3 Método Este estudo realizou uma pesquisa do tipo descritivo tendo uma abordagem de pesquisa pré-planejada e estruturada. (MALHOTRA, 2006). A pesquisa buscou o conhecimento adquirido pela gestante analfabeta funcional e seu entendimento relacionado com as orientações fornecidas pelos médicos durante o atendimento pré-natal. Para sua realização foi elaborado um questionário inspirado no teste S-TOFHLA, utilizando-se questões sobre assuntos abordados durante as consultas do pré-natal. Através do questionário, traçou-se um perfil das gestantes e mensurou-se, a pontuação das entrevistadas diante do assunto proposto. Espera-se que o resultado obtido com essa pesquisa possa orientar os profissionais de marketing a auxiliar os médicos e os serviços de saúde especializados em desenvolver uma comunicação mais eficaz com suas pacientes analfabetas funcionais. A seguir, serão descritas detalhadamente a preparação, evolução, finalização da construção do questionário e como se deu a realização da coleta de dados. Passo 1 Foi realizada uma busca na Internet em sites especializados em assuntos relacionados com a gestante onde foram selecionados 52 (cinquenta e dois)vocábulos que deram origem aos termos utilizados na pesquisa. Passo 2 Após a escolha dos termos, buscou-se suas definições e significados sendo os mesmos encaminhados para quatro médicos especialistas em obstetricia, os quais avaliaram estas definições e classificaram a lista em relação a frequencia de uso nas consultas, como nunca, raramente, frequentemente e sempre e ainda em relação ao grau de entendimento das pacientes em fácil, requer conhecimento e difícil. Passo 3 Após essa análise, foram descartadas os termos classificados como nunca e raramente utilizados nas consultas, perfazendo um total de 17 (dezessete) termos descartados. Passo 4 Em relação ao entendimento dos termos pelas pacientes os 35 termos restantes foram classificados como dificil, médio e fácil grau de compreenssão, sendo esta classificação usada posteriormente para a análise dos dados.
41 Passo 5 O questionário foi criado com 27 questões sendo 35 lacunas para serem preenchidas, utilizando-se uma linha temporal desde o diagnóstico da gravidez até os cuidados com o recém nascido, buscando-se o entendimento desta gestante sobre o assunto em questão. Passo 6 Questionário analisado por um obstétra para avaliar a adequação dos termos no texto das questões. Passo 7 Pré-teste das 27 primeiras questões em 5 pacientes, com acompanhamento individualizado, seguido de observação de cada uma das questões em um Hospital Público localizado na Baixada Fluminense. Passo 8 Exclusão de 1 questão e mais 2 lacunas, onde os termos utilizados apresentavam pouca relevancia para o cuidado necessário da gestante durante o pré-natal e puerpério. Passo 9 Realização de novo pré teste com 3 pacientes, com acompanhamento individualizado, seguido de observação de cada uma das questões no mesmo hospital. Passo 10 A versão final do questionário foi aprovada, sendo a primeira parte composta por 26 questões e 32 lacunas formuladas utilizando-se a técnica de Cloze, onde palavras são retiradas das frases, restando colunas a serem preenchidas. Para este preenchimento utilizou-se quatro alternativas de resposta formuladas em múltipla escolha. Grande parte do texto foi elaborada na terceira pessoa do singular. A segunda parte do questionário apresentava questões sóciodemográficas, colocadas no final do mesmo perfazendo um total de 3 questões. Passo 11 A versão final do questionário foi aplicada a uma amostra de 56 pacientes em um Hospital Público localizado na Baixada Fluminense. Durante a aplicação, tomaram-se certos cuidados para que não houvesse comunicação entre elas e seus acompanhantes, o que dificultou bastante a execução dos mesmos. Todos os questionários foram respondidos diante da pesquisadora. Algumas dificuldades foram identificadas durante o trabalho de campo realizado como: a negativa de resposta por parte das gestantes devido ao cansaço da espera da consulta; outras, devido à dificuldade de leitura, apesar de solicitas, se negavam em preencher o questionário e também o número reduzido de gestantes no setor de pré-natal em muitas das visitas realizadas. Passo 12 Tabulação dos dados que levou a conclusão da necessidade de melhorias do questionário tendo em vista que devido às orientações de não entregar o mesmo com perguntas em branco levava as gestantes a chutar o que não traduz um resultado verdadeiro a pesquisa realizada.
