Odontopediatria na reabilitação de crianças com fissura labiopalatina

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Transcrição:

Universidade de São Paulo Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais - HRAC Comunicações em Eventos - HRAC 2011-06 Odontopediatria na reabilitação de crianças com fissura labiopalatina Curso de Anomalias Congênitas Labiopalatinas, 44, 2011, Bauru. http://www.producao.usp.br/handle/bdpi/46659 Downloaded from: Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI, Universidade de São Paulo

Odontopediatria na reabilitação de crianças com fissura labiopalatina Beatriz COSTA Cirurgiã-dentista, Odontopediatria HRAC-USP A fissura labiopalatina acarreta alterações anatômicas e funcionais na cavidade bucal, t o rna ndo imprescindível a presença de um ciru rgião dentista na equipe de reabilitação. Embora a correção cirúrgica do defeito seja a maior expectativa dos pais de bebês com fissuras labiopalatinas, os aspectos odontológicos não podem ser negligenciados. As orientações s o b re cuidados de higiene bucal e hábitos dietéticos de risco a cárie dentária devem ser forn e c i d a s o mais precocemente possível. Uma vez que uma boa saúde bucal é pré-requisito para a re a l i z a ç ã o das ciru rgias, a fim de se prevenir infecções, esse fato pode ser utilizado como fator de motivação para que os pais dêem mais importância à higiene bucal (Dalben et al, 2002). Muita ênfase deve ser dada aos aspectos educativos dos pais em relação à saúde bucal de seus filhos. Principalmente pela falta de possibilidade de re t o rnos periódicos e freqüentes ao Hospital, considerando-se as dificuldades geoeconômicas apresentadas pela maioria das famílias. P o rtanto, a necessidade de acompanhamento educativo-preventivo em suas cidades de origem t o rna -se essencial. O atendimento odontológico preventivo de indivíduos com fissura labiopalatina não difere daqueles sem fissuras. Orientações para realização da limpeza bucal com gaze ou fralda umedecida em água filtrada ou fervida para bebês sem dentes e com o uso de escova dentária infantil macia com uma quantidade mínima de creme dental, após irrupção dentária. O procedimento de higiene bucal deve ser realizado principalmente após as refeições e antes de dorm i r. A dieta pode constituir um fator de risco à cárie dentária nos bebês com fissura labiopalatina, principalmente naqueles com fissura envolvendo o palato, nos quais a sucção do leite materno é p rejudicada pela pressão negativa intrabucal deficiente. Com a dificuldade de aleitamento m a t e rno, o primeiro contato destes bebês com a mamadeira costuma ocorrer muito pre c o c e m e n t e, principalmente para a ingestão de leite. Geralmente, açúcar é acrescentado à mamadeira, ou é utilizado leite em pó industrializado, cuja formulação já contém açúcar. No entanto, esse hábito não pode ser abolido, pois os bebês necessitam de um peso mínimo para a realização das ciru rg i a s plásticas reparadoras e consequentemente, do ponto de vista nutricional, uma dieta calórica é indicada (Dalben et al, 2002; Dalben et al 2003). Consequentemente, aos pais de bebês com fissura labiopalatina, maior ênfase deve ser dada nos procedimentos de higiene bucal após ingestão de dieta cariogênica. Embora a prevenção de cáries seja o objetivo primário da abordagem odontológica inicial, em alguns casos existe a necessidade de tratamento re s t a u r a d o r. Os pacientes com fissura

labiopalatina não apresentam mais cárie devido à malformação, mas sim, devido a alguns fatore s de risco que favorecem o acúmulo de placa bacteriana, predispondo-os a maior ocorrência de cárie d e n t á r i a. Existem várias razões para isto. Em crianças com fissura labiopalatina, alterações dentárias m o rfológicas e estruturais e o colapso do arco dentário superior podem tornar a remoção da placa dentária mais difícil. A cicatriz cirúrgica e a tensão do lábio superior resultantes do re p a ro primário restringem o acesso para escovação dos dentes anteriores superiores. Além disso, do ponto de vista psicológico, os pais têm maior dificuldade de dizer não para crianças com anomalias congênitas, sendo mais permissivos quanto a hábitos inadequados, tanto em relação à higiene bucal, como em relação à ingestão de dieta cariogênica (ingestão excessiva de doces) (Dalben et al, 2009). P o rtanto, os pais devem ser orientados quanto à presença desses fatores, para que possam realizar adequadamente a remoção da placa bacteriana e prevenir a ocorrência de cárie, o que constituiria mais um obstáculo ao tratamento reabilitador (com atraso na realização das ciru rg i a s ), bem como uma sobre c a rga ao paciente, já submetido a tantos procedimentos desde o nascimento. O tratamento odontológico restaurador para crianças com fissura não difere do tratamento convencional. No entanto, algumas particularidades odontológicas inerentes a estes pacientes devem ser conhecidas pelo profissional que se dispõe a atendê-los. A ocorrência da fissura de lábio e/ou palato e a formação dos germes dentários têm uma relação muito próxima, tanto em termos de época de formação como em relação à posição anatômica. Assim, observa-se clinicamente, com freqüência, a presença de anomalias dentárias em crianças com fissura labiopalatina. Estas alterações estão diretamente relacionadas ao grau de envolvimento anatômico da fissura, ou seja, quanto maior a extensão do defeito e o número de e s t ruturas envolvidas, maiores são a possibilidade e a gravidade de sua ocorrência (Dalben et al, 2009 ). Dentes natais e neonatais - A ocorrência de dentes natais e neonatais na região da fenda é comum em bebês com fissuras completas de lábio e palato unilaterais (2%) e bilaterais (11%) (Almeida; Gomide, 1996), sendo caracterizados como incisivos laterais ou supranumerários. Estes elementos dentários apresentam pobre implantação na mucosa gengival, com mobilidade excessiva, indicando-se sempre sua extração por apresentar o risco de aspiração, devido à comunicação entre as cavidades bucal e nasal nestes tipos de fissuras. C ronologia da irrupção - A avaliação da cronologia de irrupção dos dentes decíduos (Duque et al, 2004) e permanentes (Carrara et al, 2004) de crianças com fissura completa de lábio e palato unilateral demonstrou que os dentes do lado fissurado apresentam maior atraso de irrupção em relação aos do lado não fissurado, com diferença estatisticamente significante para o incisivo lateral e canino superiores. Uma única alteração da seqüência de irrupção foi observada, relacionada ao

