1081ª Reunião, 31 de Março de Direitos do homem

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Protocolo n.º 12 à Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais

Transcrição:

Delegados dos Ministros Documentos CM CM(2010)4 add3 rev2 31 de Março de 2010 1081ª Reunião, 31 de Março de 2010 4 Direitos do homem 4.7 Comité Diretor para os Direitos Humanos (CDDH) Recomendação CM/Rec(2010)5 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre medidas para o combate à discriminação em razão da orientação sexual ou da identidade de género - Exposição de Motivos Documento elaborado pelo GR-H aquando da sua reunião a 23 de Março de 2010 Recomendação CM/Rec(2010)5 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre medidas para o combate à discriminação em razão da orientação sexual ou da identidade de género EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS A presente exposição de motivos foi elaborada pelo Secretariado em cooperação com o Presidente do Comité de Peritos sobre a discriminação em razão da orientação sexual e da identidade de género (DH-LGBT). I. Introdução Desde há quase trinta anos que têm vindo a ser adotados inúmeros textos por diversos órgãos do Conselho da Europa sobre esta questão. A Assembleia Parlamentar (APCE) adotou, desde 1981, várias recomendações dirigidas ao Comité de Ministros e está, atualmente, em curso a elaboração de um relatório sobre a Discriminação fundada na orientação sexual e na identidade de género pela Comissão dos Assuntos Jurídicos e dos Direitos Humanos. Em Março de 2007, o Congresso das Autoridades Locais e Regionais do Conselho da Europa adotou a Recomendação 211 (2007) sobre a liberdade de reunião e de expressão das pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero. O próprio Comité de Ministros, por sua vez, adotou respostas às recomendações acima mencionadas da Assembleia Parlamentar e do Congresso e, mais recentemente, diversas respostas às questões escritas formuladas por membros da APCE, nas quais reitera o princípio da igualdade de direitos humanos para todos/as, independentemente de características pessoais tais como a orientação sexual e a identidade de género, e que abordam principalmente as questões da liberdade de expressão, de reunião e de associação, assim como de opinião. O Secretário-Geral e o Comissário para os Direitos Humanos fizeram várias declarações públicas condenando a homofobia e a discriminação em razão da orientação sexual ou da identidade de género nos Estados-Membros do Conselho da Europa. O Comissário para os Direitos Humanos dedicou também parte dos seus relatórios anuais de atividades, nomeadamente os de 2006 e 2008, ao problema da discriminação contra as pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero e redigiu igualmente vários documentos temáticos. No sistema da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, embora a lista de motivos de discriminação proibidos pelo Artigo 14.º da Convenção e pelo seu Protocolo n.º 12 (interdição geral de discriminação) não mencione expressamente a orientação sexual ou a identidade de género, esta lista é aberta e nada impede a sua inclusão, na prática, entre as características protegidas. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (a seguir designado o Tribunal ) já reconheceu que o Artigo 14.º cobre a orientação sexual 1 e o relatório explicativo do Protocolo n.º 12 indica que este instrumento ofereceria proteção contra a discriminação em razão da orientação sexual. Embora o mesmo não tenha sido expressamente afirmado em relação à identidade de género, pode razoavelmente considerar-se que este motivo seria também coberto 1 Ver, inter alia, Salgueiro da Silva Mouta c. Portugal, julgamento de 21 de Dezembro de 2001 e Karner c. Áustria, julgamento de 24 de Julho de 2003. Internet : http://www.coe.int/cm

CM(2010)4 add3 rev2 2 simultaneamente pelo Artigo 14.º e pelo Protocolo n.º 12. O Tribunal declarou que uma diferença de tratamento é discriminatória, nos termos do Artigo 14.º, se não tiver uma justificação objetiva e razoável, isto é, se não servir um fim legítimo ou se não houver uma relação razoável de proporcionalidade entre os meios empregues e o fim visado 2. O Tribunal considerou ainda que a margem de apreciação deixada aos Estados em tais assuntos, tratando-se de questões que tocam um dos aspetos mais íntimos da vida privada, é estreita, e que devem existir razões particularmente graves para justificar a interferência pelas autoridades públicas. 3 O princípio da proporcionalidade não exige meramente que uma tal interferência seja em princípio de natureza a permitir a realização do objetivo pretendido deve também ficar demonstrado que ela é necessária para alcançar esse objetivo 4. Outras organizações internacionais elaboraram igualmente diversos textos. Ao nível da União Europeia, o Artigo 13.º do Tratado que institui a Comunidade Europeia incluí expressamente a orientação sexual na lista dos motivos de discriminação e o Artigo 21.º(1) da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia contém uma disposição geral antidiscriminatória que menciona expressamente a orientação sexual na lista dos motivos proibidos. O Conselho da União Europeia adotou uma Diretiva que estabelece um quadro geral a favor da igualdade de tratamento em matéria de emprego e de trabalho, 5 que cobre explicitamente a orientação sexual e está presentemente a ser examinada uma proposta de Diretiva relativa à implementação do princípio da igualdade de tratamento entre as pessoas, sem distinção em razão da religião ou convicção, deficiência, idade ou orientação sexual noutros domínios que não o emprego. O Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) teve igualmente a ocasião de se pronunciar sobre vários aspetos da questão da discriminação contra as pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero, 6 particularmente sobre a situação das pessoas transgénero no acesso ao emprego e à segurança social. Segundo a jurisprudência do Tribunal, despedir alguém que tenciona submeter-se, ou que se submeteu, a uma reatribuição sexual constitui uma situação de discriminação fundada no sexo, à luz da legislação da União Europeia. 7 Por fim, a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA) publicou dois relatórios intitulados Homophobia and Discrimination on the Grounds of Sexual Orientation and Gender Identity (Homofobia e Discriminação fundadas na Orientação Sexual e na Identidade de Género). 8 A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE/ODIHR) publicou recentemente vários relatórios e documentos analisando certos aspetos de questões de discriminação em razão da orientação sexual ou da identidade de género nos Estados participantes da OSCE: os Relatórios Anuais, de 2006 e 2007, da OSCE/ODIHR sobre Os crimes de ódio nos países da OSCE: incidentes e respostas, que contêm secções sobre a intolerância para com as pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero; o relatório da OSCE, de 9 de Março de 2009, relativo a Leis sobre Crimes de Ódio: Um Guia Prático ; o Manual sobre direitos humanos e liberdades fundamentais do pessoal das forças armadas da OSCE/ODIHR, 9 o Relatório sobre Os defensores de direitos humanos nos países da OSCE: desafios e boas práticas, Abril 2007-Abril 2008. 10 No âmbito das Nações Unidas, foi feita uma Declaração com o apoio de 66 Estados, 11 no quadro da Assembleia Geral das Nações Unidas, a 17 de Dezembro de 2008, condenando as violações de direitos em razão da orientação sexual e da identidade de género, tais como homicídios, tortura, prisões arbitrárias e privação de direitos económicos, sociais e culturais, incluindo o direito à saúde. Esta foi a primeira Declaração nesta área na Assembleia Geral. Os mecanismos das Nações Unidas que cobrem os direitos humanos os órgãos de tratado e o Conselho dos Direitos Humanos são cada vez mais chamados a tratar de questões de discriminação fundada na orientação sexual. 