IPEF n.10, p.43-56, 1975

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Transcrição:

IPEF n.0, p.56, 975 UTILIZAÇÃO DE MADEIRAS DE ESSÊNCIAS FLORESTAIS NATIVAS NA OBTENÇÃO DE CELULOSE: BRACATINGA (Mimosa bracatinga), EMBAÚBA (Cecropia SP), CAIXETA (Tabebuia cassinoides) E BOLEIRA (Joannesia princeps) SUMMARY Luiz Ernesto George Barrichelo * Celso Edmundo Bochetti Foelkel * Fastgrowing native forest trees are of great interest on wood converting industries. Four of these wood species have been pulped by the sulphate process: "bracatinga" (Mimosa bracatinga), "embaúba" (Cecropia sp), "caixeta" (Tabebuia cassinoides) and "boleira" (Joannesia princeps). Pulp qualities were inferior to those obtained from Eucalyptus saligna pulpwood, however the pulps are good enough for printing and writing paper manufacture.. INTRODUÇÃO A produção de celulose para papel assentase em nosso meio, na utilização da madeira de umas poucas espécies dos gêneros Pinus e Eucalyptus. Usualmente, a prática de oligocultura, em qualquer atividade agrícola e por extensão florestal, não é muito recomendada. O ideal seria possuir à disposição, algumas outras espécies de madeiras, o que permitiria maiores possibilidades de misturas de fibras diferentes para variar a amplitude de produtos finais. Mais interessante ainda seria encontrar essências de florestas nativas que em virtude de seu rápido desenvolvimento e a boa qualidade de celulose pudessem suplementar o fornecimento de madeira que é obtido a partir das espécies exóticas. O presente trabalho teve como objetivo o estudo das características da madeira e das propriedades das celuloses sulfato obtidas de madeiras de algumas essências florestais nativas, a saber: bracatinga (Mimosa bracatinga), embaúba (Cecropia sp), caixeta (Tabebuia cassinoides) e boleira (Joannesia princeps). Os resultados foram comparados com os obtidos para o Eucalyptus saligna, uma das espécies de uso mais generalizado na produção industrial de celulose.. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Por se tratarem de essências nativas ainda pouco exploradas comercialmente para produção de celulose, foram em pequeno número as citações encontradas na literatura... Bracatinga (Mimosa bracatinga ) * Departamento de Silvicultura ESALQUSP

As condições climáticas reinantes em grande parte da área de ocorrência natural da bracatinga (Mimosa bracatinga Hoehne), caracterizadas por grandes variações de temperatura, no decorrer do ano, tornam pouco promissoras as possibilidades de plantio econômico de muitas folhosas de rápido desenvolvimento e de características favoráveis à intensiva industrialização. As excepcionais qualidades da bracatinga de regenerar rápida e densamente após a exploração dos povoamentos naturais, principalmente após a passagem de fogo pelo terreno, sugerem a possibilidade de sua utilização como espécie econômica para a produção de celulose de fibra curta de real utilidade para a indústria papeleira do sul do país. Relativamente à produção de celulose sulfato desta madeira, BARRICHELO 968, observou razoáveis resistências à tração e arrebentamento porém baixa resistência ao rasgo para as mesmas. ASSIS et alii 968, verificaram que as celuloses de bracatinga obtidas pelos processos sulfito e sulfato eram inferiores às de eucalipto. Sugerem entretanto o uso destas celuloses em misturas com outras de melhor qualidade, para fabricação de papéis e cartolinas onde não se exige alta resistência física... Embaúba (Cecropia sp) Embaúba é o nome genérico dado a plantas da família das Moráceas e gênero Cecropia, sendo conhecidas atualmente cerca de 50 espécies. As árvores são eretas, sem ramificações, podendo atingir até 5 m de altura. A madeira é muito leve e esbranquiçada. Segundo LOUREIRO & SILVA 968, seus usos mais comuns são: caixas, celulose, palitos de fósforo e quando queimada, o carvão é recomendado como excelente para a fabricação de pólvora. OVERBECK 968, em trabalho sobre a obtenção de pastas celulósicas de madeiras da Amazônia, observou que a madeira de embaúba fornecia celulose de boa resistência e fácil branqueabilidade... Caixeta (Tabebuia cassinoides) Tabebuia cassinoides é uma espécie florestal cuja madeira, devido às suas características, é bastante utilizada na fabricação de lápis. Os resíduos desta industrialização são elevados e atenção tem sido dada à sua provável utilização para a produção de celulose. Atualmente, a utilização de resíduos agrícolas e florestais têm merecido considerável atenção por parte de pesquisadores e fabricantes de celulose. A continua redução na disponibilidade de madeira com o conseqüente encarecimento das mesmas contribuíram decisivamente para isso. Uma vez que as quantidades do resíduo sejam suficientes para novas indústrias se desenvolverem, ou para entrarem como suplementação da matériaprima original de indústrias existentes, podese pensar em usálo para tal fim. Resíduos florestais, tanto na forma de árvores inteiras ou partes das mesmas, como na forma de cavacos, lascas, costaneiras, serragem, pó, etc." são aceitos por muitas fábricas de celulose. As possibilidades de utilização de resíduos florestais estão freqüentemente limitadas pelas dificuldades no manuseio e classificação dos mesmos, ou pela sua inadequabilidade às necessidades do consumidor ou de seu processo de manufatura. Os tipos de produtos em que resíduos florestais têm sido utilizados até o momento são: celuloses químicas e semiquímicas, pasta mecânica, chapas, aglomerados, etc. Embora os

