UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA. umarfeminismos.org. Observatório de Mulheres Assassinadas

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Transcrição:

UNIÃO DE MULHERES ALTERNATIVA E RESPOSTA umarfeminismos.org Observatório de Mulheres Assassinadas OMA Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR Dados 2014 (01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2014) 1

O OBSERVATÓRIO DE MULHERES ASSASSINADAS A União de Mulheres Alternativa e Resposta - UMAR, por meio do trabalho que desenvolve no Observatório de Mulheres Assassinadas - OMA apresenta o relatório final dos dados sobre femicídio e tentativas de femicídio ocorridas em Portugal, e noticiadas na imprensa pelo período de 01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2014. INTRODUÇÃO AO ESTUDO INFRA APRESENTADO No ano de 2014, o OMA da UMAR registou um aumento significativo no que concerne ao crime de femícidio, consumado ou tentado, quando comparado com o ano civil transacto, contabilizando um total de: 43 Femicídios 49 Tentativas Femicídio DO ESTUDO DO FEMICÍDIO E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO NAS RELAÇÕES DE INTIMIDADE E RELAÇÕES FAMILIARES PRIVILEGIADAS Tal como nos relatórios anteriores, apresentaremos em seguida uma breve caracterização das vítimas directas e dos autores do crime de femicídio e femicídio na forma tentada, bem como a caracterização destes crimes quanto à sua ocorrência em termos geográficos e temporais, local, meio empregue, suposta motivação e contexto em que foram praticados. 2

I- OMA FEMICÍDIOS FEMICÍDIOS: RELAÇÃO DO HOMICIDA COM A VÍTIMA Em termos da relação existente entre as mulheres assassinadas e o homicida, verifica-se que o grupo que surge com maior expressividade é o das mulheres que mantêm ou mantiveram uma relação de intimidade com os homicidas, correspondendo a 81% (n=35) do total de mulheres que foram assassinadas em 2014. Ascendente directo Descendente 5% directo 5% Femicídio: Relação Homicída -Vítima Exmarido, excompanheiro, exnamorado 28% Outro familiar 9% Relação de intimidade: Marido, Co mpanheiro, Namorado 53% 19% das mulheres (n=8) foram assassinadas por aqueles com quem tinham uma relação familiar privilegiada, designadamente filhos, pai e/ou outros familiares próximos. Dos dados aqui aferidos concluímos que o homicídio de mulheres ocorre com particular incidência nas relações de intimidade presentes ou passadas. 3

FEMICÍDIOS: RELAÇÃO DA VÍTIMA COM O HOMICIDA AO LONGO DOS ANOS 2004-2014 Desde o início do Observatório e, dos dados recolhidos, verificamos que mantém-se a tendência de maior vitimização das mulheres às mãos daqueles com quem ainda mantinham uma relação, fosse ela de casamento, união de facto, namoro ou outro tipo relação de intimidade (n total=250), seguido pelo grupo dos ex-maridos, ex-companheiros e ex-namorados (n total=86). RELAÇÃO COM A VÍTIMA Marido, Companheiro, namorado, relação de intimidade Ex-marido, excompanheiro, ex-namorado Descendentes directos Outros Familiares 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Total 28 25 23 16 27 17 30 18 22 21 23 250 3 6 9 4 13 11 8 5 8 7 12 86 7 1 0 1 2 0 3 2 1 4 2 23 2 2 4 0 1 0 2 0 7 4 4 26 Desconhecida 0 0 0 1 3 1 0 0 0 0 0 5 Ascendentes directos Relação não correspondida - - - - - - 1 1 3 0 2 7 - - - - - - - 1 0 1 0 2 TOTAIS ANO 40 34 36 22 46 29 44 27 41 37 43 399 4

FEMICÍDIOS: IDADE DAS VÍTIMAS Dos 43 femicídios registados no ano 2014, verificamos que continua a ser o grupo das mulheres com idades compreendidas entre os 36 e os 50 anos que regista a maior taxa de prevalência representando 35% do total de situações noticiadas (n=15), seguido dos escalões etários mais de 65 anos e 51-64 anos de idade, que apresentam taxas de prevalência de 23% (n=10) e 19% (n=8), respectivamente. 16% das mulheres assassinadas (n=7) tinham idades compreendidas entre os 24 e os 35 anos de idade. Nos intervalos menos 18 anos e 18-23 anos encontram-se três mulheres assassinadas, a que corresponde 7% (n=3) do total. Femicídios: Idade das Vítimas 35% 16% 19% 23% 5% 2% Menos de 17 anos 18-23 anos 24-35 anos 36-50 anos 51-64 anos Mais de 65 anos Dos dados analisados somos a concluir que a violência contra as mulheres, também na sua forma mais letal, ocorre em todo o ciclo relacional das mulheres, já que constatamos a ocorrência deste crime em todas as faixas etárias. Não obstante verificamos que o femicídio afecta mulheres sobretudo com idades superiores a 36 anos. 5

FEMICÍDIOS: IDADE DAS VÍTIMAS AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2014 Comparando os diversos anos desde 2004, podemos observar que não obstante as variações, o grupo etário mais vitimizado pelo femicídio por violência de género é o das mulheres com idades entre os 36 e os 50 anos. IDADE 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL Até 17 anos 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 2 4 Dos 18 aos 23 anos 2 2 3 3 4 4 3 3 2 4 1 31 Dos 24 aos 35 anos 6 7 9 6 19 8 14 7 9 4 7 96 Dos 36 aos 50 anos 14 11 12 8 10 13 13 9 12 7 15 124 > 50 anos 16 12 10 4 9 3 14 8 - - - 76 Dos 51 aos 64 anos - - - - - - - Mais de 65 anos - - - - - - - - 12 14 8 34-6 7 10 23 Desconhecido 1 2 2 0 4 1 0 0 0 1 0 11 TOTAIS ANO 40 34 36 22 46 29 44 27 41 37 43 399 Desagregação do grupo etário mais de 50 anos, desdobrando-se e compreendendo dois escalões etários: 51-64 anos e, mais de 65 anos, encontrando-se contabilizados enquanto total no mais de 50 anos. 6

FEMICÍDIOS: SITUAÇÃO PROFISSIONAL DAS VÍTIMAS No que toca à situação profissional das vítimas é de notar a ausência de informação quanto a este item em 13 das situações reportadas. Naquelas em que foi possível recolher informação registamos que 16% (n=7) se encontrava em situação de reforma e que 35% (n=15) das mulheres assassinadas estavam inseridas em mercado de trabalho. Registou-se ainda que 3 jovens mulheres assassinadas eram estudantes, e que 5 se encontravam em situação de desemprego. Femicídio: Situação Profissional das Vítimas Estudante 7% Reformada 16% Sem informação 30% Desempregada 12% Empregada 35% 7

FEMICÍDIOS: IDADE DOS HOMICIDAS No que se refere à idade dos autores do crime de femicídio, podemos observar que em 2014, a maioria dos homicidas, a que corresponde uma percentagem de 42% tinham idades compreendidas entre os 35-50 anos (n=18), seguindo-se os com idades entre 51-64 anos de idade (n=11;26%). Com idades superiores a 65 anos e as idades compreendidas no intervalo dos 24-35 contabilizam-se, respectivamente, 7 (16%) e 6 (14%) dos homicidas. Com menor taxa de prevalência 2% (n=1), surge um homicida com idade compreendida entre os 18-23 anos. Femicídios: Idade do homicida 18-23 anos 24-35 anos 36-50 anos 51-64 anos Mais de 65 anos 16% 2% 14% 26% 42% 8