incisivo lateral superior decíduo do lado fissurado, último dente a irromper na cavidade bucal (Duque et al, 2004). Este conhecimento permite que o ciru rgião dentista oriente os pais, sem necessidade de realizar tomadas radiográficas que poderiam expor o paciente a riscos desnecessários a sua saúde, em idade precoce. I rrupção ectópica do primeiro molar superior permanente é observada uma alta ocorr ê n c i a de irrupção ectópica do primeiro molar superior permanente em indivíduos com fissura, demonstrando valores de 20,6% para as fissuras isoladas de palato (Silva Filho et al, 1993), 19,6% nas fissuras completas de lábio e palato (Silva Filho et al, 1990) e de 20% nas isoladas de lábio (Silva Filho et al, 1996), estando relacionada ao menor comprimento ântero-posterior e re t roposição da maxila em relação à base do crânio, em pacientes com fissura com envolvimento do palato. A n o rmalidades dentárias estruturais - Alterações de esmalte nos incisivos decíduos e p e rmanentes são observadas freqüentemente em pacientes com fissura labiopalatina, principalmente quando a fissura envolve o re b o rdo alveolar. A estrutura dos incisivos centrais próximos à fissura pode apre s e n t a r-se alterada, demonstrando opacidades branco-creme ou a m a re l o - m a rrom e hipoplasias. Nas fissuras unilaterais a ocorrência desses defeitos de esmalte a p resenta freqüência significativamente superior no incisivo central adjacente à fissura em re l a ç ã o ao seu homólogo, enquanto que nas bilaterais, um ou ambos os incisivos centrais podem estar envolvidos (Maciel et al, 2005). A maior ocorrência de defeitos estruturais de esmalte nos dentes permanentes em relação aos decíduos poderia ser justificada pelo fato destes se desenvolverem principalmente no período pósnatal sendo, portanto, mais sensíveis às influências externas nocivas durante a morfogênese do que os dentes decíduos, que se desenvolvem no período pré-natal e são protegidos no útero. Deve-se também considerar o papel do controle genético que pode afetar o desenvolvimento dentário. A alta prevalência de alterações de esmalte nos incisivos adjacentes à fissura, além de constituir um fator de risco à cárie dentária, compromete também a estética. Dessa forma os p rofissionais devem reconhecer a importância do diagnóstico precoce, para re a l i z a r adequadamente o acompanhamento preventivo ou o tratamento dessas alterações. A n o rmalidades dentárias de forma, número e posição As anomalias dentárias de forma mais f reqüentemente observadas na dentição decídua são dentes conóides, em forma de T ou X, fusionados ou geminados e apresentam distribuição variada nos diferentes tipos de fissuras. D i f e rentemente da dentição decídua, os incisivos laterais permanentes da região da fissura, quando p resentes, apresentam alta ocorrência de aspecto conóide (Suzuki & Takahama, 1992). As alterações dentárias de número, como agenesias e supranumerários são observadas com f reqüência na região do incisivo lateral. Fissuras mais simples, como as isoladas de lábio e com

