ÁREA DE INTERESSE: Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente INTER-RELAÇÕES ENTRE QUALIDADE DE VIDA E QUALIDADE AMBIENTAL PARA O ESTADO CATARINENSE



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Transcrição:

ÁREA DE INTERESSE: Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente INTER-RELAÇÕES ENTRE QUALIDADE DE VIDA E QUALIDADE AMBIENTAL PARA O ESTADO CATARINENSE Maria Alice Ferreira, Universidade Federal de Viçosa, maria_alice16@hotmail.com Emerson Costa dos Santos, Universidade Federal da Bahia, emersoco@hotmail.com Elaine Aparecida Fernandes, Universidade Federal de Viçosa, eafernandes@ufv.br Resumo: Em um contexto de desenvolvimento econômico baseado na exploração intensiva dos recursos naturais, como é o caso do Brasil, é importante que existam trabalhos empíricos que busquem mensurar a dimensão da sua qualidade ambiental. Este tema é bastante complexo, bem como seus padrões e seus indicadores, pois neles estão contidos fatores subjetivos, que levam em conta a percepção que o indivíduo tem em relação ao seu ambiente e ao seu próprio modo de vida. Além disso, existem os fatores objetivos: econômicos, sociais, culturais e políticos, que se manifestam distintamente no espaço, possibilitando interpretá-lo de várias maneiras. Devido a crescente importância das questões ambientais e na busca de informações sobre o tema para o estado de Santa Catarina, este trabalho teve como objetivo geral avaliar as condições ambientais, enfatizando semelhanças e diferenças, dos municípios catarinenses no ano de 2010. Os resultados mostraram que o Estado de Santa Catarina possui um Índice de Condição Ambiental (ICA) médio de 55,26%. Esse índice pode ser considerado baixo quando se observa que Santa Catarina é um estado com os melhores indicadores sociais. Os municípios que apresentaram os melhores índices em qualidade ambiental foram Forquilhinha (0,80), Três Barras (0,79), Catanduvas (0,78), Blumenau (0,76) e Capinzal (0,76). Tais municípios apresentaram desempenho relevante nos indicadores de qualidade ambiental, tais como, elevado percentual de cobertura vegetal nativa, elevados percentuais de domicílios com água encanada, com coleta de lixo e com rede de esgoto.verificou-se ainda, pela análise de clusters, que grande parte dos municípios catarinenses possui uma qualidade ambiental média, o que afeta diretamente a qualidade de vida das pessoas, principalmente das mais pobres. Neste contexto, torna-se necessário a implementação de medidas e políticas efetivas que contribuam para o melhoramento da qualidade ambiental. Palavras-chave: Meio Ambiente, ICA, Santa Catarina.

INTER-RELAÇÕES ENTRE QUALIDADE DE VIDA E QUALIDADE AMBIENTAL PARA O ESTADO CATARINENSE Maria Alice Ferreira, Universidade Federal de Viçosa, maria_alice16@hotmail.com Emerson Costa dos Santos, Universidade Federal da Bahia, emersoco@hotmail.com Elaine Aparecida Fernandes, Universidade Federal de Viçosa, eafernandes@ufv.br 1 INTRODUÇÃO É consenso que a atividade humana provoca sérios danos ao meio ambiente. A geração de energia, agricultura e processos industriais são responsáveis por grande parte desses problemas. Quanto mais uma economia cresce, mais gera resíduos, que sempre retornam à natureza (SACHS, 2007, p. 200). Essa constatação motivou a presente pesquisa, pois, é importante conhecer e entender a capacidade de absorção do ambiente natural e o quanto cada indivíduo, cada empresa, cada país é responsável por danos ao ecossistema. A partir desse conhecimento, os agentes governamentais podem adotar medidas preventivas e paliativas de proteção ambiental. O modelo de desenvolvimento econômico adotado pelo Brasil, desde a colonização, foi baseado na exploração intensiva dos recursos naturais. Essa exploração ocorre a uma taxa superior à capacidade de regeneração natural, além de ocasionar um gerenciamento inadequado das matérias-primas e dos rejeitos deixados pelas indústrias. A concentração da população e das atividades econômicas sobre o mesmo espaço tem causado pressões adicionais sobre o meio ambiente e consequente alteração negativa da qualidade ambiental do país. As monoculturas extensivas, por exemplo, têm se revelado um importante fator de degradação ambiental, pois além da erosão dos solos, contribuem para o assoreamento dos cursos d água e deterioram a qualidade das águas dos córregos e rios (ROSS, 2001, p. 20). Além disso, as atividades de mineração têm contribuído para a deterioração de ecossistemas locais, destruição da beleza cênica da paisagem e poluição dos cursos d água. Os problemas de poluição e degradação levaram os indivíduos a reconhecerem que a qualidade ambiental do meio em que vivem é importante para o seu desenvolvimento socioeconômico e tecnológico. Vários países têm definido a qualidade socioambiental como um tema prioritário nos seus planos de desenvolvimento econômico e social (ELY, 1998, p.

