À CONFEDERAÇÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO / ESPANHA (Avda. de Portugal, 81; 28071 Madrid) participa.plan@chtajo.es Sérgio Paulo Silva Lopes, maior de idade, com Cartão de Identidade n.º 7324840, membro do Movimento pelo Tejo protejo a, agindo em nome próprio, com endereço para efeito de notificações na Avenida Marquês de Pombal, nº 204, 3º Frente, 2380-014 Alcanena, respeitosamente, através desta carta, e em relação à "PROPOSTA DE RELATÓRIO DO ORGANISMO DA BACIA SOBRE OS COMENTÁRIOS, PROPOSTAS E SUGESTÕES DO PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO PÚBLICA; E PROPOSTA DAS QUESTÕES SIGNIFICATIVAS DA GESTÃO DA ÁGUA (QSIGA), QUE MODIFICA O DOCUMENTO INICIAL SUBMETIDO A CONSULTA, vem apresentar os seguintes: COMENTÁRIOS PRIMEIRO : Os documentos referidos, que pretendem aprovar dia 3 de Novembro de 2010, pelo Conselho Executivo realmente NÃO DÁ RESPOSTA ÀS ALEGAÇÕES E OBSERVAÇÕES QUE REALIZÁMOS, E NÃO FORAM INCORPORADAS NO TEXTO DAS QSIGA OS NUMEROSOS CONTRIBUTOS QUE LHES FORAM COMUNICADOS ao longo de todo o processo de participação, nem sequer as apresentadas pelas associações de cidadãos e grupos ambientais da bacia do Tejo. Em primeiro lugar, reiteramos, como temos vindo a fazer, não nas alegações das QSIGA, mas nas observações aos documentos anteriores, ou nas poucas reuniões para as quais temos sido convocados, que SEM INFORMAÇÃO, NÃO HÁ PARTICIPAÇÃO. Podem dizer que cumpriram os procedimentos de participação cívica, mas a verdade é que neste momento ainda faltam, dados e informações essenciais, sem os quais é impossível uma participação real e efectiva. Ao faltar toda a informação básica remetida para o projecto de plano hidrológico, as fases iniciais de participação e a possibilidade de fazer declarações ou observações com o conhecimento de números e dados fundamentais ficaram sem conteúdo. Finalmente, a participação pública ficará reduzida, basicamente, um período de 6 meses de alegações para o projecto do plano de bacia, onde é suposto que, finalmente, se proporcione aos participantes, dados e números que não tenham sido publicitados até esse momento. Ou seja, o novo plano de bacia terá tido uma participação meramente formal, mas no fundo, terá violado as determinações previstas sobre a participação pública, tanto a Directiva Quadro da Água, como a Convenção de Aarhus (que deve ser aplicado com força de lei dentro do nosso sistema jurídico). Como exemplo do que dizemos, basta remetermo-nos à sua resposta (ou mais correctamente, falta de resposta) aos pontos-chave das observações que apresentámos:
1. SOBRE A NOMEAÇÃO E AVALIAÇÃO DO ESTADO ACTUAL DAS MASSAS DE ÁGUA "A delimitação das massas de água, tanto naturais como artificiais e fortemente modificadas está a ser revista para se adequar aos critérios do PH. Os resultados desse estudo serão colocados à disposição dos interessados no processo de participação pública do projecto de plano." 2. SOBRE O CÁLCULO E IMPLEMENTAÇÃO DE CAUDAIS ECOLÓGICOS "No plano de água serão caracterizados os caudais ambientais em todas as massas de água da Região Hidrográfica de métodos hidrológicos e em aproximadamente 10% destes será realizado um contraste mediante a simulação de habitats", "Quanto à implantação dos ditos caudais na bacia do Tejo, tal como se afirma no ponto 3.4.6 da Instrução de Planeamento Hidrológico (IPH) - Ordem ARM n.º 2656/2008, será desenvolvido de acordo com um processo de consulta/ concertação". 3. SOBRE O ESTABELECIMENTO DE OBJECTIVOS AMBIENTAIS "... é inadequado, portanto, apresentar neste momento uma proposta de objectivos ambientais a alcançar em todas as massas de água, bem como de prorrogações ou excepções, sem contar com as informações necessárias de estudos que estão actualmente em processo de elaboração. Todas essas informações estarão disponíveis no futuro projecto de Plano. 