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1 38º Encontro Anual da Anpocs GT16 - Financiamento do sistema partidário e eleitoral nas democracias contemporâneas Coordenadores: Emerson Urizzi Cervi (UFPR) e Mauro Macedo Campos (UENF) Perfil do candidato ou dinheiro: de onde vem o sucesso eleitoral dos candidatos a cargos legislativos no Brasil? Felipe Lima Eduardo Doutorando e mestre em Ciência Política DCP/UFMG felipelimae@gmail.com Resumo Neste artigo investigo o que melhor explica o desempenho eleitoral dos candidatos a cargos legislativos no Brasil: o perfil do candidato ou o volume de dinheiro gasto em campanha? Em um primeiro momento, o trabalho mostra que ambas variáveis são bons indicativos para previsões sobre o desempenho dos candidatos concorrentes e o resultado final das eleições. Porém, ao comparar o poder explicativo de cada uma delas, por meio de modelos de regressão, fica evidente que o volume de dinheiro gasto em campanha é o principal responsável pelo sucesso eleitoral. Para verificar o desempenho eleitoral dos candidatos e qual variável é o principal fator explicativo, o trabalho analisou o desempenho de todos os candidatos a deputado estadual e federal em Minas Gerais em 2010. Palavras-chave Eleições legislativas Experiência política Perfis de candidatos Financiamento de campanha Abstract This article verifies which variable better explains the electoral performance of legislative candidates in Brazil, the candidate profile or campaign funding. Firstly, the work shows that both of them are good indicators for forecasting of the elections final result. On the other hand, when we compare which one is better, using regression statistical models, it is clear that campaign funding is the best predictor for legislative elections success.to verify the electoral performance of candidates and which variable was the best explicative factorwere used data from the 2010 elections in the state of Minas Gerais. Keywords Legislative elections Political expertise Electoral candidate profile Campaign funding

2 Introdução Experiência política e uma boa quantia de dinheiro são elementos que certamente podem influenciar o desempenho eleitoral de qualquer candidato. Não importa o cargo eleitoral que esteja em disputa, para compreender os resultados finais de uma eleição é prudente (e recomendado) considerar estes dois elementos como possíveis variáveis explicativas do resultado final. Devido à importância destes fatores, neste artigo identifico qual dos dois melhor explica o desempenho eleitoral dos candidatos a cargos legislativos no Brasil. Acredito que apesar de alguns estudos trazerem explicações para o desempenho eleitoral dos candidatos a cargos legislativos no Brasil (Pereira e Renno, 2001 e 2007; Ames, 2001; Carvalho, 2003; Samuels, 2001; Silva Júnior, 2013), eles não têm concentrado esforços para identificar qual variável teria a influência mais forte e decisiva sobre o resultado das eleições. Desta forma, busco responder a seguinte pergunta de pesquisa: o sucesso eleitoral dos candidatos a cargos legislativos no Brasil vem do perfil dos candidatos ou dos recursos financeiros gastos em campanha? Para responder a esta questão proponho uma sequência de três hipóteses, sendo duas auxiliares, que verificam a validade analítica das variáveis propostas, e uma hipótese central que responde à pergunta de trabalho. A primeira hipótese auxiliar é a de que o perfil dos candidatos influencia o desempenho eleitoral deles (Jacobson, 1989). A segunda hipótese auxiliar é de que um maior volume de gastos de campanha aumenta o desempenho eleitoral dos candidatos (Jacobson, 1983, 1989a, 1989b, 1992; Abramowitz, 1991; Samuels, 2001; Pereira e Renno, 2001 e 2007; Lemos, Marcelino e Pederiva, 2010). A hipótese central é de que o volume de dinheiro gasto em campanha é mais importante do que o perfil dos candidatos para o sucesso nas eleições legislativas. As análises realizadas são referentes às eleições legislativas no estado de Minas Gerais, no ano de 2010. Verifico os resultados de ambas as eleições, deputado federal e estadual, para garantir determinada comparação entre dois diferentes contextos e certificar que os resultados apresentados são passíveis de generalização para o cenário das eleições legislativas como um todo. Todos os dados utilizados neste trabalho são oriundos de fontes secundárias e foram coletados nos sites de órgãos governamentais: Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG); Câmara dos Deputados; e Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O artigo está dividido em quatro partes. A primeira parte é uma descrição da estratégia de pesquisa e mostra como foram construídas as principais variáveis e os bancos

