AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE ABRASIVO DE REVESTIMENTOS SOLDADOS DO TIPO Fe-C-Cr UTILIZADOS NA INDÚSTRIA SUCRO ALCOOLEIRA (1)

Documentos relacionados
ANÁLISE DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE EM REVESTIMENTO DURO APLICADO POR SOLDAGEM ATRAVÉS DE ESFERA FIXA ROTATIVA

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE ABRASIVO A BAIXA- TENSÃO DE REVESTIMENTOS SOLDADOS POR ARCO SUBMERSO

A Tabela 2 apresenta a composição química do depósito do eletrodo puro fornecida pelo fabricante CONARCO. ELETRODO P S C Si Ni Cr Mo Mn

INFLUÊNCIA DA SOLDA NA VIDA EM FADIGA DO AÇO SAE 1020

longitudinal para refrigeração, limpeza e remoção de fragmentos de solos provenientes da perfuração, Figura 10.

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE ABRASIVO DE REVESTIMENTOS SOLDADOS DO TIPO Fe-C-Cr UTILIZADOS NA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA

NOÇÕES DE SOLDAGEM. aula 2 soldabilidade. Curso Debret / 2007 Annelise Zeemann. procedimento de soldagem LIGAS NÃO FERROSAS AÇOS.

Título do projeto: SOLDABILIDADE DE UM AÇO ACLIMÁVEL DE ALTO SILÍCIO PARA CONSTRUÇÃO METÁLICA COM RESISTENCIA EXTRA A CORROSÃO MARINHA

FAACZ - FACULDADES INTEGRADAS DE ARACRUZ CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA GUSTAVO ROCHA GOMES LÁZARO AMORIM VIMERCATI LUIZ HENRIQUE MARTINS SOARES

Soldagem arco submerso III

MANTA DE CARBETO DE TUNGSTÊNIO

SOLDAGEM DO AÇO API 5LX - GRAU 70 COM ARAME TUBULAR AWS E-81T1-Ni1 E ELETRODO REVESTIDO AWS E-8010-G.

CAPÍTULO V CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E DE MICRODUREZA

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA MECANICA Cusco, 23 a 25 de Outubro de 2007

INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS DE SOLDAGEM COMO TENSÃO E CORRENTE NA TAXA DE DEPOSIÇÃO PARA DIFERENTES ESPESSURAS DE CHAPA

A PLACADUR É ESPECIALISTA EM PRODUTOS RESISTENTES AO DESGASTE.

3. PROCESSO DE SOLDAGEM COM ELETRODO REVESTIDO

3 MATERIAIS E MÉTODOS

XVI Congresso Nacional de Estudantes de Engenharia Mecânica - 17 a 21/08/ Florianópolis SC Paper CREEM2009-CM07

SOLDA POR FRICÇÃO EM AÇO CARBONO

INFLUÊNCIA DO CROMO E NIÓBIO NO DESEMPENHO QUANTO AO DESGASTE ABRASIVO EM REVESTIMENTOS DUROS*

Processo de Soldagem Eletroescória HISTÓRICO

PRECIPITAÇÃO DA AUSTENITA SECUNDÁRIA DURANTE A SOLDAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX S. A. Pires, M. Flavio, C. R. Xavier, C. J.

RESISTÊNCIA AO DESGASTE POR ABRASÃO EM METAL DE SOLDA DO TIPO Fe-C-Cr OBTIDOS POR ARCO SUBMERSO

INFLUÊNCIA DA ENERGIA DE SOLDAGEM NO DESGASTE ABRASIVO DE REVESTIMENTOS DUROS APLICADOS PELO PROCESSO FCAW

Trabalho de solidificação. Soldagem. João Carlos Pedro Henrique Gomes Carritá Tainá Itacy Zanin de Souza

SOLDAGEM LASER ND:YAG PULSADO DO AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX UNS S Resumo

5 Discussão dos Resultados

Soldagem por Alta Frequência. Maire Portella Garcia -

O tipo de Metal de Base (MB) escolhido é um aço ASTM A 36, de espessura 3/8 e

Brasil 2017 SOLUÇÕES INTEGRADAS EM ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS

5.3. ANÁLISE QUÍMICA 5.4. ENSAIO DE DUREZA

Aplicação de revestimento duro utilizando o processo FCAW duplo arame para diferentes tipos de consumíveis utilizados na indústria sucroalcooleira

APLICAÇÃO DE DOIS TIPOS DE CONSUMÍVEIS DE REVESTIMENTO DURO COM O PROCESSO FCAW DUPLO ARAME

Aço Inoxidável Ferrítico com 11% de Cromo para Construção Soldada. Columbus Stainless. Nome X2CrNil2. Elementos C Mn Si Cr Ni N P S

3- Materiais e Métodos

SOLDAGEM TIG. Prof. Dr. Hugo Z. Sandim. Marcus Vinicius da Silva Salgado Natália Maia Sesma William Santos Magalhães

Caracterização microestrutural do aço ASTM-A soldado por GMAW.

MICROESTRUTURA E TENACIDADE DO AÇO API 5LX GRAU 70 SOLDADO COM ARAME TUBULAR AWS E-81T1-Ni1 E ELETRODO REVESTIDO AWS E-8010-G

Caracterização de soldas dissimilares depositadas pelo processo MIG com uma superliga de níquel

ANÁLISE MICROESTRUTURAL DE UM FERRO FUNDIDO CINZENTO SOLDADO COM VARETA FUNDIDA

Análise das regiões de uma junta soldada com e sem adição de calor através do Pré e Pós aquecimento.

RESISTÊNCIA AO DESGASTE DE AÇOS MICROLIGADOS COM NIÓBIO

XLI CONSOLDA CONGRESSO NACIONAL DE SOLDAGEM SALVADOR - BA 12 a 15 de Outubro de 2015

Serviço de recuperação de rolos de mesa do lingotamento contínuo.

3 Material e Procedimento Experimental

PROCESSOS DE FABRICAÇÃO III SOLDAGEM METALURGIA DA SOLDAGEM

CAPÍTULO VII AVALIAÇÃO DE DESGASTE EM LABORATÓRIO

5 Resultados 5.1.Características operacionais dos eletrodos

AVALIAÇÃO DA MICROESTRUTURA DOS AÇOS SAE J , SAE J E DIN100CrV2 APÓS TRATAMENTOS TÉRMICOS*

SOLDAGEM. Engenharia Mecânica Prof. Luis Fernando Maffeis Martins

INFLUÊNCIA DO PROCESSO DE ELETROEROSÃO A FIO NAS PROPRIEDADES DO AÇO AISI D6.

20º Congresso de Iniciação Científica AVALIAÇÃO DA TRIBO-CORROSÃO DE MATERIAIS PROTEGIDOS COM REVESTIMENTO MICRO E NANO ESTRUTURADOS

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA MECANICA Cusco, 23 a 25 de Outubro de 2007

Revestimento de Aço Carbono com Aço Inoxidável Austenítico

PROCESSAMENTO DE LIGAS À BASE FERRO POR MOAGEM DE ALTA ENERGIA

RELAÇÃO ENTRE MICROESTRUTURA / TENACIDADE AO IMPACTO DO METAL DE SOLDA DO AÇO API X-70 SOLDADO POR ELETRODO REVESTIDO AWS E8010-G

22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil

3 Material e Procedimento Experimental

Metalurgia da Soldagem Particularidades Inerentes aos Aços Carbono

ESTUDO DA CORRELAÇÃO ENTRE A ENERGIA DE IMPACTO ABSORVIDA E A ESPESSURA DOS CORPOS DE PROVA DE CHARPY-V*

Estudo de três distintas rotas de têmpera a vácuo e revenimento para o aço AISI H13

ESTUDO DO DESGASTE ABRASIVO DE AÇO CARBONITRETADO EM DIFERENTES RELAÇÕES AMÔNIA/PROPANO

Características. Fundamentos. Histórico SOLDAGEM COM ARAME TUBULAR

João Carmo Vendramim 1 Jan Vatavuk 2 Thomas H Heiliger 3 R Jorge Krzesimovski 4 Anderson Vilele 5

Influência da Técnica de Soldagem e do Tipo de Metal de Adição na Resistência ao Desgaste de Revestimento Duro

EFEITOS DO TRATAMENTO CRIOGÊNICO DE 24 E 36 HORAS EM AÇOS D2 E D6

FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI NADIR DIAS DE FIGUEIREDO. Pós- Graduação Especialização em Soldagem. Disciplina- Engenharia de Soldagem. Prof.

