Sistemas de Classificação Biológica. Prof. Especialista Felipe de Lima Almeida

Documentos relacionados
Complexo educacional FMU Curso de Ciências Biológicas. Zoologia de invertebrados I. Classificação biológica

BIODIVERSIDADE E CLASSIFICAÇÃO

CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS

Sistemática tica dos seres vivos. Evolução dos sistemas de classificação:

Ordenar o mundo natural incrivelmente complexo. Facilitar o estudo dos organismos, ordenando-os em grupos de acordo com certos critérios

13/03/2016. Prof. Bruno Barboza de Oliveira

Biologia. Regras de Nomenclatura Biológica. Professor Enrico Blota.

CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA. LIVRO DE ZOOLOGIA Capítulo 1 página 7 a 13

Profa. Jéssica 7º anos CCAT Capítulo 05

Classificação e Nomenclatura dos seres vivos

CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA DOS SERES VIVOS 7º ANO

Taxonomia e Sistemática

CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS TAXONOMIA

Sitemática. Dannubia Bastos

Classificação dos Seres Vivos. Leonardo Rodrigues EEEFM GRAÇA ARANHA

Para nossa conveniência, esta aula mistura as seguintes aulas do nosso material de revisão:

TAXONOMIA ZOOLÓGICA. Fernanda Jacobus de Moraes 2º Semestre Zoologia Geral

Fichas de Resumos de Conteúdo: Classificação dos seres vivos. Porque classificar? Reino. Filo. Classe. Ordem. Família. Gênero.

Evolução biológica e Sistemática dos seres vivos

Classificação dos Seres Vivos

Ordenar o mundo natural incrivelmente complexo Facilitar o estudo dos organismos, ordenandoos em grupos de acordo com certos critérios

BIOLOGIA 3 ANO PROF.ª SARAH SANTOS PROF. SILONE GUIMARÃES ENSINO MÉDIO

Escola: Nome: Turma: N.º: Data: / / FICHA DE TRABALHO 1. latim práticas racional. Lineu reino espécie. animais Aristóteles plantas

O que é um ser vivo? Teoria Celular: seres vivos definidos como possuindo células

Reinos COMO CLASSIFICAR OS SERES VIVOS?

Biologia. volume único 3.ª edição. Armênio Uzunian Ernesto Birner

Devido à abundância e à diversidade de seres vivos, foi necessário ordená-los e organizá-los. Foi necessário criar um sistema de classificação.

COLÉGIO ESTADUAL HELENA KOLODY E.M.P.

Taxonomia e Nomenclatura. Aula nº49 e 51 4 e 9 Fev 09 Prof. Ana Reis

CATEGORIAS TAXONÔMICAS E REGRAS DE NOMENCLATURA

Profª Denise Mello do Prado Biologia Classificação de Canis familiaris (cão doméstico)

Taxonomia e Sistemática

naturalista viajante

CIÊNCIAS FÍSICAS E BIOLÓGICAS FUNDAMENTAL NII Listas 9 Classificação biológica 7º anos 2º período

Classificação biológica Sistemática Biodiversidade

Prof. Anderson Moreira

ORGANIZAÇÃO DOS SERES VIVOS

A classificação biológica. Professor: Paulo

SISTEMÁTICA DOS SERES VIVOS

Os Reinos. Reino Monera

Classificação dos seres vivos. Professor: André Resende de Senna

SISTEMÁTICA, CLASSIFICAÇÃO E BIODIVERSIDADE DISCIPLINA: BIOLOGIA

COLÉGIO ESTADUAL HELENA KOLODY E.M.P.

TAXONOMIA. Sistemática Taxonomia (ciência da descoberta) Filogenia (relações evolutivas entre os seres vivos).

Biologia. volume único 3.ª edição. Armênio Uzunian Ernesto Birner

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ. Disciplina: Zoologia dos vertebrados

Atividade extra. Questão 1. Questão 2. Ciências da Natureza e suas Tecnologias Biologia

EXERCICIO EXTRA: Classificação e nomenclatura biológica.

CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS

Lista de exercícios 2º e 3º ano taxonomia

. a d iza r to u a ia p ó C II

Curso Técnico em Análises Químicas Disciplina: Microbiologia. Aula 2 Classificação biológica dos seres vivos

SISTEMÁTICA DOS SERES VIVOS

Revisão - Biologia Genética

CassifiCação CladístiCa

TAXONOMIA Prof. Élyka Fernanda Pereira de Melo

- Classificou os seres vivos em dois reinos: - Reino Animalia e Reino Plantæ. - Esta classificação manteve-se inalterada por vários séculos.