resíduos freqüentemente produzam celuloses químicas inferiores às obtidas da madeira original, eles podemse constituir em importante fonte de fibras para a indústria papel eira. A bibliografia sobre produção de celulose a partir de madeira de Tabebuia cassinoides deve ser bastante escassa tanto assim que nada foi encontrado a respeito em publicações especializadas... Boleira (Joannesia princeps) Joannesia princeps, vulgarmente boleira, andaaçú ou cotiera, é uma espécie florestal de ampla zona de ocorrência no territ6rio brasileiro. Seu desenvolvimento é muito bom e seu comportamento em solos fracos é excelente. A madeira, em virtude de sua textura grosseira, porosa e macia pode ser indicada para inúmeros fins, entre os quais a fabricação de lápis, fósforos, caixas, etc." e também para a produção de celulose para papel. Embora exista escassa literatura sobre o assunto, sua utilização para obtenção de celulose tem sido recomendada há longo tempo: em 95, FONSECA verificava que esta madeira produzia celulose de alto rendimento e qualidade, Mais recentemente, em 97, o Instituto de Pesquisas Tecnol6gicas IPT, publicava relat6rio onde se confirmava a boa qualidade da celulose obtida de sua madeira. Os ensaios da celulose com o número de permanganato igual a l5, e realizados pelo IPT mostraram valores de 9,00 metros para o comprimento de autoruptura e 99 para o índice de rasgo a 5 o SR... Material... Bracatinga. MATERIAL E MÉTODOS Foi utilizada uma amostra composta obtida de árvores de bracatinga com idades compreendidas entre e 7 anos. O material, proveniente de Lages, Santa Catarina, foi coletado em povoamentos de regeneração natural.... Embaúba O material de embaúba consistia de árvores amostradas em florestas do litoral paulista, com idade indeterminada devido sua ocorrência natural.... Caixeta O material de Tabebuia cassinoides constituiuse de resíduos da industrialização da madeira para lápis, proveniente de ParanaguáParaná.... Boleira Foram coletadas duas amostras de madeira para os ensaios para a produção de celulose de Joannesia princeps. Ambas provinham de povoamentos distintos, mas de idades indeterminadas, e localizados em Linhares Espírito Santo.