3 de dados utilizados no trabalho. A segunda parte contém duas seções preliminares e complementares que são fundamentais para o teste final proposto. Nesta segunda parte avalio, de forma independente, com análises descritivas, as nossas duas hipóteses auxiliares. Na primeira seção verifico a força explicativa da experiência política e na segunda o poder dos gastos de campanha. Na terceira parte do artigo testo qual das duas variáveis possui maior poder explicativo. Na conclusão mostro qual a relevância dos resultados encontrados e possíveis caminhos para novos estudos. Estratégia de pesquisa Um dos pontos centrais deste artigo é a classificação do perfil dos candidatos a partir de uma variável com três categorias distintas: os candidatos novatos, os de altaqualidade e os candidatos à reeleição. Esta classificação considera os candidatos à reeleição como os mais experientes e divide os outros candidatos em dois grupos, os candidatos de alta-qualidade e novatos. Os candidatos de alta-qualidade são aqueles que já haviam exercido cargos eletivos (presidente, governador, prefeito, senador, deputado ou vereador) ou cargos executivos de primeiro escalão (ministros ou secretários estaduais). Ou seja, candidatos de alta-qualidade são aqueles que possuem experiência e podem ser considerados como uma categoria intermediária entre os experientes (candidatos à reeleição) e os não experientes (candidatos novatos). Os candidatos novatos, obviamente, são aqueles que não eram candidatos à reeleição e não se enquadravam nos parâmetros necessários para serem considerados de alta-qualidade. Os critérios propostos para esta classificação, bem como os bancos de dados utilizados neste artigo, foram baseados em trabalho anterior desenvolvido por Eduardo (2012). A Tabela 1 mostra a distribuição dos perfis de candidatos nas eleições legislativas de 2010 no estado de Minas Gerais. Esta classificação permitiu comparar o desempenho eleitoral de cada perfil em relação ao número de votos obtidos, número de candidatos eleitos e o volume de dinheiro gasto (declarado) durante a campanha. Entendo que a principal vantagem desta classificação é incorporar uma categoria intermediária entre os candidatos novatos e os candidatos à reeleição. Com esta categoria intermediária, a lógica esperada da distribuição dos candidatos é a de que candidatos à reeleição devem possuir um melhor desempenho, porque eles já possuem bagagem eleitoral e disputam novamente para o mesmo cargo.

4 Candidatos de alta-qualidade teriam o segundo melhor desempenho porque eles já ocuparam cargos eletivos ou políticos, mas não estão disputando a reeleição. Os candidatos novatos teriam o pior desempenho porque ainda não exerceram cargos eletivos ou políticos. Tabela 1 - Classificação do perfil dos candidatos nas eleições para deputado federal e estadual, em Minas Gerais, 2010 Federal Estadual Casos % Casos % Novato 413 79,0 731 78,0 Alta-qualidade 65 12,0 142 15,0 Reeleição 45 9,0 65 7,0 Total 523 100,0 938 100,0 Fonte: Os dados foram compilados a partir de informações do TSE, ALMG e Câmara dos Deputados. A construção do banco de dados Para a classificação dos candidatos dentro das categorias propostas (novatos, altaqualidade e reeleição) foi necessário construir um banco de dados intermediário, a partir de dados da ALMG e do TSE que continham os resultados das eleições para prefeito, deputado federal, estadual, governador, senador e vereador no período entre 1994 e 2010. Para a relação dos secretários e ministros de Estado, os dados utilizados compreendem o período entre os anos de 2003-2010 1 e foram consultados nos sites específicos do Governo de Minas e do Governo Federal. Desta forma, foi possível criar um banco de dados único coma classificação de cada um dos candidatos. Outra operação realizada nos bancos de dados dos candidatos foi inserir os recursos de campanha arrecadados e gastos por candidato. O próprio TSE disponibiliza estes números em um banco de dados à parte.todos os dados utilizados são oriundos do TSE, da ALMG e da Câmara dos Deputadose estavam disponíveis on-line, nos sites destes órgãos entre os meses de dezembro de 2011 e fevereiro de 2012. 1 Os períodos analisados, eleições realizadas entre 1994-2010 e ministros e secretários entre 2003-2010, são os únicos dados que estavam disponíveis nos sites pesquisados entre dezembro de 2011 e fevereiro de 2012: ALMG, Governo de Minas, Câmara dos Deputados e Governo Federal

5 As técnicas utilizadas Um ponto a ser esclarecido é que os dados são trabalhados em grupos. Não importa o resultado individual de determinado candidato, mas o desempenho médio de cada perfil. Para compreensão dos dados são utilizadas análises estatísticas descritivas, análises bivariadas e multivariadas e gráficos de caixas (boxplot). Nas análises multivariadas, foram estimados modelos de regressão de mínimos quadrados ordinários e modelos logísticos. Utilizo a função logarítmica da votação nominal e do valor gasto em campanha, possibilitando, assim, uma distribuição da variância mais adequada para o ajuste dos modelos de regressão. A força do perfil dos candidatos Neste artigo, considero que a força do perfil dos candidatos nas eleições legislativas pode ser mensurada por dois caminhos. O primeiro é pelo desempenho eleitoral dos candidatos à reeleição e o segundo é pelo desempenho dos candidatos de alta-qualidade. Existem outros elementos que também poderiam ser considerados como indicadores de perfil dos candidatos, por exemplo, número de eleições disputadas, tempo de filiação partidária, etc. A delimitação determinada aqui considerando experiência como ser candidato à reeleição ou de alta-qualidade tem raiz na literatura americana que, por longo período de tempo, aponta estes dois perfis como candidatos com desempenho diferenciado entre os concorrentes. Os estudos norte-americanos mostram que os candidatos à reeleição são diferenciados, porque eles possuem uma série de benefícios, durante o mandato legislativo, que favorecem a sua visibilidade e promoção de sua imagem (Mayhew, 1974; Fiorina, 1977 e Fenno, 1978). Para Mayhew (1974), as casas legislativas, por meio de diversos recursos de comunicação, permitem ao legislador um canal direto e constante de comunicação com o seu eleitorado. Fiorina (1977) considera que a força do deputado está no atendimento das demandas pessoais do seu eleitor em assuntos pertinentes à burocracia estatal. Fenno (1978) aponta que a força eleitoral dos deputados está na possibilidade de um contato constante e personalizado com os eleitores. Em resumo, este conjunto de trabalhos clássicos mostra que os benefícios proporcionados pelas casas legislativas