2 38). Assim, o termo meio ambiente tornou-se assunto importante e recorrente, a partir da década de 1970, não apenas em países ricos e industrializados, mas também nos países pobres e em desenvolvimento. Neste contexto, o desenvolvimento de trabalhos empíricos que busquem mensurar a dimensão da qualidade ambiental através da elaboração de indicadores representa mais que um desafio, deve assumir caráter de urgência. Assim, o presente trabalho teve como objetivo geral avaliar as condições ambientais dos municípios catarinenses no ano de 2010. Especificamente, pretendeu-se: a) construir Índices de Condições Ambientais para os municípios catarinenses (ICA); e b) agrupar os municípios de acordo com suas características comuns. Existem algumas tentativas na literatura especializada de construção de Índices, com diferentes graus e formas de agregação, que incorporam questões ambientais. Entretanto, de acordo com Hales e Prescott-Allen (2005, p. 40), os únicos Índices de Sustentabilidade que adquiriram grande visibilidade em nível internacional são aqueles divulgados pelo World Wide Fund for Nature (WWF) e World Economic Forum (WEF), calculados por duas das mais importantes instituições acadêmicas da área, o Yale Center for Environmental Law and Policy e o Center for International Earth Science Information Network, da Universidade de Columbia 1. Existem algumas tentativas nacionais de construção desse tipo de índice e indicador que também consideram o efeito da atividade humana sobre o meio ambiente. Um exemplo é o lançamento pelo IBGE, em 2002, dos primeiros indicadores brasileiros de desenvolvimento sustentável. Outra iniciativa importante foi a do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp que, em 2004, divulgou o índice DNA-Brasil buscando evidenciar o tema sustentabilidade em indicadores de desenvolvimento. Essas são iniciativas importantes que possibilitaram melhor acompanhamento de variáveis ambientais. Entretanto, não existe ainda um único indicador que seja suficientemente descritivo quanto à sustentabilidade do desenvolvimento. As publicações compreendem sempre diversos indicadores para os diferentes aspectos observados. Entretanto, vêm surgindo novas iniciativas de se tentar medir o quanto o homem degrada o meio ambiente ao longo do tempo. Mesmo diante dessas tentativas, ainda não se tem uma medida mais sintética e adequada que permita avaliar o nível de degradação dos países. É nesse sentido que o presente estudo 1 Para maiores detalhes ver Prescott-Allen (2001).

3 procura identificar os problemas relevantes relacionados ao meio ambiente e as possíveis alternativas que possibilitam seu desenvolvimento de modo sustentável e mais equitativo. Este artigo está organizado em mais seis seções, além desta introdução. Na próxima, contextualiza-se a qualidade ambiental e seu efeito na qualidade de vida. A terceira apresenta alguns indicadores e índices de sustentabilidade. Na quarta, tem-se um resumo do método de análise. Na quinta, a discussão dos resultados. Por fim, na última seção, algumas considerações finais são feitas. 2 QUALIDADE AMBIENTAL E SEU EFEITO NA QUALIDADE DE VIDA DOS SERES HUMANOS Segundo Sen (2008, p. 120), as estratégias de desenvolvimento dos países devem contemplar ações no sentido de criar um clima econômico, social, político e cultural favorável para os seus indivíduos. Isso porque o desempenho de cada pessoa depende das oportunidades econômicas; das liberdades políticas; questões sociais e educacionais; e dos estímulos as suas iniciativas. Sendo assim, a qualidade de vida do indivíduo está intimamente relacionada com as oportunidades efetivas dadas pelas realizações coletivas, tanto passadas quanto presentes. Sachs (2007, p. 110) complementa Sen e diz que o desenvolvimento sustentável deve enfatizar, além da problemática econômica e social, questões ambientais. Isso significa, por exemplo, que a elevação da qualidade de vida e a eqüidade social devem ser objetivos centrais (propósito final) do modelo de desenvolvimento. Da mesma forma, a eficiência e o crescimento econômico são essenciais, pois torna-se improvável aumentar a qualidade de vida com equidade sem que a economia tenha condições de crescer economicamente. A preservação ambiental ou prudência ecológica é outro fator extremamente importante. Na ausência de condições ambientais adequadas, não é possível assegurar a qualidade de vida e a equidade social às gerações futuras. Gallopin (1982, p. 50) completa enfatizando que as condições ambientais se relacionam intimamente à qualidade de vida, pois esta é vista como resultante da saúde da pessoa e do seu sentimento de satisfação. Com o objetivo de relacionar variáveis representantes da qualidade de vida e da qualidade ambiental citadas anteriormente, Bojö et al. (2001, p. 20) constrói a representação esquemática ilustrada na Figura I. Essa figura mostra os efeitos da qualidade ambiental

4 (terceira linha de cima para baixo) sobre a qualidade de vida (retângulos) e, os efeitos de ambas sobre o bem-estar. Figura I. Representação esquemática das dimensões da qualidade ambiental e de vida. Fonte: Bojö et al. (2001). O homem faz parte do meio ambiente com tudo o que produz artificialmente, afeta e é afetado por ele. A qualidade de vida e a qualidade ambiental estão diretamente ligadas, pois a poluição do ar, das águas e do solo, além da extinção de ecossistemas afeta diretamente o bem-estar dos indivíduos. Pode-se então, chamar de qualidade ambiental o estado em que se encontram as várias dimensões do meio ambiente. Se o ambiente, que abrange a humanidade com suas práticas e costumes, é danificado de alguma forma, tem-se a redução no nível de qualidade de vida. A qualidade de vida afeta a qualidade ambiental porque é um componente dela (SACHS, 2007, p. 300). A qualidade de vida resulta da exposição do indivíduo a circunstâncias adversas, guardando relação direta com fatores tais como o meio ambiente saudável e produtivo, existência de espaços estéticos e recreativos e a participação dos indivíduos na tomada de decisões. Esse conceito está relacionado ainda com oportunidades de satisfação dos desejos e aspirações humanas. A qualidade de vida extrapola o suprimento das necessidades básicas do indivíduo (alimentação, saúde, moradia, vestuário, educação, emprego e participação) em função dos valores culturais (LEFF, 2004, p. 240). Desse modo, é possível compreender que se a qualidade ambiental é um componente da qualidade de vida e esta, por sua vez, é provavelmente a mais importante componente do desenvolvimento, pode-se concluir que o desenvolvimento depende de uma boa gestão do meio ambiente (SACHS, 2007, p. 350). Nesse sentido, o impacto causado ao meio ambiente pelos seres humanos e do meio ambiente

