CONHECIMENTO EM INFORMÁTICA ENTRE OS CONSUMIDORES DE COMPUTADORES PESSOAIS

Transcrição

1 CONHECIMENTO EM INFORMÁTICA ENTRE OS CONSUMIDORES DE COMPUTADORES PESSOAIS Rubens Antônio Sacramento Jr. 1, Sergio Augusto Rodrigues 2 1 Tecnólogo da Faculdade de Tecnologia de Botucatu, São Paulo, Brasil rubensjr@forall.com.br 2 Docente Faculdade de Tecnologia, Botucatu, São Paulo, Brasil sergio@fatecbt.edu.br 1 INTRODUÇÃO A última década apresentou um crescimento de vendas nos setores de eletrônicos e eletrodomésticos, sendo que o setor de informática apresentou um salto no número de computadores por domicílio de 16% em 2005 para 45% em 2011 segundo o Centro de estudos sobre as tecnologias da informação e da comunicação (2013). Conforme apura Santos (2012), o crescimento da indústria de computadores pessoais foi de 75% no período entre 2008 e 2011, com um faturamento de 12 bilhões de dólares por ano. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) em 2011 a porcentagem de domicílios com microcomputador era de 42,9%, apresentando um crescimento de aproximadamente 24% em relação à mesma pesquisa de 2009 (BRASIL, 2012). Diaz e Cano (2012), com base nos dados da PNAD destacam que o percentual de domicílios com computadores no Brasil aumentou consideravelmente nos últimos anos, despertando o interesse em se conhecer o perfil desses consumidores. Para Azevedo e Mardegan (2009), o poder aquisitivo do consumidor de renda mais baixa vem aumentado desde 2008 e, além das preocupações básicas com alimentação e moradia, passa também a consumir produtos que trazem mais praticidade ao seu modo de vida, tais como televisão, celular, computador pessoal entre outros. Com a popularização dos computadores pessoais, setores da informática que permeiam o seu funcionamento tendem a crescer, o que pode ser notado pelo grande aumento do número de usuários de redes sociais. Esse novo usuário, busca um computador com a intenção de participar deste mundo virtual, porém, muitas vezes não sabe o que irá necessitar para ter acesso a isso. Sabe-se ainda que os estabelecimentos comerciais varejistas (lojas físicas ou virtuais) vendem o hardware, no entanto, o mesmo necessita de um software para gerenciá-lo (o chamado sistema operacional). Um problema que pode surgir a partir desse cenário é que o sistema operacional embutido na compra de um computador, normalmente não é apresentado adequadamente ao consumidor, o qual, muitas vezes, sente a necessidade de modificá-lo para deixá-lo no mesmo padrão dos que já utilizou.

2 Outra questão é a hipótese de que um consumidor desprovido de informações básicas de informática pode ser conduzido a adquirir algo que não lhe trará a satisfação desejada, obrigando-o a procurar um comércio especializado para modificar o produto que acabou de adquirir. Acredita-se que o grau de conhecimento básico de informática não cresceu na mesma proporção que o consumo de microcomputadores, levantando a hipótese de que muitos consumidores podem estar adquirindo um computador pessoal sem realmente entender o que estão adquirindo. Neste contexto, o objetivo do trabalho é avaliar o grau de conhecimento dos consumidores (efetivos e potenciais) de microcomputadores de uso pessoal e doméstico no momento de sua aquisição. 2 MATERIAL E MÉTODOS Um estudo observacional transversal, por meio de uma pesquisa quantitativa com uma amostra selecionada da população de visitantes de um estabelecimento comercial da cidade de Botucatu foi realizado. Como instrumento para coleta de dados foi utilizado um questionário estruturado e previamente testado para identificação de problemas em sua formulação, realizando assim, posterior correção e adaptação para a abordagem de coleta escolhida. Os dados foram coletados por meio de um recordatório dos últimos doze meses, sendo que a aplicação do questionário ocorreu no período de 20 dias contínuos, durante o mês de maio do ano de Foi utilizado o método de autopreenchimento para obtenção das respostas, com uma explicação e detalhamento dos objetivos da pesquisa na abordagem inicial. Atendendo ao código de ética de pesquisa de opinião, todos os entrevistados assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. O método de amostragem utilizado foi o não probabilístico, por meio da amostragem por conveniência, sendo a amostra composta pelos indivíduos que visitaram o estabelecimento no período de coleta dos dados. Para tanto, estabeleceu-se que no máximo quinze entrevistas seriam realizadas por dia e a cada três indivíduos somente um seria abordado, pretendendo-se, desta forma, não viciar a amostra deixando-a suscetível a uma situação única do mercado. Nesse sentido, no final do período de coleta, obteve-se uma amostra totalizando 195 indivíduos. Após a coleta, os dados foram organizados numa planilha eletrônica para posterior análise por meio de técnicas da estatística descritiva tais como tabelas de distribuição de frequência simples e de contingência, gráficos, medidas de posição e