12 De uma maneira geral, as questões 2 Ver Karner, parágrafo 37. 3 Ver Karner, parágrafo 41 e Schlumpf, parágrafo 115. 4 Ver Karner, parágrafo 41. 5 Diretiva 2000/78/CE do Conselho de 27 de Novembro de 2000. 6 Ver, por exemplo, o caso P. c. S. e Cornwall County Council C-13/94, julgamento de 30 de Abril de 1996 (disponível apenas em inglês), o caso Sarah Margaret Richards c. Secretary of State for Work and Pensions, caso Nº C-423/04, julgamento de 27 de Abril de 2007 e o caso K. B. c. National Health Service Pensions Agency and Secretary of State for Health, caso nº C-117/01, julgamento de 7 de Janeiro de 2004. 7 Ver P c. S e Cornwall County Council, parágrafo 21 do julgamento. 8 Homofobia e Discriminação fundadas na Orientação Sexual e na Identidade de Género (Parte I Análise Jurídica e Parte II A situação social), disponível em inglês em: http://www.fra.europa.eu 9 Disponível apenas em inglês em http://www.osce.org/item/30553.html 10 Disponível apenas em inglês em http://www.osce.org/item/35711.html 11 Albânia, Andorra, Argentina, Arménia, Austrália, Áustria, Bélgica, Bolívia, Bósnia-Herzegovina, Brasil, Bulgária, Canadá, Cabo Verde, República Centro-Africana, Chile, Colômbia, Croácia, Cuba, Chipre, República Checa, Dinamarca, Equador, Estónia, Finlândia, França, Gabão, Geórgia, Alemanha, Grécia, Guiné-Bissau, Hungria, Islândia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Letónia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Maurícia, México, Montenegro, Nepal, Países Baixos, Nova Zelândia, Nicarágua, Noruega, Paraguai, Polónia, Portugal, Roménia, São Marinho, São Tomé e Príncipe, Sérvia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Suécia, Suíça, Antiga República Jugoslava da Macedónia, Timor-Leste, Reino Unido, Uruguai e Venezuela. Em Março de 2009, os Estados Unidos da América apoiaram também esta Declaração. 12 No caso de Toonen c. Austrália (Comunicação Nº 488/1992, U.N. Doc CCPR/C/50/D/488/1992(1994)), o Comité de Direitos Humanos reconheceu expressamente que os direitos das pessoas gay e lésbicas estavam protegidos pelo sistema de direitos

3 CM(2010)4 add3 rev2 relativas à discriminação em razão da orientação sexual estão a ser cada vez mais tidas em conta. Um exemplo é uma Nota de Orientação sobre os pedidos de estatuto de refugiado/a relacionados com a orientação sexual e a identidade de género 13 publicada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em Novembro de 2008 e o Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais do Conselho Económico e Social das Nações Unidas publicou comentários gerais sobre a não-discriminação no exercício dos direitos económicos, sociais e culturais apontados no Artigo 2.º, parágrafo 2, do Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais, reiterando que a orientação sexual e a identidade de género fazem parte dos motivos de discriminação proibidos pelo Pacto na categoria qualquer outra situação. 14 O Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas considerou igualmente que a Convenção sobre os Direitos da Criança exige que os Estados contratantes tomem as medidas apropriadas, incluindo medidas de natureza legislativa, que ofereçam proteção contra a discriminação de crianças com base na orientação sexual. 15 O Comité expressou também a sua preocupação pelo facto de os/as jovens homossexuais e transexuais não terem acesso à informação e apoio apropriados e à proteção necessária para lhes permitir viver a sua orientação sexual. 16 O presente texto é o primeiro instrumento elaborado pelo Comité de Ministros que trata especificamente da questão da discriminação em razão da orientação sexual ou da identidade de género. Na 1031ª reunião dos Delegados dos Ministros, no dia 2 de Julho de 2008, o Comité de Ministros sublinhou, numa Declaração, o seu empenho no princípio da igualdade de direitos e dignidade de todas as pessoas, incluindo as pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero. Notando que as situações de discriminação fundadas na orientação sexual ou na identidade de género, assim como de homofobia e intolerância para com as pessoas transgénero são lamentavelmente ainda generalizadas na Europa, o Comité de Ministros reiterou que a mensagem do Conselho da Europa em matéria de tolerância e não-discriminação visa o conjunto das sociedades europeias e que a discriminação fundada na orientação sexual ou na identidade de género não é compatível com esta mensagem. Neste contexto, o Comité de Ministros mandatou o Comité Diretor para os Direitos Humanos (CDDH) para elaborar uma Recomendação sobre medidas para o combate à discriminação em razão da orientação sexual ou da identidade de género, para assegurar o respeito pelos direitos humanos das pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero e para promover a tolerância para com elas. No mandato, foi especificado que a Recomendação deveria indicar medidas a adotar para alcançar este fim, o que implica que o instrumento a ser elaborado deveria assentar firmemente sobre as normas e princípios de direitos humanos, tendo ao mesmo tempo uma utilidade prática. O Comité decidiu também convidar o conjunto dos comités diretores e outros comités envolvidos na cooperação intergovernamental no Conselho da Europa, a prestar a devida atenção, dentro dos respetivos mandatos, nas suas atividades presentes e futuras, à necessidade de os Estados-Membros prevenirem e compensarem toda a situação de discriminação fundada na orientação sexual ou na identidade de género e proporem atividades específicas, intergovernamentais e outras, para reforçar, no direito e na prática, a igualdade de direitos e a igual dignidade das pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero e para combater as atitudes discriminatórias que existem para com elas na sociedade. Aquando da sua 1048ª reunião, a 16 de Fevereiro de 2009, o Comité de Ministros aprovou o mandato assim confiado ao Comité de Peritos sobre a discriminação em razão da orientação sexual e da identidade de género (DH-LGBT), sob a autoridade do CDDH. O Comité de Peritos reuniu duas vezes a fim de elaborar um projeto de recomendação. O Comité decidiu que um anexo à Recomendação deveria conter os princípios decorrentes dos instrumentos europeus e outros instrumentos internacionais, com ênfase particular para a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, à luz da jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. O CDDH aprovou o texto proposto para a presente Recomendação aquando da sua 69ª reunião (24-27 de Novembro de 2009) e transmitiu-a ao Comité de Ministros que a adoptou a 31 de Março de 2010. humanos das Nações Unidas, sublinhando que o Artigo 26.º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP) cobria a orientação sexual sob a noção de sexo mencionada nessa disposição. Nos casos de Young c.austrália (Comunicação Nº 941/2000, U.N. Doc. CCPR/C/78/D/941/2000(2003)) e de X c. Colômbia (Comunicação Nº 1361/2005, U.N. Doc. CCPR/C/89/D/1361/2005 (2007)), esta posição foi novamente confirmada relativamente à discriminação quanto aos direitos à pensão de sobrevivência de um parceiro sobrevivente do mesmo sexo. 13 Disponível apenas em inglês, Guidance Note on Refugee Claims Relating to Sexual Orientation and Gender Identity, Novembro de 2008, http://www.unhcr.org/refworld/topic,4565c22547,,48abd5660,0.html 14 Ver o documento do Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais, parágrafo 32: http://www2.ohchr.org/english/bodies/cescr/docs/e.c.12.gc.20_fr.doc 15 Observações finais do Comité dos Direitos da Criança sobre o Reino Unido (Ilha de Man), 16 de Outubro de 2000, documento CRC/C/15/Add. 134. 16 Observações finais do Comité dos Direitos da Criança sobre o Reino Unido, 9 de Outubro de 2002, documento CRC/C/15/Add. 188.