1.Classificação Biológica

Introdução Seres Vivos

Redi teria chegado às mesmas conclusões caso usasse apenas frascos abertos ou frascos fechados? Explique. R.:

EVOLUÇÃO no princípio. pio éramos um...

Canis familiares. Regras de nomenclatura. O primeiro nome se refere ao gênero e deve ser escrito sempre com letra maiúscula.

Atividade 1 Seres Vivos

Células. Capitulo 1: Fundamentos da Biologia Celular- Alberts- 2ª edição

Exercícios de Taxonomia

Classificação e Nomenclatura dos Seres Vivos

Ciências/15 7º ano Turma:

CONSULTAR. Classificação dos microrganismos 18/6/2013 CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS. Antes da existência dos microrganismos ser conhecida

CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS 1

- CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO À BIOLOGIA

36 Classificando os seres vivos

LISTA DE EXERCÍCIOS CIÊNCIAS 7ª ANO

Hamanda Biologia Boas Vindas Paz na escola

Nível II (7º ano) CIÊNCIAS Sistema de Recuperação RECUPERAÇÃO PERIÓDICA 1º e 2º períodos

Professor(a):Flávio Borges

BIOLOGIA. Moléculas, células e tecidos. Uma visão geral da célula. Professor: Alex Santos

Carl Von Linné (Lineu) séc XVIII. Seria este o conceito mais apropriado?

Características Gerais dos Seres Vivos, Reino Vegetal, Fungos, Protoctistas e Monera

COLÉGIO EQUIPE DE JUIZ DE FORA

PLANEJAMENTO ANUAL / TRIMESTRAL 2012 Conteúdos Habilidades Avaliação

Engenharia Agronômica. Biologia Celular 1º Período

Roteiro de estudo 2 série EM P1 b AC.

Evolução dos Sistemas de Classificação

ORGANIZAR É PRECISO!?

PLANEJAMENTO ANUAL / TRIMESTRAL 2013 Conteúdos Habilidades Avaliação

COLÉGIO ESTADUAL HELENA KOLODY E.M.P.

PLANEJAMENTO ANUAL / TRIMESTRAL 2014 Conteúdos Habilidades Avaliação

COLÉGIO NOSSA SENHORA DA PIEDADE. Programa de Recuperação Paralela. 1ª Etapa Ano: 7º Turma: 71

A BIODIVERSIDADE E OS DESAFIOS DA CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA BIOLOGIA UNIDADE 1. Introdução. Sistemas de classificação e classificação biológica

- CAPÍTULO 1- VIDA: CIÊNCIA DA BIOLOGIA

Biologia. Unicelulares e Multicelulares / Vírus. Professor Enrico Blota.

A principal característica que diferencia os artrópodes dos demais invertebrados são as patas articuladas.

O que é a vida? DISCIPLINA: BIOLOGIA.

Ciências Naturais 8. o ano de escolaridade

IESA- ESTUDO DIRIGIDO 1º SEMESTRE 7º ANO- MANHÃ E TARDE- CIÊNCIAS PROFESSORAS: CLÁUDIA, CELIDE E IGNÊS. Aluno(a): Turma:

5(&83(5$d 26(0(675$/'(&,È1&,$6 1RPH&RPSOHWRBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB'DWDBBBB

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL Instituto Federal de Alagoas - Campus Piranhas ENGENHARIA AGRONÔMICA. Classificação. Piranhas - AL 2017

CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA. Taxonomia ou Sistemática: Ciência de organizar, nomear e classificar organismos dentro de um sistema de classificação.

Ficha de trabalho. 1. Observa a figura 1 que representa as relações tróficas em dois ecossistemas. Figura 1

Sistemática dos seres vivos

Transcrição:

Sistemas de Classificação Biológica Prof. Especialista Felipe de Lima Almeida

Breve história da classificação dos seres vivos Embora se conheçam cerca de 1.250.000 espécies de animais invertebrados, a grande maioria deles, mais de 1 milhão, tem corpo formado por segmentos transversais, revestido por uma armadura resistente (o exoesqueleto), e apêndices corporais (pernas, antenas etc.) dotados de juntas articuladas; Essas características compõem o padrão corporal básico dos animais denominados artrópodes (termo que significa pernas articuladas ), e a enorme diversidade do grupo resulta de variações em torno desse padrão.

