O AMOR, O FEMININO E A ESCRITA. Valdelice Nascimento de França Ribeiro Maria Aimée Laupman Ferraz Ana Maria Medeiros da Costa O AMOR EM FREUD

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Transcrição:

O AMOR, O FEMININO E A ESCRITA Valdelice Nascimento de França Ribeiro Maria Aimée Laupman Ferraz Ana Maria Medeiros da Costa O AMOR EM FREUD Recorreremos ao texto freudiano: Sobre o narcisismo: uma introdução (1914) para pensarmos como Freud teoriza sobre o amor. Nele, Freud aborda o amor a partir da escolha de objeto. Postula que o narcisismo situa-se entre o auto-erotismo e o amor objetal. Freud denomina duas escolhas do objeto amoroso: anaclítica e narcisista. A escolha anaclítica tem como referência os cuidados maternos e paternos. O sujeito ama aquele que o cuida e o protege. A escolha narcísica envolve a própria imagem. O sujeito ama a si próprio e busca a si mesmo no objeto amoroso. Freud ressalta que os dois tipos de escolha de objeto estão acessíveis aos sujeitos, embora possa ocorrer uma prevalência de apenas uma. As escolhas do objeto amoroso têm como base a existência do narcisismo primário. O amor objetal anaclítico é característico do masculino, exibindo acentuada valorização sexual que se origina do narcisismo primário, correspondendo a uma transferência desse narcisismo para o objeto sexual. Essa supervalorização sexual é a origem do estado de uma pessoa apaixonada, ocorrendo um empobrecimento do eu em favor do objeto amoroso. Com o feminino a escolha objetal é narcísisca. Elas amam a si mesmas com uma intensidade comparável ao amor dos homens por elas. Suas necessidades não estão na direção de amar e sim, de serem amadas. Freud afirma que nas mulheres narcisistas, cuja atitude com o objeto amoroso permanece distante, o caminho que as leva para a escolha anaclítica é o da maternidade. Assim, amam por completo a partir de seu narcisismo. Dessa forma Freud trata neste texto, do masculino e do feminino de um ponto de vista econômico, ou seja, o masculino investe em maior quantidade libidinal no objeto e o feminino investe maior quantidade libidinal no eu. Em ambas as escolhas, ao renunciar a uma parte do seu narcisismo se lançam a procura do amor. 1

O AMOR E SUAS FACETAS PARA LACAN Lacan ao longo dos seus seminários vai trabalhar as várias faces do amor, retornando aos textos de Freud. No Seminário livro 1, Lacan afirma que Freud não evita em chamar a transferência pelo nome de amor. A este amor de transferência e sobre as escolhas narcísicas e anaclíticas do objeto amado, Lacan irá chamar de amorpaixão. Neste mesmo seminário ele diferencia o amor-paixão do amor como dom ativo que visa o outro no seu ser. O amor como paixão imaginária é uma tentativa de capturar o outro em si mesmo como objeto. O amor como dom ativo visa o outro no seu ser. Amar é amar um ser para além do que ele parece ser. O ser para qual o amor se dirige é uma ficção, pois o que caracteriza o sujeito não é o ser, mas uma falta-a-ser. Assim, ao contrário do amor-paixão, este amor só pode ser concebido numa relação simbólica mediada pela palavra. Para pensarmos na relação entre o amor e o feminino recorremos ao Seminário livro 20, onde Lacan vai reinterpretar a noção freudiana de bissexualidade para reformular a diferença entre a posição feminina e masculina a respeito do sexo. Ele pretende situar o feminino, ao menos em parte, num mais além da função fálica, como correlata a um Outro gozo que não aquele dito sexual. É isto que ele vai fazer em seu conhecido quadro denominado de fórmulas quânticas da sexuação. Difere as colunas do quadro da seguinte forma: na esquerda descreve a estrutura da posição dita masculina na sexualidade e na direita dá conta da posição dita feminina. É importante precisar que esta divisão não corresponde à diferença anatômica entre os sexos, mas a uma posição do sujeito no discurso. A diferença de posição só se institui pela maneira na qual os sujeitos se inserem na função fálica. Lacan vai dizer que quem quer que seja falante se inscreve de um dos dois lados. Do lado masculino, situa-se miticamente ao menos um que não está submetido a norma fálica. Do lado feminino podemos dizer que não existe ao menos um que não esteja inscrito na função fálica. Por isso as mulheres não fazem conjunto, devem ser contadas uma a uma. Há algo em cada mulher que escapa ao registro fálico. Ela é não - toda inscrita na função fálica. 2