4. SOBRE A PROPOSTA INICIAL DE SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO A resposta dada é incoerente e, de nenhuma forma explica a motivação para a nova definição de sistemas, que não se encontra justificada, pois é absurdo dizer que se faz porque o novo regulamento de planeamento não contempla "subsistemas". Muito menos se justifica a definição de um único sistema operacional para toda a bacia, e não está garantido que indiquem ou proporcionem outro sistema operacional integrado no Alto Tejo conceito, segundo vós, análogo ao macro - sistema - de modo a que se possam contemplar as inter-relações entre sistemas de exploração. Porque, mais uma vez, como as restantes questões significativas, esta definição fica adiada, e "terá lugar nas normas do Plano." 5. CÁLCULO DOS BALANÇOS PROVISIONAIS Não responderam aos nossos comentários sobre o sobredimensionamento do cálculo dos recursos disponíveis e da ineficácia do balanço previsional que apresentam, ao realizarem-se os cálculos unicamente para a série 1940-2006. Solicitámos que se calculem os recursos disponíveis assim como o balanço, com a série 1980-2006, tendo em conta o possível efeito da mudança climática. No entanto, a resposta da CHT e as QSIGA definitivas não dão resposta a este pedido, alegando, absurdamente que a série longa contém os anos da série curta. Incumprindo as determinações da IPH, neste ponto, que foram calculados nas QSIGA de outras Regiões, como a do Segura. Finalmente, voltam a adiar esta informação essencial para o plano, dizendo que "O balanço de recursos do Plano
será feito considerando as orientações da IPH em relação à mudança climática e à utilização de séries hidrológicas." 6. SOBRE A ANÁLISE ECONÓMICA DO USO DA ÁGUA Não respondem aos comentários sobre a necessidade de realizar um estudo económico do uso da água em conformidade com a regulamentação estabelecida e que se caracterize económica e ambientalmente as medidas de base e complementares contempladas. Voltam a adiar esta informação, essencial, que ainda não foi fornecida, para o novo plano, sem que tenha existido, portanto, a participação pública sobre este aspecto fundamental para os novos planos estabelecidos pela DQA. Indicam simplesmente em resposta a essa afirmação que "o plano hidrológico acolherá um resumo das análises efectuadas em várias actividades económicas que afectam o uso da água, fornecendo informação agregada para a bacia hidrográfica e, quando necessário, à escala regional. Incluirá informações sobre as actividades económicas e a sua evolução até à actualidade. O plano hidrológico também acolherá as previsões hidrológicas dos investimentos previstos pelos diversos agentes para cada um dos serviços de água ". 7. SOBRE MEDIDAS EM CURSO OU A APLICAR Não respondem aos nossos comentários acerca de alternativas de actuação e possíveis medidas para alcançar os objectivos ambientais. As medidas propostas ainda são genéricas e não foram caracterizadas ambientalmente e economicamente. Nem sequer especificam os sectores e grupos afectados pelo programa de medidas nem se caracteriza a possível afectação. 8. SOBRE FENÓMENOS METEREOLÓGICOS EXTREMOS Indicámos nos nossos comentários que o Plano Especial de Alerta e Eventual Seca do Tejo (PES 2007), aprovado fora do actual processo de planeamento, não contempla dados imprescindíveis que devem ser debatidos e fixos no novo plano, sem que seja recebida a resposta da CHT no sentido de que, as possíveis alterações devem ser incluídas na finalização do plano hidrológico, furtando mais uma vez esta informação essencial para o processo de participação pública. 9. TEJO - SEGURA E OUTROS TRANSVASES PARA BACIAS HIDROGRÁFICAS EXTERIORES Não se responde aos comentários sobre a necessidade de incorporação como um tema importante o transvase Tejo - Segura e considerar o desvio de água do mesmo como uma pressão significativa. Voltam a remeter-se às determinações do Plano Hidrológico Nacional (PNH), atirando bolas para fora e esquecendo, que é competência do novo Plano do Tejo identificar todas as pressões significativas sobre a bacia hidrográfica (como, aliás, é a diminuição da transferência), as consequências das mesmas (como a afectação dos caudais ambientais ou o agravamento dos problemas de qualidade no Médio Tejo por falta de capacidade de diluição) e propor as medidas necessárias para cumprir os objectivos ambientais, que deve necessariamente implicar a existência de maiores reservas na cabeceira