O grupo dos artrópodes é atualmente composto por insetos, crustáceos, aracnídeos e miriápodes, entre outros animais menos conhecidos. Dentro do grupo dos artrópodes pode-se, por exemplo, reconhecer claramente um padrão inseto corpo revestido por exoesqueleto, dividido em cabeça, tórax e abdome, e apêndices articulados, sendo três pares de pernas e um par de antenas.

Nos três últimos séculos, pensadores e cientistas têm se empenhado em desenvolver um sistema eficiente para organizar e compreender a diversidade de formas de vida; Esse sistema é a classificação biológica, ou taxonomia, que distribui os seres vivos em grupos hierárquicos denominados táxons, com grupos menores incluídos em outros mais abrangentes; Táxon é qualquer agrupamento de organismos com base em semelhanças: pode ser uma espécie ou conjunto de espécies.

Reino Ordem Família Filo Classe Gênero Espécie Atualmente, a taxonomia faz parte de um ramo da Biologia denominado Sistemática, cujo principal objetivo é estudar e compreender a diversidade da vida, como veremos mais adiante.

A classificação de Aristóteles O filósofo grego Aristóteles (348-323 a.c.) foi pioneiro em classificar os seres vivos.; Em um de seus trabalhos, ele demonstra uma visão avançada da classificação biológica ao destacar a importância da organização corporal dos animais como critério para dividilos em grupos, ideia que só foi retomada mais de 2 mil anos depois, por Lineu.

Aéreos Terrestres Aquáticos

O sistema de classificação de Lineu A classificação biológica moderna teve início com os trabalhos do botânico sueco Carl von Linné (1707-1778), também conhecido por Carolus Linnaeus; As ideias de Lineu sobre classificação biológica foram publicadas em seu livro Systema Naturae (Sistema natural), cuja primeira edição saiu em 1735.

Ele ponderava que era preciso escolher criteriosamente as características utilizadas para agrupar os seres vivos; Lineu acreditava que as características anatômicas eram as mais adequadas para agrupar os seres vivos e utilizouas como critério principal em seu sistema de classificação. Ele agrupou os animais de acordo com semelhanças na organização corporal e as plantas, de acordo com a forma corporal e a estrutura de flores e frutos.

A nomenclatura binomial Um dos méritos de Lineu foi associar à classificação dos seres vivos um sistema eficiente para lhes dar nomes, ou seja, uma nomenclatura biológica; Ele propôs que o nome científico de todo ser vivo fosse sempre composto por duas palavras, a primeira referindo-se ao epíteto genérico e a segunda, ao epíteto específico; Por atribuir dois nomes a cada espécie, o sistema criado por Lineu ficou conhecido como nomenclatura binomial, e é utilizado até hoje.

Cães e lobos, que Lineu considerava duas espécies distintas, eram para ele semelhantes o bastante para ser colocadas juntas em um táxon mais abrangente, hierarquicamente superior ao de espécie, que ele chamou de gênero. Essas espécies teriam um mesmo epíteto genérico Canis acompanhado dos respectivos epítetos específicos familiaris e lupus, portanto: Canis familiaris e Canis lupus.

É possível que você conheça nomes científicos como Homo sapiens (espécie humana), Drosophila melanogaster (mosca-do-vinagre, ou mosca-da-banana), Araucaria angustifolia (pinheiro-do-paraná), Musa paradisiaca (banana), entre outros.

Uma das regras da nomenclatura binomial determina que os nomes científicos dos organismos sejam escritos em latim (ou devem ser latinizados); A primeira letra do epíteto genérico deve ser sempre maiúscula e a do epíteto específico, minúscula; Além disso, o nome científico sempre deve ser destacado no texto em que aparece, seja pela impressão em itálico ou grifado; Na nomenclatura binomial, o epíteto genérico é sempre um substantivo e o epíteto específico é geralmente um adjetivo, que qualifica o gênero; Por isso, de acordo com as regras nomenclaturais, podemos escrever o nome genérico sozinho, desde que seguido de uma abreviatura padronizada.

Por exemplo, para nos referirmos a um animal do gênero Canis sem especificar se é lobo, coiote etc., apenas acrescentamos a abreviatura sp. após o nome do gênero. Veja na frase: O que se pode dizer, pelos rastros do animal, é que se trata de um Canis sp.. Para nos referirmos simultaneamente a várias espécies do gênero Canis, acrescentamos a abreviatura spp. após o nome do gênero. Veja na frase: Os Canis spp. possuem dieta essencialmente carnívora.