5 sobre a qualidade de vida destes está cada vez mais complexo, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos (LEITE, 2000, p. 70). E a qualidade de vida depende da qualidade ambiental, desde que se queira alcançar o desenvolvimento equilibrado e sustentável 2. Essa ideia da qualidade de vida tem como meta romper os parâmetros homogêneos do bem-estar e criar oportunidades para a formação de novos índices que sejam capazes de articular os custos do crescimento com os valores culturais e o potencial da natureza, além de complementar as medidas objetivas com as percepções subjetivas. É assim que a qualidade de vida abre perspectivas para que se possa refletir acerca da equidade social, juntamente às esferas da diversidade ecológica e cultural (LEFF, 2004, p. 300). De forma sintética, o significado de qualidade de vida conduz aos valores que regulam o comportamento social. Esses valores estão associados não somente ao nível de renda ou à distribuição da riqueza, mas também a critérios de saúde reprodutiva, qualidade da maternidade e da paternidade e, finalmente, aos mecanismos de autogestão ambiental. Portanto, a deterioração da qualidade ambiental geralmente dá origem ao estado patológico de reincidência das doenças da pobreza 3 (como o cólera e a dengue), as quais proveem da contaminação do ar, dos solos, dos recursos hídricos e do uso de recursos tóxicos como pesticidas. Diante do agravamento dos problemas ambientais, a ação política deve privilegiar métodos que dinamizem o acesso à consciência ambiental da população, por intermédio da educação. Além disso, a compreensão dos problemas ambientais deve ser baseada na dimensão socioambiental, considerando especialmente os critérios culturais, os quais, por sua vez, exigirão determinações específicas na formulação de políticas públicas. O grande desafio é perseguir as metas de qualidade de vida e qualidade ambiental de modo que estas possam se reforçar mutuamente 4. 2 Com todos esses acontecimentos, a CMMAD trabalhou entre 1984 e 1987 na criação de uma agenda que possibilitasse uma mudança global; o resultado foi a publicação do relatório Our common future (Relatório Brundtland), no qual se examinavam os problemas críticos entre desenvolvimento e meio ambiente. Neste, é conceituado o termo desenvolvimento sustentável, o qual deveria responder às necessidades do presente de forma equitativa, sem comprometer as possibilidades de sobrevivência e prosperidade das gerações futuras (BRUNDTLAND, 1987, p. 200). 3 Estudos como os de Ekbom e Bojo (1999), Barbier (2000) e Parikh (2002) mostram a ligação entre pobreza e meio ambiente. 4 Existem na literatura nacional e internacional alguns trabalhos que tratam da construção de Índices que incorporam as condições ambientais. Para maiores detalhes consultar Veiga (2008).

6 3 INDICADORES E ÍNDICES DE SUSTENTABILIDADE A partir da Conferência de Estocolmo, em 1972, foi estimulada a elaboração de trabalhos que visassem à construção de índices que abrangessem o campo ambiental, já que até então apenas indicadores socioeconômicos compunham os índices vigentes (IISD, 1993). Visto que os agentes de políticas públicas utilizam-se de indicadores e índices para a tomada de decisão, espera-se que os índices representem, de forma sintética, parcimoniosa e com um significativo grau de abrangência, a realidade do ambiente a que o mesmo se comprometeu a resumir. Em 1990, ao mesmo tempo em que a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgava o primeiro relatório internacional sobre Desenvolvimento Humano, foram estabelecidas referências conceituais e metodológicas para a elaboração dos indicadores ambientais (MUELLER, 1991, p. 30). Segundo dados do Compendium of Sustainable Development Indicator Initiatives divulgado pelo Instituto Internacional de Desenvolvimento Sustentável (IISD sigla em inglês), existiam no ano de 2006, cerca de 559 iniciativas de indicadores no mundo que mensuravam a sustentabilidade (IISD, 2009). Mas quando a abordagem visa mensurar de forma sintética a sustentabilidade ambiental ou sustentabilidade do desenvolvimento, Hales e Prescott-Allen (2005, p. 50) afirmam que existem apenas seis índices reconhecidos internacionalmente. Para esses autores, alguns índices não ganharam prestigio internacional justamente pelo fato de não terem sido assumidos por importantes organizações internacionais em assuntos ambientais. Sendo assim, na prática, os únicos índices de sustentabilidade que adquiriram grande visibilidade internacional são os divulgados pelo World Wide Fund for Nature (WWF) e pelo World Economic Forum (WEF). Um índice que se tornou reconhecido internacionalmente foi o da Pegada Ecológica (Ecological Footprint), divulgado pela WWF. Esse índice mede a pressão que a humanidade está exercendo sobre a biosfera, representada pela área biologicamente produtiva que seria necessária para a provisão dos recursos naturais utilizados e para a assimilação dos rejeitos (WACKERNAGEL, 2005, p. 15). Uma vez obtida essa pegada, ela pode ser comparada à capacidade biológica (tanto média do planeta ou de uma determinada localidade), apresentada em hectares globais. O mais recente resultado dessa comparação é que, em 2006, a pressão exercida pela humanidade

