O ARQUEANO DO MACIÇO SÃO JOSÉ DE CAMPESTRE, LESTE DO RIO GRANDE DO NORTE



Documentos relacionados
12º Simpósio de Geologia da Amazônia, 02 a 05 de outubro de Boa Vista - Roraima

DADOS AEROGAMAESPECTROMÉTRICOS APLICADOS NA DELIMITAÇÃO DO COMPLEXO CRUZETA (MACIÇO ARQUEANO DE TRÓIA), DOMÍNIO CEARÁ CENTRAL DA PROVÍNCIA BORBOREMA

Roberto Dall Agnol Universidade Federal do Pará/Instituto Tecnológico Vale. Davis Carvalho de Oliveira Universidade Federal do Pará

CONTRIBUIÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ARCABOUÇO TECTÔNICO DO MACIÇO SÃO JOSÉ DO CAMPESTRE, PROVÍNCIA BORBOREMA, COM BASE EM DADOS AEROGEOFÍSICOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA TESE DE DOUTORADO

PETROLOGIA DO PLÚTON SERRA DA MACAMBIRA, NEOPROTEROZOICO DA FAIXA SERIDÓ, PROVÍNCIA BORBOREMA (NE DO BRASIL)

S. Abdallah 1. Artigo Curto Short Article

AULA 10c: BORDAS DE PROCESSOS ÍGNEOS

Professor: Anderson Carlos Fone:

- Principal agente das mudanças de estado: Tectônica Global.

A taxa de alimentação das usinas de beneficiamento são diretamente proporcionais à dureza e à qualidade do minério è Estudo dos Materiais Duros;

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA

CAPÍTULO 2 ELEMENTOS SOBRE A TERRA E A CROSTA TERRESTRE

EVOLUÇÃO GEOLÓGICA DOS BATÓLITOS GRANITÓIDES NEOPROTEROZÓICOS DO SUDESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

Geocronologia e Geologia Isotópica dos Terrenos Pré-Cambrianos da Porção Sul-Oriental do Estado de São Paulo

Norito e Charnoenderbitos da Borda do Maciço Intrusivo de Venda Nova, Espírito Santo

EVOLUÇÃO GEOLÓGICA DO TERRITÓRIO NACIONAL

GEOQUÍMICA DOS DIQUES MÁFICOS DA CHAPADA DIAMANTINA (PORÇÃO SETENTRIONAL), BAHIA, BRASIL

CURSO TÉCNICO EM MINERAÇÃO RELATÓRIO DE CAMPO

Magmatismo Carbónico nos terrenos de Alto-grau Metamórfico de Évora: exemplo do maciço dos Hospitais

Silva, M. G Dissertação de Mestrado

Capítulo 4 - ROCHAS CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS QUANTO À QUANTIDADE DE TIPOS DE MINERAL

MAGMATISMO GRANITÓIDE ARQUEANO DA ÁREA DE CANAÃ DOS CARAJÁS: IMPLICAÇÕES PARA A EVOLUÇÃO CRUSTAL DA PROVÍNCIA CARAJÁS

GEOQUÍMICA. Capítulo V

A evolução do Planeta Terra à luz dos dados do magmatismo

Departamento de Recursos Minerais - Instituto de Ciências Exatas e da Terra - UFMT Av. Fernando Corrêa s/n, CEP , Cuiabá, MT, BRA 2


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

PROVA BIMESTRAL Ciências

EVOLUÇÃO PETROLÓGICA E ESTRUTURAL DAS ROCHAS GRANITÓIDES E METABÁSICAS DA SERRA LESTE, PROVÍNCIA MINERAL DE CARAJÁS

Vladimir Cruz de Medeiros 1, Marcos Antonio Leite do Nascimento 2, Antônio Carlos Galindo 2, Elton Luiz Dantas 3 1

Revista Brasileira de Geociências Fabriciana Vieira Guimarães et al. 40(2): , junho de 2010 O 3

Ortho-amphibolites from Novo Gosto Units, Canindé Domain: Record of the Neoptoterozóic Continental Rifting in the Sergipana Fold Belt, NE Brazil

O Magmatismo Alcalino Neoproterozóico na Ilha do Cardoso, Sudeste do Estado de São Paulo