FEMICÍDIOS: IDADE DO HOMICIDA AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2014 Apresentamos, ainda, a tabela comparativa das idades dos homicidas ao longo dos anos em que o Observatório de Mulheres Assassinadas tem trabalhado na denúncia deste tipo extremado de violência de género incluindo a doméstica. Podemos verificar que as idades dos homicidas seguem o mesmo padrão do das vítimas, destacando-se o escalão etário 36-50 anos. Porém, verificam-se algumas oscilações ao longo dos anos. IDADES 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Total Até 17 anos 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 2 18-23 anos 0 0 0 2 1 3 3 0 2 2 1 14 24 35 anos 2 6 7 4 10 4 6 7 7 9 6 68 36-50 anos 7 5 9 3 20 13 19 6 13 6 18 119 > 50 anos 7 16 9 4 8 5 14 14 - - - 77 51-64 anos - - - - - - - - 11 9 11 31 > 65 anos - - - - - - - - 4 9 7 20 Desconhecida 24 6 11 9 7 4 3 0 4 1 0 69 TOTAIS ANO 40 34 36 22 46 29 45 27 41 37 43 400 Desagregação do grupo etário mais de 50 anos, desdobrando-se e compreendendo dois escalões etários: 51-64 anos e, mais de 65 anos, encontrando-se contabilizados enquanto total no mais de 50 anos. 9

FEMICÍDIOS: SITUAÇÃO PROFISSIONAL DOS HOMICIDAS No que toca à situação profissional dos homicidas foi possível constatar que 10 (23%) exerciam actividade profissional identificada e que outros 10 (23%) estavam em situação de desemprego. Foram identificados ainda 7 (17%) homicidas em situação de reforma. De notar ainda que em 16 situações (37%) não foi possível identificar este item. Femicídios: Situação profissional do homicida 23% 17% 37% Sem informação Empregado 23% Desempregado Reformado 10

FEMICÍDIOS: MÊS DE OCORRÊNCIA Ainda que o OMA registe a ocorrência do crime de femicídio em todos os meses, numa média de 3,6 femicídios por mês, verificamos que o mês de Novembro revelou ser o mais fatídico, contabilizando-se 7 mortes de mulheres no contexto de relações de intimidade e/ou relações familiares privilegiadas. Femicídos: Mês de Ocorrência 43 4 4 4 3 5 4 4 2 1 3 7 2 O mês de Maio registou também um número elevado de femicídios (n=5), seguido dos meses de Janeiro, Fevereiro, Março, Junho e Julho, com 4 cada. FEMICÍDIOS: MÊS DE OCORRÊNCIA AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2014 No ano de 2014 assinalamos uma maior taxa de incidência do femicídio no mês de Novembro, mês em que ocorreu 16% (n=7) do total dos femicídios noticiados. 11

Em termos globais, da análise dos registos ao longo dos anos conclui-se que a prevalência do femicídio das mulheres deixou de incidir, em particular, nos meses de verão, pese embora seja ainda nestes meses que, em termos absolutos e pela análise do conjunto dos anos do OMA, se registe o maior número de femicídios. Porém, e em termos relativos, verifica-se uma dispersão da ocorrência do crime por quase todos os meses do ano, num total de 399 mulheres assassinadas entre 2004 e 2014. MESES 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL MÊS Janeiro 3 2 4 0 1 3 3 0 1 1 4 22 Fevereiro 4 3 1 2 2 1 0 2 5 1 4 25 Março 2 1 0 2 2 3 2 1 7 9 4 33 Abril 4 5 3 2 7 1 2 1 1 1 3 30 Maio 3 3 7 3 5 2 3 3 3 3 5 40 Junho 4 1 1 1 3 2 5 3 3 5 4 32 Julho 1 5 1 5 10 3 8 1 2 4 4 44 Agosto 8 4 5 0 3 0 4 5 4 3 2 38 Setembro 4 4 7 4 4 2 6 5 7 1 1 45 Outubro 4 3 3 1 3 4 6 1 2 5 3 35 Novembro 0 3 2 1 4 6 3 3 1 2 7 32 Dezembro 3 0 2 1 2 2 2 2 5 2 2 23 TOTAL ANO 40 34 36 22 46 29 44 27 41 37 43 399 12

Açores Aveiro Beja Braga Bragança Castelo Branco Coimbra Évora Faro Guarda Leiria Lisboa Madeira Portalegre Porto Santarém Setúbal Viana do Castelo Vila Real Viseu FEMICÍDIOS: DISTRITOS Quanto aos distritos, verificamos que 7 dos 43 femicídios ocorreram no distrito de Setúbal, seguido dos distritos de Lisboa e Porto (5 crimes registados em cada distrito). Logo de seguida e com 3 femicídios cada, surgem os distritos de Coimbra, Faro, Santarém, Vila Real e Viseu. Femicídios por Distrito 7 5 5 3 3 3 3 3 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 Em 2014 não foram registados crimes de femicídio nos distritos de Castelo Branco e Viana do Castelo. Fazendo uma análise mais detalhada no que concerne à distribuição geográfica do femicídio por concelhos, verificamos que o concelho do Seixal foi aquele que mais se destacou pela negativa, apresentando um total de 4 mulheres assassinadas, logo seguido pelo concelho de Soure que regista 3 mortes em contexto de intimidade e/ou relações familiares privilegiadas. 13

Albergaria-a- Alcanena Alcochete Aljezur Almada Amadora Braga Bragança Évora Elvas Ferreira do Funchal Gondomar Lages do Pico Leiria Lisboa Loulé Loures Lousada Moita Montalegre Paredes Portimão Póvoa do Queluz S. João da Santarém Seia Seixal Sernancelhe Soure Torres de Vila Real Femicídios: Concelhos 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 1 4 1 3 1 2 FEMICÍDIOS: DISTRITOS AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2014 Partindo da análise dos dados dos femicídios recolhidos pelo OMA entre os anos 2004 a 2014 verificamos que os distritos de Lisboa (88), Porto (54) e Setúbal (41) continuam a assumir taxas de incidência preocupantes perfazendo um total de 183 dos 399 femicídios praticados nesse período. Podemos ainda verificar que no ano de 2014, só não se registaram notícias de femicídios nos distritos de distritos de Castelo Branco e Viana do Castelo. De notar que atendendo-se à fonte de recolha do OMA, a ausência de tais informações não deve ser interpretada como garantia da inexistência de femicídio nos distritos identificados, mas sim que não foram identificadas notícias de femicídios. 14

