Venerando Juiz-Conselheiro Presidente do Tribunal Constitucional

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Transcrição:

Venerando Juiz-Conselheiro Presidente do Tribunal Constitucional OS DEPUTADOS ABAIXO ASSINADOS, que representam um décimo dos Deputados à Assembleia da República em efectividade de funções, vêm, ao abrigo do disposto no artigo 281º, n.º 1, alíneas a) e b) e n.º 2 alínea f), da Constituição da República Portuguesa (CRP) e dos artigos 51º, n.º 1, e 62º, n.º 1, da Lei da Organização, Funcionamento e Processo do Tribunal Constitucional (LTC), apresentar PEDIDO DE FISCALIZAÇÃO SUCESSIVA ABSTRACTA DA CONSTITUCIONALIDADE E DA LEGALIDADE Das normas constantes dos seguintes artigos do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro Sétima alteração do Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 139-A/90, de 28 de Abril, e altera o regime jurídico da formação contínua de professores, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 249/92, de 9 de Novembro : a) Artigo 46º, n.º 3, do Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário, na redacção dada pelo artigo 2º, por violação do princípio da igualdade, consagrado no

2 artigo 13º da Constituição da República Portuguesa (CRP); por violação do princípio da reserva de lei (artigos 18º, n.º 2, e 165º, n.º 1, alínea b), da CRP); e por violação do disposto no artigo 39º, n.º 2, da Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro, alterada pelas Leis n.º 115/97, de 19 de Setembro, e n.º 49/2005, de 30 de Agosto); b) artigo 10º, n.º 3, por violação do princípio do Estado de Direito democrático e dos princípios da confiança e da proporcionalidade nele ínsitos, contido nos artigos 2º e 9º, alínea b), da CRP c) Artigo 15º, n.º 5, alínea c), por violação do direito constitucional à protecção da saúde, previsto no artigo 64º da CRP. Nos termos e com os fundamentos seguintes: a) Artigo 46º, n.º 3 do ECD inconstitucionalidade por violação do princípio da igualdade (artigo 13º da CRP) 1) O artigo 2º do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro, altera um conjunto de normativos do Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário (adiante abreviadamente designado ECD), entre os quais se encontram os atinentes à avaliação do desempenho do pessoal docente. 2) O novo artigo 46º do ECD, que estabelece o sistema de classificação dos docentes, prevê, no seu n.º 3, a criação de quotas máximas para a atribuição das classificações mais elevadas Excelente e Muito Bom.

3 3) Com efeito, segundo o n.º 3 do artigo 46º do ECD: Por despacho conjunto dos membros do Governo responsáveis pelas áreas da educação e da Administração pública são fixadas as percentagens máximas para a atribuição das classificações de Muito bom e Excelente, por escola não agrupada ou agrupamento de escolas, as quais terão por referência os resultados obtidos na avaliação externa da escola. 4) Este novo figurino de avaliação, que limita a atribuição das duas classificações mais elevadas ao preenchimento de determinada percentagem, afronta claramente o princípio da igualdade, constitucionalmente consagrado no artigo 13º da CRP. 5) Com efeito, como a atribuição das notas mais altas fica limitada às quotas máximas fixadas, a avaliação dos docentes deixa irremediavelmente de ser igual para todos. 6) É que uns obterão, pelo seu mérito, as classificações mais elevadas e outros, que, também por igual mérito, seriam igualmente merecedores dessas mesmas classificações, só não as alcançam por mero impedimento administrativo consubstanciado na fixação de quotas. 7) Na verdade, uma mesma nota de Muito bom ou Excelente pode ou não ser atribuída, ainda que plenamente merecida, consoante seja ou não possível administrativamente atribuir, isto é, consoante as quotas estejam ou não preenchidas. 8) É que, uma vez atingidas as percentagens máximas a atribuição das classificações mais elevadas, qualquer docente cuja avaliação merecesse um Muito bom ou Excelente passa a ter forçosamente uma classificação inferior, por mera imposição administrativa.

4 9) Quer isto dizer que a classificação final atribuída pode não derivar da equidade na avaliação do mérito intrínseco do professor avaliando, mas antes ser imposta pelo sistema de quotas instituído, o que, além de aleatório, é manifestamente discriminatório. 10) Ou seja, enquanto uns professores acedem à classificação máxima, outros que se encontrem rigorosamente na mesma situação, por força do sistema de quotas, ficam-se pela classificação intermédia. 11) O regime previsto no artigo 46º, n.º 3, do ECD, estabelece, assim, uma diferenciação não fundada e constitucionalmente ilegítima na avaliação dos docentes. 12) Com efeito, ao invés de se tratar igual o que é igual, pelo contrário, trata-se o que é igual de forma diferente, dessa forma se desrespeitando e ferindo o princípio da igualdade, vertido no artigo 13º da CRP. 13) O artigo 46º, n.º 3, do ECD é, por isso, inconstitucional, por violação do princípio da igualdade (artigo 13º da CRP). b) Artigo 46º, n.º 3 do ECD inconstitucionalidade por violação do princípio da reserva de lei (artigo 18º, n.º 2, e 165º, n.º 1, alínea b), da CRP ) 14) O artigo 46º, n.º 3, do ECD, ao permitir a fixação de quotas na atribuição das duas notas mais elevadas na avaliação da carreira do