TENACIDADE AO IMPACTO DO METAL DE SOLDA DO AÇO API X70 SOLDADO COM ARAME TUBULAR AWS E-81T1-Ni1

PROGRAMA DE MANUTENÇÃO INDUSTRIAL POR SOLDAGEM

Aços Alta Liga Resistentes a Corrosão IV

APLICAÇÃO DE REVESTIMENTO DURO COM OS PROCESSOS FCAW E FCAW DUPLO ARAME

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA MECANICA Cusco, 23 a 25 de Outubro de 2007

Microestrutura de Revestimentos Duros Resistentes ao Desgaste Abrasivo empregados na Indústria Sucroalcooleira

III metal-base, onde o metal não é afetado pelo processo de soldagem e permanece na mesma condição anterior ao processo.

ANÁLISE COMPARATIVA DE MATERIAIS RESISTENTES À ABRASÃO PARA CANALIZAÇÕES AGRÍCOLAS 1

AVALIAÇÃO MICROESTRUTURAL DA REGIÃO SOLDADA PELO PROCESSO GMAW DE UM AÇO PATINÁVEL UTILIZANDO DOIS DIFERENTES TIPOS DE ARAMES

C R E E M SOLDAGEM DOS MATERIAIS. UNESP Campus de Ilha Solteira. Prof. Dr. Vicente A. Ventrella

Trincas a Frio. Fissuração pelo Hidrogênio. Mecanismo de Formação. Trincas a Frio. Mecanismo de Formação Trincas a Frio

ESTUDO COMPARATIVO DAS PROPRIEDADES DE REVESTIMENTOS A BASE DE COBALTO (STELLITE) APLICADOS POR SOLDAGEM E POR ASPERSÃO TÉRMICA

Processo Eletrodos Revestidos 2 Tipos de eletrodos A especificação AWS A5.1

Análise do Processo de Deposição FCAW de uma Liga de Carboneto de Cromo Aplicando o Planejamento Experimental Central Composite Circumscribed

3 Materiais e Métodos

AVALIAÇÃO DE DESGASTE ABRASIVO DE BAIXA TENSÃO POR RODA DE BORRACHA EM REVESTIMENTOS DUROS SOLDADOS COM ARAMES TUBULARES

NITRETAÇÃO ASSISTIDA POR PLASMA DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO AISI 316L SOB INFLUÊNCIA DO ARGÔNIO

PROGRAMA DE MANUTENÇÃO INDUSTRIAL POR SOLDAGEM

CONSUMÍVEIS DE SOLDAGEM PARA AÇOS CARBONO

4 Resultados e Discussão

XXXIX CONSOLDA Congresso Nacional de Soldagem 25 a 28 de Novembro de 2013 CURITIBA, PR, Brasil

Soldabilidade de Aços Resistentes à Abrasão da Classe de 450 HB de Dureza

AVALIAÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE À FORMAÇÃO DE TRINCAS A FRIO EM JUNTAS SOLDADAS DE AÇOS ARBL RESUMO INTRODUÇÃO

AVALIAÇÃO DA SOLDABILIDADE DO AÇO SINCRON-WHS-800T QUANDO SOLDADO PELO PROCESSO FCAW

INTRODUÇÃO EQUIPAMENTOS

RESISTÊNCIA AO DESGASTE DE REVESTIMENTO DURO APLICADO POR ARAME TUBULAR

RECUPERAÇÃO DE TURBINAS HIDRÁULICAS CAVITADAS POR DEPOSIÇÃO DE REVESTIMENTOS A BASE DE COBALTO ASPECTOS MICROESTRUTURAIS (1)

Processo de Soldagem Eletrodo Revestido

Rev.15. Soluções de Engenharia. Contra o Desgaste. Placas Antidesgaste. Tubos Revestidos. MIG Carbide. Tecnologia Laser

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA THAIS ANDREZZA DOS PASSOS

CARACTERIZAÇÃO DE BROCAS COMERCIAIS DE AÇO RÁPIDO - HSS

Elaboração de Especificação de Procedimento de Soldagem EPS N 13.