CM(2010)4 add3 rev2 4 II. Comentários Considerações gerais A presente Recomendação convida os Estados-Membros a garantir que os princípios e medidas enunciados no seu anexo sejam aplicados na legislação, políticas e práticas nacionais relativas à proteção dos direitos humanos das pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero e à promoção da tolerância para com elas. Estes princípios e medidas, expostos no anexo à Recomendação, têm como ponto de partida a necessidade de fazer face a um elevado nível de discriminação fundada na orientação sexual ou na identidade de género. As pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero têm sido durante séculos, e continuam a ser, sujeitas a homofobia, transfobia e outras formas de intolerância generalizada e persistente consistindo em atos hostis, que vão desde a exclusão social à discriminação por toda a Europa e em todos as áreas das suas vidas, em razão da orientação sexual ou da identidade de género. Consequentemente, inúmeras pessoas têm que dissimular ou negar a sua identidade e viver uma vida dominada pelo medo e pela invisibilidade, mesmo no seio da sua própria família. Estes princípios fundamentam-se essencialmente na Convenção Europeia dos Direitos do Homem e na Carta Social Europeia (incluindo a Carta revista), mas contêm também referências, entre outras, à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, aos Pactos Internacionais sobre os Direitos Civis e Políticos e sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais, à Convenção sobre os Direitos da Criança, à Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados e à jurisprudência dos respectivos tribunais e órgãos de tratados. Apenas os Estados-Membros que ratificaram estes textos, que constituem o fundamento dos princípios da Recomendação, são vinculados pelas obrigações e jurisprudência deles decorrentes. Contudo, estes importantes instrumentos internacionais de direitos humanos podem ser fontes de inspiração e todos os Estados-Membros são encorajados a respeitar estes princípios e a pôr em prática as medidas apropriadas a fim de combater a discriminação com base na orientação sexual e na identidade de género e promover a tolerância. São feitas importantes referências ao longo do texto a outros instrumentos, tais como o Livro Branco sobre o Diálogo Intercultural, a Carta Europeia do Desporto, as resoluções da Assembleia Parlamentar 1608 (2008) intituladas Child and teenage suicide in Europe: a serious public health issue (O suicídio de crianças e adolescentes na Europa: um grave problema de saúde pública) e 1660 (2009) - Situation of human rights defenders in Council of Europe member states (A situação dos defensores de direitos humanos nos Estados-Membros do Conselho da Europa), e as recomendações do Comité de Ministros aos Estados-Membros nº R(97)20 sobre Os discursos de ódio, Rec(2001)10 sobre o Código Europeu de Ética da Polícia, Rec(2007)17 sobre as normas e mecanismos de igualdade entre as mulheres e os homens, assim como a Recomendação de Política Geral da ECRI nº 10 sobre o combate ao racismo e discriminação racial na e através da educação escolar. A ação para o combate à discriminação fundada na orientação sexual ou na identidade de género deve começar por um exame das medidas legislativas e outras existentes que possam resultar direta ou indiretamente na discriminação de uma pessoa ou grupo de pessoas com base nesses motivos. E deveria a seguir incluir a realização de pesquisa relevante, recolha e análise de dados relevantes, a fim de monitorizar regular e eficazmente o impacto das medidas legislativas e outras sobre o direito a não ser discriminado com base na orientação sexual ou na identidade de género, e de compensar toda a situação de discriminação direta ou indireta com base nestes motivos. Estas ações exigirão claramente tempo para serem plenamente implementadas e poderá ser considerada uma temporização diferente para as várias questões mencionadas. Entende-se, obviamente, que as restrições discriminatórias necessitam de ser eliminadas. Neste contexto, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, nos seus julgamentos nos casos Dudgeon c.reino Unido 17 e Norris c. Irlanda 18, deliberou que a manutenção em vigor da legislação que proibia atos homossexuais em privado constituía uma interferência continuada no exercício do direito do requerente ao respeito pela sua vida privada (que incluí a sua vida sexual), mesmo quando a lei em questão deixasse de resultar em processo judicial. A antiga Comissão Europeia de Direitos Humanos, no seu relatório sobre o caso Sutherland c. Reino Unido, 19 declarava que, apesar de o requerente não ter sido afinal processado nem ameaçado com queixa judicial, a própria existência da legislação afetava diretamente a sua vida privada. Na sua resposta à Recomendação 211 (2007) do Congresso das Autoridades Locais e Regionais, 17 Dudgeon c. Reino Unido, julgamento de 22 de Dezembro de 1981, Série A Nº 5, p. 21, parágrafo 41. Este foi o primeiro caso no qual a Comissão e o Tribunal adotaram uma posição contra a existência de leis que estatuíam a ilegalidade da homossexualidade.. 18 Norris c. Irlanda, julgamento de 26 de Outubro de 1988, Série A Nº 142, p. 18, parágrafo 38. 19 Sutherland c. Reino Unido, Nº 25186/94, Relatório da Comissão de 1 de Julho de 1997, não publicado, que critica a existência de legislação que estabelece uma idade de consentimento mais elevada para os atos homossexuais masculinos e para os atos heterossexuais.