6 potencializam a força dos candidatos à reeleição. Sendo assim, eles seriam candidatos com experiência eleitoral e recursos institucionais disponíveis para o constante trabalho de fortalecimento eleitoral. Vale destacar que a força eleitoral dos candidatos à reeleição foi demonstrada por um grande número de estudos (Cox e Jonathan, 1996; Carey, et.all, 200; Carson andcrespin, 2004; Abramowitz, 2006; Carson et. all, 2007). Estudos brasileiros também demonstram que os candidatos à reeleição nas eleições legislativas são eleitoralmente mais fortes do que os seus concorrentes (Pereira e Renno, 2001 e 2007; Ames, 2001; Carvalho, 2003; Samuels,2001; Eduardo, 2012; Silva Júnior, 2013). Dentro deste cenário, não há dúvida em considerar os candidatos à reeleição como candidatos com maior experiência eleitoral. O segundo conjunto de candidatos são os candidatos de alta-qualidade. A inclusão deste grupo segue indicação do trabalho de Jacobson (1989) que demonstra que o grupo de candidatos desafiantes (que são os candidatos que disputam a eleição, mas não estão concorrendo à reeleição) deve ser separado entre novatos e experientes. Os candidatos desafiantes com alguma experiência política seriam os candidatos de alta-qualidade. A inclusão da categoria alta-qualidade no perfil dos candidatos legislativos brasileiros foi realizada por Eduardo (2012) e permitiu que a experiência política em uma determinada eleição pudesse ser avaliada a partir de uma escala de três perfis. Seguindo os estudos que mostram que candidatos à reeleição e candidatos de altaqualidade possuem atributos que os beneficiam em disputas eleitorais, apresento a primeira hipótese: que candidatos à reeleição e de alta-qualidade possuem desempenho eleitoral superior aos novatos. O teste desta primeira hipótese é importante para identificar se a variável perfil de candidatos pode ser utilizada para explicar o desempenho dos candidatos nas eleições legislativas brasileiras. Análises descritivas para verificar a força do perfil dos candidatos nas eleições legislativas Primeiro, verifico qual o total de votos nominais obtidos pelo conjunto de candidatos novatos, de alta-qualidade e reeleição. No total de votos nominais de cada perfil de candidato, os que estavam concorrendo à reeleição como deputado federal obtiveram 50,64% de todos os votos nominais da eleição (4.819.251 votos). Nas eleições para deputado estadual, os candidatos à reeleição obtiveram 45,05% do total de votos (4.129.027 votos). Em um universo de 523 candidatos a deputado federal, os candidatos à

7 reeleição, que eram apenas 45, ou seja, 9% do conjunto de candidatos, obtiveram metade do total de votos (50,65%). Com relação aos deputados estaduais, os candidatos à reeleição, que eram 65,7% dos 938 candidatos, obtiveram 45,05% do conjunto de votos da eleição (Tabela 2). Os candidatos de alta-qualidade são o segundo grupo em total de votos obtidos. Na eleição para deputado federal conquistaram 28,55% dos votos, sendo que o número de candidatos neste perfil era de 65. Na eleição para deputado estadual os candidatos de alta-qualidade obtiveram 28,85% de todos os votos, tendo em seu grupo 142 candidatos (Tabela 2).Os candidatos novatos, que eram 413 candidatos na eleição para deputado federal, ficaram com 20,80% dos votos. Na eleição para deputado estadual, conquistaram 26,10% dos votos, tendo no grupo 731 candidatos. Estes primeiros dados mostram a importância do perfil dos candidatos como fator explicativo nas eleições legislativas. De forma resumida, os candidatos que já possuíam alguma experiência (alta-qualidade e reeleição) obtiveram 79,20% de todos os votos na eleição para deputado federal. Destaca-se que este total de votos foi adquirido por apenas 110 candidatos considerados os mais experientes, enquanto que os candidatos sem experiência (413) ficaram com apenas 20,80% dos votos. Na eleição para deputado estadual o resultado é semelhante. Os candidatos com experiência (alta-qualidade e reeleição), que somavam 207 candidatos, conquistaram 73,90% dos votos enquanto que os candidatos novatos (731) obtiveram 26,10% dos votos. Tabela 2 - Total de votos nominais obtidos por perfil de candidato nas eleições legislativas para deputado federal e estadual em Minas Gerais, 2010 Federal Novatos Alta-Qualidade Reeleição Geral Votos Nominais 1.979.363 2.717.170 4.819.251 9.515.784 % dos votos 20,80% 28,55% 50,65% 100,00% N o de candidatos por perfil 413 65 45 523 Estadual Novatos Alta-Qualidade Reeleição Geral Votos Nominais 2.392.575 2.644.826 4.129.027 9.166.428 % 26,10% 28,85% 45,05% 100,00% N o de candidatos por perfil 731 142 65 938 Fonte: Os dados foram compilados a partir de informações do TSE, ALMG e Câmara dos Deputados. Alguns dados descritivos sobre a votação nominal, obtida por cada perfil analisado, permitem explicitar melhor a diferença entre os candidatos.2enquanto os candidatos à 2 Em face da alta dispersão dos votos, em cada perfil, que pode ser notada pelos altos desvios-padrão apresentados, é recomendável atentar mais para a mediana do que para a média dos resultados. A mediana é o ponto médio da distribuição: metade dos votos obtidos pelo perfil estão abaixo da mediana e metade estão acima. Para melhor compreensão das diferenças entre as medianas, optou-se por apresentar os resultados a partir de diagramas de caixa.