Transcrição:

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE ABRASIVO DE REVESTIMENTOS SOLDADOS DO TIPO Fe-C-Cr UTILIZADOS NA INDÚSTRIA SUCRO ALCOOLEIRA (1) Rubens Ribeiro (2) Vicente Afonso Ventrella (3) Juno Gallego (3) RESUMO O principal objetivo do trabalho foi estudar a influência do aporte térmico, na resistência ao desgaste abrasivo a baixa tensão, em soldas de revestimento duro do tipo Fe-C-Cr, realizadas pelo processo eletrodo revestido (SAER) manual em componentes utilizados na indústria sucroalcooleira. Para a obtenção dos corpos de prova utilizou-se como metal base o aço ASTM A-36 e como consumível de soldagem um eletrodo revestido do tipo Fe-5C-43Cr. Os corpos de prova foram obtidos com diferentes aportes térmicos, na condição de uma camada. Posteriormente foram realizados ensaios de dureza, ensaios de desgaste a baixa tensão (norma ASTM G-65-91) e cálculo das taxas de diluição. Dos resultados obtidos ficou evidenciada a influência do aporte térmico na resistência a abrasão a baixa tensão, assim como uma certa correlação entre dureza e resistência ao desgaste. A diluição mostrou-se influente na formação da microestrutura do revestimento, sendo que as amostras com maior fração volumétrica de carbonetos primários, do tipo M 7 C 3, apresentaram a menor perda de volume, portanto maior resistência ao desgaste abrasivo a baixa tensão. Palavras-chave: soldagem, revestimento duro, desgaste abrasivo e ASTM G-65-91. (1) (2) (3) Trabalho apresentado no 60º Congresso Anual da Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais 25 a 28 de julho de 2005 Belo Horizonte-MG Professor da Escola Técnica Estadual Paula Souza Ilha Solteira - SP Professor Doutor do Departamento de Engenharia Mecânica da UNESP Campus de Ilha Solteira ventrella@dem.feis.unesp.br 2754

1 INTRODUÇÃO Nas indústrias sucroalcooleiras o processo de soldagem por eletrodo revestido é um dos mais utilizados na recuperação de martelos desfibradores, devido a sua facilidade e baixo custo de operação. Os parâmetros mais importantes deste processo são: corrente de soldagem, tensão do arco e velocidade de soldagem. A soldagem de revestimento ou de recobrimento consiste na deposição de um consumível de soldagem com características em geral mais nobres ao metal de base, visando aplicações específicas com maiores durezas, resistência ao desgaste e/ou à corrosão, as quais o metal base não teria uma performance tão boa quanto ao material do recobrimento, porém, revestimentos com maiores níveis de dureza implicam em menores níveis de ductilidade, podendo ocorrer trincas [ 1 ]. A taxa de deposição e diluição são os fatores que mais afetam as propriedades do revestimento. Estes fatores são dependentes das variáveis do processo que controlam o potencial de soldagem, isto é, tensão, corrente elétrica, velocidade de soldagem, etc. Para alta produtividade, é importante que se tenha uma alta taxa de depósito com baixa diluição e penetração uniforme[ 2 ]. A deposição do consumível pode ser executada em passes simples ou múltiplos, aplicando-se a tarugos, barras, tubulações, chapas e perfis, dentre outras formas de metal base. Neste sentido, alguns parâmetros devem ser especialmente controlados, além daqueles normalmente monitorados como tensão, corrente elétrica, velocidade de soldagem, etc... O problema crítico é conciliar as altas tensões do material para amplas faixas de temperaturas que resistam às acomodações de contração. O desgaste por abrasão: é o fenômeno que ocorre quando partículas duras deslizam ou são forçadas contra uma superfície metálica em relação à qual estão em movimento, provocando por deslocamento ou amassamento a remoção do material. De todos os diferentes tipos de desgaste, o desgaste abrasivo é o que ocorre em mais de 50% dos casos, sendo considerado como o mais severo e o mais comumente encontrado na indústria [ 3 ]. Em relação ao tipo de abrasão, há vários mecanismos de desgaste por abrasão descritos na literatura, entre eles, abrasão por goivagem, abrasão a alta tensão (moagem) e abrasão a baixa tensão (riscamento), sendo este último, objeto do nosso estudo[ 4 ]. O equipamento para ensaio de desgaste abrasivo a baixa tensão é recomendado pela norma ASTM G 65-91 [ 5 ]. O princípio de funcionamento deste equipamento, consiste em esmerilhar um corpo de prova padronizado com areia de tamanho de grão e composição controladas. O abrasivo é introduzido entre o corpo de prova e um anel de borracha de dureza especificada, provocando riscamento. Neste ensaio o corpo de prova é pressionado contra a roda de borracha que está girando, por meio de um braço de alavanca com peso especificado, enquanto que o fluxo de areia esmerilhando a superfície do corpo de prova é controlado a uma vazão de 300 a 400 g/min. Os corpos de provas são pesados antes e após o ensaio e a perda de massa é determinada. Para possibilitar a comparação entre vários metais, torna-se necessário converter a perda de massa para perda de volume em milímetros cúbicos, devido à grande diferença nas densidades dos materiais. 2755