7 foi 41% superior à capacidade da biosfera de atendê-la com serviços ecossistêmicos e absorção de seu lixo (ECOLOGICAL FOOTPRINT ATLAS, 2009, p. 60). O Índice de Desempenho Ambiental (Environmental Performance Index) divulgado pela WEF é também um índice que ganhou projeção internacional. Este é fruto de criticas à bidimensão ambiental dos Objetivos do Milênio das Nações Unidas. Ele está centrado em dois objetivos amplos de proteção: (1) reduzir os estresses ambientais na saúde humana, e (2) promover vitalidade ecossistêmica e consistente gestão dos recursos naturais. Este índice é composto de dezesseis variáveis relacionadas a seis tipos de políticas: Saúde Ambiental, Qualidade do Ar, Recursos Hídricos, Recursos Naturais Produtivos, Biodiversidade e Habitat, e Energia (WEF, 2005). Outro índice importante é o de Sustentabilidade Ambiental (Environmental Sustainability Index - ESI). Foi elaborado pelos centros de pesquisa das Universidades de Yale e de Columbia nos Estados Unidos e é calculado para a quase totalidade dos países do mundo. Abrange as dimensões institucionais e de preservação dos recursos naturais. Deve-se observar que esse índice é um dos mais conhecidos da atualidade, entretanto, ainda existe relativa nebulosidade e falta de consenso no que se refere à noção de desenvolvimento sustentável (MARTINS, 2006, p. 141). Especificamente para o caso brasileiro, alguns índices vêm sendo desenvolvidos como forma de mensurar o nível de qualidade ambiental e de vida da população. Para isso, uma parceria entre a Fundação João Pinheiro (FJP), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) calculam, para o Brasil, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), que se trata de uma adaptação do IDH calculado pela ONU. Algumas alterações foram feitas para se adequar a metodologia utilizada pela ONU à realidade local, principalmente nos indicadores renda e educação. Para a dimensão educacional, o IDH-M utiliza o número médio de anos de estudo, enquanto o IDH trabalha com o nível de matrícula dos três níveis de ensino. Para a dimensão renda, o IDH-M utiliza renda familiar per capita média como variável, enquanto no IDH se utiliza do PIB per capita médio em dólares corrigido por um índice de paridade do poder de compra (PNUD, 2009). Visando abordar informações sobre a realidade brasileira na dimensão social, ambiental, econômica e institucional, o IBGE vem trabalhando nos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do Brasil desde o ano de 2002. Os indicadores selecionados fornecem, em sua dimensão ambiental, informações relacionadas ao uso dos recursos naturais e à degradação ambiental, organizadas nos temas atmosfera, terra, água doce, mares e áreas costeiras,

8 biodiversidade e saneamento. Em sua dimensão social, os indicadores abrangem os temas população, trabalho e rendimento, saúde, educação, habitação e segurança, vinculados à satisfação das necessidades humanas, melhoria da qualidade de vida e justiça social. A dimensão econômica dos indicadores busca retratar o desempenho macroeconômico e financeiro e os impactos no consumo de recursos materiais e uso de energia mediante a abordagem dos temas quadro econômico e padrões de produção e consumo. Por sua vez, a dimensão institucional, desdobrada nos temas quadro institucional e capacidade institucional, oferece informações sobre a orientação política, a capacidade e os esforços realizados com vistas às mudanças necessárias para a implementação do desenvolvimento sustentável (IBGE, 2008). No ano de 2004, o Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp) da Unicamp divulgou um índice chamado de Índice DNA-Brasil buscando evidenciar o tema sustentabilidade em indicadores de desenvolvimento. O mesmo abrange sete importantes aspectos dentre os quais: condições sócio-ambientais, bem-estar econômico, competitividade econômica, educação, saúde, proteção social básica e coesão social, distribuídos em 24 indicadores (NETO, 2006, p. 80). Apesar das diversas tentativas de criação de índices que contemplem o meio ambiente, sabe-se que é difícil encontrar uma forma adequada de mensuração seja do desenvolvimento sustentável, seja da sustentabilidade ambiental. Isso ocorre devido a incipiência dos dados primários sobre meio ambiente ou inconsistência conceitual sobre o que pode ser sustentabilidade ambiental. Mesmo diante desses problemas, visto a importância das questões ambientais 5, é relevante analisar e avançar um pouco mais nas explicações das condições econômicas e socioambientais dos municípios e interfaces com o desenvolvimento. A realização deste estudo é uma forma de atender a essas necessidades, pois tradicionalmente, os responsáveis por decisões contam com estatísticas econômicas e informações quantitativas sobre as dimensões sociais. 5 Martins (2006) constatou a importância de se mensurar um novo índice de desenvolvimento devido ao contraste no ranking obtido por vários países no IDH e no ESI (MARTINS, 2006, p. 152).