5 CM(2010)4 add3 rev2 o Comité de Ministros salientava ainda que em vários dos seus julgamentos, 20 o Tribunal sublinhou que toda a discriminação fundada na orientação sexual é contrária à Convenção e que todos os Estados- Membros devem respeitar a Convenção quando aplicam a sua legislação nacional, nomeadamente à luz da jurisprudência do Tribunal. 21 Relativamente às medidas de monitorização, uma opção poder ser a adoção e implementação efetiva, pelos Estados-Membros, de planos de ação periódicos a nível nacional, regional e local e de indicadores para medir os seus resultados e os progressos alcançados na sua implementação. Além disso, devem ser adotadas e efetivamente aplicadas medidas específicas que visem o combate à discriminação em razão da orientação sexual e da identidade de género, a fim de garantir o respeito dos direitos humanos das pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero e de promover a tolerância para com elas. Os Estados-Membros devem assegurar que as suas medidas legislativas e outras são adequadas ao combate à discriminação com base em tais motivos e devem adotar e implementar eficazmente uma estratégia abrangente, incluindo programas educativos e de sensibilização a longo prazo, centrados no combate às atitudes e comportamentos discriminatórios e preconceituosos por parte do público em geral e visando corrigir preconceitos e estereótipos (por exemplo, com mensagens políticas claras dirigidas ao público em geral, incluindo profissionais da comunicação social). Os Estados-Membros devem assegurar que as vítimas possam ter efetivamente acesso a mecanismos legais perante uma autoridade nacional, mesmo que a infração tenha sido cometida por uma pessoa atuando num quadro de funções oficiais. Tais mecanismos devem ser eficazes, proporcionados e dissuasores, incluindo, se for caso disso, a atribuição de uma compensação adequada às vítimas de discriminação. Os Estados-Membros devem também adotar medidas para assegurar que as vítimas são informadas da existência desses mecanismos. Os Estados-Membros são também convidados a assegurar, através de meios e iniciativas apropriados (incluindo através da Internet), que o conteúdo desta Recomendação, incluindo o seu Anexo, seja difundido o mais amplamente possível, a fim de informar as pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero do seu direito à igualdade de tratamento e também para os difundir junto da administração pública, das autoridades responsáveis pela aplicação da lei, incluindo o sistema judicial e prisional, das estruturas nacionais de proteção de direitos humanos, dos sistemas educativo e de saúde, assim como dos/as representantes dos/as trabalhadores/as do setor público e privado e dos/as empregadores/as, da comunicação social e das organizações não governamentais interessadas. No que diz respeito ao acompanhamento da implementação da Recomendação, os Governos dos Estados- Membros são convidados a rever a sua aplicação, através do Comité de Ministros, três anos após a sua adoção. I. Direito à vida, à segurança e à protecção contra a violência A. Crimes de ódio e outros incidentes motivados pelo ódio 1-2. Os crimes de ódio são crimes cometidos em razão da pertença, real ou suposta, da vítima a um certo grupo, mais frequentemente definido pela raça, religião, orientação sexual, identidade de género, nacionalidade, etnia, deficiência, etc. 22 Para os efeitos da presente Recomendação, o termo incidente motivado pelo ódio é utilizado para englobar qualquer incidente ou ato quer seja ou não criminalizado pela legislação nacional contra pessoas ou bens que envolva um alvo selecionado devido à sua ligação ou associação, real ou suposta, a um grupo. O termo é suficientemente amplo para cobrir uma série de manifestações de intolerância, que vão desde incidentes menos graves, motivados por preconceitos, até atos criminosos. 23 Os crimes de ódio e outros incidentes motivados pelo ódio perturbam consideravelmente as vítimas e a comunidade a que estas pertencem e o mais impressionante é que, do ponto de vista da vítima, o que releva é o fato de ter sido objeto de tal crime devido a um aspeto fundamental e imutável da sua identidade. 24 Mas estes crimes ameaçam igualmente os princípios base 20 Em particular, Salgueiro da Silva Mouta c. Portugal, julgamento de 21 de Dezembro de 2001; L. e V. c. Áustria, julgamento de 9 de Janeiro de 2003; Karner c. Áustria, julgamento de 24 de Julho de 2003; B.B. c. Reino Unido, julgamento de 10 de Fevereiro de 2004. 21 Resposta adotada pelo Comité de Ministros a 16 de Janeiro de 2008 na 1015ª reunião dos Delegados dos Ministros - CM/Cong(2008)Rec211 final. 22 Na introdução do relatório da OSCE: Hate Crime Laws A Practical Guide, (p. 7), na qual os crimes de ódio são descritos como Crimes motivados por intolerância para com certos grupos da sociedade, a OSCE/ODIHR fornece igualmente uma definição de trabalho no seu relatório anual de 2006, segundo a qual um crime de ódio é qualquer ato criminoso, nomeadamente contra pessoas ou bens, no qual a vítima, imóveis, ou o alvo do delito são selecionados em razão da sua ligação, laços, afiliação, apoio ou associação reais ou supostos a um grupo. Ver também a definição dada pelo Home Office: http://www.homeoffice.gov.uk/crime-victims/reducingcrime/hate-crime/ ou pelo U.S. Department of Justice Bureau of Justice Assistance : A Policymaker s Guide to Hate Crimes : http://www.ncjrs.gov/pdffiles1/bja/162304.pdf. 23 Ver o relatório anual da OSCE de 2006, p. 9, http://www.osce.org/publications/odihr/2007/09/26296_931_en.pdf 24 Ver o relatório da OSCE: Hate Crime Laws A Practical Guide, p. 42:

CM(2010)4 add3 rev2 6 sobre os quais assenta uma sociedade democrática e o estado de direito, na medida em que constituem um ataque ao princípio fundamental da igualdade em dignidade e em direitos de todas as pessoas, tal como está consagrado no Artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem das Nações Unidas. As pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero são alvo de muitos destes crimes ou incidentes. Segundo o relatório da OSCE/ODIHR Hate Crimes in the OSCE Region: Incidents and Responses (Crimes de Ódio nos países da OSCE: Incidentes e Respostas), 25 os crimes ou incidentes homofóbicos são muitas vezes caracterizados por um elevado grau de crueldade e brutalidade, frequentemente envolvendo ofensas à integridade física graves, tortura, mutilação, castração ou mesmo agressões sexuais e podem resultar na morte. Podem também assumir a forma de danos a bens, insultos ou ataques verbais, ameaças ou intimidação. É sabido que as medidas e procedimentos mais apropriados para lidar com crimes de ódio ou incidentes motivados pelo ódio dependem do direito nacional aplicável e das circunstâncias do caso, isto é, se constituem uma violação de direito penal, civil ou administrativo nacional ou de outros regulamentos (procedimentos disciplinares, etc.). Termos tais como investigação e sanções devem, portanto, ser entendidos lato sensu, tendo em conta as circunstâncias do caso. As medidas legislativas para combater estes crimes são essenciais. Ao condenar os motivos da discriminação, estas medidas sinalizam aos/às infratores/as que uma sociedade justa e humana não tolera tal comportamento. Ao reconhecer o prejuízo causado às vítimas, oferecem a estas pessoas e à sua comunidade a garantia de estarem protegidas pelo sistema de justiça penal. A existência destas leis oferece, por outro lado, uma maior visibilidade aos crimes de ódio ou outros incidentes motivados pelo ódio e também facilita a recolha de dados estatísticos, importante para a elaboração de medidas para os prevenir e contrariar. Na legislação, os crimes de ódio são geralmente punidos com uma pena mais severa, pois o crime é cometido com um móbil discriminatório. O fato de não se ter em consideração, numa infração, a existência de um móbil fundado em preconceitos poderá igualmente constituir uma discriminação indireta nos termos da CEDH. 26 Os Estados-Membros devem assegurar que, ao determinar uma pena, possa ser tida em conta a existência de um móbil fundado num preconceito ligado à orientação sexual ou à identidade de género enquanto circunstância agravante. Devem também zelar para que tais móbeis sejam registados quando um tribunal decidir atribuir uma pena mais severa. 27 Pelo menos 14 Estados-Membros do Conselho da Europa incluiram já na sua legislação a orientação sexual como circunstância agravante no cometimento de um crime. 28 Ressalta aliás, de muito relatos, que poucos destes crimes ou incidentes são objeto de queixas ou participações à polícia ou a qualquer autoridade pública. O fato de os/as próprios/as agentes das forças de segurança poderem mostrar hostilidade para com as pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero quando estas se dirigem a uma esquadra da polícia, por sua iniciativa ou por ordem dos agentes, torna ainda mais improvável que elas o queiram fazer. 29 O direito à proteção do Estado contra todas as formas de violência ou ofensas, garantido pelos Artigos 2.º e 3.º da Convenção, implica a introdução de mecanismos de investigação eficazes na eventualidade de recurso a força letal ou a tratamento desumano ou degradante, quer por parte de representantes do Estado ou de particulares. O Tribunal já reconheceu que, em casos de alegados atos de violência revestidos de caráter discriminatório, poderá ter que ser adotado um procedimento especial para a recolha de provas. Num caso http://www.osce.org/publications/odihr/2009/03/36671_1263_en.pdf 25 Ver o relatório anual da OSCE para 2006, pp. 53-54. 26 Angelova e Iliev c. Bulgária, Nº 55523/00, julgamento de 26 de Julho de 2007, parágrafo 115,: [A]o investigar incidentes violentos, as autoridades do Estado têm o dever complementar de adotar todas as medidas razoáveis para desmascarar quaisquer motivos racistas e para determinar se o ódio étnico ou o preconceito poderão ter desempenhado um papel nos eventos. Não o fazer e tratar a violência e a brutalidade induzidas por racismo em pé de igualdade com casos sem tonalidades de racismo seria fechar os olhos à natureza específica de atos que são particularmente destrutivos de direitos fundamentais. A ausência de distinção na forma como situações que são essencialmente diferentes são geridas pode constituir um tratamento injustificado incompatível com o disposto no Artigo 14.º da Convenção. 27 O guia prático da OSCE (op. cit.) salienta que (p. 36), em alguns Estados, as razões para o agravamento das penas não podem ser publicadas, enfraquecendo o valor simbólico e estatístico atribuído à lei. 28 A título de exemplo, o Artigo 132º-77 do Código Penal francês estipula que Nos casos previstos na lei, as penas incorridas por um crime ou um delito são agravadas quando a infração é cometida em razão da orientação sexual da vítima. A Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia sublinha que 10 Estados-Membros da União Europeia incluíram a orientação sexual como circunstância agravante no cometimento de um crime. Estes países são a Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Países Baixos, Portugal, Roménia, Finlândia, Suécia e Reino Unido. Ver Homofobia e Discriminação fundadas na Orientação Sexual nos Estados- Membros da UE (Parte I Análise jurídica), p. 122, disponível em http://www.fra.europa.eu/frawebsite/products/publications_reports/pub_cr_homophobia_0608_en.htm Aos Estados-Membros do Conselho da Europa, devem juntar-se Andorra, Croácia, Islândia e Noruega. 29 Ver o relatório da Agência dos Direitos Fundamentais (FRA) Parte II, p. 46-47.