5 docente, restringe um direito, liberdade e garantia a liberdade de exercício de uma profissão (artigo 47º da CRP). 15) Ora, os direitos, liberdades e garantias só podem ser restringidos por lei, sendo que a lei restritiva só pode ser uma lei da Assembleia da República ou um Decreto-Lei autorizado do Governo. 16) É, de resto, o que decorre da conjugação do disposto no artigo 18º, n.º 2, e 165º, n.º 1, alínea b), da CRP. 17) Sucede, porém, que o artigo 46º, n.º 3, do ECD, não só admite a existência de quotas na atribuição das duas classificações mais elevadas, como remete a respectiva fixação para despacho conjunto dos membros do Governo responsáveis pelas áreas da Educação e da Administração Pública. 18) Ou seja, artigo 46º, n.º 3, do ECD, remete para decisão administrativa o que compete à lei reserva relativa da competência legislativa da Assembleia da República 1 definir. 19) O artigo 46º, n.º 3, do ECD é, por isso, inconstitucional, por violação do princípio da reserva de lei (artigo 18º, n.º 2, e 165º, n.º 1, alínea b), da CRP). 1 Artigo 165º, n.º 1, alínea b), da CRP.

6 c) Artigo 46º, n.º 3 do ECD ilegalidade por violação da Lei de Bases do Sistema Educativo (artigo 39º, n.º 2) 20) Acresce que o normativo em causa (artigo 46º, n.º 3, do ECD) não obedece às directrizes fixadas na lei de bases que lhe serve de fundamento a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro, alterada pelas Leis n.º 115/97, de 19 de Setembro, e n.º 49/2005, de 30 de Agosto) e, pelo contrário, fixa restrições que esta não consente. 21) Efectivamente, o artigo 39º, n.º 2, da Lei de Bases do Sistema Educativo estabelece, como princípio geral das carreiras de pessoal docente, que A progressão na carreira deve estar ligada à avaliação de toda a actividade desenvolvida, individualmente ou em grupo, na instituição educativa, no plano da educação e do ensino e da prestação de outros serviços à comunidade, bem como às qualificações profissionais, pedagógicas e científicas (sublinhado nosso). 22) Ora, se avaliação do pessoal docente, para efeitos de progressão na carreira, deve atender, nos termos da Lei de Bases do Sistema Educativo, a toda a actividade desenvolvida pelo professor, é violador deste princípio nela estatuído a fixação de quotas, no Decreto-Lei de desenvolvimento, para a atribuição das notas mais elevadas. 23) Na verdade, a imposição de quotas na avaliação do mérito dos docentes, conforme determina o artigo 46º, n.º 3, do ECD, constitui obstáculo, nas situações em que estas estejam preenchidas, a que possa ser avaliada toda a actividade desenvolvida pelo docente.

7 24) Isto porque situações haverá em que, por estarem esgotadas as percentagem máximas fixadas, o docente, apesar de ser merecedor de uma notação de Muito bom ou Excelente, ficará aquém dessa classificação, o que significa que a sua progressão na carreira não estará ligada à avaliação de toda a actividade por si desenvolvida, em clara violação do princípio estatuído no artigo 39º, n.º 2, da Lei de Bases do Sistema Educativo. 25) O artigo 39º, n.º 2, da Lei de Bases do Sistema Educativo, ao estabelecer o princípio de que a progressão na carreira deve estar ligada à avaliação de toda a actividade desenvolvida pelo docente, não consente que esta possa ser condicionada, muito menos pela imposição de quotas em relação às duas classificações mais elevadas. 26) Ora, ao admitir a fixação de percentagens máximas para a atribuição das classificações de Muito bom e Excelente, o artigo 46º, n.º 3, do ECD, não se subordina ao princípio estabelecido no artigo 39º, n.º 2, da Lei de Bases do Sistema Educativo. 27) Ou seja, o Decreto-lei de desenvolvimento (ECD) não obedece ao parâmetro normativo fixado na Lei que lhe serve de base, a qual tem, por força do disposto no artigo 112º, n.º 3 da CRP, valor reforçado. 28) O artigo 46º, n.º 3, do ECD é, por isso, ilegal, por violação do disposto no artigo 39º, n.º 2 da Lei de Bases do Sistema Educativo.