9 4 METODOLOGIA 4.1 Área de Estudo Como já fora destacado, a área de estudo abrangida neste trabalho é o estado de Santa Catarina. Sendo que este estudo dará ênfase nas semelhanças e diferenças existentes nos municípios catarinenses. O estado de Santa Catarina encontra-se localizado na região Sul do Brasil, possui 295 municípios e ocupa uma área de 95.736,165 km², tendo um total de dois estados limítrofes. De acordo com dados de 2010, Santa Catarina é o 10º estado brasileiro mais populoso, com uma população de 6.248.436 habitantes e uma densidade demografica média de 65,29 hab/km². Santa Catarina é atualmente o sexto estado mais rico do Brasil, com uma economia diversificada e industrializada. Importante polo exportador e consumidor, o estado é um dos responsáveis pela expansão econômica nacional, respondendo por 4% do produto interno bruto do país (IBGE, 2010). 4.2 Fonte de Dados Foram utilizados nesta pesquisa dados referentes aos 295 municípios catarinenses, principalmente, no ano de 2010. Do Censo Demográfico, com data-base 2010, foram extraídas as seguintes variáveis: pessoas que vivem em domicílios com serviço de coleta de lixo (X1); pessoas que vivem em domicílios com água encanada (X2); pessoas que vivem em domicílios com rede geral de esgoto ou pluvial (X3); pessoas que vivem em domicílios com iluminação elétrica (X4); percentual de pessoas que vivem em domicílios sem automóvel (X5) (para esta última foi feita a transformação da variável percentual de pessoas que vivem em domicílios com automóvel através da subtração da mesma em 100). A variável participação do setor industrial no PIB municipal (X6), referente ao ano de 2008, foi obtida junto ao IBGE. Por fim, foram coletadas no Censo Agropecuário do IBGE (2006), informações referentes a áreas de matas e florestas que cobriam os municípios. Este valor foi dividido pela área municipal para que se chegasse ao percentual da área dos municípios cobertos por vegetação nativa (X7).

10 4.3 Construindo o Índice de Condições Ambientais dos Municípios Catarinenses O Índice de Condições Ambientais (ICA) é utilizado como medida da proporção da qualidade ambiental da área de determinado município. Sua construção foi feita em duas etapas. Na primeira, foi desenvolvido o Índice Parcial das Condições Ambientais (IPCA) e na segunda, com base no IPCA, foram estimados os pesos atribuídos a cada uma das variáveis que entraram na composição do ICA. O IPCA pode ser estimado por meio da expressão (1): 1 2 n 2 IPCAi F com j 1,2, p ij i 1 (1) em que IPCA i é o Índice Parcial de Condições Ambientais associado ao i-ésimo município do Brasil e F ij são os indicadores utilizados na análise. Os indicadores utilizados foram: (X2) pessoas que vivem em domicílios com coleta de lixo; (X3) pessoas que vivem em domicílios com água encanada; (X4) pessoas que vivem em domicílios que possuem rede geral de esgoto ou pluvial; (X5) percentual de pessoas que vivem em domicílios sem automóvel; e (X6) participação da indústria no PIB município. Essas variáveis representam a infraestrutura do estado e são utilizadas na presente análise como uma proxy de qualidade ambiental. A última variável analisada, (X7) cobertura vegetal, representa diretamente a qualidade ambiental e foi definida como o valor das áreas de matas e florestas dos municípios dividido pelo valor da área total municipal. O Índice Parcial fornece apenas um ranking dos municípios no que se refere à condição ambiental, não servindo, portanto, para estimar o percentual de qualidade ambiental de cada um dos municípios. Para isso, é construído o ICA. Esse índice é construído a partir da incorporação de pesos a cada uma das variáveis utilizadas na composição do Índice Parcial obtido anteriormente (expressão 1). Esses pesos foram obtidos através da análise de regressão pelo método dos mínimos quadrados ordinários (MQO) em que a variável IPCA é variável dependente e os indicadores (X1), (X2), (X3), (X4), (X5), (X6) e (X7) são as variáveis explicativas. As expressões (2) e (3) abaixo mostram como são calculados os pesos e como é feito o ICA.

11 IPCA X X 2 X3 X 4 X5 X 6 7 (2) 1 1 2 3 4 5 6 7 X ICA i n i 1 P j X i (3) em que os pesos P j são os parâmetros estimados pela expressão (3) com somatório igual a 1; e X i são as variáveis utilizadas para a construção do IPCA. 4.4 Análise de Cluster Com o objetivo de classificar os diversos municípios quanto às condições ambientais, foi empregada a técnica de análise de agrupamentos ou de clusters. De acordo com Fernau e Samson (1990, p. 738), a análise de agrupamento compõe-se de um conjunto de técnicas estatísticas pelas quais se busca reunir os vários indivíduos em grupos, tipos ou classes, adotando como informações para a classificação, as medidas de um conjunto de variáveis, características ou atributos de cada indivíduo. Os elementos de um mesmo grupo devem ser o mais semelhante possível entre si, enquanto a diferença entre os grupos, a maior possível. A distância entre pontos é usualmente determinada pela distância euclidiana ou pelo coeficiente de correlação, podendo variar de (variáveis idênticas) a (variáveis sem relação) (GONG e RICHMAN, 1995, p. 900). A análise de agrupamento envolve algumas decisões subjetivas, tais como qual a técnica que se constitui a mais conveniente, conforme as circunstâncias; quais as distâncias a serem consideradas; qual o número ótimo de agrupamentos, entre outros. (FERNAU e SAMSON, 1990, p. 750; POLLAK e CORBETT, 1993, p. 1133). Entretanto, como o número de observações neste trabalho é bastante elevado, optou-se pelo método de classificação não hierárquico, utilizando o procedimento das k médias para o agrupamento dos clusters (SOARES et al., 1999, p. 81). Optou-se por classificar os municípios brasileiros em cinco clusters, em que para cada um. (j) é definido como o cluster do agrupamento j e é a coordenada i do cluster j. Assim, a média das coordenadas dos elementos do cluster (j) é denominada de δ(j) e a soma dos quadrados dos resíduos dentro do j-ésimo grupo é dada pela expressão (4).