8 reeleição atingiram uma mediana de 96.309 votos na eleição federal e 59.739 votos na eleição estadual, a mediana dos candidatos de alta-qualidade ficou em 22.201 votos nas eleições para deputado federal e em 12.327, na eleição para deputado estadual. Os candidatos novatos obtiveram mediana de 1.614 votos na eleição para deputado federal, e de 1.087, na eleição para deputado estadual (Gráfico 1). Vale destacar que a alta mediana dos candidatos à reeleição demonstra que todos os candidatos do grupo são mais competitivos, o que também pode ser visto pela distribuição dos quartis dos diagramas de caixa (boxplots) de cada grupo (Gráfico1). Gráfico1 - Diagramas de caixa (boxplots) sobre a votação nominal dos perfis de candidatos nas eleições legislativas para deputado federal e estadual em Minas Gerais, 2010 3 Eleições para deputado federal Eleições para deputado estadual Fonte: Os dados foram compilados a partir de informações do TSE, ALMG e Câmara dos Deputados. O conjunto de votos obtidos pelos perfis de candidatos, apesar de útil para apresentar o desempenho eleitoral, não é suficiente para demonstrar o resultado final das eleições, pois este resultado depende do número de cadeiras que o partido ou a coligação possui a partir do quociente eleitoral. Sendo assim, é necessário verificar também o número de vitórias eleitorais de cada perfil nas eleições. Com isso, nas eleições federais, foram eleitos 1,45% dos candidatos novatos, 20,00% dos candidatos de alta-qualidade e 75,56% dos candidatos à reeleição. Nas eleições estaduais, obtiveram vitória nas urnas 1,37% dos novatos, 11,97% dos candidatos de alta-qualidade e 76,92% dos candidatos à 3 O anexo I apresenta os valores da média, mediana, desvio-padrão, mínimo e máximo das distribuições apresentadas.

9 reeleição (Gráfico 2). O mais importante desta análise é o baixo desempenho dos candidatos novatos. Mesmo sendo este o grupo que contempla a grande maioria dos candidatos, cerca de 80% de todos os concorrentes (tanto na eleição federal quanto na estadual), os percentuais de vitórias do grupo são extremamente baixos, apenas 1,45% (6 candidatos) dos candidatos foram eleitos na eleição para deputado federal e também apenas 1,37% (10 candidatos) na eleição estadual (Gráfico2). Mais uma vez, o perfil dos candidatos mostrou-se como uma possível variável explicativa para o resultado das eleições legislativas brasileiras. Gráfico2 - Percentual de candidatos eleitos, por perfil, nas eleições legislativas para deputado federal e estadual, em Minas Gerais, 2010 100,00% 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% 75,56% 76,92% 20,00% 11,97% 1,45% 1,37% Novato Alta-qualidade Reeleição Novato Alta-qualidade Reeleição Federal Estadual Fonte: Os dados foram compilados a partir de informações do TSE, ALMG e Câmara dos Deputados. Por fim, mostro, através do coeficiente de correlação de Spearman, que o perfil dos candidatos pode explicar parte da votação dos candidatos nas eleições legislativas. Para ambas as eleições, os coeficientes apresentaram valores próximos, sendo de 0,62 na eleição para deputado federal e 0,64 na eleição para deputado estadual (Tabela 3). O resultado dos coeficientes nos mostra que há uma correlação moderada entre ser um candidato mais experiente e o número de votos obtidos pelo candidato. Este último resultado, bem como os outros apresentados nesta seção, parece não deixar dúvidas de que o perfil dos