2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Metal base e metal de adição O metal base utilizado para a soldagem dos revestimentos foi o aço estrutural ASTM A-36, com as seguintes dimensões: 120 mm de comprimento, 25 mm de largura e 12,7 mm de espessura. A tabela 1 apresenta a composição química nominal fornecida pelo fabricante. Como consumível de soldagem foi utilizado eletrodo revestido, com 4,0 mm de diâmetro, do tipo Fe-Cr-C. Esse consumível se enquadra na classificação das ligas de revestimento, de acordo com a composição química, como do grupo 2, mais precisamente na classe dos ferros fundidos austeníticos. A composição química fornecida pelo fabricante é apresentada na tabela 2. Tabela 1 Composição química do metal base. Composição Química (% em peso) C Mn P S Si Cu 0,25 0,80 1,20 0,040 0,050 0,40 0,20 Tabela 2 Composição química e dureza do metal de adição. Composição Química (% em peso) C Si Mn Cr Fe Depósito de solda (Dureza HRc) 5,300 1,250 0,850 42,000 Restante 62,00 2.2 Areia seca Como material abrasivo, foi utilizado areia de sílica AFS (American Foundry Society) 50/70, denominada comercialmente por Areia Quartzosa Industrial, fornecida pela Empresa Apalan Stones Comércio de Areia e Pedregulhos, da cidade de Panorama-SP. Esta areia foi submetida a um peneiramento de modo a adequar a sua granulometria às dimensões especificadas pela norma ASTM G 65-91, que estabelece uma porcentagem de 5% max. de retenção na peneira 50 e 95% min. na peneira 70. 2.3 Procedimento de Soldagem Os parâmetros de soldagem utilizados nesse trabalho estão mostrados na tabela 3. Os corpos de prova foram obtidos através da soldagem manual de uma camada com cordões longitudinais ao seu comprimento, mantendo uma temperatura entrepasse de 150 C. 2756