Lacan propõe outra via para o impasse feminino, afirmando em seu famoso axioma que A mulher não existe. Isto significa dizer que não existe um significante que identifique e componha a classe das mulheres. Ao mesmo tempo em que por um lado a mulher está ligada ao phi (Φ), por outro lado, está ligada ao S (A ), o significante da falta de significante no Outro. A divisão da posição feminina não exerce apenas sua determinação no plano da identificação, mas também no plano do gozo. Trata-se de uma diferença entre o gozo fálico (lado masculino) e o gozo Outro ou gozo suplementar (lado feminino). Este gozo suplementar é o gozo do corpo, que está fora da linguagem. O gozo suplementar influencia a mulher na forma de amar. Lacan define a forma fetichista de amar como sendo do homem opondo a forma erotomaníaca de amar da mulher. Em 1975, Lacan aborda o tema da erotomania em seu artigo Conférence à Yale University, Kanzer Seminar 1. Ressalta que uma das características dos erotômanos é escrever cartas de amor, partindo do princípio de que a erotomania é o índice do que escapa ao gozo fálico, ou seja, do que remete ao suplemento de gozo. Cabe pensarmos que ela se apresenta como excesso nas mulheres. È por isso que elas são amigas do real, uma vez que a castração para elas é de origem. Com relação ao falo imaginário, elas estão na posição de quem não tem o falo. Assim na lógica falocêntrica, a mulher fica na posição de Outro. Elas sabem que o Outro não existe, que o falo não é todo e que é semblante. Para Lacan o amor se dirige ao semblante e o homem não deixa de ser seu melhor guardião por crer mais nos semblantes. A mulher sustenta os semblantes ao pedir ao homem que fale para ela palavras de amor. Ela pede provas de amor. O homem lhe dá essas provas, o que faz com que a mulher demande mais ainda. 1 LACAN, J. Conférence et entretiens dans les universités norte- américanies- Yale University, Kanzer Seminar,(1975), Sicilicet, nº 6/7, Paris: Edition du Seuil, 1976,p.9-10. 3

O AMOR COMO CARTA E LETRA Que o amor se escreve em cartas e poesias já é sabido pelos poetas, contudo Lacan ressalta que para um texto se tornar uma carta de amor é necessário que sua escrita tenha um endereçamento ao Outro. No Seminário livro 20, Lacan menciona a função da escrita afirmando que ela é um efeito do discurso. Ela parte do princípio de que é impossível escrever como tal a relação sexual. Neste mesmo seminário Lacan traz o amor como o que vem no lugar da não existência da relação sexual. Isto nos remete ao Seminário livro 7, onde Lacan trata do amor cortês. Este amor ocorrido no século XII, foi um amor inventado pelos poetas. Suas características principais eram: um amor impossível cujo objeto amado era inacessível; o amor era sinônimo de sofrimento chegando até a morrer por amor. As relações estabelecidas entre o amante e a amada eram de cortesia, humildade e fidelidade. Amar no amor cortês significa renunciar ao objeto amado. O lugar do amante é cortejar a dama pela escrita poética. No capítulo em que ele propõe as fórmulas da sexuação ele vai conjugar o verbo amar (aimer) como uma proposição da alma (âme). Na tradução foi necessário criar o neologismo almar. O que lançou o sujeito do lado do assexuado, do lado da alma. O desenvolvimento das fórmulas da sexuação diz respeito a uma escrita, onde as letras situam posições dos sujeitos, implicados numa relação ao gozo. Lacan propõe a relação entre amor e alma, numa tentativa de estabelecer essa escrita a partir de um discurso. Ali, ele relembra o discurso do amor cortês, de como veio tentar produzir uma letra/carta de amor no lugar da relação sexual que não se escreve. É uma forma de propor que a letra precisa de inscrição num discurso. A letra se encontra do lado do real, entre: a escrição, a escrita e depois leitura 2. Lacan vai definir a letra como terra do litoral, rasura de todo traço que esteja antes e como ruptura. É a forma como o sujeito inscreve alguma coisa da perda do objeto a, logo a letra precisa de inscrição no discurso. A letra participa de uma perda e de uma condição de gozo e se revela impossível de ser traduzida tal qual. O amor é o que permite recortar uma letra, uma perda do corpo, perda de gozo que irá permitir o laço social. É neste campo que surgem as cartas de amor como cartas/letras. Elas são 2 Lacan, Seminário livro 18: de um discurso que não seja do semblante (1970-71). Inédito. 4