10 candidatos é uma variável relevante para explicar o resultado final das eleições legislativas brasileiras. Tabela 3 Correlação de Spearman entre a votação nominal e o perfil dos candidatos a deputado, na eleição federal e estadual, em Minas Gerais, 2010 Correlação de Spearman Votação Nominal Federal Perfil 0,6220* Estadual Perfil 0,6408* *Correlação é significativaaonível de confiança de 99% (teste bilateral). A força do dinheiro Os estudos legislativos norte-americanos (Jacobson, 1983, 1989a, 1989b, 1992; Abramowitz, 1991), bem como os estudos brasileiros (Samuels, 2001; Pereira e Renno, 2001 e 2007; Lemos, Marcelino e Pederiva, 2010), apontam como uma das principais variáveis explicativas do sucesso eleitoral a capacidade de arrecadação financeira dos candidatos. Como as campanhas eleitorais no Brasil são caras, a capacidade de arrecadar dinheiro torna-se elemento importante para a compreensão da dinâmica da competição eleitoral. 4 Desta forma, é conveniente verificar a relação entre o desempenho eleitoral dos perfis de candidatos e o seu poder de arrecadação financeira. Na literatura norte-americana, entre outros trabalhos, vale destacar a análise de Jacobson (1992), que possui interessante e diferente análise da relação entre candidatos e gastos de campanha. Segundo ele, o valor gasto na campanha de um candidato à reeleição está relacionado ao tamanho do risco que ele possui de perder as eleições. A tese de Jacobson é que os candidatos à reeleição que mais gastam dinheiro seriam os que se consideram mais vulneráveis em determinado período eleitoral. Para Jacobson (1992), os candidatos à reeleição já gastariam grande volume de dinheiro, durante o exercício do mandato, para divulgar as suas ações e manter contato direto com os eleitores. Este esforço realizado durante o mandato reduziria a necessidade de um alto gasto financeiro durante as campanhas eleitorais. Em relação aos candidatos desafiantes, a situação seria inversa, pois teriam apenas o período eleitoral para se tornarconhecidos,precisando gastar muito mais durante as eleições. No caso brasileiro, Samuels (2001) faz análise comparativa entre o volume financeiro arrecadado pelos candidatos à reeleição e pelos outros concorrentes que venceram as eleições para a Câmara dos Deputados. A sua conclusão é de que os 4 Mesmo que os candidatos não declarem todos os seus gastos ao TSE, como é de conhecimento geral a existência do chamado caixa dois de campanha, Samuels (2001) aponta que os dados oficiais do TSE podem levar a boas inferências sobre os valores arrecadados, pelos candidatos, e sobre quem foram os financiadores.

11 candidatos à reeleição e os concorrentes que venceram as eleições arrecadam de maneira igual e necessitam da mesma quantidade de recursos financeiros para serem eleitos. Portanto, segundo ele, os candidatos brasileiros apresentariam um comportamento diferente do norte-americano que, como demonstra Jacobson (1992), teria como padrão uma arrecadação dos candidatos novatos e de alta-qualidade, que vencem as eleições, maior do que a dos candidatos à reeleição. Segundo Samuels, estes resultados implicariam que uma mudança na regra eleitoral sobre o financiamento de campanha (financiamento público, por exemplo) afetaria igualmente o desempenho de ambos os perfis. Para ele, o modelo brasileiro favoreceria apenas os candidatos mais ricos ou que conseguem arrecadar maiores quantias, não importando se são candidatos à reeleição ou novatos. Seguindo os estudos de Jacobson (1992) e Samuels (2001), observo qual foi o desempenho dos perfis de candidatos, a partir da quantidade de recursos financeiros gastos por eles, para identificar a força do financiamento de campanha como variável explicativa das eleições legislativas brasileiras. Com isso, nesta seção testo a hipótese de que maior volume de gastos de campanha aumenta o desempenho eleitoral dos candidatos. Análises descritivas para verificar a força do dinheiro nas eleições legislativas Os dados sobre as eleições legislativas em Minas Gerais seguem a direção de alguns dos resultados que Samuels (2001) já havia apontado para as eleições legislativas brasileiras, os candidatos à reeleição e os seus desafiantes precisam gastar um enorme volume financeiro para conseguirem ser eleitos. Isto pode ser notado pela grande diferença entre os valores gastos pelos candidatos eleitos e os valores gastos pelos candidatos não eleitos(gráfico 3). Apesar de Samuels (2001) acreditar que há diferenças entre o padrão de arrecadação das eleições norte-americanas e o padrão brasileiro, os dados deste trabalho parecem discordar de Samuels (2001) e confirmar a tese de Jacobson (1992). Mesmo os candidatos eleitos de cada perfil tendo apresentado volume de gastos muito próximos entre eles, os dados mostram que a mediana dos gastos dos candidatos novatos, eleitos, foi muito maior, tanto na eleição federal quanto na estadual, do que dos candidatos eleitos dos outros perfis. Esta diferença nos gastos mostra que os candidatos novatos, para tornarem-se competitivos, precisam gastar mais do que os outros, o que vai de acordo com a tese apontada por Jacobson (1992). Como era de se esperar, o perfil de candidatos à reeleição foi o único que apresentou alta mediana no volume de recursos gastos, até mesmo para os candidatos que não foram eleitos(gráfico 3).