DISTRITOS 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL DISTRITO Desconhecido 19 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 20 Aveiro 1 3 1 0 2 0 2 1 1 0 1 12 Beja 1 0 1 1 0 1 0 1 2 1 1 9 Braga 2 2 0 0 2 1 2 1 2 1 1 14 Bragança 0 1 1 0 0 1 1 1 0 1 2 8 Ctl. Branco 2 4 0 0 1 3 0 1 0 1 0 12 Coimbra 2 0 0 1 3 1 1 2 0 2 3 15 Évora 0 0 0 0 1 0 0 0 1 1 1 4 Faro 0 0 3 1 1 2 5 1 2 2 3 20 1 Guarda 0 0 0 1 1 0 0 0 0 1 4 Leiria 1 0 4 2 1 1 1 1 2 4 1 18 Lisboa 5 9 6 6 9 6 9 7 13 13 5 88 Portalegre 0 0 3 0 2 0 0 0 0 0 1 6 Porto 3 10 8 3 7 2 6 2 6 2 5 54 Santarém 0 1 3 1 2 1 0 1 1 2 3 15 Setúbal 0 2 3 2 4 3 8 5 3 4 7 41 Vila Real 1 0 1 0 0 3 2 1 2 0 3 13 Viana Castelo 2 1 0 2 0 0 0 0 1 1 0 7 Viseu 1 1 2 1 4 1 2 2 3 0 3 20 Madeira 0 0 0 0 0 1 4 0 1 0 1 7 Açores 0 0 0 1 6 1 1 0 1 1 1 12 TOTAL ANO 40 34 36 22 46 29 44 27 41 37 43 399 15

FEMICÍDIOS: MOTIVAÇÃO OU SUPOSTA JUSTIFICAÇÃO PARA A PRÁTICA DO CRIME Atendendo-se à suposta motivação/justificação verificamos que a maioria dos femicídios praticados e registados pelo OMA ocorreu num contexto de violência doméstica (56%), destacando-se ainda que em 9% das situações foram identificados como motivos subjacentes à prática do crime os ciúmes; também em 9% das situações surge ainda como motivação a separação e a nãoaceitação dessa decisão; motivos relacionados com o divórcio são identificados em 3% das notícias, os motivos passionais surgem em 2% dos femicídios noticiados. A Psicopatologia e as partilhas surgem cada uma com 2% e a compaixão pelo sofrimento da vítima em 3%. Em 6 das situações registadas não foi possível recolher informação sobre a motivação do agente para a prática do crime (14%). Suposta Justificação/Motivação 24 4 1 1 1 4 1 1 6 16

Pese embora as categorias aqui apresentadas respeitem a forma como jornalisticamente foram referidas, a UMAR entende que o femicídio tendo por base o ciúme ou o não aceitar o fim da relação ou o denominado motivo passional incluem-se todos na grande categoria de VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES DE INTIMIDADE (VRI). Assim sendo concluímos que 79% dos femicídios ocorreram no âmbito de relações de intimidade violentas. Da análise dos dados recolhidos não podemos deixar de concluir que os contextos de vitimação prévios são identificados na maioria das situações, surgindo o femicídio enquadrado no contínuo da violência, logo como escalada da mesma. Podemos assim induzir que a permanência em relações violentas aumenta o risco de violência letal. FEMICÍDIOS: ARMA CRIME / MEIO EMPREGUE Femicídios: Arma do crime/meio empregue Afogamento Asfixia Estrangulamento Espancamento Agressão com objecto Fogo Arma Branca Arma de Fogo 1 1 1 2 3 5 14 16 Analisando-se agora a arma do crime ou o meio empregue para a sua prática, verificamos que 37% (n=16) dos femicídios foram praticados com arma branca assim como a arma de fogo foi o meio utilizado para cometer 33% (n=14) dos femicídios registados. De salientar ainda que 5 mulheres foram barbaramente assassinadas por espancamento, a que corresponde uma taxa percentual de 12%. 17

FEMICÍDIOS: HISTÓRIA DE VIOLÊNCIA NA RELAÇÃO SIM 60% Não 19% S/ Informação 21% História de Violência na Relação Cruzando a prevalência do femicídio com a presença de violência doméstica nas relações de conjugalidade ou de intimidade, presente ou passadas, e relações familiares privilegiadas, verificamos que 60% (n=26) das mulheres assassinadas foi vítima de violência nessa relação. Em 8 situações (19%) não era conhecida história de violência doméstica e, em 9 (21%) das situações reportadas não existia informação quanto a este item. FEMICÍDIOS: LOCAL DE OCORRÊNCIA Tal como o Observatório tem vindo a registar desde 2004, a residência continua a ser o local onde a maioria dos femicídios foram praticados, a que corresponde uma taxa de prevalência de 77% (n= 33). 18

Local de trabalho 5% Femicídio: Local da Prática do Crime Local isolado 2% Via pública 16% Residência 77% Ainda salientamos que 7 mulheres foram assassinadas na via pública (16%), ao passo que 2 morreram no seu próprio local de trabalho (5%) e uma foi assassinada num local isolado (2%). FEMICÍDIOS: MEDIDAS DE COACÇÃO APLICADAS Da informação recolhida nas notícias publicadas, foi possível identificar que em 24 dos 43 femicídios consumados (56%), a medida de coacção aplicada foi a de prisão preventiva. Femicídios: Medidas de Coacção aplicadas aos homicidas Desconhecida nsa Prisão preventiva Apresentação Sem medida 1 1 9 8 24 19

Não foi possível identificar qual a medida de coacção aplicada em 9 das situações registadas. Em 8 das situações, não era devida a aplicação de medida de coacção, dado que após a prática do crime, o homicida suicidou-se. FEMICÍDIOS: DENÚNCIAS/PROCESSOS EM CURSO Salientam-se neste item, as situações em que foi possível identificar a existência de denúncias anteriores à ocorrência do crime de femicídio, ou mesmo aquelas em que, havia já sido aplicadas aos homicidas, medidas de coacção prévias pela prática do crime de violência doméstica. Pretende-se, assim, neste capítulo analisar, das situações de violência doméstica identificadas, aquelas em que foi referenciada a existência de participação criminal, às autoridades competentes. Foi assim possível identificar que em 21% das situações existia denúncia anterior por violência doméstica. Nestas, 19% das denúncias foi efectuada pela vítima e em 2% a denúncia havia sido apresentada por parte de terceiros. Em 7% das situações em que a situação de violência doméstica era já do conhecimento oficial, o homicida havia já sido condenado pelo crime de violência doméstica encontrando-se a cumprir pena pela prática de tal crime. Regista-se ainda que em 2% das situações havia corrido processo por crime de violência doméstica tendo o mesmo sido suspenso provisoriamente. Continuamos porém, a identificar ainda um grande número de situações noticiadas em que era inexistente informação relativa à existência prévia ou não de processos por violência doméstica ou da posição da vítima face à história de vitimação, num total de 63% dos femicídios noticiados. 20

Em 7% das situações contabilizadas foi referenciada que, não obstante a história de vitimação conhecida, a vítima nunca quis denunciá-la. Femicídio: Denúncias/Processos em Curso Cumprir pena Sem informação Nunca quis denunciar 2% 7% 2% Denúncia anterior/vítima Denuncia anterior/outrem Condenado por VD pena suspensa 7% 19% 63% 21