7 CM(2010)4 add3 rev2 que lhe foi apresentado, o Tribunal afirmou que não excluía a possibilidade de uma medida ser considerada discriminatória com base em elementos de prova relativos ao seu impacto (efeitos prejudiciais desproporcionados sobre um grupo particular), mesmo que a medida não vise especificamente esse grupo. 30 Quando o recurso à violência for motivado por uma forma de discriminação homofóbica ou transfóbica, os Artigos 2.º e 3.º, combinados com o Artigo 14.º (interdição de discriminação no gozo de direitos e liberdades reconhecidos na Convenção) devem poder levar os Estados a adotar medidas razoáveis para determinar o papel desempenhado pelos preconceitos alegados e, consequentemente, a velar para que seja estabelecida uma distinção tanto no sistema judicial como na prática entre os casos em que foi utilizada força excessiva e os que envolvem crimes de ódio. Os Estados devem também envidar esforços adicionais para investigar eventuais conotações homofóbicas ou transfóbicas num ato de violência, tanto mais que, na prática, pode ser difícil provar uma motivação homofóbica ou transfóbica. Como a prova de um móbil discriminatório nem sempre é fácil de determinar, a qualidade das investigações torna-se ainda mais importante. Da mesma forma, a obrigação de investigar casos com conotações racistas deve ser cumprida sem discriminação, tal como exigido pelo Artigo 14.º da Convenção. 31 Tais obrigações devem claramente ser aplicadas quando um crime é motivado pela orientação sexual ou pela identidade de género de uma pessoa. 3. Os Estados-Membros devem introduzir medidas apropriadas para encorajar as vítimas e testemunhas de crimes de ódio ou outros incidentes motivados pelo ódio em razão da orientação sexual ou da identidade de género a denunciar estes atos. Tais medidas podem incluir: a. a conceção e divulgação de uma definição simples e abrangente de crimes de ódio, incluindo o móbil da orientação sexual ou identidade de género, dirigida ao público em geral, para que estes crimes sejam mais frequentemente denunciados às forças de segurança competentes para o registo de denúncias; b. a criação de programas de formação, a fim de assegurar que as diversas estruturas das autoridades responsáveis pela aplicação da lei, incluindo o sistema judicial, disponham dos conhecimentos e competências requeridas para prestar assistência e apoio adequados a vítimas e testemunhas; c. a criação de unidades especiais encarregues, entre outras atribuições, de investigar crimes e incidentes ligados à orientação sexual ou identidade de género, e agentes especiais de ligação para manter contacto com as comunidades locais, a fim de fomentar uma relação de confiança; d. a prestação de uma atenção especial à criação de mecanismos eficazes para receber e investigar denúncias de crimes de ódio ou incidentes motivados pelo ódio alegadamente cometidos por funcionários responsáveis pela aplicação da lei, particularmente quando a orientação sexual ou a identidade de género constituírem um dos motivos do autor da infração; e. a introdução de sistemas de denúncias anónimas ou on-line ou a utilização de outros meios de acesso fácil, e a autorização da sinalização destes incidentes por terceiros a fim de recolher informação sobre a sua incidência e natureza particular. Além disso, os Estados-Membros devem adotar medidas para assegurar que as pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero são tratadas sem discriminação nas estruturas de aplicação da lei e outras estruturas criadas para encorajar a denúncia pelas vítimas e testemunhas de crimes de ódio ou incidentes motivados pelo ódio, fornecendo códigos de conduta e formação. Devem também adotar medidas para assegurar que sejam evitados atos homofóbicos ou transfóbicos, incluindo atos de tortura ou outro tratamento desumano ou degradante, tais como abusos sexuais, revistas corporais indevidamente intrusivas e linguagem denigrativa, nestas estruturas e, se for caso disso, recorrer aos mecanismos de sanções disciplinares ou penais. 4. O recurso à tortura ou a outro tratamento desumano ou degradante é estritamente proibido pela Convenção Europeia dos Direitos do Homem (Artigo 3.º). As pessoas privadas da sua liberdade, incluindo as que estão internadas em estabelecimentos psiquiátricos, sob a guarda e responsabilidade das autoridades estatais, estão particularmente vulneráveis e as autoridades têm o dever de as proteger, quer de ações de funcionários/as governamentais quer de outros/as detidos/as. Isto aplica-se muito em especial às pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero, ainda mais vulneráveis a certos abusos e sujeitas a 30 Hugh Jordan c. Reino Unido, Nº 24746/94, parágrafo 154, 4 de Maio de 2001. 31 Ver a argumentação do Tribunal no caso Nachova e outros c. Bulgária, julgamento de 26 de Fevereiro de 2004, parágrafos 155-162, sobre homicídios com conotações racistas: O direito à vida, protegido pelo Artigo 2.º da Convenção, e a proibição de discriminação em geral e de discriminação racial e étnica em particular, nos termos do Artigo 14.º, refletem os valores básicos das sociedades democráticas que constituem o Conselho da Europa. Os atos motivados por sentimentos de ódio étnico que levam a tirar a vida minam os pilares destas sociedades e exigem especial vigilância e uma resposta eficaz por parte das autoridades. Além disso, a ausência de distinção na forma como situações que são essencialmente diferentes são geridas pode constituir um tratamento injustificado e incompatível com o Ãrtigo 14.º da Convenção (Ver, mutatis mutandis, Thlimmenos c. Grécia [GC], Nº 34369/97, parágrafo 44, CEDH 2000-IV).

CM(2010)4 add3 rev2 8 bullying, violência, humilhação, agressões sexuais, violação e outras formas de maus-tratos. Os Estados devem estar particularmente atentos a estas situações, garantir o cumprimento das obrigações decorrentes da jurisprudência do Tribunal e introduzir procedimentos adequados e eficazes para determinar a responsabilidade disciplinar ou penal dos/as autores/as de tais atos ou das lacunas na supervisão de locais de detenção.

9 CM(2010)4 add3 rev2 No que diz respeito às pessoas transgénero, as autoridades devem ter um cuidado especial na escolha de estabelecimento prisional (para homens ou mulheres), de forma a proteger e respeitar adequadamente a identidade de género da pessoa a ser privada da sua liberdade. A importância da escolha subjetiva de uma pessoa está indissociavelmente ligada a critérios objetivos pertinentes para a identidade da pessoa. Portanto, o respeito pela identidade de género não implica, neste contexto, o direito de uma pessoa a escolher arbitrariamente a sua identidade de género. Nos casos em que os documentos oficiais sejam insuficientes para determinar a escolha de estabelecimento prisional, as autoridades devem proceder a uma avaliação objetiva do caso, tendo em conta não só a escolha subjetiva da pessoa em questão e os documentos oficiais, mas também, por exemplo, o avanço do processo de reatribuição sexual. 5. Para poder combater a discriminação, é vital conduzir pesquisas pertinentes e recolher dados sobre as medidas e práticas discriminatórias, em particular em matéria de crimes de ódio e de incidentes motivados pelo ódio relacionados com a orientação sexual ou a identidade de género e isto tendo em devida conta o direito ao respeito pela vida privada. O Comissário dos Direitos Humanos apontou, a este respeito, a falta de dados sobre a situação das pessoas transgénero na Europa, particularmente nos Estados-Membros do Conselho da Europa que não são membros da União Europeia. 32 Ferramentas desta natureza devem ir para além do mero registo de incidentes e servir para futuras ações de prevenção destes incidentes e de sensibilização do público sobre o que são as agressões homofóbicas e transfóbicas e para desenvolver medidas adequadas para as combater. Os Estados-Membros devem portanto dotar-se de ferramentas eficazes para a análise de dados e informações, para se chegar a um melhor conhecimento quantitativo e qualitativo da discriminação contra as pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero, particularmente quando existam crimes de ódio. Os Estados-Membros devem também encorajar ativamente a pesquisa sobre a natureza e causas de comportamentos ou atitudes hostis ou negativas para com as pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero, tendo em vista formular políticas eficazes para o combate a estes fenómenos. B. O discurso de ódio 6-8. Na sua Recomendação nº R (97) 20 de 30 de Outubro de 1997 sobre o discurso de ódio, o Comité de Ministros declarou que o termo discurso de ódio deve ser entendido como incluindo qualquer forma de expressão que propague, incite, promova ou justifique o ódio racial, a xenofobia, o anti-semitismo ou outras formas de ódio fundadas na intolerância, incluindo a discriminação e a hostilidade para com as minorias. Para os efeitos da presente Recomendação, o termo discurso de ódio pretende referir-se a formas de expressão motivadas pelo ódio, seja qual for o modo de expressão utilizado, incluindo a Internet e quaisquer outros novos meios de comunicação. O Livro Branco sobre o Diálogo Intercultural recorda que o debate público deve ter lugar dentro do respeito pela diversidade cultural. 