12 O gasto financeiro dos candidatos de alta-qualidade também apresenta algumas importantes diferenças: este perfil de candidatos foi o que obteve as menores medianas, no total dos gastos de campanha, entre os candidatos que foram eleitos(gráfico 3). Isto significa que para os candidatos eleitos este foi o perfil que precisou de menor volume de recursos financeiros. Este resultado pode estar relacionado com uma provável estratégia de concentração dos votos dos candidatos de alta-qualidade em municípios de tamanho médio. Esta concentração dos votos dos candidatos de alta-qualidade poderia ser a estratégia economicamente mais viável e eficiente para estes candidatos. Estudos futuros devem buscar compreender melhor os fatores que levariam candidatos de alta-qualidade a vencer as eleições. Além de comprovar a superioridade demonstrada pelos candidatos à reeleição, em relação ao volume de gastos, os dados também reafirmaram, em parte, as teses de Samuels (2001) e de Jacobson (1992). Com relação a Samuels (2001) os dados mostraram que a realidade eleitoral brasileira é realmente marcada pela capacidade de arrecadação dos candidatos. Os candidatos eleitos gastaram muito mais do que os derrotados. Sendo assim, Samuels está correto quando aponta que as eleições legislativas brasileiras são caras, tanto para os candidatos à reeleição quanto para os candidatos desafiantes. Mas os dados também revelaram, como ressaltado por Jacobson (1992), que os candidatos novatos eleitos precisaram de volume de recursos muito maior do que o dos candidatos à reeleição.

13 Gráfico 3 Boxplot para o volume de recursos financeiros gastos pelos candidatos eleitos e não eleitos, nas eleições federais e estaduais, em Minas Gerais, 2010 5 Federal Estadual Fonte: Os dados foram compilados a partir de informações do TSE, ALMG e Câmara dos Deputados. Para finalizar esta seção e reafirmar a força do gasto de campanha como variável explicativa para o desempenho eleitoral dos candidatos, apresento os resultados da correlação de Pearson entre o valor gasto na campanha e a votação dos candidatos. Na eleição federal, o coeficiente da correlação de Pearson ficou em 0,826, e na eleição estadual o coeficiente foi de 0,767(Tabela 4). Em ambas as eleições, pode-se dizer que os coeficientes encontrados apontaram uma correlação alta, positiva e significante. Isto significa que a votação dos candidatos aumenta na medida em que aumenta o valor gasto na campanha. Desta forma, como os estudos brasileiros e norte-americanos já apontavam, há, realmente, forte relação entre desempenho eleitoral e volume de recursos financeiros usados na campanha. 5 O anexo II apresenta os valores da média, mediana, desvio-padrão, mínimo e máximo das distribuições apresentadas.

14 Tabela 4 Correlação linear de Pearson entre o valor financeiro gasto e a votação nominal dos candidatos a deputado, nas eleições federais e estaduais, em Minas Gerais, 2010 Correlação de Pearson Votação Nominal Federal Valor gasto 0,826* Estadual Valor gasto 0,767* * Correlação é significativa ao nível de confiança de 99% (teste bilateral). Perfil ou dinheiro: O que é mais importante para os candidatos? Nas duas seções anteriores deste artigo (a força da experiência e a força do dinheiro) avaliei a capacidade explicativa individual de cada uma destas variáveis em relação ao desempenho dos candidatos a cargos legislativos em Minas Gerais. Os resultados encontrados foram coerentes com a literatura sobre o tema, confirmando que o perfil do candidato e gasto de campanha são variáveis importantes a serem consideradas na compreensão dos resultados finais das eleições legislativas. Nesta seção, avanço no debate identificando qual variável teria maior capacidade explicativa. Para isso, testo a hipótese central deste artigo: gasto em campanha é mais relevante que o perfil do candidato. Para realizar este empreendimento, desenvolvo dois modelos de regressão, um linear e outro logístico, que verificam ao mesmo tempo qual das duas variáveis melhor explica o resultado final das eleições. O modelo linear tem como variável dependente a votação final dos candidatos e mostra o desempenho eleitoral deles independente do resultado final. O modelo logístico considera apenas o resultado final da eleição, se os candidatos foram eleitos ou não. O uso de ambos os modelos é importante, pois nas eleições legislativas brasileiras o desempenho eleitoral dos candidatos não pode ser medido apenas pelos indicadores de vitória ou derrota nas eleições. No complexo sistema eleitoral brasileiro, que apresenta grande número de candidatos, partidos e coligações, um candidato, para ser eleito, muitas vezes não depende apenas do seu desempenho eleitoral, mas de algumas condições estratégicas e conjunturais impostas pelas alianças partidárias no momento da construção das coligações eleitorais. O modelo de regressão linear mostra que o perfil dos candidatos e o gasto de campanha são importantes variáveis explicativas para o desempenho eleitoral dos candidatos, mesmo quando analisadas em conjunto, com uma variável controlando a variação da outra. Ambas variáveis apresentaram significância e a capacidade explicativa