Tabela 3 Parâmetros de soldagem CDP Corrente de soldagem (A) Aporte térmico (kj/mm) ER10 100 0,58 ER12 120 0,70 ER14 140 0,81 ER16 160 0,93 ER18 180 1,04 2.4 Ensaio de Desgaste com Roda de Borracha Para os ensaios de desgaste à baixa tensão, foi utilizado o equipamento de roda de borracha do Labsol Laboratório de Soldagem, do Departamento de Engenharia Mecânica, construído segundo a norma ASTM G 65-91 e mostrado na figura 1. Os corpos de prova foram preparados e ensaiados segundo os procedimentos da norma ASTM G 65-91, no equipamento denominado Roda de Borracha mostrado na figura 2.1. A força exercida pelo corpo de prova sobre a roda de borracha, de acordo com a norma foi de 130 N. A rotação da roda de borracha foi fixada em 200 rpm, para um ensaio de 6000 ciclos, portanto 30 minutos para cada ensaio. O fluxo de areia durante os ensaios foi mantido em 350 gramas/minuto, vazão estabelecida pela norma ASTM G 65-91. Figura 1: Equipamento de Roda de Borracha e areia seca (ASTM G65-91). Após a soldagem de revestimento dos corpos de prova, os mesmos foram retificados em todas as faces. Posteriormente foram realizados ensaios de dureza Vickers segundo a norma ASTM E 92-82 [ 6 ]. As análises metalográficas foram realizadas através de microscopia ótica em amostras cortadas transversalmente ao sentido de soldagem. As mesmas foram lixadas e polidas com alumina 1,0 e 0,3 µm, sendo as microestruturas reveladas através de solução de nital 2%. 2757

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos no presente trabalho para resistência ao desgaste por abrasão à baixa tensão (perda de volume em mm 3 ), para depósitos com uma camada e, soldados com correntes de 100 A, 120 A, 140 A, 160 A e 180 A, com os respectivos aportes térmicos são apresentados na tabela 4. Tabela 4 - Perda de volume (mm 3 ) em função da corrente de soldagem (A). CORRENTE (A) 100 A 120 A 140 A 160 A 180 A APORTE TÉRMICO (kj/mm) 0,58 0,70 0,81 0,93 1,04 PERDA DE MASSA (g) 0,0369 0,0831 0,1511 0,6569 0,8707 PERDA DE VOLUME (mm 3 ) 4,73 10,65 19,73 84,22 111,63 A figura 2 mostra a relação entre perda de volume e o aporte térmico para os depósitos com uma camada, onde pode-se observar que o aumento da corrente de soldagem resulta num aumento da perda de volume, sendo esta relação devido ao aumento da diluição, ou seja, a medida em que se aumenta a corrente aumenta-se a taxa de diluição, e portanto alta taxa de diluição, propicia a formação de microestruturas com baixa fração volumétrica de carbonetos de cromo primário. Perda de Volume ( mm 3 ) 140 120 100 80 60 40 20 1 camada 0 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 Aporte Térmico (kj/mm) Figura 2 - Perda de Volume (mm 3 ) em função do aporte térmico. Através da medidas de dureza verificou-se que não ocorreram grandes variações de dureza para uma mesma amostra, tanto na face de revestimento quanto na seção transversal da amostra. Todavia, analisando o conjunto de amostras, observou-se que houve uma discreta diminuição da dureza à medida em que se aumentava a corrente de soldagem., ou seja, houve uma diferença de 142,17 2758

HV entre a maior e a menor dureza. A figura 3 mostra a relação entre a dureza do revestimento e o aporte térmico. Dureza Vickers (HV) 880 860 840 820 800 780 760 740 720 700 680 660 1 camada 1 2 3 4 5 Aporte Térmico (kj/mm) Figura 3 - Relação entre o aporte térmico e a dureza do revestimento Os resultados de dureza encontrados neste trabalho estão de acordo com os encontrados por Kotecki e Ogborn [ 2 ], que concluíram que a dureza não é o melhor indicador da resistência ao desgaste, e sim a microestrutura. Um aumento de dureza nem sempre significa um aumento da resistência ao desgaste abrasivo, pois apartir de um certo valor de dureza a taxa de desgaste não aumenta necessariamente com o valor da dureza Vickers. Portanto, é difícil avaliar a resistência ao desgaste somente pela dureza, deve-se analisar também a microestrutura do material do revestimento. Deve evitar relacionar diretamente dureza com a resistência a abrasão, já que os ensaios de dureza convencionais são quase-estáticos, e diferentes das condições onde a superfície metálica é atingida por partículas abrasivas em velocidades relativamente elevadas. Normalmente, devido ao problema da diluição, os trabalhos realizados para estudo de resistência ao desgaste em revestimentos soldados por processo a arco elétrico utilizam mais de uma camada. As composições químicas dos metais de solda para revestimentos anti desgaste começam a se estabilizar a partir da terceira camada. No presente trabalho, fez-se um estudo em amostras revestidas com uma camada, variando principalmente o parâmetro corrente de soldagem no sentido de estabelecer qual a melhor condição em termos de resistência abrasiva em função do aporte térmico. Através da figura 4 pode-se observar que existe uma relação entre o aporte térmico e a diluição, ou seja, à medida em que se aumenta a corrente de soldagem, aumenta-se também a taxa de diluição. De forma geral uma maior diluição tem influência negativa na resistência ao desgaste por abrasão. Pode-se verificar através da figura 4 que para as amostras com uma camada, há uma tendência bem acentuada de aumento de perda de volume com o aumento da diluição onde verifica-se uma maior perda de volume nos pontos que registraram maior diluição. Este resultado, é explicado pela relação que existe entre a diluição e a composição 2759