3 dispersão quando for o caso (BUSSAB; MORETTIN, 2010). Os comentários e discussões apresentados a seguir levam em consideração apenas os resultados do estudo descritivo desta amostra, sendo que um estudo considerando a significância estatística será realizado em trabalhos futuros. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A partir dos resumos estatísticos dos dados coletados, nota-se que a maioria dos entrevistados é do sexo masculino (70,8%). Quanto a faixa etária, 39,5% possuem entre 31 a 45 anos e 37,4% possuem 30 anos ou menos. Já em relação à escolaridade, o maior percentual foi observado entre os que possuem ensino superior (42,6%) e 12,3% declararam possuir pós-graduação. Observa-se ainda que 36,9% declararam renda abaixo dos R$ 1.500,00 mensais, enquanto que 63,1% ganham mais de R$ 1.500,00. Na Figura 1 pode observar o grau de conhecimento em informática declarado pelos entrevistados. Figura 1. Avaliação do grau de conhecimento declarado sobre informática 2 42,6% Avançado e Intermediário 50,8% Básico 6,7% Muito Básico Percebe-se que a maior parte acredita que seu conhecimento é básico, com 50,8% dos entrevistados. No entanto, a segunda resposta mais assinalada não ficou muito distante, ou seja, 42,6% dos entrevistados responderam que acreditam ter um conhecimento avançado ou intermediário, enquanto que apenas 6,7% acreditavam ter um conhecimento muito básico sobre informática (Figura 1). Avaliando o grau de conhecimento de acordo com o perfil dos entrevistados (Tabela 1), nota-se um percentual de conhecimento avançado ou intermediário levemente superior entre as mulheres em comparação ao conhecimento declarado pelos entrevistados do sexo masculino (43,9% entre as mulheres e 42,0% entre os homens).

4 Tabela 1. Grau de conhecimento declarado segundo sexo, faixa etária, escolaridade e renda Grau de conhecimento em informática Característica Avançado ou Total Básico Muito básico intermediário Sexo Masculino 42,0% 52,2% 5,8% 100% Feminino 43,9% 47,4% 8,8% 100% 30 anos ou menos 56,2% 37,0% 6,8% 100% Faixa Etária 31 a 45 anos 37,7% 58,4% 3,9% 100% Acima de 45 anos 28,9% 11,1% 100% Até E. Fundamental 68,8% 31,3% 100% Escolaridade Ensino Médio 33,3% 55,6% 11,1% 100% Superior 53,0% 47,0% 100% Pós 62,5% 37,5% 100% Abaixo de ,7% 48,6% 16,7% 100% Renda 1501 a ,6% 59,4% 100% Acima de ,2% 44,1% 1,7% 100% Total 42,6% 50,8% 6,7% 100% Outro ponto interessante observado na Tabela 1 é que entre os entrevistados com até 30 anos, 56,2% acreditam ter o conhecimento avançado ou intermediário, enquanto que entre os entrevistados na faixa de 31 a 45 anos e com mais de 45 anos a maioria respondeu ter o conhecimento básico (58,4% e 60% respectivamente). Percebe-se uma possível associação entre a escolaridade e o nível de conhecimento dos entrevistados, pois entre os que responderam não ter estudado ou ter cursado o ensino fundamental, ninguém respondeu ter o conhecimento avançado ou intermediário, enquanto que entre os pós-graduados, 62,5% dizem possuir tal conhecimento. Com relação a renda familiar mensal, percebe-se que das pessoas que afirmaram ter renda abaixo dos R$1.500,00 apenas 16,7% acreditam ter o conhecimento muito básico em informática e quase a metade (48,6%) acredita que seu conhecimento é básico, restando 34,7% para os que declararam com avançado ou intermediário. Isso não se repete na faixa de renda acima de R$ 3.000,00, onde a grande maioria respondeu acreditar possuir o conhecimento avançado (54,2%), seguido dos que declararam ter o conhecimento básico com 44,1% e apenas 1,7% acreditam ter o conhecimento muito básico. De forma geral, pode-se destacar, de acordo com Tabela 1, que as mulheres com menos de 30 anos, com pósgraduação e com renda acima de R$ 3.000,00, formam o grupo que apresentaram os maiores percentuais de indivíduos que declararam conhecimento avançado ou intermediário. A Figura 2 apresenta um resumo a respeito do conhecimento do entrevistado especificamente em software e hardware. Observa-se que a maioria dos entrevistados