..5. Eucalipto O material de Eucalyptus saligna constituiuse de madeira obtida de povoamentos comerciais com 5 anos de idade e proveniente de MogiGuaçu São Paulo... Métodos... Preparo da madeira As árvores amostradas para cada espécie foram cortadas em toras, descascadas e a seguir reduzidas a cavacos em picador industrial. Os cavacos obtidos foram secos ao ar até equilíbrio e armazenados em sacos plásticos para evitar alteração do teor de umidade dos mesmos.... Amostragem para ensaios A amostragem para todos os ensaios realizados foi feita sobre os lotes de cavacos.... Análises microscópicas nas madeiras Foram determinadas as seguintes dimensões das fibras: comprimento, largura, diâmetro do lumen e espessura da parede celular.... Determinação da densidade básica das madeiras Foi utilizado para tal o método do máximo teor de umidade, conforme FOELKEL et alii, 97...5. Análises químicas das madeiras As determinações químicas foram realizadas em duplicata e o resultado médio expresso em porcentagem sobre o peso de madeira absolutamente seca. As seguintes análises foram realizadas: Análise química Solubilidade em água quente... NaOH %... álcool benzeno... Teor de celulose Cross & Bevan... lignina... pentosanas... Método ABCP M/68 ABCP M5/68 ABCP M6/69 ABCP M9/7 ABCP M0/7 TAPPI T9m50 ABCP: Associação Técnica Brasileira de Celulose e Papel. TAPPI: Technical Association of the Pulp and Paper Industry...6. Produção de celulose

Foi utilizado o processo sulfato e os esquemas dos cozimentos estão apresentados no Quadro I. Quadro I: Condições dos cozimentos sulfato. Variáveis % álcali ativo Sulfidez (%) Atividade (%) Temperatura máxima ( o C) Tempo até temperatura máxima (h) Tempo à temperatura máxima (h) Bragatinga 5 88 70 I 5 88 70 II 5 88 65 Embaúba 5 88 65 Caixeta I II V Boleira (Amostra ) I II Boleira (Amostra ) I 5 6 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 88 88 88 88 00 00 00 00 00 65 70 70 70 65 65 65,0 Relação licor/madeira Eucalipto 5 88 65 70 65 As celuloses obtidas foram lavadas e depuradas e a seguir determinaramse rendimentos brutos, depurados, teores de rejeitos e números de permanganato...7. Refinação e formação de folhas para lestes As celuloses foram refinadas em moinho Jokro a tempos variáveis de moagem, incluindose o tempo zero minutos. A consistência de refinação foi de 6%.A cada tempo de moagem e para cada tipo de celulose determinavase o grau de refino, em termos de graus Schopper Riegler, e preparavamse folhas de gramatura aproximadamente 60 g/m...8. Ensaios físicomecânicos das celuloses Os ensaios físicomecânicos foram realizados e calculados segundo método TAPPI T 0 m 60. As seguintes propriedades das celuloses foram determinadas: resistência à tração: expressa pelo comprimento de auto ruptura, em quilômetros. resistência ao estouro: expressa pelo índice de estouro. resistência ao rasgo: expressa pelo índice de rasgo. esticamento: expresso em porcentagem. peso específico aparente: expresso em gramas por centímetro cúbico... Dimensões médias das fibras. RESULTADOS

Os resulados das análises microscópicas, médias de 00 fibras por espécie, constam do Quadro II. Quadro II: Dimensões médias das fibras Dimensão Comprimento (mm) Largura (µ) Diâmetro do lúmen (µ) Bracatinga,7 5,8, 5,7 Embaúba,6 5, 7,8, Caixeta 0,88 6,,0,6 Boleira Amostra Amostra Espessura da parede (µ),70 0,9,5,7,6 7, 8,,5 Eucalipto,00 9,,0,.. Densidade básica das madeiras Os resultados médios para densidade básica das madeiras aparecem no Quadro III. Quadro III: Densidade básica média das madeiras Densidade básica (g/cm ) Bracatinga Embaúba 0,80 Caixeta 0,99 Boleira Amostra Amostra 0,86 0,06 Eucalipto 0,98.. Análises químicas das madeiras Os resultados das análises químicas quantitativas realizadas nas madeiras estão apresentados no Quadro IV. Quadro IV: Composição química quantitativa das madeiras Composição química Solubilidade em Teor de (%) água quente NaOH % álcool benzeno celulose lignina pentanosas Bracatinga, 9,0 0, 58,6 5,,8 Embaúba,8,,0 6,5, 5,5 Caixeta,5 7, 0,6 8,,, Boleira Amostra Amostra 6,5 8,6, 57,7 8, Eucalipto,0,5, 5, 5,8 7,5.. Propriedades das celuloses... Rendimentos, teores de rejeitos e números de permanganato