33 As expressões públicas de racismo, xenofobia ou quaisquer outras formas de intolerância, quer venham de pessoas que ocupem cargos públicos ou de membros da sociedade civil, devem ser rejeitadas e condenadas, de acordo com as disposições relevantes da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, incluindo o Artigo 17.º. As declarações homofóbicas proferidas em público por figuras públicas são especialmente preocupantes, pois influenciam a opinião pública de forma negativa e alimentam a intolerância. Na mesma Recomendação, o Comité de Ministros afirma que as autoridades e instituições públicas (...) têm uma responsabilidade especial de se absterem de declarações, em particular à comunicação social, que possam ser razoavelmente entendidas como discursos de ódio (...) ou de outras formas de discriminação ou ódio fundadas na intolerância. Estas declarações devem ser proibidas e condenadas publicamente sempre que ocorram. (Princípio 1). Da mesma forma, é importante que toda a ingerência na liberdade de expressão seja estritamente limitada e aplicada de forma legal e não arbitrária, de acordo com critérios objetivos [e] sujeita a controlo judicial independente (Princípio 3). O Tribunal considerou que seja quem for que exerça a sua liberdade de expressão assume deveres e responsabilidades cuja extensão depende da sua situação e dos meios técnicos que utilize 34 e o exercício destas liberdades pode estar sujeito a restrições, particularmente para a proteção dos direitos de terceiros. 35 O Tribunal declarou também que, embora o Artigo 10.º deixe pouco lugar a restrições nos discursos ou debates políticos, o exercício da liberdade de expressão por políticos eleitos, que detêm 32 Direitos Humanos e Identidade de Género, Documento temático, Comissário para os Direitos Humanos, 29 de Julho de 2009, p. 9: https://wcd.coe.int/com.instranet.instraservlet?index=no&command=com.instranet.cmdblobget&instranetimage=1331143&secmode= 1&DocId=1433126&Usage=2 33 A secção 5.1 do Livro Branco prevê, entre outras medidas, que os Estados devem adotar uma legislação severa, proibindo o discurso de ódio, assim como as manifestações de racismo, xenofobia, homofobia, anti-semitismo, islamofobia e intolerância para com as pessoas de etnia cigana ou outras manifestações que incitem ao ódio ou à violência. 34 Handyside c. Reino Unido, de 7 de Dezembro de 1976, Série A, Nº 24, p. 25, parágrafo 49. 35 Artigo 10.º, parágrafo 2 da Convenção.

CM(2010)4 add3 rev2 10 também postos executivos no governo, reveste-se de uma particular responsabilidade. 36 Essas pessoas devem exercer esta liberdade com contenção, sabendo nomeadamente que as suas opiniões podem ser compreendidas como instruções pelos/as funcionários/as cujo emprego e carreira dependem da sua aprovação. Os Estados-Membros devem assim chamar a atenção das autoridades e organismos públicos aos níveis nacional, regional e local para a sua responsabilidade de se absterem de prestar declarações, nomeadamente à comunicação social, que possam ser razoavelmente interpretadas como um discurso com o provável efeito de incitar, propagar ou promover o ódio ou outras formas de discriminação contra as pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero. Os/As funcionários/as públicos/as e outros/as representantes do Estado, ao dialogarem com representantes de diferentes setores da sociedade civil, incluindo empresas privadas, sindicatos e organizações de trabalhadores/as, organizações políticas e outras ONG, assim como comunidades filosóficas ou religiosas, funcionários/as públicos/as e outros/as representantes do Estado, devem também esforçar-se por promover a tolerância e o respeito nomeadamente pelas pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero, assim como o recurso a um discurso responsável e não violento; Deve entender-se que o combate ao discurso de ódio não implica uma criminalização sistemática de cada expressão motivada pela intolerância, e que as medidas e os procedimentos mais apropriados dependerão dos regulamentos de direito interno aplicáveis e das circunstâncias de cada caso. A Recomendação nº R (97) 21 do Comité de Ministros sobre comunicação social e promoção de uma cultura de tolerância realça a importância das práticas profissionais dos meios de comunicação social e da sua responsabilidade de proteger vários grupos e pessoas contra estereótipos negativos ou de publicar as suas contribuições positivas para a sociedade. As organizações da comunicação social, incluindo as que operam na Internet, devem ser encorajadas a promover nas suas próprias práticas uma cultura de respeito, tolerância e diversidade, a fim de evitar representações negativas e estereotipadas das pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero e a utilização de material ou linguagem sexista. Práticas desenvolvidas em certos países consistem na elaboração de códigos de conduta sobre o tratamento de questões ligadas às pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero de maneira não discriminatória. Outra boa prática a encorajar consiste na organização de campanhas de sensibilização, nos meios de comunicação social, promovendo uma representação positiva das pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero. Dada a importância crescente da Internet e a dificuldade em detetar e punir os/as autores/as de discursos de ódio na Internet, os Estados-Membros devem estabelecer ou manter um quadro jurídico sólido e adequado aplicável aos novos meios de comunicação e serviços ou redes de comunicação, incluindo na área do discurso de ódio fundado na orientação sexual ou na identidade de género. 37 Estas medidas devem ser adotadas dentro do respeito das condições impostas pelo Artigo 10.º, parágrafo 2 da Convenção, de modo a que a interferência na liberdade de expressão seja o mais limitada possível, prevista na lei e proporcional ao objetivo pretendido. Os Estados devem, nomeadamente: 38 - assegurar que a orientação sexual e a identidade de género são incluidas nos textos relevantes no que diz respeito à criminalização de infrações cometidas através da Internet e processar os/as responsáveis; - encorajar medidas específicas para evitar a difusão de material, ameaças ou insultos homofóbicos na Internet, sob a supervisão de websites por fornecedores de acesso; - melhorar a cooperação internacional e a assistência mútua entre as autoridades judiciais para combater a disseminação de material motivado pelo ódio, incluindo material fundado na orientação sexual ou na identidade de género, através da Internet. II. Liberdade de associação 9. O Tribunal declarou que a obrigação positiva dos Estados de assegurar o respeito real e efetivo pela liberdade de associação e de reunião reveste-se de uma importância particular para as pessoas com opiniões impopulares ou pertencentes a minorias, pois elas são mais vulneraveis à vitimização. 39 Um relatório de 24 de Fevereiro de 2009 da Comissão de Assuntos Jurídicos e de Direitos Humanos da APCE sobre A situação dos defensores de direitos humanos nos Estados-Membros do Conselho da Europa revela que, embora as atividades dos/as defensores/as de direitos humanos a trabalhar em prol 36 Baczkowski e outros c. Polónia, Nº 1543/06, julgamento de 3 de Maio de 2007, parágrafos 98-99. 37 Ver também, sobre esta matéria, o Protocolo Adicional à Convenção sobre o Cibercrime, criminalizando os atos de natureza racista e xenófoba cometidos através de sistemas informáticos, Série de Tratados do Conselho da Europa, STE Nº 189. 38 O Protocolo Adicional à Convenção sobre o Cibercrime, de 30 de Janeiro de 2003, estabelece já o princípio de que atos de natureza racista e xenófoba, disseminados através de sistemas informáticos devem ser criminalizados. 39 Ver, por exemplo, Baczkowski e outros c. Polónia, op. cit., parágrafo 64.