II- OMA TENTATIVAS DE FEMICÍDIO 01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2014 TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: RELAÇÃO DA VÍTIMA COM O AGRESSOR Analisando-se a relação entre vítima e agressor verificamos que, no que concerne às 49 tentativas de homicídio contabilizadas entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2014, a maioria (84%, n=41) teve como seus autores aqueles com quem as vítimas mantêm ou mantiveram uma relação de intimidade. Tentativas de Femicidio: Relação Agressor - Vítima Ascendente Directo Descendente 2% Directo 6% Outro familiar 8% Ex-marido, excompanheiro, e x-namorado, exrelação intimidade 39% Marido, compa nheiro, namora do, relação intimidade 45% 16% das vítimas viram as suas vidas atentados pelos seus filhos, pai e/ou por outro familiar com quem mantinham uma relação privilegiada (totalizando 8 das situações reportadas). 22

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: IDADE DAS VÍTIMAS Tal como registado nos femicídios consumados, cerca de metade das mulheres que foi vítima de femicídio na forma tentada situa-se na faixa etária 36-50 anos (43%, n=19), logo de seguida das mulheres com idades compreendidas entre os 51 e os 64 anos de idade (20%, n=9). Tentativas de Femicídio: Idade das Vítimas 49 19 1 2 7 9 6 Menos de 17 anos 18-23 anos 24-35 anos 36-50 anos 51-64 anos Mais de 65 anos TOTAL TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: SITUAÇÃO PROFISSIONAL DAS VÍTIMAS Ao procurarmos analisar, desta feita, a situação profissional das vítimas de tentativa de femicídio, deparamo-nos com uma percentagem muito significativa (88%, n= 43) da ausência de informação nas notícias analisadas relativa a este item. Não obstante, foi possível apurar que 10% (n=5) das vítimas encontravam-se activas no mercado de trabalho e que 1 (2%) estava já reformada. 23

Tentativas de Femícidio: Situação Profissional da Vítima 10% 2% 88% Desconhecida Empregada Reformada TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: IDADE DO AGRESSOR Direccionando agora o olhar para a caracterização dos autores do crime de Tentativa de Femicídio constatamos que, à semelhança das vítimas, a maioria apresenta idades superiores aos 25 anos (86%, n=42), evidenciando-se aqui o grupo etário 36-50 anos como aquele que assume maior representatividade (37%, n=18). Tentativas de Femicidio: Idade do Agressor 49 1 6 18 11 7 5 18-23 anos 24-35 anos 36-50 anos 51-64 anos Mais de 65 anos ni TOTAL TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: SITUAÇÃO PROFISSIONAL DOS AGRESSORES Tal como nas vítimas, o número de situações em que não é noticiada a situação profissional dos autores do crime constituem a maior percentagem, correspondendo a 80% (n=39) num total de 49 situações registadas. 24

6% (n= 3) dos autores deste crime encontrava-se desempregado e 12% (n=6) estava inserido no mercado de trabalho. A categoria estudante regista 2% (n=1). Tentativas de Femicídio: Situação Profissional do Agressor 12% 6% 2% Desconhecida Empregado 80% Desempregado Estudante TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: MÊS DE OCORRÊNCIA Quanto aos meses em que se verifica um maior número de notícias relativas ao crime de femicídio na forma tentada verificamos que foram reportadas 7 tentativas no mês de Junho, 6 no mês de Março e 5 nos meses de Janeiro, Abril e Outubro, cada. Em Dezembro não registamos referência a quaisquer femicídios na forma tentada. Assim sendo e, partindo-se da análise estatística dos dados aferidos através da imprensa escrita, o OMA regista uma média de 4 tentativas de femicídio por mês em Portugal. Tentativas de Femicídio: Mês de Ocorrência 49 5 3 6 5 4 7 3 4 3 5 4 0 25

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: MÊS DE OCORRÊNCIA AO LONGO DOS ANOS 2004 a 2013 Tal como nos anteriores propomo-nos mais uma vez a fazer uma análise comparativa da distribuição dos crimes de femícidio na forma tentada pelos meses ao longo dos diferentes anos. Verificamos que o mês de Junho foi aquele que registou o maior número de femicídios na forma tentada, num total de 7. Dos dados existentes, podemos afirmar que em Portugal, registamos uma média 4 mulheres vítimas de tentativa de femicídio, todos os meses. MÊS 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL MÊS Janeiro 1 3 1 4 2 4 1 2 4 3 5 30 Fevereiro 1 1 0 11 4 1 2 1 2 4 3 30 Março 1 4 0 3 4 5 5 2 4 5 6 39 Abril 1 2 1 3 4 4 4 3 1 3 5 31 Maio 0 4 2 9 8 0 4 10 3 5 4 49 Junho 0 4 1 1 2 3 2 1 5 2 7 28 Julho 3 5 6 6 2 3 5 2 9 3 3 47 Agosto 1 1 7 5 5 4 6 6 8 2 4 49 Setembro 7 11 9 5 3 2 4 5 8 2 3 59 Outubro 5 5 9 6 2 0 1 5 4 3 5 45 Novembro 2 3 6 3 0 1 4 2 1 1 4 27 Dezembro 4 1 4 3 4 1 1 5 4 3 0 30 TOTAL ANO 26 44 46 59 40 28 39 44 53 36 49 464 No total, podemos observar que, desde o início deste Observatório, i. é, entre os anos 2004 e 2014, 464 mulheres foram alvo desta forma extremada de violência 26

que, dos dados recolhidos, não foram fatais. No entanto, a severidade registada nestas agressões permite-nos antecipar as sequelas a nível psíquico e físico que poderão perpetuar-se por toda a sua vida e bem como a de todos/as aqueles/as que com elas vivem ou viveram na altura da perpetração do crime. TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: DISTRITO Relativamente aos distritos de ocorrência das tentativas de femicídio, verificamos que a maior prevalência teve lugar nos distritos de Lisboa (n=8) e Porto (n=7), seguidos femicídio cada. dos distritos de Faro e Viseu, com 5 tentativas de Tentativas de Femicídio por Distritos 49 4 1 4 3 1 2 1 5 1 1 8 7 2 2 2 5 Fazendo agora uma análise mais específica relativa aos concelhos em que se registou o maior número absoluto de mulheres que foram vítimas de tentativa de femicídio verificamos que Amadora, Braga, Felgueiras, Guimarães, Lagoa, Lisboa, Olhão, S. João da Pesqueira, Vila Nova de Gaia e Viseu contabilizaram 2 tentativas cada. 27

TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: DISTRITOS AO LONGO DOA ANOS 2004-2014 DISTRITO 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL DISTRITO Desconhecido 18 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 20 Aveiro 0 5 8 11 4 2 4 1 2 3 4 44 Beja 0 1 0 0 1 0 0 1 0 1 1 5 Braga 0 2 4 5 1 4 4 2 2 1 4 29 Bragança 0 1 2 0 0 0 0 3 1 1 3 11 Castelo Branco 0 1 0 1 1 0 1 1 1 Coimbra 0 2 0 2 3 3 2 0 1 2 2 17 Évora 0 0 0 0 0 0 1 0 2 0 1 4 Faro 0 1 2 2 3 1 2 1 1 2 5 20 Guarda 1 0 1 0 0 1 1 1 2 1 1 9 Leiria 0 0 2 3 6 1 1 5 1 2 1 22 Lisboa 3 4 8 16 7 5 9 9 12 11 8 92 Portalegre 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 2 Porto 1 13 6 7 8 3 5 9 9 5 7 73 Santarém 1 1 1 3 2 1 0 4 3 2 2 20 Setúbal 1 3 0 1 2 2 4 5 12 2 2 34 Vila Real 0 2 3 0 0 0 0 0 1 1 2 9 Viana 0 2 0 0 0 0 0 1 0 0 0 3 Viseu 1 5 5 4 0 4 1 0 1 1 5 27 Madeira 0 1 1 2 0 0 0 1 2 0 0 7 Açores 0 0 1 1 2 0 4 0 0 0 0 8 TOTAL ANO 26 44 46 59 40 28 39 44 53 36 49 464 1 1 8 No decurso do estudo efectuado pelo OMA ao longo dos anos: 2004 a 2014, foinos possível aferir que os distritos com maior incidência de tentativas de femicídio continuam a ser Lisboa e Porto, com um total de 165 crimes praticados e noticiados (92 e 73 respectivamente). O distrito de Aveiro continua também a destacar-se negativamente, assumindo-se como o 3º distrito 28

Alcanena Amadora Amarante Beja Boticas Braga Carrazeda de Ansiães Cascais Chaves Coimbra Covilhã Évora Faro Felgueiras Guimarães Lagoa Lisboa Mira Miranda do Douro Nazaré O. De Azemeis Oeiras Olhão Paços de Ferreira Póvoa do Varzim S. João Pesqueira S. Maria da Feira S. João da Madeira Seia Seixal Setúbal Sever Vouga Sintra T. Vedras Tarouca Tomar Torre de Moncorvo V. N. Gaia Viseu TOTAL com taxa mais elevada ao nível dos crimes de tentativa de femicídio noticiados (n=44). Detalhando a distribuição dos femicídios na forma tentada por concelhos, identificamos que em 2014, foram os concelhos de: Amadora, Braga, Felgueiras, Guimarães, Lagoa, Lisboa, Olhão, S. João da Pesqueira, Vila Nova de Gaia e Viseu, aqueles que registam 2 tentativas cada. Tentativa de Femicídio: Concelhos 49 1 2 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 1 1 1 1 1 2 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: SUPOSTA JUSTIFICAÇÃO/MOTIVAÇÃO No que concerne aos motivos que estiveram subjacentes à prática do crime de femicídio na forma tentada e, tendo por base a análise do gráfico infra, verificamos que, tal como nos femicídios, a maioria das tentativas ocorre em contexto de violência doméstica, estando presente em 54% das situações reportadas (n=23). Salientamos ainda que 12% (n=5) dos crimes tiveram como fundamento o facto do agressor não aceitar a separação da relação por parte da vítima. 29

Tentativas de Femicídio: Suposta Justificação /Motivação Contexto VD Motivos Passionais 2% 5% Não aceita a separação 2% 23% 12% 54% Conflitos no âmbito da Regulação das Resp. Parentais Sem informação 2% Psicopatologia do agressor Conflito Familiar Seguindo a mesma linha interpretativa da motivação para a prática do crime entendemos colocar sob a mesma designação: VRI as seguintes variáveis: contexto de violência doméstica, motivos passionais, não aceita a separação e conflitos no âmbito da regulação das responsabilidades parentais. Assim somos a concluir que 70% das tentativas de femicídio ocorreram em relações em que existiam manifestações de violência na intimidade. TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: ARMA DO CRIME/MEIO EMPREGUE Salienta-se nesse item que as armas brancas e armas de fogo continuam a ser os meios mais empregues/utilizados para a consumação da prática do crime, a que corresponde 78% (n=38) das situações reportadas. 30

ARMA DO CRIME/MEIO EMPREGUE Nº Afogamento 1 Arma de Fogo 16 Arma Branca 22 Fogo 4 Agressão com Objecto 2 Atropelamento 1 Intoxicação por gás 1 Estrangulamento 2 Total 49 TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: HISTÓRIA DE VIOLÊNCIA NA RELAÇÃO Dos dados aferidos foi possível identificar que em 53% dos crimes de tentativa de femicídio noticiados foi reportado história de violência doméstica na relação, sendo omissa esta informação em 39% das situações analisadas. Sim 53% Não 8% S/ Informação 39% História de Violência na Relação 31

Os dados resultantes da análise dos femicidios quer na forma consumada quer na forma tentada permitem-nos corroborar a ideia de que não podemos dissociar a violência doméstica destes crimes, já que a sua maioria surge numa escalada da violência reiterada perpetrada no seio familiar e/ou numa relação de intimidade presente ou passada. TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: LOCAL DO CRIME Relativamente a este item, os dados finais são de que a residência e a via pública surgem, paralelo como o local onde o femicídio na forma tentada foi cometido em 2014. Tentativas de Femicídio: Local do Crime Residência 2% 49% 49% Via pública Local de Trabalho Este é um dado que contrasta com anos anteriores, em que a residência surgia como o local onde a maioria dos crimes eram praticados. Em consequência, trazemos à discussão que o término da relação pode não significar o fim da violência. Efectivamente tem-se vindo a constatar que o momento de separação pode intensificar o comportamento persecutório e 32

violento muitas vezes evidenciado pelo agressor como forma de restabelecimento do poder e controlo sobre a vítima. É por isso crucial que a separação seja planeada, que seja efectuada uma avaliação do risco e que sejam estabelecidos planos de segurança no sentido de prevenir a reincidência das agressões, que culminam não raras vezes em formas de violência letal. Parecenos assim essencial o recurso a Centros de Atendimento ou a outras estruturas de apoio como suporte a uma separação equacionada e pretendida. TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: MEDIDAS DE COAÇÃO APLICADAS Relativamente a este item mencionamos o facto de não ser possível pelo relato jornalístico perceber qual a medida de coacção aplicada, uma vez que a notícia foi omissa quanto á mesma. Porém em 16 das 49 tentativas de femicídio foi possível perceber que em 15 delas a medida de coacção aplicada foi a de prisão preventiva e que numa situação a medida foi de imposição de conduta sob a forma de afastamento e proibição de contacto com a vítima. Tentativas de Femicidio: Medidas de Coacção Aplicadas 1 15 31 M. afastamento ou proibição de contacto Prisão preventiva Desconhecida 33

TENTATIVA DE FEMICÍDIO: DENÚNCIAS/PROCESSOS EM CURSO Pretende-se neste item buscar informação relativa à existência ou inexistência prévia de denúncias ou processos em curso pelo crime de violência doméstica. Notamos porém que, no que se refere ao femicídio na forma tentada respeita, a maioria das notícias não disponibiliza informação que possa ser trabalhada. Registamos, pois que, em 40 das 49 tentativas de femicídio não foi possível recolher esta informação, por inexistente. Nas demais situações (n=9), temos que, 3 dos autores do crime encontravam-se a cumprir pena por crime praticado contra a vítima, numa situação o processo embora existente não se encontrava ainda findo, e encontramos 4 outras situações em que não obstante existirem denúncias anteriores, nestas também tal não foi suficiente para evitar a consumação do femicídio na forma tentada. Tentativa de Femicídio: denúncias/processos em curso 40 49 3 2 2 1 1 A cumprir pena Denúncia anterior Várias Denúncias Processo por VD em curso Sem informação Proc VD em curso e c/ medida de coacção aplicada TOTAL 34