Os valores médios obtidos para estas propriedades aparecem no Quadro V. Quadro V: Rendimentos, teores de rejeitos e números de permanganato das celuloses Propriedade da celulose Bragatinga I II Rendimento bruto (%) Rendimento depurado (%) Teor de rejeitos (%) Número de permanganato 5, 5,6 59, 5,0 5, 57,6 0, 0,,6, 5, 9, Embaúba 59, 57,,0,5 Caixeta I II V Boleira (Amostra ) I II Boleira (Amostra ) I 5,7 5, 8,6,7 5, 8, 5, 8,8 9, 8,, 6,6 7,8 5,0,9,0 0, 0, 5,8 0,6 0,,6, 9,5 7,,8 0, 6, 50, 50,0 0, 9,6 5, 5, 0,9 5,8 Eucalipto 50, 9,5 0,7,0.. Propriedades físicomecânicas das celuloses Os resultados para tempo de moagem, resistências à tração, estouro e rasgo e peso específico aparente das celuloses, em função do grau de moagem, estão apresentados respectivamente nos Quadros VI, VII, VIII, IX e X. Quadro VI: Tempos de moagem, em minutos Grau de moagem 0 0 0 5 60 Bragatinga I II 7 7 8 6 55 5 66 67 68 7 Embaúba 8 0 75 Caixeta I II V 8 7 8 7 8 9 7 8 6 8 59 5 Boleira (Amostra ) I II Boleira (Amostra ) I 0 0 0 58 9 8 7 0 Eucalipto 9 7 6 75 0 55 6 6 56 7 68 60 75 79 7 87

Quadro VII: Resistência à tração das celuloses, expressa pelo comprimento de autoruptura Grau de moagem 0 0 0 5 60 Bragatinga I II 7, 7, 7,8 7, 8, 8,6 7,5 8,5 8,8 7,7 8,6 9, Embaúba,6 7,7 9,6 0,0 0, Caixeta I II V 7, 5,9 6, 5, 8,6 7,5 8,5 7, 9, 8, 9, 7,5 9,9 9,0 8,9 7,5 Boleira (Amostra ) I II Boleira (Amostra ) I 6,5 7,0 7, 5, 6,5 7,8 8, 8,7 6,9 8, 8, 8,7 8,8 Eucalipto 6, 9,5 0,7,0,0 6,6 7,9 7,5 6,8 8, 7,7 6,9 8,5 7,9 7, 8,7 8, Quadro VIII: Resistência ao estouro das celuloses, expressa pelo índice de estouro Grau de moagem 0 0 0 5 60 Bragatinga I II 5 9 8 9 6 6 5 Embaúba 6 55 7 7 80 Caixeta I II V 6 56 50 59 8 6 5 6 5 7 66 66 56 Boleira (Amostra ) I II Boleira (Amostra ) I 7 9 57 7 8 8 9 Eucalipto 7 6 76 80 8 0 9 7 5 50 6 5 5 5 60 56