GEOLOGIA, PETROGRAFIA E GEOQUÍMICA DOS GRANITÓIDES ARQUEANOS DA ÁREA DE VILA JUSSARA, PROVÍNCIA CARAJÁS

Thirteenth International Congress of the Brazilian Geophysical Society

O COMPLEXO CARAÍBA E A SUÍTE SÃO JOSÉ DO JACUÍPE NO CINTURÃO SALVADOR-CURAÇÁ (BAHIA, BRASIL): PETROLOGIA, GEOQUÍMICA E POTENCIAL METALOGENÉTICO

FABIO SOUZA E SILVA DA CUNHA

Nova associação tonalítica-trondhjemítica neoarqueana na região de Canaã dos Carajás: TTGS com altos conteúdos de Ti, Zr e Y

Revista Brasileira de Geociências Marcelo Augusto de Oliveira et al. 36(2): , junho de 2006

Introdução. Importância - 70 % das rochas da crosta terrestre são formadas a partir de magma

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E ENGENHARIAS DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO VEGETAL. DPV 053 Geologia e Pedologia

Estrutura da Terra Contributos para o seu conhecimento

PROVA DE GEOGRAFIA 3 o TRIMESTRE DE 2012

GEOLOGIA GERAL GEOGRAFIA

Petrografia e Geoquímica do Maciço Glória Sul, Domínio Macururé, Faixa de Dobramentos Sergipana

A história das pedras, do Guincho às abas da Serra de Sintra

C E E A A E C B C C

Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto Projecto financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia

AULA 11a: MINERALIZAÇÃO PLACAS BORDAS TRANSFORMANTES

NARRATIVA DO MONITOR DAS SECAS DO MÊS DE JUNHO DE 2015

Escola Secundária Anselmo de Andrade. Biologia e Geologia de 10ºAno. Nome Nº Turma

Max de Jesus Pereira dos Santos I, Claudio Nery Lamarão I, Paulo Henrique Araújo Lima I, Marco Antônio Galarza I, Jardel Carlos Lima Mesquita I

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN, Natal, RN, BR 3

O método Rb-Sr. Os cuidados na coleta de amostras para a sistemática Rb-Sr, no geral são os mesmos dos para a coleta para Ar-Ar e Sm-Nd.

U-Pb geochronology and Lu-Hf isotopic analysis by LA-ICP-MS of rocks from Serra da Providência Suit Rondonia Tin Province

Fernando Fernandes da Silva Davis Carvalho de Oliveira Paul Y.J Antonio Manoel S. D'Agrella Filho

Qual o nosso lugar no Universo?

Keywords: U-Pb SHRIMP, Western Bahia Belt (Orogen), São Francisco Craton, Jequié Complex

GEOLOGIA PARA ENGENHARIA CIVIL TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS

INTRODUÇÃO À GEOTECNIA (TEC00249)

ZIRCÃO UMA FERRAMENTA IMPORTANTE NA CARACTERIZAÇÃO PETROGENÉTICA DE GRANI- TÓIDES NO BLOCO GAVIÃO, BAHIA Marilda Santos Pinto* Jean-Jacques Peucat**

Objetivo da aula: conhecer a estrutura interna da Terra, e os fenômenos associados a essa estrutura como os terremotos e vulcões.

o 5 Projetos de Ouro em diferentes estados Brasileiros. o Províncias minerais com histórico de produção de Ouro.

COMPARTIMENTAÇÃO DO RIFTE GUARITAS, BACIA DO CAMAQUÃ - RS

Teste diagnóstico de Geologia (10.º ano)

CAPÍTULO 4 GEOLOGIA ESTRUTURAL DA ÁREA

MAPEAMENTO GEOLÓGICO E ANÁLISE ESTRUTURAL DO AFLORAMENTO DA PRAIA DA PACIÊNCIA (SETOR E), SALVADOR, BAHIA.

Determinações Geocronológicas no Estado de Sergipe. Convenções. Domínios Tectono-Estratigráficos

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

1. (Ufsm 2012) Observe as projeções cartográficas: Numere corretamente as projeções com as afirmações a seguir.

LAUDO GEOLÓGICO GEOTÉCNICO GUARITUBA

Areias: Geologia em Peças Separadas uma ferramenta interactiva para o ensino de Geociências do portal Casa das Ciências

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

ROCHAS E MINERAIS. Disciplina: Ciências Série: 5ª EF - 1º BIMESTRE Professor: Ivone de Azevedo Fonseca Assunto: Rochas & Minerais

CAPÍTULO 5. GRANITOGÊNESE NA REGIÃO DO GRUPO RIO DOCE

Figura 1: Localização geotectônica da área de estudo no contexto do Cráton do São Francisco e da Província Borborema.