III. OMA - FEMICÍDIOS E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: CARACTERIZAÇÃO DAS/OS FILHAS/OS 01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2014 Análise comparativa dos anos 2012 e 2013 Tendo ocorrido no ano em curso uma crescente e justificada preocupação com o número de crianças que na decorrência dos crimes perpetrados contra as suas mães, haviam ficado órfãos, o Observatório das Mulheres Assassinadas vem aditar informação mais abrangente relativamente a esta categoria, a qual só sumariamente apresentou em anos anteriores. Desta forma analisará os dados relativos aos anos 2012, 2013 e 2014, compreendendo as seguintes varáveis: 1. Número de filhos/as 2. Idades dos/as filhos/as 3. Filhos/as que assistiram ao cometimento do crime 4. E ainda aqueles que foram alvo de agressões físicas directas. OMA - Ano 2014 Idade dos/as filhos/as No ano civil 2014 o OMA contabilizou um total 86 filhos/as das vítimas de femicídio quer sejam na forma consumada, quer sejam na sua forma tentada. Registamos igualmente que dos 86 filhos/as (49 nos femicídios e 37 nas tentativas de femicídio), 67 eram filhos/as comuns do agressor e da vítima e, 19 eram filhos da vítima e fruto de anteriores relações. 35

Destacamos ainda que 24 destes filhos/as assistiram ao cometimento do crime praticado contra as suas mães, sendo que 11 (onze) filhos/as foram também vítimas de agressões físicas directas (um deles mortal) vítimas associadas. Seguidamente apresentaremos a sua distribuição por faixa etária. Ano: 2014 Femicídios e Tentativas de Femicídio: Idade das/os Filhas/os 27 49 37 16 2 5 0 1 3 5 1 4 5 2 2 2 8 2 0 1 Femicídios Tentativas de Femicídio Análise comparativa dos anos 2012 e 2013 Apresentamos de seguida informação respeitante, dentro dos dados passíveis de recolha e relativos aos anos de 2012 e 2013. Assim e no que se refere ao ano 2012 verificamos a existência de 81 filhos/as das vítimas dos crimes cometido contra as mulheres, sendo que 37, são filhos de mulheres assassinadas. Destes 81 filhos/as, 73 eram filhos/as comuns da vítima e do agressor e 8 eram filhos/as somente da vítima, fruto de anterior relação. Salientamos ainda que 27 destes filhos/as presenciaram a prática dos crimes que contra as suas mães foram perpetrados, sendo que destes 3 foram também 36

eles/as agredidos directamente pelo agressor, acabando um deles também por morrer. No gráfico infra apresentamos a sua distribuição por faixa etária, de acordo com os dados publicados nas notícias recolhidas. Ano 2012 Femicidio e Tentativas de Femicidio: Idade das/os Filhas/os Femicídios Tentativas de Femicídio 18 27 44 37 5 3 3 0 2 3 1 1 2 2 1 0 7 6 0 0 Ano 2013 No que concerne aos filhos/as registados no ano de 2013, contabilizamos um total de 65 filhos/as (39 nos femicídios e 26 nas tentativas de femicídio). Dos 65 filhos/as aqui contabilizados/as, verificamos que 48 eram filhos do casal e 17 eram filhos/as das vítimas, fruto de anterior relação. 11 destes/as estavam presentes no momento em que o crime foi praticado sendo que 3 deles viriam a ser também agredidos directamente. Tal como nos anos anteriormente descritos, somos a apresentar gráfico infra contendo informação relativa à sua distribuição por classes etárias. 37

Ano 2013 Femicidios e Tentativas de Femicidio Idade das/os Filhas/os Femicídios Tentativas de Femicídio 39 26 26 2 0 0 1 2 1 0 1 1 3 3 1 8 4 11 1 0 Concluímos assim que desde 2012 o OMA já contabilizou um total de 232 filhos/as, sendo que destes 122 ficaram órfãos (maiores e menores de idade). 38

IV- OMA FEMICÍDIOS E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: CARACTERIZAÇÃO DAS VÍTIMAS ASSOCIADAS 01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2014 Paralelamente ao numero de filhas/os que testemunharam a pratica do crime, o OMA procura ainda aferir se, na decorrência dos crimes praticados e anteriormente analisados, existiram ainda outras vítimas, mortais ou atingidas, como é exemplo agentes de autoridade, outros familiares e/ou amigos da vítima, vizinhos, colegas de trabalho i. é. outras pessoas que estavam presentes na cena do crime e que directa ou indirectamente foram também elas atingidas. No ano 2014 o OMA contabilizou um total de 40 vítimas associadas. Vitimas Associadas Femicidios e Tentativas de Femicidios Femicidios Tentativas de Femicidio 40 25 5 13 12 10 15 Directas Indirectas SubTotal TOTAL De salientar ainda que das 18 vítimas associadas directas (pessoas que foram directamente atingidas na sua integridade física pelo autor do crime) uma (1) delas acabou também por falecer. 39

Em 2014 registamos também um total de 22 vítimas indirectas, i. e, pessoas que assistiram à prática do crime, embora não tenham fisicamente sofrido quaisquer agressões. FEMICÍDIOS E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: RELAÇÃO DAS VÍTIMAS ASSOCIADAS COM O AUTOR DO CRIME Da análise da informação recolhida no que respeita à relação existente entre o autor dos crimes de femicídio e de femicídio na forma tentada e as vítimas associadas, verificamos que 60% e descendente directo em 1 grau do autor do crime a que corresponde um total de 24 filhas/os; 28% das vitimas associadas eram amigos/as, vizinhos, companheiros actuais das mulheres que foram assassinadas ou que sofreram tentativa de femicídio, pessoas que procuraram intervir/ auxiliar a vitima ( outros com 11 pessoas identificadas) e; outros familiares onde incluímos os sobrinhos, sogra, cunhados, perfazendo um total de 5 vitimas identificadas, a que corresponde uma taxa percentual de 12%. Femicidios e Tentativas de Femicidio: Relacao Vitima Associadas c/ Agressor Outros 28% Outros Familiares 12% Descendente Directo 1º Grau 60% 40

FEMICÍDIO E TENTATIVAS DE FEMICÍDIO: VÍTIMAS ASSOCIADAS AO LONGO DOS ANOS 2004 A 2014 Partindo-se da análise dos dados relativos às vítimas associadas contabilizadas nos anos 2004 a 2014, verificamos que o OMA contabilizou um total de 335 vítimas associadas - directas e indirectas de femicídio e/ou tentativa de femicídio. Femicidios e Tentativas de Femicídio: Vítimas Associadas 2004 a 20. Nov.2013 335 221 114 49 15 25 29 10 11 16 13 25 24 21 19 27 5 6 6 3 4 7 7 10 3 Femicídios Tentativas de Femicídio 41