Ao contrário do gênero, o epíteto específico não pode ser escrito sozinho. Por exemplo, o nome científico de uma mosca escura comum em nossas casas é Musca domestica; entretanto, se escrevermos domestica isoladamente não identificaremos aquela mosca, pois existem (ou podem existir), em outros gêneros, espécies com esse mesmo epíteto específico. Alguns exemplos de espécies que compartilham o epíteto específico domestica são: Curcuma domestica (cúrcuma), uma planta da qual se extrai um corante utilizado em culinária; Nandina domestica, um tipo de bambu; Monodelphis domestica, um pequeno mamífero marsupial encontrado em florestas tropicais da América do Sul.

Ao ser utilizado pela primeira vez em um texto, o nome científico deve necessariamente ser escrito por extenso; nas demais vezes em que aparece, a parte genérica pode ser abreviada. Por exemplo, depois de nos referirmos ao nome científico Canis lupus uma primeira vez em um texto, podemos passar a escrever simplesmente C. lupus.

A nomenclatura científica é rigorosa?

Por exemplo, na Região Sul do Brasil há um pássaro conhecido popularmente como cardeal, classificado pelos biólogos como Paroaria coronata. Essa mesma espécie também vive no pantanal mato-grossense, onde recebe o nome popular de galo-da-campina; ou seja, a mesma espécie, P. coronata, é conhecida por dois nomes regionais diferentes (no Sul, cardeal e, no Centro-Oeste, galo-dacampina). No pantanal mato-grossense vive também a espécie Paroaria capitata, conhecida localmente por cardeal; ou seja, a denominação popular cardeal refere-se a duas espécies distintas (no Sul, P. coronata e, no Centro-Oeste, P. capitata). E, como se não bastasse essa confusão, no Nordeste brasileiro dá-se o nome de galo-da-campina a uma terceira espécie do mesmo gênero, Paroaria dominicana.

Paroaria coronata Paroaria capitata Paroaria dominicana

Conceito biológico de espécie Nas décadas de 1930 e 1940, dois grandes cientistas e divulgadores da teoria evolucionista, Theodosius Dobzhansky (1900-1975) e Ernst Mayr (1904-2005), propuseram uma conceituação de espécie que ficou conhecida como conceito biológico de espécie.

Segundo Dobzhansky e Mayr: Espécie é um grupo de populações cujos indivíduos, em condições naturais, são capazes de se cruzar e de produzir descendentes férteis, estando reprodutivamente isolados de indivíduos de outras espécies.

Equus caballus Equus asinus Mula

Em alguns jardins zoológicos do mundo já foram obtidos cruzamentos entre leões (Panthera leo) e tigres (Panthera tigris). O cruzamento entre um leão e uma tigresa produz o híbrido denominado liger (do inglês, lion e tiger).

Em cruzamentos entre um tigre e uma leoa, por sua vez, surge outro tipo de híbrido, o tigon (do inglês, tiger e lion). Segundo biólogos de alguns zoológicos, fêmeas de tigon férteis já foram cruzadas com tigres, produzindo descendentes também férteis, batizados de ti-tigons.

As diferentes classificações

Reino Monera O reino Monera reúne os seres procarióticos, cuja principal característica é possuírem células sem separação física entre o material nuclear e o citoplasma.

Reino Protoctista O reino Protoctista inclui os protozoários, seres eucarióticos, unicelulares e heterotróficos, e as algas, seres eucarióticos, unicelulares ou multicelulares, e autotróficos fotossintetizantes.

Reino Fungi O reino Fungi inclui os fungos, seres eucarióticos, unicelulares ou multicelulares com corpo formado por filamentos (hifas). Eles assemelham-se às algas na organização e na reprodução, mas diferem delas por serem heterotróficos.

Reino Plantae O reino Plantae reúne as plantas, seres eucarióticos, multicelulares e autotróficos fotossintetizantes.

Reino Animalia O reino Animalia reúne os animais, seres eucarióticos, multicelulares e heterotróficos. Esse grupo inclui uma grande variedade de organismos, desde animais simples, como as esponjas, até animais complexos, como os cordados, grupo ao qual pertencemos.

Vírus, um caso a parte Os vírus não estão incluídos em nenhum dos cinco reinos, pois não possuem células (são acelulares), a unidade fundamental de todos os outros seres vivos. Eles são constituídos por uma ou algumas moléculas de ácido nucleico, que pode ser o DNA ou o RNA, envoltas por moléculas de proteínas. Os vírus são sempre parasitas intracelulares: somente conseguem se reproduzir no interior de células de outros seres.