DEDICO ESTE TRABALHO A MEUS PAIS E AVÓS POR TODO AMOR, DEDICAÇÃO E CONFIANÇA QUE SEMPRE TIVERAM EM MIM

1. INTRODUÇÃO 2. MÉTODOS

GEOLOGIA DE ISÓTOPOS RADIOGÊNICOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA DISCIPLINA DESENHO GEOLÓGICO PROF. GORKI MARIANO

GEOLOGIA, PETROGRAFIA E GEOQUÍMICA DOS GRANITÓIDES ARQUEANOS DE SAPUCAIA PROVÍNCIA CARAJÁS-PA

Ana Catarina Fernandes Coriolano 1 ; Emanuel Ferraz Jardim de Sá 2 & Carlos César Nascimento da Silva 3

GEOLOGIA E PETROLOGIA DAS INTRUSÕES BÁSICAS ASSOCIADAS À PROVÍNCIA MAGMÁTICA DO PARANÁ NO CENTRO-LESTE DO RS

GEOCRONOLOGIA E ASSINATURA ISOTÓPICA (Rb-Sr e Sm-Nd) DO BATÓLITO TRONDHJEMÍTICO NORDESTINA, NÚCLEO SERRINHA, NORDESTE DO ESTADO DA BAHIA

Parte 1 Formação geológica

RELATÓRIO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO

CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS E O CICLO DAS ROCHAS

IDADE DOS PEGMATITOS DA PROVÍNCIA PEGMATÍTICA DE SÃO JOÃO DEL REI, MINAS GERAIS

Sm 62 > Nd 60 + Q

Fraccionação geoquímica nas rochas encaixantes do Campo Pegmatítico do Licungo, Moçambique

LITOSFERA SIMA SIAL. Litosfera (crosta): camada rochosa da Terra (até 70 km de profundidade).

Capítulo 3 Petrologia Ígnea e Metamórfica

F. C. Freitas 1, C. Juliani 1, A. Bustamante 1* 1. Introdução. Artigo original Original article

ESTRUTURA GEOLÓGICA E RELEVO AULA 4

Elsevier R&D Solutions. CONHECIMENTO GEOLÓGICO ESSENCIAL Centenas de milhares de mapas científicos compilados de publicações geológicas confiáveis

Geologia, problemas e materiais do quotidiano

Evolução do Arco Magmático de Goiás com base em dados geocronológicos U-Pb e Sm-Nd

CRATERAS METEORÍTICAS NO BRASIL

Transcrição:

O ARQUEANO DO MACIÇO SÃO JOSÉ DE CAMPESTRE, LESTE DO RIO GRANDE DO NORTE Zorano Sérgio de Souza 1 Elton Luiz Dantas 2 1 Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica e Departamento de Geologia da UFRN, zorano@geologia.ufrn.br 2 Instituto de Geociências da UnB elton@ig.unb.br RESUMO O Maciço São José de Campestre (extremo NW do Brasil) é dos mais antigos núcleos cratônicos da Plataforma Sul-Americana. Ele compõe-se principalmente de rochas variando em composição de quartzo dioritos a tonalitos e monzogranitos (3,4 a 3,2 Ga) e sienogranitos (2,7 Ga) e ocorrências menores de metanoritos e anortositos (3,0 Ga). Paragnaisses em alto grau metamórfico, contendo cordierita, silimanita e granada, além de lentes de mármores e gnaisses cálcio-silicáticos também são encontrados e interpretados como mais antigos do que essas metaplutônicas. Os ortognaisses seguem seja a linhagem de diferenciação cálcio-alcalina clássica, ou seja, enriquecimento em K (gnaisses monzograníticos de Serra Caiada ca. 3.3 Ga e sienograníticos de São José de camesptre ca. 2,7 Ga), ou trondhjemítica, ou de enriquecimento em Na (gnaisses tonalíticos de Bom Jesus ca. 3,4 Ga e metanoritos / anortositos Senador Elói de Souza ca. 3,0 Ga). Concentrações em óxidos, elementos traços, terras raras e isótopos de Sr e Nd sugerem contribuição tanto de crosta oceânica quanto do manto superior na gênese destas rochas. Palavras Chave: Maciço São José do Campestre; Arqueano, Plataforma da América do Sul; Magmatismo Cálcio-alcalino Estudos Geológicos v. 18 (1), 2008 122