5 declarou ter pouco conhecimento tanto em software quanto em hardware, ou melhor, 53,3% dos entrevistados se declararam com pouco conhecimento em relação aos softwares (letra A da Figura 2) e 46,2% em relação ao hardware (letra B da Figura 2). Por outro lado, 19,0% dos entrevistados disseram conhecer tudo ou quase tudo sobre software enquanto apenas 11,8% deram a mesma resposta sobre hardware. Outro ponto interessante é a porcentagem de entrevistados que disseram não conhecer nada a respeito, ou seja, 27,7% em relação ao software e em relação ao hardware percentual foi um pouco mais expressivo, chegando a 42,1%. 2 Figura 2. Grau de conhecimento declarado quanto ao software (A) e hardware (B) 27,7% Não conhece (A) 53,3% Pouco Conhecimento 19,0% Conhece quase/tudo 2 42,1% Não conhece (B) 46,2% Pouco Conhecimento 11,8% Conhece quase/tudo Em relação ao atendimento de suas expectativas dos entrevistados após a compra de seu computador, observou-se que 56,8% responderam que suas expectativas foram atendidas, no entanto, somente após a ajuda de um especialista (Figura 3). Figura 3. Declaração dos entrevistados quanto ao atendimento de suas expectativas 2 56,8% Sim, mas precisou de ajuda de um especialista 39,0% Sim, sem necessidade de ajuda 4,2% Não atendeu minhas expectativas 4 CONCLUSÕES Analisando a população de visitantes de um estabelecimento comercial de assistência, manutenção e vendas de equipamentos de informática, observaram-se

6 maiores percentuais de visitantes do sexo masculino, com idade inferior a 45 anos, com nível superior de ensino e renda mensal maior que R$ 3.000,00. No que tange o conhecimento geral declarado em informática, mais da metade (50,8%) revelou ter o conhecimento básico e, ao mesmo tempo, pouco conhecimento sobre hardware (53,3%) e software (46,2%), o que indica a necessidade de uma maior divulgação a respeito das características dos computadores pessoais. Em conformidade com a hipótese de pesquisa, o estudo revelou que a maioria dos usuários que adquiriram um computador nos últimos meses declarou que a compra atendeu suas expectativas, no entanto, somente após a ajuda de um especialista para adequá-lo as suas necessidades. Acredita-se que as informações levantadas neste estudo possam contribuir com melhorias no método de abordagem e atendimento dos possíveis compradores de computadores pessoais, indicam possíveis ações para melhor atender as expectativas de um mercado consumidor cada vez maior. 5 REFERÊNCIAS AZEVEDO, M.; MARDEGAN, E. O Consumidor de Baixa Renda: entenda a dinâmica de consumo da nova classe média brasileira. Rio de Janeiro: Elsevier, Disponível em: < PT&source=gbs_navlinks_s>Acesso em: 06 jun BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por amostra de domicílios. Rio de Janeiro, Disponível em: < trabalhoerendimento/pnad2012/default_sintese.sht>. Acesso em: 15 fev BUSSAB, W.; MORETTIN, P. A. Estatística básica. São Paulo: Saraiva, 540 p, CENTRO DE ESTUDOS SOBRE AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO. TIC DOMICÍLIOS e USUÁRIOS - Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil. Disponível em: < Acesso em: 04 jun DIAZ, M. D. M., CANO, E. F. Perfil da demanda por microcomputadores no Brasil: o que os microdados da POF-IBGE indicam? R. Adm., São Paulo, v.47, n.4, p , out/nov/dez., SANTOS, J. P. M. S. A concentração no mercado de computadores pessoais: uma análise sobre a evolução da concentração industrial no mercado brasileiro de computadores pessoais, Disponível em: < Acesso em: 06 jun