"Não temeis a grandeza; alguns nascem grandes, alguns conseguem grandeza, a alguns a grandeza é imposta e a outros a grandeza Ihes fica grande." Excelentíssimo Senhor Contador Prof. Dr. Juarez Domingues Carneiro, na pessoa de quem saúdo os demais componentes desta mesa. Senhoras e Senhores, Esta afirmativa de Shakespeare bem se aplica ao homenageado desta manhã que, com mestria, conheceu a grandeza, sobretudo a dos sonhos, dos sentimentos, da valorização da vida e de respeito ao outro. Todo encontro é importante pelo só fato de existir, ainda que independentemente dos motivos que o promoveram. Mas os encontros de homenagem sempre tocam fundo o espírito e a sensibilidade dos que dele participam ou que a ele assistem. A solenidade que nos reúne neste auditório do Edifício sede do Conselho Regional de Contabilidade de MG revestese de expressiva significação. O Conselho Federal de Contabilidade e o Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais realizam hoje a cerimônia de inauguração do busto do Professor Lopes de Sá, prestando, assim, homenagem ao filho ilustre das Minas Gerais, no dia do seu aniversário de nascimento. Professor Antonio Lopes de Sá marcou realmente sua
passagem pela vida. Sua sêde de autenticidade e elevado senso de valor educativo e de valor social são qualidades que se expressam na extensão de seu exercício profissional, e no seu estilo de vida. Era um homem da reflexão. Os atos humanos, por mais simplórios que fossem, mereciam-lhe a atenção. Ele os estudava minuciosamente, investigava-os com interesse. Sobre eles refletia, com serenidade, talvez para melhor compreender os sentimentos humanos. Fez de sua capacidade de memorizar o meio pelo qual tornou possível! A técnica de armazenar, mas também de conectar as experiências passadas para utilizar a informação no tempo presente. Parece que ele sempre esteve destinado à disseminação da sabedoria e dos saberes. E os semeou durante toda uma vida. Como Professor deixou claro o apreço pelo valor educativo. Exerceu o magistério com amor e por amor e jamais se limitou ao estreito espaço das salas de aulas. Sempre recebeu seus estudantes em casa ou no escritório como a fazer prolongar-se no tempo e no espaço as lições nossas de cada dia, lições da arte de viver. Seus discípulos deram testemunho vivo da amizade que sempre lhe dedicaram, nas homenagens que lhe prestaram, durante a sua vida e depois de sua morte, como a que agora se realiza, e nas recordações que dele guardam.
Escolheu os números. Escolheu também as letras, sem, contudo, se esquecer de outras áreas do conhecimento. Contador, homem dos números. Literato, homem das letras. Conhecia bem uns e outras. Com aqueles realizava as operações contábeis, verdadeiros malabarismos. Quanto a estas, transformava-as em trabalhos técnicos, científicos e artísticos. A ambos, fazia falar, expressar a verdade de fato e de direito, dizer sempre o que se propunha a dizer. Escritor fecundo. Além de centenas de trabalhos de sua área profissional escreveu obras e artigos de conteúdo histórico, por exemplo, Origens de um Banco Centenário, e História Geral da Contabilidade no Brasil. De conteúdo filosófico: A Filosofia da Contabilidade; Luca Pacioli - Um mestre do Renascimento e o método das Partidas Dobradas. E em literatura infantil A Turminha da D. Cynara. Especial relevo reserva-se aos poemas, inéditos, em número superior a mil. Foi Professor, foi contador, foi escritor. Com números e com palavras ele trabalhou uma vida inteira, até os últimos instantes de sua vida entre nós, revelando assim uma paixão, uma vocação, um chamado, - verdadeiro sentido do trabalho que enobrece o homem. Destacou-se também em oratória moderna, atual, de peculiar feição, encantadora no fundo e na forma. Sua palavra dignifica e agrada, lamentando-se não ter ele escrito a maioria de seus discursos. Sua eloqüência se fez notar na tribuna
docente e em salão nobre de várias Faculdades do Brasil e do exterior, em congressos de Contabilidade nacionais e internacionais. Influenciou uma geração de seguidores, contadores contemporâneos seus. Formou outros e até hoje é lembrado como modelo de homem de virtudes e da ética, do profissional de tantos trabalhos. A assídua cultura dos seus grandes estudos lhe trazia constantemente aparelhado o entendimento para as novidades mais altas da investigação, sobretudo da civilização européia, pois na Europa situam-se dois países que ele mais amou, além do Brasil: Portugal e Itália. Uma trindade: Brasil, Portugal e Itália. Brasil, o país onde nasceu, com raízes fincadas em Portugal, pela linha paterna, e na Itália, pela linha materna. Mas "o melhor retrato de cada um é aquilo que escreve. [... ] a alma retrata-se com a pena", como afirmara Padre Antônio Vieira, no Sermão de Santo Inácio. Seus escritos estão aí, como a provar que: O que foi semeado com amor, germinou lentamente, amadureceu em tempo certo. E em abençoada abundância. Já se disse que a vida inteira de um homem reside em sua responsabilidade, pelo que foi, pelo que fez, pelo que semeou e pelo que deixou. Ele foi, fez, semeou e deixou
amor. Para sempre. Porque há uma memória que nada pode apagar, aquela do coração e do amor e um grande amor não precisa de muitas palavras. No complexo das circunstâncias da vida, paradoxalmente, está a morte. A morte que sempre nos coloca num impasse, porque ninguém - creio - foi educado para suportar a crueldade da perda. Ninguém tem a chave para vencer o tempo sem a presença do ser amado. A mim apenas uma via se apresenta: aceitar a perda do que fui e que jamais serei sem ele. E aceitar a nova pessoa que agora sou, com a certeza de que nada poderá preencher o vazio que me invade a alma e o coração. E há mais: existe a terra dos vivos e a terra dos mortos, a conexão entre elas é o amor, bem se sabe. Quando, porém, um grande amor se vai e parte antes para a terra dos mortos, a tristeza, a solidão, a saudade invadem a vida de quem fica, mesmo diante da esperança e da certeza do reencontro. Expresso os mais sinceros agradecimentos pela marca da gentileza, pela confortadora presença em momento doloroso e atroz: Ao ilustre senhor Contador Prof. Walter Roosevelt Coutinho, digníssimo Presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais, e a todos os seus ilustres conselheiros e seu competente staff, pela sua liderança e iniciativa, para realização desta homenagem.
Aos Membros da Academia Mineira de Contabilidade, na pessoa do seu Presidente o Ilustre Prof. Marco Antonio Amaral Pires, minha gratidão, pelo reconhecimento do trabalho que desenvolvi junto ao meu esposo, na indicação do meu nome para integrar esta honorável academia. Obrigada e minha gratidão!