O Arqueano Do Maciço São José De Campestre, Leste Do Rio Grande... ABSTRACT The São José de Campestre Massif (northeasternmost part of Brazil) is one of the oldest Archean cratonic units of the South America platform. It is composed mainly of metaplutonic rocks ranging from quartz diorite to tonalite and monzogranite (3.4 to 3.2 Ga) and syenogranites (2.7 Ga) and small occurrences of metanoritos e meta-anorthosites (3.0 Ga). High-grade cordierite-sillimanitegarnet-bearing paragneisses, marble and calc-silicate gneisses are also found and supposed to be older than the metaplutonics. They follow either the classic calc-alkaline K-enrichment (the 3.3 Serra Caiada monzogranitic gneisses and the 2.7 São José de Campestre syenogranite gneisses) or the trondhjemitic Na-enrichment (the 3.4 Ga Bom Jesus tonalitic gneisses and 3.0 Ga Senador Elói de Souza anorthositic / noritic gneisses) differentiation trends. Major, trace and rare earth element concentrations and Sr and Nd isotopes suggest contributions from both oceanic crust and depleted and undepleted Archean mantle in the generation of magma precursors of these metaplutonic rocks. Keywords: São José do Campestre Massif; Archean; South American Platform; Calc-alkaline magmatism. 123 Estudos Geológicos v. 18 (1), 2008

Zorano Sérgio de Souza et. al. OBJETIVO DA EXCURSÃO Os zircões mais antigos datados até hoje foram encontrados no gnaisse Acasta (NW do Canadá), com ~4,0 Ga (Bowring et al., 1989). Na América do Sul, são registradas ocorrências de gnaisses tonalíticos de ~3,42 Ga no Maciço Sete Voltas, SE da Bahia (Martin et al., 1997) e gnaisses tonalíticos a quartzo dioríticos do Maciço São José de Campestre, leste do Rio Grande do Norte, com ~3,41 Ga (Dantas et al., 2004). O objetivo desta excursão é apresentar os componentes principais do núcleo arqueano São José de Campestre, visitando ortognaisses de ca. 3,41 Ga e demais unidades, mais jovens (até 2,7 Ga), e discutir sucintamente os processos petrogenéticos envolvidos em sua gênese. LITOESTRATIGRAFIA O Maciço São José de Campestre (MSJC) representa um fragmento de crosta arqueana com área aflorante de aproximadamente 1300 km 2 situado no leste do Rio Grande do Norte. A figura 1 representa o mapa geológico da área (Viegas, 2007). Os limites SW e SE do MSC são marcados por zonas de cisalhamento dúcteis de alta temperatura. O MSJC compõe-se de duas grandes unidades litoestratigráficas, uma volumetricamente dominante, de natureza ortoderivada, e outra paraderivada. A primeira inclui rochas de diferentes idades de intrusão (3,45 a 2,7 Ga), de acordo com resultados U/Pb em zircão obtidos por Dantas (1996) e Dantas et al. (2004): (1) suíte Bom Jesus (3,45 Ga) - gnaisses tonalíticos a granodioríticos com enclaves máficos (Foto 1); (2) suíte Serra Caiada (anteriormente denominada Presidente Juscelino, 3,25 Ga) - gnaisses monzograníticos; (3) suíte Brejinho (3,2 Ga) gnaisses tonalíticos a granodoríticos; (4) suíte Senador Elói de Souza (3,0 Ga) - hedembergita-grossulária anortosito, granada anfibolitos; (5) suíte São José de Campestre (2,7 Ga) - gnaisses monzo a sienograníticos. A unidade paraderivada aflora na porção SW, sendo formada por cordierita-silimanita-granada-biotita paragnaisses, podendo ter lentes de mármores, granada anfibolitos e gnaisses calciossilicáticos. As relações da seqüência paraderivada com as demais unidades ainda não estão bem definidas; todavia, os ortognaisses monzograníticos de Serra Caiada aparentam serem intrusivos, o que indicaria uma idade >3.25 Ga para as metasupracrustais. PETROGRAFIA DOS ORTOGNAISSES Os ortognaisses tonalíticos têm biotita como ferromagnesiano principal. Os monzogranitos têm sua melhor exposição na Pedreira do Teixeira (sul de Serra Caiada); contêm biotita marrom (raros clinopiroxênio e hornblenda), proporções equivalentes de plagioclásio (albita-oligoclásio) e ortoclásio mesopertítico. Os sienogranitos possuem ortoclásio, plagioclásio (oligoclásio), hornblenda hastingsítica e biotita rica em ferro. No diagrama Q-A-P, os complexos Bom Jesus e Elói de Souza seguem o trend de diferenciação de baixo potássio, enquanto os complexos Serra Caiada e São José de Campestre seguem o trend de potássio médio (Fig. 2). GEOQUÍMICA E PETROGÊNESE DOS ORTOGNAISSES Estudos Geológicos v. 18 (1), 2008 124

