (8 questões para cada) para se obter o total de 100% e de acordo com a freqüência da marcação de concordância pelos informantes foi estabelecida a percentagem equivalente à quantidade de marcação de concordância, por exemplo, para a variável sexo feminino, participaram 8 mulheres e cada uma respondeu a 8 questões, multiplicando os dois números obteremos um total de 64 questões, que equivale a 100%, a escolha do item com a marcação de plural

por essas mulheres foi referente ao total de 53 questões, que em percentagem equivale a 82,81%. 4.1. A VARIÁVEL SEXO DOS FALANTES Estabelecendo, então, comparações entre os dados colhidos pela gravação e os do teste de percepção temos os seguintes resultados: Quadro I Variável sexo Marcação explícita de concordância nos predicativos adjetivos e particípios passivos em função da variável sexo do falante Sexo Freqüência Percentagem Feminino 27/ 27 100% Masculino 36/48 75% Total 63/75 84% Os resultados observados nesse quadro mostram que as mulheres que residem em Maceió apresentam uma maior polidez na fala e fazem uma maior concordância dos predicativos, adjetivos e particípios passivos com o elemento correspondente no sintagma nominal, ou seja, da variante considerada padrão, do que os homens. Quadro II Variável sexo Uso da forma padrão em função da variável sexo do falante no teste de percepção Sexo Freqüência Percentagem Feminino 53/64 82,81% Masculino 41/64 64,06% Total 94/128 73,43%

No teste de percepção também foi mostrado que as mulheres usam em maior quantidade a forma padrão do que os homens, só que no Quadro II o percentual de concordância nos elementos estudados foi menor do que o percentual do quadro I, correspondente ao da fala, dando indícios de que a escolarização não exerceu uma influência relevante na escolha mais adequada para o falante, fazendo um uso maior da forma variante não padrão do que ocorreu no resultado apresentado no quadro I. 4.2. A VARIÁVEL ESCOLARIDADE DOS FALANTES Vejamos o quadro que relaciona as variáveis sexo e escolaridade dos falantes: Quadro III Variáveis sexo e escolaridade Marcação explícita de concordância nos predicativos e nos particípios passivos em função das variáveis sexo e escolaridade do falante SEXO ESCOLARIDADE Não universitários Universitários Todos os falantes Feminino 16/16 = 100% 11/11 = 100% 27/27 = 100% Masculino 24/32 = 81,25% 12/16 = 75% 38/48 = 79,16% Total 40/48 = 83,33% 23/27 = 85,18% 63/75 = 84% Quadro IV Variáveis sexo e escolaridade Marcação explícita de plural nos predicativos em função das variáveis sexo e escolaridade do informante no teste de percepção SEXO ESCOLARIDADE Não universitários Universitários Todos os falantes Feminino 27/32 = 84,37% 26/32 = 81,25% 53/64 = 82,81%

Masculino 17/32 = 53,12% 24/32 = 75% 41/64 = 64,06% Total 44/64 = 68,75% 50/64 = 78,12% 94/128 = 73,43% Apesar de Votre (2003, p.56), no livro Introdução à Sociolingüística (MOLLICA&BRAGA; 2003), mostrar que o nível de escolaridade desempenha um papel crítico na configuração geral do domínio da língua padrão pelos informantes, pode se verificar nesse estudo que na fala dos homens universitários houve uma tendência maior de se usar a forma não padrão do que na fala dos homens não universitários e similarmente ocorreu no teste de percepção, o qual mostrou que as mulheres universitárias optaram mais por variantes não padrão do que as mulheres com até o nível médio, como pôde ser visualizado nos quadros. 4.3. O CRUZAMENTO ENTRE ESCOLARIZAÇÃO E SEXO Da mesma forma que a apresentada por Scherre, no texto Sobre a influência de variáveis sociais na concordância nominal (1996), ocorreu nesse trabalho visto que a escolarização não estabelece o mesmo efeito para os homens e para as mulheres. Tanto na fala quanto no teste de percepção as mulheres apresentaram uma concordância maior, segundo as normas da GN, do que a apresentada pelos falantes do sexo masculino. Um outro ponto interessante é que, apesar de na fala ocorrer uma preocupação menor do uso considerado prestigiado do que quando se está submetida a um teste de percepção, a concordância foi maior na fala do que no teste. Os resultados podem ser visualizados nos quadros III e IV, mostrando que de 75 frases, encontradas no corpus e que apresentavam o fenômeno estudado, 63 apresentavam a concordância o que totaliza 84% do uso da variante prestigiada, no resultado encontrado através do teste de percepção, das 128 questões, houve a concordância de 94, totalizando 73,43% do uso da variante prestigiada, uma diferença de mais de 10%.