15 do modelo, medida pelo valor do R 2, foi de 0,815 na eleição federal e de 0,814 na eleição estadual (Tabela 5). O modelomostra que, na eleição para deputado federal, o candidato possuir experiência intermediária (alta-qualidade) aumenta em 32,58% 6 a votação final dele e possuir maior grau de experiência (reeleição) aumenta em 51,59% a sua votação. O modelo para deputado federal revela também que um aumento de 1% no gasto de campanha do candidato aumenta em 61,8% a sua votação. Na eleição para deputado estadual os resultados são parecidos. O candidato possuir experiência intermediária (altaqualidade) aumenta em 30,73% a votação final dele e possuir maior grau de experiência (reeleição) aumenta em 66,86%. A regressão mostra também que um aumento de 1% no gasto de campanha para deputado estadual aumenta em 63,30% a votação do candidato (Tabela5). Para comparar qual das variáveis possui maior impacto sobre a variável dependente no modelo de regressão é necessário olhar os betas padronizados, pois quando se compara a força das variáveis independentes de um modelo de regressão linear eles são indicadores mais precisos. Em ambas as eleições, os resultados dos betas padronizados mostraram que para o modelo proposto, que considera o perfil dos candidatos e gasto de campanha como variáveis explicativas, o dinheiro foi o componente com maior poder explicativo. Os resultados apresentados pelos betas padronizados do gasto de campanha foram de 0,772 na eleição federal e de 0,754 na estadual(tabela 5). Com isso, quando avalio apenas a votação obtida pelos candidatos os resultados seguem na direção esperada pela a hipótese deste trabalho, em que o volume de dinheiro gasto na campanha seria mais relevante do que a experiência do candidato. 6 A magnitude correta dos Betas é mensurada pela fórmula [Exp (β)-1]*100 (Wooldridge, 2008)

16 Tabela 5 - Modelos de regressão linear para a variável dependente votação nominal dos candidatos, nas eleições legislativas para deputado federal e estadual em MG, no ano de 2010 Variável Dependente: Log da votação nominal Modelo 1 Federal Modelo 2 Estadual Beta Beta Beta Beta padronizado padronizado Constante 0,809*** 0,615*** (0,0927) (0,0697) Novato Ref. Ref Alta-qualidade 0,282*** 0,113 0,268*** 0,129 (0,0615) (0,0390) Reeleição 0,416*** 0,144 0,512*** 0,175 (0,0811) (0.0571) Log (gasto em campanha) 0,618*** 0,772 0,633*** 0,754 (0,0238) (0,0697) R 2 0,815 0,814 Número de observações 442 780 Erros-padrão em parênteses *** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1 Uso um modelo de regressão logística, que possui como variável dependente o sucesso ou fracasso na eleição, para também verificar se dinheiro é mais importante que experiência nas eleições legislativas quando analisamos a vitória ou derrota dos candidatos. A primeira descoberta é a de que no modelo logístico a categoria de experiência intermediária do perfil dos candidatos (alta-qualidade) não apresentou significância estatística, apontando provavelmente para uma menor relevância da experiência política como variável explicativa para o resultado final das eleições (Tabela 6). Por outro lado, a chance de um candidato à reeleição ser eleito é 397,1% maior do que a chance de um candidato novato na eleição para deputado federal e 1.127% maior na eleição para deputado estadual. Sendo assim, por mais que os candidatos de alta-qualidade não apresentem significância estatística, o resultado dos candidatos à reeleição continua apontando para um efeito positivo do perfil dos candidatos. No modelo logístico, como no modelo linear, o gasto de campanha apresentou, mais uma vez, um forte efeito sobre o resultado das eleições. O aumento de 1% no gasto de campanha aumenta em 5337% a chance do candidato ser eleito na eleição para deputado federal e em 4.269% na eleição para deputado estadual (Tabela 6).

17 Tabela6 - Razões de chance e exponencial dos erros padrões estimados por modelos de regressão logística para a variável dependente resultado final das eleições legislativas para deputado federal e estadual em MG, no ano de 2010 Variável Dependente: Resultado da eleição (0 Não eleito / 1 - Eleito) Modelo 1 Federal Modelo 2 Estadual Constante 0,000*** 1,37e-10*** (9,19e-11) (4,38e-10) Novato Ref. Ref. Alta-qualidade 2,369 1,537 (1,737) (0,751) Reeleição 4,971** 12,27*** (3,539) (6,265) Log (gasto em campanha) 54,37*** 43,69*** (40,15) (24,79) Pseudo R 2 0,70 0,65 Log Likelihood -48,500249-88,024739 Número de observações 442 780 Erros-padrãoem parênteses *** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1 A conclusão geral destes modelos (Tabelas 5 e 6) é que o impacto de ambas variáveis, perfil dos candidatos e gasto em campanha, mesmo quando controladas por modelos de regressão, parece ser relevante para o desempenho dos candidatos nas eleições para deputado federal e estadual. Estes achados, de certa maneira, reforçam os resultados já encontrados anteriormente nas análises descritivas. Os modelostambém demonstram que o gasto em campanha apresenta um efeito mais forte do que a experiência. Com isso, acredito que os resultados trazem elementos para corroborar a hipótese principal de que, para determinar o desempenho eleitoral dos candidatos, volume de dinheiro gasto em campanhas é mais importante do que o perfil do candidato. Conclusão As análises empreendidas neste artigo demonstraram que o perfil do candidato e o financiamento de campanha são variáveis de grande relevância para a compreensão do desempenho dos candidatos a cargos legislativos no Brasil. A força de ambas variáveis foi comprovada por análises descritivas e multivariadas, e os resultados apresentados foram contundentes ao apresentar a força explicativa delas. Ao responder a pergunta de pesquisa o sucesso eleitoral dos candidatos a cargos legislativos no Brasil vem do perfil dos candidatos ou dos recursos financeiros gastos em campanha? os resultados demonstraram que para ser eleito deputado no Brasil o fator mais importante é o quanto de dinheiro o candidato possui para a sua campanha. As