O Arqueano Do Maciço São José De Campestre, Leste Do Rio Grande... No diagrama K-Na-Ca (Fig. 3), os gnaisses arqueanos do MSJC se alinham Os espectros de elementos terras raras (ETR, Fig. 4) da suíte Serra Caiada são paralelos à Figura 1 Mapa geológico simplificado do Leste do Rio Grande do Norte, destacando o núcleo arqueano (modificado de Barbosa et al., 1974; DNPM/UFRN/PETROBRAS/CRM, 1998; Dantas et al., 2004) e Viegas (2007) aproximadamente paralelos ao trend de diferenciação cálcio-alcalina. Algumas amostras das suítes Bom Jesus, Serra Caiada e Brejinho plotam na terminação do trend trondhjemítico, mas não parecem fazer parte de uma série propriamente dita. média de TTGs arqueanos, tendo anomalias variadas de Eu (Eu*=0,77-1,76). As suítes Bom Jesus, Brejinho e São José de Campestre distinguem-se por serem menos fracionadas, forte anomalia negativa de Eu (exceto uma amostra de Brejinho) e forte enriquecimento 125 Estudos Geológicos v. 18 (1), 2008

Zorano Sérgio de Souza et. al. em ETRP, deste modo assemelhando-se ao padrão de granitóides fanerozóicos. Comparados à média de TTGs arqueanos, os monzogranitos são empobrecidos em MgO e CaO, e enriquecidos em K 2 O, o que requer fonte toleítica enriquecida tanto em Na 2 O como em K 2 O na sua gênese. Portanto, o complexo Serra Caiada apresenta parâmetros geoquímicos (forte intermediários (quartzo dioríticos ou granodioríticos) que, por sua vez, fracionariam diferentes combinações de anfibólio, clinopiroxênio e plagioclásio, resultando em magmas tonalíticos a graníticos que compõem os ortognaisses atualmente observados no MSJC. Diversas ocorrências de rochas metamáficas e metaultramáficas no interior do MSJC podem representar os líquidos ou Figura 2 Composição modal no diagrama Q-A-P de ortognaisses arqueanos do MSJC. To = tonalito, Gd = granodiorito, Gr = granito, QM = Quartzo monzonito, QMD = Quartzo monzodiorito. As setas correspondem a trends de diferenciação clássicos (Lameyre & Bowden 1982): T - toleítica; A - alcalina; trends cálcio-alcalinos são subdivididos em a = baixo K, b = médio K and c = alto-k. fracionamento de ETRL, baixo Yb N, A/CNK < 1,1, e Nd (t) variando de +0,1 a -3,9) condizentes com origem por fusão parcial de crosta toleítica transformada em anfibolito ou granada anfibolito, a exemplo de TTGs clássicos. Por outro lado, os complexos Bom Jesus (tonalitos), Brejinho (tonalitos) e São José de Campestre (granitos) não apresentam qualquer afinidade com TTGs; suas composições geoquímicas (altos K 2 O, Yb N e Sc) requerem fonte enriquecida em potássio e sem granada, de modo a deixar o líquido de fusão enriquecido em Yb. Isto permite descartar fontes do tipo granada anfibolito, eclogito e a crosta continental inferior. Uma possibilidade aqui admitida seria a fusão parcial do manto astenosférico ou litosférico; cumulados básicos referidos. Estudos geocronológicos se encontram em andamento por um dos autores (ELD) para posicionar a intrusão destas rochas. A hipótese manto e crosta oceânica como fontes de magmas no Mesoarqueano do MSJC deixa em aberto a presença de ambiente de subducção com o mais adequado para explicar o contexto geológico e geoquímico. representar os líquidos ou cumulados básicos referidos. Estudos geocronológicos se encontram em andamento por um dos autores (ELD) para posicionar a intrusão destas rochas. A hipótese manto e crosta oceânica como fontes de magmas no Mesoarqueano do MSJC deixa em aberto a presença de ambiente Estudos Geológicos v. 18 (1), 2008 126