12 (4) em que d² representa o quadrado da distância euclidiana do elemento i do cluster médio j. Observa-se que quanto menor for esse valor, mais homogêneos serão os elementos dentro de cada cluster e melhor será o agrupamento. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Índice de Condição Ambiental do Estado de Santa Catarina Os resultados encontrados revelam que o estado de Santa Catarina possui um Índice de Condição Ambiental (ICA) médio de 55,26%, o que indica que a qualidade ambiental está em 44,74 pontos percentuais abaixo do máximo (100%). Aproximadamente, 52% dos municípios do estado apresentaram ICA abaixo da média. A Tabela 1 apresenta as estatísticas descritivas do ICA para o estado de Santa Catarina. O que pode estar contribuindo para o resultado do estado ter esse índice médio pode ser o fato de Santa Catarina apesar de ter condições sanitárias consideradas satisfatórias, grande parte das florestas, que ocupavam 65% do território catarinense, foram bastante reduzidas por efeito de devastação. Tabela 1: Estatísticas descritivas do índice de condição ambiental Estados ÍNDICE Mínimo 25,92 Máximo 80,53 Média 55,26 Desvio 10,50 Fonte: Resultados da pesquisa. O menor ICA, de 25,92%, é do município de Bombinhas. Os indicadores de qualidade ambiental para esse município apresentaram baixos percentuais para a cobertura vegetal nativa (5,32%), para os domicílios com água encanada (24,65%), com coleta de lixo (32,52%) e com rede de esgoto (1,39%), o que resultou em um valor mais baixo para o ICA. Este

13 município apresentou ocorrências impactantes observadas com frequência no meio ambiente nos últimos anos, como queimadas e desmatamento (IBGE, 2010). Para os municípios com os piores ICA, verificou-se que estes apresentaram baixo percentual de coleta do lixo e cobertura vegetal nativa. Como tais variáveis, em conjunto, são capazes de explicar aproximadamente 54% do ICA, justifica-se assim, esse resultado negativo. Já os melhores municípios em qualidade ambiental foram Forquilhinha (0,80), Três Barras (0,79), Catanduvas (0,78), Blumenau (0,76) e Capinzal (0,76). Tais municípios apresentaram desempenho relevante nos indicadores de qualidade ambiental, tais como, elevado percentual de cobertura vegetal nativa, elevados percentuais de domicílios com água encanada, com coleta de lixo e com rede de esgoto. Importante também mencionar que estes ainda apresentaram elevado percentual de domicílios sem automóvel. Forquilhinha está localizado na mesorregião do Sul Catarinense e na microrregião de Criciúma. A preservação ambiental é prioridade em Forquilhinha, que foi a primeira cidade a instalar um parque ecológico, graças a um convênio assinado com o Japão. O acordo permitiu a construção de uma estação para monitoramento das águas do Rio Mãe Luiza, que corta a região carbonífera. A Economia de Forquilhinha é baseada na extração de carvão, indústria metal-mecânica, agroindústria, agricultura e comércio. Forquilhinha é o maior produtor de arroz da Região Sul do Brasil, com destaque também para a criação de peixes em granjas de arroz. Os indicadores de qualidade ambiental para esse município apresentaram altos percentuais para a cobertura vegetal nativa (56,17%), percentuais elevados para domicílios com água encanada (75,85%), com coleta de lixo (88,17%), com rede de esgoto (28,38%) e domicílios sem carro (58,77%). Isso demonstra que este município é dotado de excelente infraestrutura urbana, com elevados percentuais de ruas pavimentadas, abastecimento de água e tratamento de esgoto (PREFEITURA DE FORQUILHINHA, 2013). Três Barras é um município situado na mesorregiao Norte Catarinense, na microrregião de Canoinhas. No município está localizada a Floresta Nacional de Três Barras, que oferece trilhas ecológicas onde é possível observar espécimes raros da fauna brasileira. Existe no local uma unidade do IBAMA. Os indicadores de qualidade ambiental para esse município apresentaram elevados percentuais para a cobertura vegetal nativa (62,51%), domicílios com água encanada (74,79%), com coleta de lixo (83,09%) e domicílios sem carro (70,29%). O município de Catanduvas está localizado na mesorregião Oeste Catarinense e na Microrregião de Joaçaba. O município é grande produtor de erva-mate e a cidade é considerada a capital catarinense do chimarrão. Catanduvas é cercada por uma natureza