química do metal depositado e consequentemente com a microestrutura final do revestimento. Diluição (%) 60 55 50 45 40 1 camada 35 30 25 20 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 Aporte Térmico (kj/mm) Figura 4 - Relação entre aporte térmico e diluição A diluição também tem influência sobre a fração volumétrica de carbonetos formado no revestimento. Resultados obtidos por Edwards et all [ 1 ], mostraram que a diluição do metal de base reduz o teor de C e Cr nos revestimentos de ligas de ferro austenítico de alto cromo, diminuindo a fração volumétrica dos carbonetos. No caso de uma diluição baixa, Edwards et all [ 1 ] encontraram uma grande fração volumétrica de carbonetos do tipo M 7 C 3, em ligas a base de carboneto de titânio, carbonetos estes não encontrados para altos valores de diluição. A geometria dos cordões para os corpos de prova de uma camada comportou-se de forma regular, variando em faixas muito próximas. Todas as dimensões do cordão variaram de acordo com a variação dos parâmetros de soldagem, efeito já esperado. A maior variação da geometria verificada, é a largura do cordão, que está relacionada diretamente com a variação da corrente de soldagem utilizada. A figura 5 mostra uma macrografia das camadas depositadas (corte transversal). Segundo Kotecki [ 2 ] no caso de materiais muito duros, tais como carbonetos de cromo, não devem ser aplicados mais que duas camadas para prevenir excessivo trincamento. Devido a isto, os carbonetos de cromo estão projetados para trincar como uma forma de alivio de tensões, e recomenda-se que a primeira camada seja aplicada com uma velocidade de soldagem alta para conseguir uma grande quantidade de trincas pequenas ao invés de poucas mas de tamanho maior. No presente trabalho as trincas superficiais que apareceram nas amostras ensaiadas são típicas de resfriamento que surgem para reduzir as tensões residuais devido a contração durante o resfriamento, sendo que essas são afetadas pela composição química do revestimento, nesse caso, revestimentos da classe Fe-C-Cr. As trincas surgidas no revestimento não mostraram influência sobre a perda de volume das amostras ensaiadas já que os melhores resultados de resistência ao desgaste de abrasão a baixa tensão foram verificados nas amostras que apresentaram trincas superficiais. A figura 6 mostra o corpo de prova soldado com 100 A, onde pode-se observar tricas superficiais. 2760

Figura 5: Macrografia das camadas depositadas. ER10. Ataque nital 2%. Figura 6 Trincas superficiais. ER12. Ataque nital 2%. Através das análises micrográficas foi possível observar que as amostras soldadas com 100 e 120 amperes, isto é, com elevados taxas de resfriamento, apresentaram uma microestrutura com alta fração volumétrica de carbonetos primários grosseiro, enquanto que as amostras soldadas com correntes de soldagem elevadas, isto é, baixa taxa de resfriamento, apresentaram uma microestrutura com baixa fração volumétrica de carbonetos primários finos. As figuras 7 e 8 mostram microestruturas representativas das amostras ER10 e ER18. Figura 7 - Microestrutura do metal depositado da amostra ER10. Aumento 250 X. Ataque nital 2%. Figura 8 - Microestrutura do metal depositado da amostra ER18. Aumento 250 X. Ataque nital 2%. Através dos resultados apresentados pode-se dizer que as amostras soldadas com baixo aporte térmico apresentaram uma microestrutura grosseira de carbonetos primários, elevada dureza e baixa perda de volume, enquanto que as amostras soldadas com elevado aporte térmico apresentaram uma microstrutura fina de carbonetos primários, baixa dureza e elevada perda de volume. 2761