11 CM(2010)4 add3 rev2 dos direitos das pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero tenham sido fortemente intensificadas nos últimos anos nos Estados-Membros do Conselho da Europa, esta tendência tem encontrado fortíssima oposição e estas pessoas correm um risco particularmente grande. 40 O relatório da OSCE intitulado Human rights defenders in the OSCE region: challenges and good practices (Defensores de direitos humanos nos países da OSCE: desafios e boas práticas) 41 mostra que os obstáculos à liberdade de associação podem assumir a forma de recusa de registo, dissolução, expulsão ou ameaças de expulsão de locais, campanhas de difamação e taxas abusivas. O relatório menciona igualmente as possíveis medidas repressivas: sanções penais para atividades não registadas, processos penais abusivos, taxas de registo e de repetição de registo exorbitantes, verificações, auditorias ou investigações por funcionários/as públicos/as ou fiscalidade abusiva, ou mesmo ilegal. Qualquer pessoa deve poder formar e obter a acreditação, sem discriminação, das associações que transmitem informações a, ou sobre, pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero, facilitam a comunicação entre elas ou defendem os seus direitos. Os Estados devem velar para que as noções de ordem pública, moral pública, saúde pública ou segurança pública não sejam utilizadas de maneira abusiva para restringir o exercício do direito à liberdade de associação neste domínio. A recusa de registo de uma associação deve ser adotada por decisão objetivamente justificada, devidamente fundamentada e suscetível de recurso. Os Estados nos quais leis ou práticas proíbem a criação de organizações de defesa de direitos humanos das pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero devem suprimir estas leis ou práticas e permitir também a possibilidade de novo registo após pronúncia de dissolução. 42 Os Estados devem não só abster-se de ingerências nas atividades destas associações, que resultem numa restrição discriminatória do exercício do seu direito à liberdade de associação, como também adotar as medidas apropriadas para assegurar que estas organizações operam livremente, para defender os seus interesses quando necessário e para facilitar e encorajar o seu trabalho. Os Estados devem ainda envolver estas associações em parcerias ao elaborar e implementar políticas públicas, para que a sua opinião seja ouvida. 10. O acesso ao financiamento público reservado para organizações não governamentais deve ser garantido sem discriminação em razão da orientação sexual ou da identidade de género. As ONG devem ter a liberdade de solicitar e receber em dinheiro ou em espécie - donativos não só de autoridades públicas nacionais como também de doadores institucionais ou individuais, de outro Estado ou de organismos multilaterais, ficando apenas sujeitas às leis geralmente aplicáveis em matéria alfandegária, cambial, de branqueamento de capitais e de financiamento de eleições e partidos políticos. 43 11. Os/As que defendem os direitos humanos das pessoas lésbicas, gay, bissexuais e transgénero estão, tal como recordado pela Assembleia Parlamentar, 44 entre os/as defensores/as de direitos humanos mais expostos/as aos ataques e aos abusos, devido à sua identidade ou devido às questões em que trabalham. De acordo com a Declaração do Comité de Ministros sobre a ação do Conselho da Europa para melhorar a protecção dos/as defensores/as de direitos humanos e para promover as suas atividades, de 6 de Fevereiro de 2008, 45 os Estados-Membros devem adotar medidas eficazes para proteger, promover e respeitar os/as defensores/as de direitos humanos, assim como para assegurar o respeito pelas suas atividades; devem criar um ambiente propício ao seu trabalho, permitindo que pessoas, grupos e associações exerçam livremente as suas atividades, legalmente e em conformidade com as normas internacionais, a fim de promover e proteger os direitos humanos e as liberdades fundamentais, sem restrições que não sejam autorizadas pela Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Isto pode consistir, por exemplo, em permitir aos/às defensores/as de direitos humanos estabelecer redes entre eles/as, assim como com instituições nacionais independentes de direitos humanos e provedorias, a comunicação social, os/as defensores/as de direitos humanos noutros países e organizações internacionais, e em fomentar a participação dos/as defensores/as de direitos humanos em sessões de formação, conferências internacionais ou outras atividades que visem defender direitos humanos. É igualmente importante, nesta área, que os Estados-Membros estabelecam medidas de intervenção expedita para ajudar e proteger os/as defensores/as de direitos humanos em perigo em países terceiros, 40 Parágrafos 31-32 do relatório. 41 http://www.osce.org/publications/odihr/2008/12/35711_1217_en.pdf, p. 19 e seguintes. 42 Ver Partido Presidencial de Mordovia c. Rússia (julgamento de 5 de Outubro de 2004); Partido Comunista Unido da Turquia e outros c. Turquia (julgamento de 30 de Janeiro de 1998); Igreja Metropolitana de Bessarabia e outros c Moldávia (julgamento de 13 de Dezembro de 13 de Dezembro de 2001) ou Organização Macedoniana Unida Ilinden PIRIN e outros c.bulgária julgamento de 20 de Outubro de 2005 e o acompanhamento da execução destes julgamentos pelo Comité de Ministros (Ver, por exemplo, o documento CM/Inf/DH(2007)8 de 7 de Fevereiro de 2007). 43 Ver a este respeito a Recomendação CM/Rec(2007)14 do Comité de Ministros aos Estados-Membros sobre o estatuto jurídico das organizações não governamentais na Europa. 44 Ver a Resolução 1660 (2009) da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa A Situação dos Defensores de Direitos Humanos nos Estados-Membros do Conselho da Europa, parágrafo 5. 45 Declaração do Comité de Ministros sobre a ação do Conselho da Europa para melhorar a proteção dos defensores de direitos humanos e promover as suas atividades (adotada a 6 de Fevereiro de 2008, na 1017ª reunião dos Delegados dos Ministros).