14 exuberante que inclui cachoeiras e áreas de mata. Um dos pontos mais procurados é a cachoeira da Linha Passo Grande, localizada em meio à mata (PREFEITURA DE CATANDUVAS, 2013). Os indicadores de qualidade ambiental para esse município apresentaram razoáveis percentuais para a cobertura vegetal nativa (22,31%) e elevados percentuais para domicílios com água encanada (76,65%), com coleta de lixo (81,85%), com rede de esgoto (51,33%) e domicílios sem carro (60,51%). Blumenau é um município da microrregião homônima, na mesorregião do Vale do Itajaí. É a terceira cidade mais populosa do estado e a única cidade média-grande de Santa Catarina, constituindo um de seus principais polos industriais, tecnológicos e universitários. O município conta com um dos maiores índices de desenvolvimento humano do Brasil e uma cobertura vegetal crescente, sediando o Parque das Nascentes, maior parque natural municipal do país, e o Parque Nacional da Serra do Itajaí. Blumenau possui um relevo muito acidentado, caracterizado por serras na região sul, vales na região norte e ribeirões, como o Ribeirão Garcia e o Ribeirão da Velha (PMB, 2013). Os indicadores de qualidade ambiental para esse município apresentaram elevados percentuais para a cobertura vegetal nativa (75,63%), domicílios com água encanada (85,31%), com coleta de lixo (91,44%), com rede de esgoto (25,08%) e domicílios sem carro (62,51%). Cabe destacar ainda que segundo o PNUD (2010), Blumenau apresenta um IDH geral de 0,855, considerado alto, e está na posição 5ª no ranking de desenvolvimento humano de Santa Catarina e 19ª no cenário brasileiro. Capinzal localiza-se na mesorregião do Oeste Catarinense, mais precisamente na microrregião de Joaçaba. A cidade fica à margem esquerda do rio do Peixe. A vegetação de Capinzal apresenta-se sob a forma de florestas mistas de coníferas (araucárias) e latifoliadas. Há uma diferença substancial entre a vegetação na área mais montanhosa do município às margens do rio do Peixe e a vegetação nativa dos campos, cujas áreas são entremeadas por capões. Originalmente havia também campos e áreas de florestas com pinheirais. Enquanto os campos nativos foram utilizados para a criação de bovinos, as áreas planas de matas com pinheirais (araucárias) foram desmatadas para o plantio de trigo, soja e milho, principais culturas agrícolas. Apesar desse desmatamento, ainda há muitas áreas de matas nativas e reflorestamentos. Os principais acidentes geográficos do município são o rio do Peixe, não navegável devido à grande pedregosidade de suas águas, o Lajeado Pato Roxo e o Morro do Agudo (PREFEITURA DE CAPINZAL, 2013). Os indicadores de qualidade ambiental para esse município apresentaram elevados

15 percentuais para a cobertura vegetal nativa (50,48%), domicílios com água encanada (77,18%), com coleta de lixo (82,53%) e domicílios sem carro (54,54%). Quanto à distribuição do ICA, conforme pode ser observado no histograma ilustrado na Figura II, observa-se que ocorrem maiores concentrações nos valores entre 0,41 e 0,56, respondendo por aproximadamente 49% do total. Constata-se que 40% dos municípios possuem ICA entre 0,57 e 0,72 e 8% possuem valores entre 0,25 e 0,40. Verifica-se também que apenas 3% dos municípios possuem valores para o ICA entre 0,73 e 0,81. Aproximadamente, 52% dos municípios de Santa Catarina estão abaixo do nível médio de qualidade ambiental. Esse resultado evidencia uma má qualidade ambiental dos municípios catarinenses. Figura II. Histograma de frequência do Índice de Condição Ambiental dos Municípios. Fonte: Resultados da pesquisa. Constatou-se, portanto, que o tema qualidade ambiental é bastante complexo, bem como seus padrões e seus indicadores, pois neles estão contidos fatores subjetivos, que levam em conta a percepção que o indivíduo tem em relação ao seu ambiente e ao seu próprio modo de vida. Além disso, existem os fatores objetivos: econômicos, sociais, culturais e políticos, que se manifestam distintamente no espaço, possibilitando interpretá-lo de várias maneiras. Portanto, conforme Machado (1997, p. 16), os padrões de qualidade ambiental variam entre a cidade e o campo, entre cidades de diferentes países ou do mesmo país, assim como entre áreas de uma mesma cidade. Isso ocorre, porque a qualidade do meio ambiente depende de processos nacionais, em nível urbano e rural e de políticas adotadas em todas as esferas: federal, estadual, municipal, pública ou privada.

16 5.2 Clusters ambientais para o Estado de Santa Catarina O número de clusters foi definido de forma a agrupar os municípios que apresentassem alto grau de homogeneidade intragrupo e de heterogeneidade intergrupo, classificados conforme o quadro abaixo: Quadro 1 Classificação do Cluster Cluster 1 2 3 4 Intervalo Fonte: Elaboração Própria. Com base em uma visão sistêmica, procedeu-se à análise de clusters, verificando a similaridade das características de condição ambiental dos municípios catarinenses, conforme Tabela 2. Tabela 2: Clusters ambientais de Santa Catarina: macrorregiões, microrregiões e municípios. Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3 Cluster 4 Mesorregião Micro Municípios Grande Florianópolis 03-06 07 08 Norte Catarinense 03 03 12 06 04 Oeste Catarinense 05 04 47 66 - Serrana 02-09 17 04 Sul Catarinense 03 02 17 20 04 Vale do Itajaí 04 01 23 26 03 Total 20 10 114 142 23 Fonte: Resultados da Pesquisa. Pode-se observar, por meio da Tabela 2, que o cluster 1 envolve 10 municípios, 15 microrregiões e 04 mesorregiões. A principal característica desse agrupamento é a elevada média do ICA (a mais alta de todos os agrupamentos), que ficou em torno de 0,77. O segundo