42 Passo 13 Reestruturação do questionário com o auxilio de uma profissional de saúde com vivencia na área especifica, o que possibilitou a facilidade de entendimento das gestantes em relação aos questionamentos propostos e ainda a inclusão de questões relacionadas com o perfil da gestante na segunda parte. Ainda foi colocada uma orientação no pré-texto do questionário que solicitava evitar tentar adivinhar ou chutar a resposta, deixando em branco o que não soubesse. Passo 14 Realização de novo pré-teste com cinco pacientes, com acompanhamento individualizado, seguido de observação de cada uma das questões, desta vez foi realizado em um Hospital Público localizado na Zona Sul. Paso 15 Não foi identificado nenhum problema o que levou a versão final do questionário. Passo 16 Aplicação da versão final do questionário em 82 gestantes em um Hospital Público localizado na Zona Sul, sendo vivenciados as mesmas dificuldades de aplicação relatadas anteriormente. Passo 17 Foram atribuídos valores iguais a todas as questões, sendo nota 0 às alternativas incorretas e 1 às alternativas corretas. Consequentemente, o questionário tinha um escore total de 32 pontos para 100% de acerto. Etapa 18 Para a análise dos dados foram calculados os escores totais das gestantes e elaboradas tabelas dinâmicas com cruzamentos das variáveis utilizando-se estatística descritiva no programa Excel. 3.1 Perfil da Amostra O perfil da amostra se iniciou com um questionamento sobre o ano de nascimento das 82 entrevistadas, sendo estas datas posteriormente transformadas com base no ano vigente em idade. Em seguida, foram classificadas em faixas de idade sendo elas: até 18 anos; entre 19 e 29 anos; entre 30 e 40 anos e acima de 40 anos, conforme apresentado abaixo. Faixa Etária Percentual Frequencia Até 18 20% 16 Entre 19 e 29 41% 34 Entre 30 e 40 38% 31 Acima de 40 1% 1 Tabela 01 - Divisão das entrevistadas por idade
43 Do total das entrevistadas, 20% tinham idade até 18 anos, 41% entre 19 e 29 anos, 38% entre 30 e 40 anos e somente 1% apresentava idade superior a 40 anos. Observou-se que o percentual de adolescentes foi pequeno em comparação as duas faixas etárias posteriores, que totalizaram um percentual de 79%. Tal diminuição corrobora com os dados do IBGE (2009) que no período de 2000 a 2006, iniciou-se uma ligeira inversão da tendência entre as mulheres adolescentes e jovens. O SINASC (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos) registrou declínio da participação dos nascimentos oriundos de mães dos grupos etários de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos no país. Essa taxa menor de adolescentes grávidas descarta o argumento do não entendimento do assunto abordado por imaturidade das gestantes. A segunda questão para conhecer o perfil das entrevistadas foi em que mês de gestação elas se encontravam. Foram entrevistadas gestantes entre 3 meses e 9 meses de gestação como exposto no quadro abaixo. Meses de gestação Percentual Frequencia 3 5% 4 4 0% 0 5 12% 10 6 29% 24 7 27% 22 8 21% 17 9 6% 5 Tabela 02 - Divisão das entrevistadas por mês de gestação A amostra apresentou 5% com 3 meses, 12 % com 5 meses, 29 % com 6 meses, 27 % com 7 meses, 21% com 8 meses e 6 % com 9 meses. A maioria das grávidas estava entre 6 e 8 meses de gestação. Isso se deve, pois o hospital onde foi aplicado o teste atende pacientes de alto risco e essas normalmente são identificadas já com certo tempo de gravidez. Esse resultado mostra que a maior parte das entrevistadas já estava com mais da metade do tempo de gestação, tendo tempo para conhecer sobre os cuidados neste período e que recebem as orientações médicas mais avançadas, ou seja, não as primeiras orientações de um pré-natal.
44 Para a identificação das mães que já tinham experiência por terem passado por outras gestações e das mães inexperientes, foi perguntado se elas tinham filhos. O próximo quadro apresenta o resultado desta questão. Experiência com gestação Percentual Frequencia Mães de primeira viagem 37% 30 Mães com experiência 63% 52 Tabela 03 - Divisão das entrevistadas por experiência anterior com gestação Das entrevistadas, 63% já têm filhos, portanto, com a exceção de filhos adotivos e gestações sem acompanhamentos médicos, essas mulheres já passaram por essas orientações e experiências anteriormente, o que deveria ter auxiliado nas respostas. Porém, apesar desta maioria experiente, muitas vezes elas não compreendem o que foi perguntado ou os termos que os médicos, mesmo que não seja a primeira vez que os ouçam. Para identificar o nível de renda das gestantes foi questionada qual a renda familiar no último mês das mesmas, apresentando as seguintes opções para resposta, até 1 salário mínimo, de 1 a 3 salários mínimos, de 3 a 7 salários mínimos e acima de 7 salários mínimos, como ilustra o quadro. Renda Familiar Percentual Frequencia Até 1 salário mínimo 35% 29 De 1 a 3 54% 44 De 3 a 7 7% 6 Acima de 7 4% 3 Tabela 04 - Divisão das entrevistadas por renda familiar mensal A amostra teve sua maior porcentagem no grupo de renda familiar de 1 a 3 salários, com 54%, seguida de 35% do grupo que recebe até um salário mínimo. Os dois demais grupos juntos chegaram a 11%, tendo pouca representatividade.
45 A última questão foi qual o nível de escolaridade das entrevistadas, que podiam responder como alfabetizadas, que tinham feito até o Primário, até o Ginásio, até o Ensino Médio, Ensino Superior, Pós Graduação, Mestrado e Doutorado. Escolaridade Percentual % Frequencia Alfabetizado 1% 1 Da 1ª a 4ª série (primário) 0 0 Da 5ª a 8ª série (ginásio) 22% 18 Da 1ª a 3ª série do ensino médio (2º Grau) 68% 56 Ensino Superior 4% 3 Pós Graduado 1% 1 Mestrado 4% 3 Doutorado 0 0 TOTAL 100 82 Tabela 05 - Divisão das entrevistadas por escolaridade Observou-se que 68% das gestantes respondeu ter Ensino Médio, seguido de 22% que responderam ter pelo menos até a 8ª série. Os demais níveis tiveram resultado abaixo de 5% e nenhuma gestante declarou ter feito apenas o Primário ou ter cursado até o Doutorado.