5. CONCLUSÃO Apesar dos dados não apresentarem uma quantidade suficiente para conclusões mais precisas, tais resultados confirmam que as mulheres habitantes de Maceió recebem influência da variável escolaridade na escolha das variantes na sua fala, chegando a 100% de concordância nas frases, o que está de acordo com estudos feitos em outras localidades provando que essa influência não ocorre em lugares isolados, mas que é uma característica geral. O estudo também confirmou que as mulheres apresentam um vernáculo mais polido do que os homens. Por uma série de questões sociais as mulheres são mais cobradas em manter uma boa imagem e isso inclui uma linguagem mais prestigiada pela norma culta, o que acaba por mostrar um contraste entre a fala de homens e de mulheres, não só de caráter nacional como também de toda a sociedade ocidental (PAIVA, 2003, p.41). A escolaridade de uma forma geral não estabeleceu uma influência tão significativa quanto se esperava, confirmando a hipótese apresentada no início do trabalho, essa variável não teve uma efetiva e estável influência no uso da concordância, pois tanto os homens universitários quanto as mulheres universitárias mostraram uma concordância menor, segundo as normas da GN, em determinados casos do que os não universitários, estas no teste de percepção e aqueles na fala. Os resultados do teste de percepção, ao contrário do que se esperava, trouxeram resultados de concordância inferiores aos obtidos na fala. Além de ser explicado pelo fato de a escolaridade não exercer uma efetiva determinação ao uso prestigiado, pode ser explicado pela possibilidade de os informantes estarem levando em conta a relação semântica das opções com a frase a ser completada ao invés de levarem em conta a concordância com os elementos a que eles se designavam. Desse modo, a concordância de número nos predicativos na fala dos habitantes de Maceió segue um processo sistemático que pode ser determinado por fatores lingüísticos e

por fatores sociais, o sexo/gênero de uma forma mais explícita e a escolarização ainda não efetivamente determinante nessa comunidade em questão, o que permite um uso mais coloquial por uma parte significante da população. 6. REFERÊNCIAS: BRAGA, M. L. & SCHERRE, M.M.P. A concordância de número no SN na área urbana do Rio de Janeiro. In: Encontro Nacional de Lingüística, 1º, 1976. Rio de Janeiro, Puc, 1976. CARVALHO, Hebe Macedo de. Concordância Nominal de número: um fenômeno variável. In: MOURA, Maria Denilda (org). Os múltiplos usos da língua. Maceió: EDUFAL, 1999. p.540. COSTA, Ana Rita Firmino et al. Orientações metodológicas para produção de trabalhos acadêmicos. 6. ed. revista e ampliada de acordo com as normas da ABNT. Maceió: EDUFAL, 2004. CRUZ,Carla & RIBEIRO, Uirá. Metodologia científica: Teoria e prática. Rio de Janeiro: Axcel Books do Brasil Editora, 2003. FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à lingüística. São Paulo: Contexto, 2002. LABOV, W. Sociolinguistics patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972.. Sociolinguistics patterns. 3. ed. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 334p. 1975a. LEMLE, M & NARO, A. J. Competências básicas do português. Relatório final de pesquisa apresentado às instituições patrocinadoras Fundação Movimento Brasileiro (MOBRAL) e Fundação Ford. Rio de Janeiro, 1977. MOLLICA, Maria Cecília & BRAGA, Maria Luiza (orgs). Introdução à sociolingüística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.

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