17 cluster envolveu 114 municípios, todas as microrregiões e também todas as mesorregiões. Em relação ao ICA, apresentou valores menores que 0,72, mas razoavelmente altos, em termos de qualidade ambiental, o que sugere uma boa conservação por parte dos seus municípios. O cluster 3 possui o maior número de municípios totalizando 142 e envolve todas as microrregiões e mesorregiões. É interessante notar que os valores para o ICA (em torno de 0,49) ficaram abaixo, mas próximos da média, o que ainda sugere uma boa conservação do meio ambiente no agrupamento. Com 23 municípios, 15 microrregiões e 05 mesorregiões, o cluster 4 apresentou valores muito baixos para o ICA, o que demonstra que há degradação ambiental neste agrupamento. Este cluster se destacou entre os piores resultados. O ICA médio desse grupo ficou em torno de 32%, índice relativamente pequeno quando comparado com os demais clusters. Assim, constata-se que a maioria dos municípios de Santa Catarina (88%) agrupa-se nos clusters 2 e 3, indicando que o nível de condição ambiental encontra-se entre 0,72 e 0,41. Apenas 3% dos municípios catarinenses pertencem ao cluster 1, ou seja, possuem condição ambiental entre 0,73 e 0,81. Em adição, observa-se que 8% dos municípios estão no cluster 4, com níveis de condição ambiental que variam de 0,25 a 0,40. Com base nos resultados supracitados, pode-se constatar que há preocupação com o meio ambiente em grande parte dos municípios catarinenses. Na Figura III, podem-se visualizar melhor os resultados encontrados. Figura III. Mapa do ICA dos Municípios de Santa Catarina. Fonte: Resultados da pesquisa.

18 O mapa do ICA dos Municípios de Santa Catarina confirma o que já fora exposto anteriormente. A maior parte dos municípios catarinenses apresentou ICA próximos à média, o que sugere, portanto, um nível de preservação médio do meio ambiente por parte desses municípios. A questão da qualidade ambiental se agrava à medida que as cidades se expandem e se apropriam em demasia dos recursos naturais, alterando o meio natural através da retirada da cobertura vegetal para a construção de estradas, casas e equipamentos públicos sem planejar os espaços que estão sendo alterados. As construções não obedecem à drenagem natural das águas relacionadas às declividades dos terrenos o que ocasiona enchentes, deslizamentos e outros danos que prejudicam a qualidade de vida da população residente nessas cidades. A falta de infraestrutura básica, a falta de galerias para o escoamento das águas pluviais, a rede coletora de esgoto e, principalmente, o tratamento desses resíduos que na maioria das vezes são lançados, indevidamente, nos corpos d água. A falta de vegetação é considerada também um problema que interfere na qualidade ambiental dos espaços urbanos, assim como, na qualidade de vida. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A qualidade do meio ambiente constitui fator determinante e está diretamente ligada à qualidade de vida. Só é possível conceber um ambiente de boa qualidade desde que este se apresente como satisfatório aos indivíduos em todas as dimensões da vida humana. Assim, concentração populacional demasiada, construções desordenadas, comprometimento de elementos naturais como solo permeável, água e vegetação, bem como os diversos tipos de poluição em todas as suas dimensões, são considerados fatores degradantes de um ambiente. Este estudo teve como objetivo elaborar um índice de condição ambiental (ICA) capaz de aferir e analisar o atual estágio de conservação ambiental dos 295 municípios de Santa Catarina, agrupando-os em clusters, permitindo verificar a similaridade de suas características. Os resultados revelaram que o estado de Santa Catarina possui um ICA médio de 55,26%, o que indica nível razoável de condições ambientais do estado. O baixo nível de preservação das florestas e a precariedade do acesso aos serviços de saneamento básico foram os principais indicadores que caracterizaram os municípios com baixo nível de ICA. Vale salientar que os 124 municípios que apresentaram ICA superior à média e que apesar de possuírem relativamente um bom padrão de infraestrutura urbana, não estão dando

19 um destino adequado aos rejeitos gerados pela população. E a não utilização de uma rede de esgoto adequada implica no agravamento das condições ambientais visto que quando não tratado afeta negativamente a qualidade do solo e as condições de vida da população. Em relação às mesorregiões, observa-se que a mesorregião da Grande Florianópolis é responsável pela concentração de maior percentual dos seus municípios no cluster 4. Já a mesorregião Norte Catarinense concentra maior parte dos municípios no cluster 2. A mesorregião Oeste Catarinense é a que possui o maior número de municípios e eles se concentram nos clusters 2 e 3. O cluster 1, principalmente, possui médias elevadas do índice de conservação ambiental. Contrariamente, os clusters 3 e 4 apresentam pior situação relativa em termos de condição ambiental, com índices 0,25 a 0,56. Deste modo, a análise de cluster mostrou que a maior parte dos municípios catarinenses apresenta um estado de conservação ambiental médio, deixando claro que é necessária a implementação de medidas e políticas efetivas que contribuam para o seu melhoramento. As pessoas pobres, por exemplo, sofrem em demasia com a degradação ambiental. Por não ter renda suficiente para adquirir um imóvel regularizado pelo mercado imobiliário, essas pessoas vão para as periferias das grandes cidades e localidades inadequadas para a moradia, onde convivem com o perigo de deslizamentos de encostas e inundações. O grande problema dessas ocupações irregulares é a fragilidade dessas construções e a ausência de coleta de lixo e rede de esgoto. O que se observa é que a maioria das vítimas de deslizamentos de encosta são os mais pobres. Além da questão ambiental, tem-se também um problema social que precisa ser sanado por meio do planejamento adequado do uso do solo e políticas efetivas do poder público na intervenção de situações de exclusão social. Por fim, cabe ressaltar ainda que este estudo é preliminar e é perfeitamente válida a utilização de outros indicadores para uma análise como esta. Isso agregaria mais informações e conhecimentos sobre um tema bastante atual e instigante como o da conservação do meio ambiente. REFERÊNCIAS BARBIER, E. B. Biodiversity, trade and international agreements. Journal of Economic Studies, Emerald Group Publishing, vol. 27, 2000. pp. 55-74.