pequeno envolvimento alveolar tendem a apresentar maior ocorrência de dentes supranumerários, enquanto que nas mais complexas a agenesia prevalece (Suzuki et al, 1992; Ribeiro et al 2003; To rtora et al, 2008). Alterações na posição do incisivo lateral superior podem ser resultantes da presença de dentes supranumerários, conduzindo a um desalinhamento do arco dentário, por falta de espaço ou ainda acompanhando a anatomia alterada do re b o rdo alveolar na região da fissura. Comumente os incisivos laterais superiores, quando presentes, encontram-se a distal da fissura alveolar (Suzuki et al, 1992; Tsai et al, 1998; Ribeiro et al 2003; Te reza et al, 2010). Nestes casos, pode ser denominado de dente pré-canino. A ocorrência de diferentes tipos de alterações odontológicas nos dentes adjacentes à área da fenda é uma condição característica de pacientes com fissura labiopalatina, e constitui motivo de p reocupação de pais e profissionais que atendem este grupo específico. Por isso, a orientação e o acompanhamento da saúde bucal nas dentaduras decídua e mista é a conduta indicada para a manutenção de seus elementos em bom estado, mesmo que supranumerários ou malposicionados, com o objetivo de pre s e rvar estruturas ósseas de suporte, que podem estar deficientes na re g i ã o da fissura (Gomide, Costa, 2007). T R ATAMENTO ODONTOLÓGICO A anestesia odontológica em pacientes com fissura, em geral, não constitui pro c e d i m e n t o d i f e renciado para a maioria das regiões da cavidade bucal como arco inferior e região posterior do a rco superior, exceto na área da fenda alveolar. Neste local, a maxila encontra-se dividida pelo defeito ósseo em segmentos distintos, com inervação individualizada e embora após o re p a ro c i r ú rgico seu aspecto clínico possa assemelhar-se muito ao da maxila não afetada, esta condição ainda é mantida. Isto é part i c u l a rme nte importante quando se necessita anestesiar o dente nesta região, porque o malposicionamento comum deste elemento pode dificultar a determinação do local de sua implantação, o que pode ser visualizado por meio de exame radiográfico periapical prévio, demonstrando o segmento ósseo em que o dente está localizado (Dalben et al 2000). O re p a ro cirúrgico do lábio geralmente provoca uma fibrose cicatricial secundária nesta região tornando a mucosa mais resistente e conseqüentemente a punção mais dolorida. A anestesia tópica evita tal desconforto bem como a injeção lenta do líquido anestésico que diminui a distensão tecidual. A punção inicial com infiltração anestésica deve ser paralela ao longo eixo do dente em questão. Devido ao defeito ósseo que individualiza a inervação dos dois segmentos fissurados e à sua contigüidade, a anestesia da região vizinha torna-se necessária para evitar dor ou incômodo durante o tratamento a ser realizado, utilizando-se a mesma punção da infiltração inicial, porém alterando-se a trajetória da agulha em direção a esta região

Para o tratamento odontológico convencional recomenda-se o uso de isolamento absoluto por diversas razões, como evitar a aspiração ou deglutição de debris infectados, de material re s t a u r a d o r, diminuir a possibilidade de contaminação pulpar, permitir campo seco para o material re s t a u r a d o r, melhorar a visibilidade do operador, proteger e manter a língua afastada do campo, e n t re outras. Em pacientes com fissura de palato não tratada ciru rgicamente, além de todas estas funções, o isolamento absoluto previne o desconforto ocasionado pelo fluxo constante de água do i n s t rume nto de alta rotação, pela presença de resíduos de cárie ou materiais re s t a u r a d o res que podem penetrar nas vias aéreas, uma vez que existe comunicação entre as cavidades bucal e nasal. Nestes casos, o cuidado na manipulação do grampo para o isolamento envolve sua amarração com fio dental antes da prova, prevenindo assim o risco de acidentes como a aspiração do mesmo. A presença de dentes supranumerários rotacionados ou malposicionados dificulta, muitas vezes, a colocação do grampo, por isso, a utilização de amarrilhos com fio dental nos dentes em que não for possível a utilização de grampos, principalmente naqueles adjacentes à área da fissura quando esta envolver o re b o rdo alveolar, tem se mostrado apro p r i a d a. A técnica para extração de dentes irrompidos na região da fissura segue os mesmos passos da extração de qualquer outro elemento dentário: sindesmotomia, luxação, apreensão com o f ó rceps, extração propriamente dita e sutura. Para pacientes com o palato não operado deve-se tomar cuidado para que o dente não caia na fissura e seja aspirado pelo paciente. Isto pode ser evitado colocando-se uma gaze no local da fissura. Ao se remover o dente, este nunca deve ser forçado em direção à área da fissura evitando assim que seja deslocado para o seu interior (Dalben et al., 2001). Após a extração, realiza-se a curetagem do alvéolo, irrigação com soro fisiológico e sutura. A sutura é fundamental para evitar uma provável hemorragia para o interior da fissura, a qual é de difícil detecção por não se visualizar o sangue. P a rticularidades observadas nas dentições decídua e permanente de crianças com fissura labiopalatina são variadas e constituem razões importantes para o acompanhamento sistemático do odontopediatra durante o processo re a b i l i t a d o r. Este seguimento que se inicia logo após o nascimento estende-se por um longo período, no qual são empreendidos os pro c e d i m e n t o s c i r ú rgicos primários e secundários, bem como os ortodônticos, justificando assim a importância da obtenção e manutenção da saúde bucal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 - Dalben, GS, Costa, B, Gomide, MR. Características Básicas do bebê portador de fissura lábio-palatal aspectos de interesse para o CD. Revista da APCD, 2002; 56:223-226.

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