Temos um produto que supera o tijolo Em entrevista, o empresário Charles Gutemberg conta detalhes sobre o revolucionário sistema de construção BLOK, que dispensa materiais tradicionais e reduz gastos com a obra Gutemberg: Eu não tenho mais um planejamento de futuro porque a cada hora, quando a gente supera uma barreira, surge uma nova para nos desafiar. Não dou mais conta Paula Fróes Em 2002, o engenheiro brasiliense Charles Gutemberg, 43 anos, ouviu falar pela primeira vez de um sistema de construção diferente, utilizado na Itália. As paredes inclusive estruturais eram montadas sem tijolos, apenas utilizando placas de poliestireno expandido (o EPS, também conhecido como isopor) unidas por malhas de aço e cobertas com concreto. Curioso a respeito da novidade, o empresário viajou para
Europa em busca de mais detalhes. De volta ao Brasil, trouxe um pedaço do painel na bagagem. Anos foram necessários para o aperfeiçoamento do produto e a conquista dos principais certificados. Assim surgia a BLOK, uma empresa especializada em erguer casas, galpões e outras construções por meio de uma tecnologia inovadora. Por que um engenheiro escolheria este método de construção (e não o tradicional)? Gutemberg: Temos um produto que supera o tijolo. As paredes do sistema BLOK são antimofo, anti-infiltração, antifungo e antichamas. A temperatura interna da casa fica entre 18 e 22 graus. Além disso, a obra é mais rápida e mais barata, com desperdício de material próximo de zero e economia de até 30% em relação ao método tradicional. Você tem muitas vantagens, desde o transporte até a execução. As paredes suportam armários, suportes de TV, lustres e móveis pesados? Gutemberg: É possível parafusar armários, suportes de TV, suportes para redes Para se ter ideia, fizemos uma casa em São Paulo, de um proprietário rico e excêntrico, que queria pendurar uma moto antiga e pesada na parede. Nós fizemos. Pode furar e parafusar sem problema nenhum. Nós desenvolvemos uma argamassa com quatro ou cinco vezes mais resistência que as vendidas nas casas de materiais de construção. Essa argamassa tem a mesma resistência que a utilizada nas pistas de pouso dos grandes aeroportos do mundo.
Engenheiro trouxe tecnologia da Itália para o Brasil, desenvolveu um produto próprio e hoje exporta para Europa, América do Sul, África e Estados Unidos Paula Fróes A BLOK atende mais clientes residenciais ou empresariais? Gutemberg: Nós temos um produto que pode ser utilizado em qualquer circunstância, por isso trabalhamos com os dois setores igualmente. Agora, inclusive, estamos atendendo a agroindústria. Para a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), em Brasília, nós vamos construir o primeiro silo para armazenamento de 30 mil sacas de soja e trigo. Também estamos começando a desenvolver portas em EPS, que funcionam muito bem porque o isopor não carrega fungos, não há infiltração. Uma vez construída com o sistema BLOK, a casa pode ser reformada? Gutemberg: É claro que sim. A nossa preocupação é dar condição de moradia, mas também de ampliação e adaptação. Existe uma enorme flexibilidade de montar, cortar, ampliar, colocar vidros, blindex e fazer instalações em geral, como de um ar condicionado, por exemplo embora na maioria das vezes não
seja necessário. Modificações elétricas ou hidráulicas também são simples. Estamos falando de isopor. E se acontecer um curto-circuito, há alto risco de incêndio? Gutemberg: O EPS que usamos só entra em combustão a partir de 780 graus Celsius. O máximo que vai acontecer, num caso desse, é o EPS contrair. Ele não propaga a chama.
Charles Gutemberg é engenheiro civil e dono da BLOK, empresa brasileira que nasceu em Brasília Paula Fróes É possível usar esse sistema para construir um prédio, por exemplo? Gutemberg: Sim, é possível. Já temos homologação para até cinco pavimentos sem pilar. Com pilar as possibilidades são
infinitas. Com a vantagem que, num grande edifício, a gente leva a parede pronta, chapiscada e rebocada. Simplesmente vamos lá e montamos no local. Quais certificações respaldam o produto? Gutemberg: Cinco anos após voltar da Europa, em 2007, o primeiro painel foi construído no Brasil, e, partir daí, o sistema evoluiu em melhorias. Ainda em 2007, o produto foi testado e certificado pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Em 2014, a diretriz foi publicada no Diário Oficial. Também conseguimos reconhecer o sistema construtivo como uma ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) no CREA/DF (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Distrito Federal). Desde então, qualquer engenheiro do país pode assinar um projeto usando o nosso sistema construtivo. Você imaginou que o negócio cresceria tão rápido? Como projeta o futuro da empresa? Gutemberg: No começo, nós imaginávamos atender apenas Brasília e Goiás, mas fomos muito além. Passamos a atender outros Estados, como Rio de Janeiro e São Paulo, depois fora do Brasil Portugal, Uruguai, Chile, Líbia e Angola. Acabamos de assinar contrato com um representante da Suíça que pretende vender o sistema BLOK em outros países. Estamos entrando nos Estados Unidos com a perspectiva de construir mil casas em Miami, dentro de um empreendimento privado. São casas de alto padrão, com dois pavimentos. Eu não tenho mais um planejamento de futuro porque a cada hora, quando a gente supera uma barreira, surge uma nova para nos desafiar. Não dou mais conta (risos). Ao que atribui o sucesso da BLOK? Gutemberg: Existe uma demanda reprimida muito grande no setor de construção. Eu acredito que o nosso sistema ainda tem o que melhorar, mas indiscutivelmente avançamos muito e a facilidade de construção do sistema BLOK representa o futuro. Fazemos
casas confortáveis, seguras, ecologicamente corretas, mais baratas e entregamos em prazo menor que o convencional. Com esse custo menor e a facilidade de construção, podemos ajudar a diminuir o déficit habitacional histórico do nosso país em pouco tempo. Isso é motivo de orgulho e a razão do nosso trabalho.