do rio e maiores caudais de circulação para cumprir os objectivos ambientais, prioritários sobre qualquer transvase. Reiterando, se necessário, o PHN será o que se adapte às determinações do DQA para cada plano de bacia, e não o contrário. A atitude do CHT, com esta forte pressão, com a diminuição anual de 600 hm3 da cabeceira da bacia, que deixam de circular através do Rio Tejo, é fechar os olhos e fingir que não existe, o que em todo o caso, a Cabeceira do Tejo é independente do resto da bacia, para fins de planeamento. Um exemplo claro dessa recusa em reconhecer o óbvio, está na nova ficha com o número 1-08 Flutuações do nível no troço médio do rio Tejo, que chega ao absurdo de considerar que os únicos sectores e actividades que impedem que se alcance uma continuidade de caudais circulantes compatíveis com a manutenção dos ecossistemas associados no troço médio do rio são as extracções nos rio Tejo e Jarama, tanto de áreas de regadio públicas como de regadios privados, assim como de geração hidroeléctrica. Chegando ao absurdo maior de propor como únicas medidas para resolver o problema: A construção de obras de regulação diárias no eixo do rio Tejo e a afectação de recursos adicionais para atender às procuras consumptivas, sem indicar que esses recursos devem proceder da cabeceira da bacia, já que a sua utilização para as necessidades ambientais e procuras da bacia do Tejo, são prioritários sobre qualquer transvase para o exterior. Nem sequer se informa sobre os possíveis estudos que o actual Ministério do Meio Ambiente e Assuntos Rurais e Marinhos está a realizar sobre um novo transvase desde o Médio Tejo, afirmando que "procedemos à transferência da sua petição para a Sub - Direcção Geral de Planeamento Hidrológico e Uso Sustentável da Água do Ministério, resposta inaceitável visto tratar-se de entidades pertencentes à mesma administração hidráulica. 10. SOBRE A CONSIDERAÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS E CONSERVAÇÃO E MANUTENÇÃO DA BIODIVERSIDADE Continuam por determinar as exigências de habitats e espécies dependentes da água na bacia do Tejo e, portanto, ainda não propôs medidas para a implementação da DQA, a Directiva "Aves" e "Habitats", no que se refere a este ponto. SEGUNDO QUANTO À FORMA DE APROVAÇÃO DO ETI DEFINITIVO, o artigo 79 da Regulamento de Planeamento Hidrológico (RPH) exige a este respeito um relatório prévio do Conselho das Águas de Região. O Real Decreto 1161/2010 de 17 de Setembro dispôs que possa ser o antigo conselho de água da bacia hidrográfica ou, na falta deste, o Conselho Executivo do organismo da bacia que emitiu esse relatório prévio sobre o resumo das QSIGA, com o acordo do Comité das Autoridades Competentes. Assim, a maioria das QSIGA (Guadalquivir, do Ebro, Guadiana, etc) estão a ser aprovados pelos seus antigos Conselhos da Água, sem que esteja justificado que na bacia do Tejo este procedimento seja realizado pelo Conselho de Administração, que, contrariamente ao Conselho da Água, não conta na sua composição com representantes de grupos ambientalistas. Agravando mais
o défice de participação pública existente. A CHT indica que assim acontece porque "a composição do Conselho da Água da bacia estavam bastante obsoletos, pelo que a sua convocação requereria um processo demorado de eleição ou designação dos novos membros. Por conseguinte, consideraram mais conveniente acolher a opção alternativa definida no RD 1161/2010, mas esta solução não está totalmente justificada, pois não existe uma opção alternativa se, como no caso da Confederação Hidrográfica do Tejo, está constituído o anterior Conselho da Água, obsoleto ou não, por isso, se há pessoas nomeadas para o mesmo que já não ocupam os seus cargos, é necessário proceder à nomeação de substitutos, ou aplicar os mecanismos que permitiram a outras demarcações aprovar as QSIGA pelos seus antigos Conselhos da Água. Caso contrário, o relatório e a aprovação serão feitos por um órgão manifestamente incompetente. Face ao exposto, SOLICITO: Que se dêem por efectuadas e se tomem em consideração, estas observações à Proposta de Relatório do organismo da bacia sobre os comentários, propostas e sugestões resultantes do processo de participação pública, e na proposta de QSIGA que modifica o documento original apresentado para consulta. Alcanena, 8 de Novembro de 2010 Assinado. (Sérgio Paulo Silva Lopes) Sérgio Lopes