8 d) Artigo 10º, n.º 3 inconstitucionalidade por violação do princípio do Estado de Direito democrático e dos princípios da confiança e da proporcionalidade nele ínsitos (artigos 2º e 9º, alínea b), da CRP) 29) Uma das alterações introduzidas no ECD, por força do diploma ora em apreciação, consistiu na criação de uma nova categoria de professores os professores titulares para quem atingiu o topo da carreira de professores (cfr. artigo 34º do ECD). 30) Esta alteração tem implicações imprevistas, intoleráveis e desproporcionadas em carreiras consolidadas de anos, que as disposições transitórias não lograram acautelar devidamente. 31) Na verdade, os professores que à data da entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro, já se encontravam nos lugares cimeiros da carreira docente nos 8º, 9º e 10º escalões regridem, passando a já não estar nas posições mais elevadas da carreira, transitando para uma categoria inferior a de professor. 32) Com efeito, nos termos do disposto no artigo 10º, n.º 8, do referido diploma, tais professores transitam para a categoria de professor da nova estrutura de carreira, mantendo os índices remuneratórios actualmente auferidos. 33) Ou seja, os professores que já tinham chegado aos lugares cimeiros da carreira docente passam, por força do disposto no artigo 10º, n.º 8, do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19/01, em conjugação com a redacção dos artigos 37º e 38º do ECD, a ter de submeter-se a novas provas

9 para poderem transitar para a nova categoria superior a de professor titular. 34) Mais, o disposto no artigo 10º, n.º 8, do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19/01, conjugado com o disposto no artigo 34º, n.º 4, do ECD, implica que os professores que já tinham chegado aos lugares cimeiros da carreira docente vejam ser-lhes retirada a possibilidade de desenvolverem certas tarefas de coordenação e supervisão, que passam a estar acometidas somente ao professor titular. 35) Assim sendo, o artigo 10º, n.º 8, do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19/01, altera de forma abrupta e insuportável posições funcionais já estabilizadas e que correspondem a longos percursos profissionais, erigidos no mais rigoroso cumprimento das exigências legais de progressão na respectiva carreira, frustrando intoleravelmente as legítimas expectativas daqueles professores que já estavam nos lugares cimeiros da carreira docente. 36) Por essa razão, o disposto no artigo 10º, n.º 8, do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19/01, é inconstitucional por violação do princípio da confiança, ínsito no princípio do Estado de Direito democrático (artigo 2º e 9º, alínea b), da CRP). 37) Acresce que a solução consagrada artigo 10º, n.º 8, do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19/01, é manifestamente desproporcionada. 38) Na verdade, era possível acolher-se uma solução bem menos lesiva das legítimas expectativas dos professores que chegaram ao fim da sua carreira, considerando, transitoriamente, a existência de duas carreiras de topo a de professor nos últimos escalões (8º, 9º e 10º

10 escalões) e a de professor titular com os mesmos conteúdos funcionais, sendo que aquela se extinguiria à medida em que os docentes deixassem de estar no activo. 39) Por isso, o artigo 10º, n.º 8, do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19/01, é igualmente inconstitucional, por violação do princípio da proporcionalidade, ínsito no princípio do Estado de Direito democrático (artigo 2º e 9º, alínea b), da CRP). e) Artigo 15º, n.º 3, alínea c) inconstitucionalidade por violação do direito constitucional à protecção da saúde (artigo 64º da CRP) 40) Nos termos do artigo 15º, n.º 3, alínea c), do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19/01, estabelece-se como requisito para o recrutamento transitório para professor titular, por parte dos professores que à data da entrada em vigor do referido diploma estejam nos 8º, 9º e 10º escalão, a prestação efectiva de funções, desconsiderando as situações legalmente equiparadas a essa prestação efectiva de funções. 41) Na verdade, é exigido, entre outros, o seguinte requisito: c) Não estejam na situação de dispensa total ou parcial da componente lectiva. 42) Ora, este requisito pode levar ao afastamento do concurso professores que estão em dispensa de funções lectivas por razões de saúde, dispensa que pode ser total ou parcial. 43) Nessa medida, tal requisito é inconstitucional por violação do direito constitucional à protecção da saúde, previsto no artigo 64º da CRP.

11 Nestes termos, e com base nos fundamentos que supra se aduziu, requer-se a fiscalização sucessiva abstracta da constitucionalidade das normas constantes do artigo 46º, n.º 3 do ECD, na redacção dada pelo artigo 2º do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro, e dos artigos 10º, n.º 3 e 15º, n.º 5, alínea c), deste mesmo Decreto-Lei e, bem assim, da legalidade da norma constante do artigo 46º, n.º 3 do ECD, na redacção dada pelo artigo 2º do referido Decreto-Lei. Os Deputados do PSD,