Quadro IX: Resistência ao rasgo das celuloses, expressa pelo índice de rasgo Grau de moagem 0 0 0 5 60 Bragatinga I II 7 70 76 75 77 8 7 76 8 68 7 79 Embaúba 9 9 8 80 78 Caixeta I II V 05 87 8 87 0 0 00 09 08 05 95 96 05 07 9 Boleira (Amostra ) I II Boleira (Amostra ) I 7 59 70 5 65 7 7 58 0 8 55 5 0 7 9 9 0 0 0 0 08 0 99 Eucalipto 87 09 9 Quadro X: Peso específico aparente das folhas de celulose, em g/cm Grau de moagem 0 0 0 5 60 Bragatinga I II 0,657 0,6 0,60 0,659 0,67 0,660 0,66 0,687 0,690 0,700 0,705 0,78 Embaúba 50 0,760 0,805 0,80 0,880 Caixeta I II V 50 50 50 5 0,660 0,660 0,675 0,675 0,685 0,675 0,700 0,70 0,70 0,75 0,70 0,760 Boleira (Amostra ) I II Boleira (Amostra ) I 0,60 0,600 0,65 0,65 0,60 0,660 0,60 0,655 0,675 0,65 0,665 0,690 0,675 0,680 0,70 6 8 0,60 0,6 0,60 5 8 0,6 0,66 0,6 Eucalipto 75 0,670 0,690 0,700 0,70 5.. Características das madeiras 5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS De forma geral, as espécies ensaiadas mostraram valores para dimensões de fibras e composição química da madeira dentro do usual para folhosas. Comparativamente, a madeira de boleira mostrou maior comprimento de fibra e a de bracatinga maior espessura da parede.

Quanto à composição química, as madeiras de embaúba e bracatinga caracterizaramse por maiores teores em celulose e pentosanas e maior solubilidade em NaOH %.A madeira de caixeta mostrou menor teor de celulose e maior teor de lignina. A madeira de boleira apresentou o menor teor de lignina. Um amplo espectro de variação foi observado quando a densidade da madeira era a propriedade em investigação. Madeiras bastante leves como a embaúba e caixeta opunhamse a madeiras mais densas como bracatinga e eucalipto. Numa faixa intermediária encontravase a madeira de boleira. 5.. Propriedades das celuloses 5... Bracatinga Celuloses sulfato de razoáveis resistências à tração e ao estouro e baixa resistência ao rasgo foram obtidas com essa matériaprima. Os rendimentos em celulose são similares aos obtidos para eucaliptos. 5... Embaúba Em termos de propriedades físicomecânicas a celulose de embaúba mostrouse inferior à de eucalipto, entretanto suas resistências à tração e ao rasgo, bem como seu rendimento foram bastante satisfatórios. Por outro lado a celulose de embaúba é rapidamente refinada, o que significa economia no consumo de energia para a obtenção de um préestabelecido grau de moagem. 5... Caixeta A madeira apresentou uma certa resistência à deslignificação, sendo necessárias condições mais ou menos drásticas para folhosas para trazer o número de permanganato das celuloses a valores que permitissem fácil branqueamento. Com isso, os rendimentos foram baixos para as celuloses consideradas economicamente branqueáveis. Uma propriedade importante das celuloses foi a rápida velocidade de refinação. Os valores encontrados para resistências à tração e ao arrebentamento foram razoáveis e para o rasgo, baixos. A produção de folhas densas foi outra característica destas celuloses. 5... Soleira As duas amostras de madeiras de boleira estudadas mostraram celuloses de características diferentes quando processadas. A amostra apresentou celulose sulfato de alta resistência ao rasgo e razoáveis resistências à tração e ao arrebentamento. Por outro lado, os rendimentos obtidos em celulose foram baixos para este material. Quando a amostra foi convertida em celulose, foram observados rendimentos superiores à primeira, a celulose produzida era clara e as resistências, embora inferiores às da celulose de eucalipto, eram satisfatórias para a produção de papéis, principalmente para impressão e escrita.