4 CONCLUSÃO O aporte térmico tem uma significativa influência na resistência à abrasão a baixa tensão na liga estudada. Os melhores resultados experimentais de resistência ao desgaste à abrasão a baixa tensão para revestimentos com uma camada foram obtidos na condição de alta taxa de resfriamento. A dureza do revestimento não apresenta uma relação direta com a resistência à abrasão a baixa tensão, não sendo o melhor indicador de perda de volume. A diluição do metal de base provocou diferenças significativas nas microestruturas dos revestimentos obtidos. Das microestruturas obtidas, a de maior resistência à abrasão foi aquela composta de carbonetos primários grosseiros. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] EDWARDS, G. R. & FROST, R.H. & LIRA, J. C. & RENSE, C.E.C. The Influence of Welding Process Variables on the Microstructure an Abrasion Resistance of Chromium Carbide and Titanium Carbide Contaiming Harfacing Deposits. Presented at: Welding [2] KOTECKI, D.J. & OGBORN, J.S. Abrasion Resistance of Iron-Based Harfacing Alloys. Welding Journal, EUA, 74(8): 269-s-278-s. Aug. 1995. [3] D.M. KENNEDY & M.S.J. HASHMI Test rig design and experimental results of coated systems under impact abrasion conditions Surface and Coatings Technology, 86-87 (1996) 493-497 [4] EUTECTIC&CASTOLIN Aplicações & Sistemas Catálogo Geral de Produtos Eutectic do Brasil Ltda, 2003. [5] ASTM Standard Test Method for Measuring Abrasion Using the Dry Sand/Rubber Wheel Apparatus. ASTM G 65-91 p. 231-243, 1991. [6] ASTM Standard Test Method for Vickers hardness of mettalic materials, ASTM. E 92-82 p. 260-298, 1982. 2762

AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Usina de Açúcar e Álcool Pioneiros, à FAPESP e à FUNDUNESP pelo apoio ao desenvolvimento deste trabalho. ABSTRACT The application of shielded metal arc welding process for hardfacing aiming the enhance of wear resistance, applied in sugar and alcohol industries, is presented in this work. The consumable was Fe-Cr-C, and the base plate is a structural steel ASTM A-36. The influence of the welding process variables such as: current, voltage and travel speed were evaluated and related to its influence on the characteristics of the hardness dilution, bead dimension and microstructure of hardfacing. The aim was to maximize the low stress abrasion resistance obtained by the standard test ASTM G-65-91. To optimize the welding conditions, an experimental design was applied to obtain a wide range of weld deposits with different characteristics and wear resistances. There was evidence of the influence of the welding process variables in the abrasion resistance and some relation between the hardness and wear resistance. The dilution influenced the microstructure of the hardfacing for all weld deposits; those with higher primary carbides contents had performance better than those with secondary carbides under low stress abrasion test conditions. Keywords: welding, hardfacing, abrasive wear and ASTM G 65-91. 2763

Ficha Catalográfica / Cataloguing Card Congresso Anual da Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais (60.º: 2005 : Belo Horizonte, MG) Anais do 60º Congresso Anual da Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais.- [CDROM]. / Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais -- São Paulo : Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais, 2005. Publicado até o ano de 1996 [51º] em forma impressa. ISSN1516-392X 1. Metalurgia - Congressos 2. Materiais - Congressos I. Título CDD 669.06 Índices para catálogo sistemático 1. Congressos : Metalurgia : Tecnologia 669.06 2. Metalurgia : Tecnologia : Congressos 669.06 Trabalho apresentado no 60º Congresso Anual da Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais, realizado em Belo Horizonte entre 25 a 28 de julho de 2005 no Minas Centro Centro de Convenções e Feiras.