18 análises mostraram que o perfil dos candidatos também influencia no desempenho deles, mas a força explicativa do dinheiro foi amplamente superior ao perfil. Em um cenário onde a mídia e a sociedade têm exercido forte pressão sobre a qualidade do nosso corpo legislativo, os dados aqui apresentados são bastante preocupantes. Se o dinheiro é a força motriz das eleições, a biografia, o perfil e a experiência dos candidatos são apenas complementos de importância reduzida. O que quero dizer com isso é que os candidatos que buscam vencer as eleições, seja com boas ou más intenções, precisam entrar no jogo financeiro das campanhas. Por isso, a grande maioria dos candidatos se alia a poderosos grupos econômicos, que possuem interesses específicos. O inverso também é verdade: sabendo que com dinheiro se elege um deputado, os grupos econômicos escolhem os seus representantes e financiam a sua entrada no Parlamento. Acredito que para uma mudança qualitativa de nossos representantes é necessário uma alteração substancial nas regras do jogo eleitoral. Uma mudança que garanta aos candidatos a execução de campanhas eleitorais viáveis e independentes. As análises realizadas neste artigo se limitaram aos dados das eleições no estado de Minas Gerais, no ano de 2010. Estudos futuros devem ampliar o escopo analítico para outros estados e realizar comparações com outras eleições. É necessário também encontrar novas maneiras de mensurar as diferenças entre estas duas variáveis, perfil dos candidatos e volume de gastos de campanha, visando, principalmente, isolar os possíveis efeitos de multicolineariedade que possa existir entre elas. Estes novos passos possibilitarão avanços no dimensionamento da força do dinheiro nas eleições legislativas no Brasil.

19 Referências Bibliográficas Abramowitz, Alan I.; Alexander, Brad; Gunning, Matthew. Incumbency, Redistricting, and the Decline of Competition in U.S. House Elections. The Journal of Politics, Vol. 68, No. 1 (Feb., 2006), pp. 75-88 Ames, Barry. Electoral Strategy under Open-List Proportional Representation. American Journal of Political Science, Vol. 39, No. 2 (May, 1995), pp. 406-433. Ames, Barry. Os entraves da democracia no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2003. Carey, John M. et all. Incumbency and the Probability of Reelection in State Legislative Elections. The Journal of Politics, Vol. 62, No. 3 (Aug., 2000), pp. 671-700 Carson, Jamie L.; Engstrom, Erik J., Roberts, Jason M. Candidate Quality, the Personal Vote, and the Incumbency Advantage in Congress. The American Political Science Review, Vol. 101, No. 2 (May, 2007), pp. 289-301 Carvalho, Nelson Rojas. E no início eram as bases. Geografia política do voto e comportamento legislativo no Brasil.Rio de Janeiro: Revan, 2003. Cox, Gary W. and Katz, Jonathan N. Why Did the Incumbency Advantage in U.S. House Elections Grow? American JournalofPolitical Science, Vol. 40, No. 2 (May, 1996), pp. 478-497 Dahl, Robert A. Poliarquia: Participação e Oposição: Tradução Celso Mauro Paciornik 1.ed. 1.reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005. (Clássicos;9). Eduardo, Felipe Lima. Candidatos À Reeleição Versus Concorrentes: a competição eleitoral nas eleições legislativas no Estado de Minas Gerais em 2010. Dissertação de Mestrado defendida em Julho de 2012 no Departamento de Ciência Política da UFMG. Fiorina, Morris P. Congress Keystone of the Washington Establishment. Yale University Press, 1977. Jacobson, Gary C. Strategic Politicians and the dynamics of U.S. House elections, 1946-86. American Political Science Review vol.83n.3september 1989. Jacobson, Gary. The politics of congressional elections. Harper Collins Publishers 1992. Krehbiel, Keith and Wright, John R. The Incumbency Effect in Congressional Elections: A Test of Two Explanations. American Journal of Political Science, Vol. 27, No. 1 (Feb., 1983), pp. 140-157 Mayhew, David R. Congress: The electoral connection. Yale University. 1974 Nicolau, Jairo (2007). O sistema eleitoral de lista aberta no Brasil. In: Nicolau, Jairo e Power, Timoyhy (org). Instituições representativas no Brasil. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, pp.97-123.

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