5.. Índices de qualidade das matérias primas Com a finalidade de expressar quantitativamente a potencialidade de uma madeira para produção de celulose sulfato não branqueada, os autores deste trabalho elaboraram um «índice de qualidade de matériasprimas». Assim, os valores de densidade básica das madeiras, rendimento depurado em celulose, número de permanganato e resistências das celuloses à tração, estouro e rasgo, foram divididos em 8 classes, conforme designadas e identificadas no Quadro XI. Na classificação dos valores das propriedades das madeiras e celuloses, foram tomados por base aqueles obtidos para Eucalyptus saligna, e correspondentes a classe 5. O grau de moagem das celuloses tomado como padrão foi 5 o SR. Quadro XI: Classes de qualidade das matérias primas Classe Densidade básica da madeira Rendimento depurado Número de permanganato Resistências Tração Estouro Rasgo menor que 0,6 menor que 0, Maior que 5,0 menor que 7, menor que 0, menor que 80 0,6 0,0,5,0 7,8,0 0,0 8000 0,6,6,0 8,,0 8,9,0 50,60,0 00 0,6 6,5,0 6,8,0 9,0,0 60,70,0 0 5 0,65 9,5,0,6,0 0,,0 70,80,0 0 6 60,60 5,55,0,,0,,0 80,85,0 0 7 0,60,95 55,58,0 0,,0,,0 85,90,0 60 8 maior que maior que menor que maior que maior que maior que Eucalyptus saligna 0,65 58,0 0,,0 90,0 60 0,98 9,5,0,0 80,0 A classificação das madeiras estudadas foi feita segundo o Quadro XI e é apresentada no Quadro XII. Nesse quadro, os valores de cada propriedade estão representados pelos números correspondentes às classes em que se enquadram. A qualidade de cada matéria prima é expressa pelo «índice de qualidade», representado pela média dos valores individuais a ela pertencente.

Quadro IX: Classes de qualidade das matérias primas Propriedade Densidade Rendimento Número de Resistênica Índice de básica da depurado permanganato Tração Estouro Rasgo qualidade madeira Bragatinga I II 5 5 5 5 6 7 6 5,,66,66 Embaúba 7 6 5, Caixeta I II V Boleira (Amostra ) I II Boleira (Amostra ) I 5 5 6 Eucalipto 5 5 5 5 5 5 5,00 8 5 Analisandose o Quadro XII, podese observar que nenhuma das essências florestais nativas que foram estudadas mostrouse semelhante ou superior Eucalyptus saligna. As madeiras que mais se aproximaram ao eucalipto como fonte de fibras para celulose sulfato de boa qualidade foram: embaúba, boleira e bracatinga, pela ordem. A madeira de caixeta mostrou qualidades inferiores às demais para o propósito em questão. 6. CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos e para as condições adotadas podese concluir que as madeiras de bracatinga (Mimosa bracatinga), embaúba (Cecropia sp), caixeta (Tabebuia cassinoides) e boleira (Joannesia princeps) fornecem celulose sulfato de razoável qualidade, podendo ser cogitada suas utilizações para fabricação de papéis, principalmente dos tipos para escrita e impressão. 7. BIBLIOGRAFIA. ASSIS. C. et alii. 968 Contribuição para aproveitamento da bracatinga mimosa na indústria papeleira. In: Congresso Florestal Brasileiro,. o, Curitiba. 968. 5 p.. BARRICHELO. L. E. G., 968 Celulose sulfato de bracatinga. In: Congresso Florestal Brasileiro,. o, Curitiba. 968. 5 p.. FOELKEL. C. E. E.; BRASIL. M. A. M. & BARRICHELO. L. E. G.. 97 IPEF, (/): 67.. FONSECA. E. I. 95 A indústria do papel. 70 p. 6 7 6,7,00,50,8,50,00,66,00,66

5. INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS. São Paulo. 97 Fichas característiccs de madeiras brasileileiras: boleira (Joannesia princeps). 5 p. 6. LOUREIRO, A. A. & SILVA. M. F., 968 Calálogo das madeiras da Amazônia. Belém. SUDAM. vol.. 7. OVERBECK. W., 968 Pastas celusósicas de madeiras da Amazônia. São Paulo. Instituto de Pesquisas Tecnológicas. p. (Publicação 88).

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