endereçadas ao Outro, são feitas em nome do amor e são efeitos de gozo. Toda carta de amor é demanda e toda demanda é, em última análise, demanda de amor. Por isso o amor demanda sempre mais. No entanto a demanda de amor não é para ser atendida, pois somente nessa condição ela pode constituir um desejo. A carta de amor é uma demanda de um significante do campo do Outro que poderá circunscrever o campo de gozo do sujeito. Desta forma, é no lado feminino do quadro da sexuação, onde a lógica do não todo predomina, onde a função fálica é precária que verificamos uma demanda de amor intensa, pois na verdade é uma demanda por uma identificação do ser. Em Lituraterra 3 Lacan enfoca a carta/letra como efeito-sujeito, situando a letra como ponto limite e pivô da operação significante-gozo, chamando-a de letra-litoral. A carta/letra de amor situase nesse tênue litoral entre o sujeito que fala e o gozo que o habita. O que no lugar do feminino não se escreve, vem como demanda de amor nas cartas. É justamente pelo fato do feminino apontar para um furo no saber que a carta/letra vai ser uma tentativa de produzir uma escrita neste furo. No que diz respeito a produção de um significante que se encontra com a suposição de saber, Lacan vai desdobrar a relação entre a escrita e o saber na transferência amorosa. É nesse sentido que a análise se constrói em transferência, nesta que se endereça a pergunta sobre um saber que ultrapassa o sujeito. É na carta/letra em transferência que se indaga sobre o saber. No próprio Freud temos um exemplo em que a carta/letra está do lado da transferência de amor, com Fliess atribuindo-lhe uma suposição de saber. Fliess, médico judeu berlinense, fazia amplas pesquisas sobre a fisiologia e a bissexualidade. Era o início de uma longa amizade e de uma volumosa correspondência íntima e científica entre 1887 a 1904. Freud comunicava a Fliess seus pensamentos com grande liberdade por cartas como também por breves relatos. As cartas endereçadas ao seu amigo, além de expor casos clínicos mostravam formulações teóricas. Fliess, além de influenciar Freud a partir de suas concepções acerca da diferenciação biológica como algo suficiente para a determinação dos sexos, beneficiou-se da escuta de Freud sendo um 3 LACAN, J.Lituraterra [1971], in Outros Escritos, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.,2003. 5

dos grandes estimuladores à produção de suas teorias. Houve entre eles uma relação de saber e amor. Fliess fazia, por diversas vezes, a escuta do analista para Freud. A correspondência entre os dois além de conter vários trabalhos importantes para o estudo da teoria psicanalítica é bastante interessante uma vez que mostra um endereçamento de uma letra/carta de amor possibilitando entender a relação entre a escrita, o amor e o saber. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA. A. Corpo e Escrita, relações entre memória e transmissão da experiência, Rio de Janeiro, Relume Dumará, 2001. FREUD, S. Publicações Pré Psicanalíticas e Esboços Inéditos, vol. I in: Obras Completas, Rio de Janeiro Imago, 1969.. Totem e Tabu. [1913], vol. XIII, in: Obras Completas, Rio de Janeiro Imago, 1976.. Sobre o narcisismo: uma introdução [1914], vol. XIV, in: Obras Completas, Rio de Janeiro Imago, 1976. LACAN, J. Seminário livro 1: os escritos técnicos de Freud. [1953-54], Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.1986.. Seminário livro 7: a ética da psicanálise, [1959-1960]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1986.. Seminário livro 18: de um discurso que não seja do semblante (1970-71). Inédito..Lituraterra [1971], in Outros Escritos, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.,2003.. Seminário livro 20: mais ainda, [1972-1973]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.. Conférence et entretiens dans les universités norte- américanies-yale University, Kanzer Seminar,(1975), Sicilicet, nº 6/7, Paris: Edition du Seuil,1976. 6