O Arqueano Do Maciço São José De Campestre, Leste Do Rio Grande... de subducção com o mais adequado para explicar o contexto geológico e geoquímico. AFLORAMENTOS A SEREM VISITADOS A Tabela 1 corresponde aos afloramentos que serão visitados na excursão de campo, enquanto que as figuras 5 e 6 representam exemplos de campo das rochas do Arqueano do Maciço São José de Campestre. Figura 3 Diagrama catiônico K-Na-Ca mostrando as linhagens de diferenciação cálcio-alcalina (CA) e trondhjemítica (Tdh) de acordo com Nockolds & Allen (1953) e Barker & Arth (1976), respectivamente. Tabela 1 Localização dos afloramentos a serem visitados. Figura 4 Espectros de elementos terras raras, normalizados, com respeito ao condrito de Sun & McDonough (1989) para ortognaisses arqueanos do MSJC. Também foram plotados para comparação médias de granitóides fanerozóicos e TTGs arqueanos [Martin, 1994, In Condie, K. C. (ed.) The Archean crustal evolution, Amsterdam, Elsevier, p. 205-259]. Figura 5 Gnaisse tonalítico a granodiorítico, com idade U/Pb zircão de 3,45 Ga (Dantas et al., 2004). 127 Estudos Geológicos v. 18 (1), 2008

Zorano Sérgio de Souza et. al. Figura 6 Serra Caiada (antiga Presidente Juscelino), com idade U/Pb zircão de 3,25 Ga (Dantas et al., 2004). Referências Barbosa, A.J.; Braga, P.G.; Bezerra, M.A.; Gomes, J.A.V., 1974. Projeto Leste da Paraíba e Rio Grande do Norte. Mapa Geológico, escala 1:250.000. MME/DNPM. Barker, F.; Arth, J.G., 1976. Generation of trondhjemite-tonalite liquids and Archean bimodal trondhjemite-basalt suites. Geology, 4: 596-600. Bowring, S.A.; Williams, I.S.; Compston, W., 1989. 3.96-Ga gneisses from the Slave province, Northwest Territories, Canada. Geology, 17: 971-975. Dantas, E.L., 1996. Geocronologia U-Pb e Sm-Nd de terrenos arqueanos e paleoproterozóicos do Maciço Caldas Brandão, NE do Brasil. Ph. D. Thesis, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rio Claro, 206 p. Dantas, E.L.; Van Schmus, W.R.; Hackspacher, P.C.; Fetter, A.H.; Brito Neves, B.B.; Cordani, U.G.; Nutman, A.P.; Williams, I.S., 2004. The 3.4-3.5 Ga São José do Campestre massif, NE Brazil: remnants of the oldest crust in South America. Precambrian Research, 130: 113-137. DNPM/UFRN/PETROBRAS/CRM, 1998. Mapa Geológico do Estado do Rio Grande do Norte na escala 1:500.000. Lameyre, J.; Bowden, P., 1982. Plutonic rock type series: discrimination of various granitoid series and related rocks. Journal of Volcanology and Geothermal Research, 14: 169-186. Martin, H., 1994. The Archean grey gneiss and the genesis of continental crust. In: Condie, K. C. (ed.) The Archean crustal evolution. Amsterdam: Elsevier, 205-259. Martin, H.; Peucat, J.J.; Sabaté, P.; Cunha, J.C., 1997. Crustal evolution in the early Archean of South America: example of the Sete Voltas Massif, Bahia State, Brazil. Precambrian Research, 82: 35-62. Nockolds, S.R.; Allen, R., 1953. The geochemistry of some igneous rock series. Geochimica et Cosmochimica Acta, 4: 105-142. Sun, S.S.; McDounough, W.F., 1989. Chemical and isotopic systematic of ocean basalts: implications for mantle composition and processes. In: Saunders, A.D. & Norry, M.J. (eds) Magmatism in the ocean basins. Geological Society Special Publication, 42" 313-345. Viegas, M.C.D., 2007. Síntese geológica do Leste do Rio Grande do Norte na escala 1:250.000. Monografia de Graduação, Curso de Geologia, UFRN, Natal, 78 p. + mapas. Estudos Geológicos v. 18 (1), 2008 128