V- OMA ACÓRDÃOS DE HOMICÍDIOS DECISÕES JUDICIAIS EM 2014: DOS FEMICÍDIOS OCORRIDOS E NOTICIADOS NA IMPRENSA DURANTE O ANO DE 2013 (Decisões judiciais dos Tribunais de primeira instância) Dando seguimento à análise de notícias relativas a decisões judiciais pelo crime de homicídio, levantamento iniciado em 2010, o Observatório das Mulheres Assassinadas registou, em 2014, notícias de 11 acórdãos relativos a 21 dos femicídios registados pelo OMA no ano de 2013 e passíveis de decisão judicial. Contabilizamos aqui somente 21 femicídios e não os 36, uma vez que, em 15 dos femicídios ocorridos em 2013 não é devida qualquer decisão judicial, por se tratar de femicídios seguidos de suicídio. ACORDÃOS: FEMICÍDIOS REGISTADOS PELO OMA EM 2013 MÊS/DECURSO DO TEMPO O OMA verifica que relativamente aos femicídios praticados em 2013, identificados pelo Observatório, um (1) deles obteve decisão judicial ainda em 2013. Relativamente aos demais foi apenas possível apurar 10 decisões judiciais durante 2014. O objecto da nossa análise será pois de um total de 11 acórdãos, relativos a femicídios ocorridos no ano de 2013. No que concerne ao tempo de permeio entre a ocorrência do crime e o acórdão a ele respeitante verificamos que o tempo médio foi superior a 11 meses (11,81). 42

Decurso de tempo entre a prática do Crime e a decisão de 1.ª instância Mês do Crime Mês da decisão a ele relativa Do crime à decisão em 1.ª instância Março 2013 Janeiro 2014 10 meses Março 2013 Março 2014 12 meses Março 2013 Novembro 2013 8 meses Março 2013 Janeiro 2014 10 meses Março 2013 Janeiro 2014 10 meses Março 2013 Outubro 2014 19 meses Março 2013 Julho 2014 15 meses Abril 2013 Maio 2014 13 meses Maio 2013 Março 2014 10 meses Setembro 2013 Julho 2014 10 meses Outubro 2013 Novembro 2014 13 meses Tempo médio: 11 meses (11,81) ACÓRDÃOS TRIBUNAIS DE 1.ª INSTÂNCIA: PENA APLICADA E INDEMMNIZAÇÕES FIXADAS Relativamente à pena aplicada e do levantamento efetuado pelo OMA, apresenta-se de seguida tabela na qual se identifica: a tipologia do crime, a condenação e a pena que o Tribunal decretou para cada um dos crimes. 43

Tipologia da Agressão Tribunal Condenado por: Pena aplicada em 1ª instância Indemnização fixada Homicídio praticado em 2013 e cujo acórdão condenatório foi notificado em 2013 Morte por Esfaqueamento Torres Vedras Homicídio 18 anos ni Morte por Estrangulamento e enforcamento Homicídio praticado em 2013 e cujo acórdão condenatório foi notificado em 2014 Tomar Homicídio 18 anos de prisão 125 mil euros Morte por Asfixia Lousã Homicídio Qualificado e Roubo Qualificado Morte à Garfada Lisboa Homicídio qualificado, Aborto e Violência Doméstica Morte à Machadada e Espancamento Morte por Espancamento e asfixia Alenquer Sintra Homicídio qualificado e Violência Doméstica Homicídio Qualificado Morte à Catanada Lourinhã Homicídio Qualificado e Furto 16 anos e 6 meses em cumulo jurídico pelos crimes de homicídio qualificado e roubo qualificado 18 anos de prisão e expulsão do pais por 10 anos 106.811 euros ni 20 anos de prisão ni 17 anos e 6 meses 119 mil euros 20 anos de prisão ni Morte à Paulada Fundão Homicídio 19 anos de prisão 105 mil euros Morte a tiro Ourém Homicídio Qualificado e detenção ilegal de arma Morte a Tiro Alvaiázere Duplo Homicídio Qualificado Morte por Asfixia Braga Homicídio Qualificado e profanação de cadáver Medida de Segurança: Internamento em hospital psiquiátrico de 3 a 25 anos 111 mil euros 24 anos de prisão 85 mil euros 21 anos de prisão ni De notar que o OMA, no respeito pela informação constante da fonte que lhe serve de base, referirá o tipo de crime e condenação que nela consta. Por tal facto poderá não existir coincidência exata entre esta e a qualificação jurídico- 44

penal e condenação constante do acórdão condenatório, designadamente quanto à qualificação. Da análise concluímos que: As penas aplicadas oscilaram entre os 16 anos e seis meses e, os 24 anos de pena de prisão. A pena menos gravosa foi de 16 anos e 6 meses em cúmulo jurídico pelos crimes de homicídio qualificado e roubo qualificado, aplicada pelo Tribunal da Lousã. (Morte da tia-avó por asfixia). Relativamente às penas mais elevadas foram de 24 anos de prisão, aplicada pelo Tribunal de Alvaiázere (duplo homicídio qualificado Morte da ex-mulher e do actual companheiro, a tiro). Por um único crime de homicídio qualificado, ainda que em concurso com o crime de profanação de cadáver, temos o Tribunal de Braga que aplicou em cúmulo 21 anos de prisão. (Morte da ex-namorada por asfixia). Porém, se atentarmos somente à condenação pela prática de um (1) crime de homicídio consumado, concluímos que a condenação mais elevada foi decidida pelo Tribunal de Braga (Morte da companheira, por esfaqueamento), com uma pena de 21 anos de prisão. No que concerne às indemnizações fixadas verificamos ausência de informação quanto a este item. Porém, da informação recolhida e passível de análise quanto à fixação e indemnização e o seu montante, temos que: - a indemnização mais baixa foi decidida pelo Tribunal de Alvaiázere que fixou indemnização no montante de 85 mil euros (morte a tiro duplo homicídio) e que a mais elevada foi do montante de euros: 125 mil euros, fixada pelo Tribunal de Tomar (morte por estrangulamento e enforcamento). 45

ACÓRDÃOS TRIBUNAIS DE 1.ª INSTÂNCIA: DISTRITOS Dos registos do OMA verificamos a seguinte distribuição, por distritos, quanto aos acórdãos dos tribunais de 1.ª instância relativas a femicídios reportados pelo OMA quer no ano de 2013 quer em anos anteriores. HOMICÍDIOS POR DISTRITO 2010-2014 Aveiro 5 Beja 5 Braga 6 Bragança 4 Castelo Branco 2 Coimbra 8 Évora 3 Faro 13 Guarda 2 Leiria 9 Lisboa 47 Portalegre 1 Porto 21 Santarém 7 Setúbal 27 Vila Real 8 Viana 2 Viseu 9 Madeira 6 Açores 4 DECISÕES POR DISTRITO 2014 0 0 1 0 1 1 0 0 0 1 5 0 0 2 0 0 0 0 0 0 TOTAIS 126 11 46

Mencionamos, uma vez mais que, em 15 dos femicídios ocorridos em 2013 não é devida qualquer decisão judicial, uma vez que o autor do crime de suicidou após a prática do femicídio. Estão assim concluídos 26 processos, dos 36 femicídios ocorridos em 2013: 11 por decisão judicial e 15 por não serem devidos dado o homicídio seguido de suicídio. HOMICÍDIOS/FEMICÍDIOS NAS RELAÇÕES HOMOSSEXUAIS: GAYS E LÉSBICAS Também em 2014, o OMA não identificou qualquer notícia respeitante a crime de homicídio consumado ou na forma tentada. SÍNTESE DE RESULTADOS - OMA 2014: SÍNTESE Nº VÍTIMAS Femicídios 43 Tentativas de Femicídio 49 Homicídio Rel. Homossexuais 0 Tentativas Hom. Rel. Homossexuais 0 Vítimas Associadas 40 Filhos/as 86 Decisões Judiciais 11 47

CONCLUSÕES e REFLEXÕES DA UMAR FACE AOS DADOS REGISTADOS E ANALISADOS PELO OMA Em 2014 assistimos a um aumento da prevalência do femicídio e tentativas de femicídio comparativamente com o ano de 2013. Contudo, como vimos referindo, também em anos anteriores, uma análise ao longo dos anos e tendo só como base de análise os dados do Observatório de Mulheres Assassinadas, não podemos concluir que o femicídio está a aumentar em Portugal, uma vez que há uma variação ascendente não contínua. Ou seja, verificamos anos de ocorrência de um maior registo de femicídio, seguidos de anos com diminuição de registos, o que nos permite, tão só, uma análise comparativa relacional. Porém, e não obstante as variações, o que percebemos, também pelo cruzamento com outros dados existentes é que o femicídio nas relações de intimidade em Portugal não segue a tendência nacional que é de, diminuição na ocorrência do homicídio em geral. Fazendo uma leitura transversal dos dados registados pelo Observatório de Mulheres Assassinadas em 2014, podemos procurar definir um padrão quanto aos femícidios tentados e consumados, concluindo o seguinte: 1. Os registos do OMA identificam no período de uma década para um total de 399 femicídios e de 464 tentativas de femicídio. 2. Das 399 mulheres assassinadas na última década, 336 foram-no no âmbito das relações de intimidade presentes ou passadas. 3. Em 2014, o OMA registou 43 femicídios e 49 tentativas de femicídio. 4. As vítimas são mulheres que mantinham uma relação de intimidade, presente ou passada, com o autor do crime. 48

5. Têm idades superiores a 36 anos (padrão que se mantém nos autores dos crimes). 6. A residência é o local privilegiado para a prática do crime. 7. Em 2014, a arma de fogo e a arma branca são os meios mais comummente utilizados para a consumação do crime, sendo que nos femicídios a arma branca surge em 2014 e pela primeira vez, como o meio mais empregue no cometimento do crime. 8. A violência doméstica é identificada como pré-existente na maioria dos crimes de femicídio consumado e tentado registados. 9. No que concerne à motivação subjacente à prática do femicídio, verificamos que, tal como em anos anteriores, a justificação/motivação violência doméstica surge destacada das demais motivações identificadas. 10. Registam-se femicídios tentados e consumados ao longo de todos os meses do ano, numa média de 4 por mês. 11. Os distritos com maior número de registos destes tipos de crime são por ordem decrescente Lisboa, Porto e Setúbal. 12. Em 2014 o OMA contabilizou um total de 86 filhas/os das vítimas de femicídio na forma consumada e tentada, sendo 32 deles/as menores. 13. Do total de filhos/as que assistiram ao cometimento do crime praticado contra as suas mães (n = 24), 11 (onze) filhos/as foram também vítimas de agressões físicas directas (um deles mortal). 14. Foram ainda contabilizadas 40 vítimas associadas, 18 directas e 22 vítimas indirectas (assistiram à prática do crime). 15. Os dados analisados pelo Observatório de Mulheres Assassinadas ao longo da última década levam-nos a concluir que o femicídio deve também ser contextualizado nas questões e discussões em torno violência doméstica e das políticas públicas em matéria de violência doméstica e de género e igualdade de género e especificamente: policiais 49

e judiciais, instrumentos de avaliação e gestão do risco e avaliação da sua eficácia, protocolos de intervenção, aplicação de medidas de coacção ao agressor e de protecção à vítima, recursos e meios e articulação especializada, adequada, célere e eficaz entre os diversos operadores, investimento na autonomização sustentada e continuada às vítimas de violência doméstica, avaliação da intervenção efectuada e recomendações de melhoria, prevenção primária. 16. Tendo em conta os dados do OMA e a relação entre os autores do crime e as vítimas, ressalta a preocupação em torno das demais vítimas, designadamente as/os filhas/os e, entre estas/es, as/os especialmente vulneráveis pela determinante idade. A perda da figura materna, ainda mais quando causada por outra figura de referência, tem um impacto muito significativo, podendo comprometer o desenvolvimento da criança/jovem. Neste sentido, mais do que genericamente saber como o sistema de protecção e promoção dos direitos das crianças e jovens está estruturado em termos de respostas, é verificar da eficácia da sua acção e da existência de respostas efectivas e duradouras, que possibilitem o desenvolvimento de recursos internos para lidar com a(s) perda(s) acontecida(s) e promovam factores de protecção com vista à sua resiliência. 50

LISTAGEM Entre 1 de Janeiro a 31 de Dezembro 2014, ocorreram 43 femicídios, sendo que destes 35 foram em relações de intimidade presentes ou passadas e 8 foram em contexto de relações familiares privilegiadas. Femicídios ocorridos em Relações de Intimidade presentes e passadas: Mês Nome da Vítima Idade Janeiro Manuela Santos 48 Janeiro Ana Raquel Duarte 28 Relação c/ homicida Data de Ocorrência 12/01/2014 Local da prática do Crime Área geográfica Arma do crime/mei o empregue Local de trabalho Alfragide Arma fogo 12/01/2014 Residência Alcochete Março Conceição Rebelo 61 Abril Maria de Fátima 37 Maio Ilda Moreira 40 Maio Ni 69 Maio Gracinda Monteiro 61 Maio Carina de Deus 27 Maio Luane Camaro 28 Junho Mª Luísa Gomes 53 Junho Alice Brito 55 Junho Mª Manuela Nobre 65 Marido Excompanheiro Excompanheiro Janeiro Isilda Coelho Lopes 82 Marido 13/01/2014 Residência Alcanena Excompanheiro Margarida Costa Fevereiro Martins 37 01/02/2014 Via Pública Albergaria-a-Velha Companheiro Fevereiro Miahaela Rusu 25 12/02/2014 Residência Cruz de Pau Ex-marido Fevereiro Cidália Gonçalves 53 22/02/2014 Via Pública Ferreira Alentejo Excompanheiro Março Carla Santos 40 03/03/2014 Residência Monte Abraão Ex-namorado Março Helena Conceição 19 05/03/2014 Residência Elvas Excompanheiro Excompanheiro Companheiro Marido Namorado Marido Companheiro Ex-marido Marido 18/03/2014 Residência Ferreirim/Sernancelhe - Viseu 13/04/2014 Residência Bragança 06/05/2014 Residência Moita 15/05/2014 Via Pública Lages do Pico/ Açores 18/05/2014 Residência Gondomar 25/05/2014 Residência Évora 28/05/2014 Local de trabalho Lisboa 01/06/2014 Residência Vale de Santarém 03/06/2014 Residência Torre de Moncorvo 13/06/2014 Residência Santarém Arma fogo Arma fogo Arma fogo Arma fogo Arma fogo Arma branca Arma branca Asfixia Arma branca Arma branca Estrangula mento Espancam ento Espancam ento Esfaquea mento Asfixia Arma fogo Estrangula mento 51