Autos de Natal. Apresentação

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Transcrição:

Autos de Natal Apresentação Esta pequena colecção de Autos de Natal parece, à primeira vista, composta por textos que não são nem autos, nem de Natal. Se alguns respeitam a forma dialogante do teatro e até poderiam ser representados, outros há que mais parecem contos ou ensaios em forma de monólogo. Além disso, muitos dos temas tratados parecem não ter nenhuma relação com o Natal. Mas o livro é composto de seis verdadeiros autos de Natal, seis autos trípticos de Natal. Quanto à forma, a palavra «auto» é aqui usada de maneira livre, como o era no tempo do grande Gil Vicente, a quem a estrutura deste livro pretende obviamente homenagear. Houve tempos em que a cultura portuguesa era grande. Houve tempos em que a cultura portuguesa se centrava no Natal. Com agradecimentos, regista-se que alguns dos presentes textos foram adaptados de artigos publicados no Diário de Notícias e nas séries de livros Não Há Almoços Grátis da Editorial Notícias (I e II) e da Editorial Verbo (III, IV, e V). 7

João César das Neves Assim, monólogos, diálogos, até contos figuram adiante, mas são sempre autos. No que toca ao conteúdo, o tema do Natal, pode não parecer, mas está presente em cada palavra. Porque o Natal é a origem da nossa alegria, da nossa libertação, da nossa salvação. O acontecimento fulgurante, incomparável, incompreensível com que Deus visitou o Seu povo é a base de toda a nossa felicidade. Assim, a vida de cada um de nós é um Auto de Natal. Natal de 2004 8

Autos de Natal Prefácio Já começou o Natal. As ruas e as montras estão decoradas, os catálogos de compras multiplicam-se, fazem-se listas, planos, combinações. Acima de tudo, aumentam a azáfama e as compras. A balbúrdia é grande, mas todos, até os mais empedernidos, vivem a necessidade de se sentirem bem-dispostos e serem simpáticos para os outros. Começou o Natal. Cheira-se no ar aquele ambiente estranho, surpreendentemente confortável e doce. Este ano é outra vez Natal. Vêm à memória momentos da infância. Reaparecem símbolos inusitados e anacrónicos: sinos, azevinho, trenós, bonecos de neve, estrelas, estábulos. Ninguém sabe exactamente o que querem dizer e soam a estranho na nossa sociedade electrónica. Mas é isso que constitui o espírito de Natal. A actividade económica e a problemática sócio-política têm de se preparar de novo. Começou o Natal. No meio de tanta confusão, passa um burrinho com uma Senhora grávida em cima e o marido ao lado. Vão silenciosos, como 9

João César das Neves que perdidos na labuta da grande cidade. Pedem guarida, apenas suplicam um lugar para pernoitar. Afinal, o bebé está quase a nascer. Poderiam dispensar uma hospedagem só por uma noite, esta noite de Natal? Naturalmente, hoje como em todos os anos dos últimos dois mil, poucos lhes ligam. Já começou o Natal e estamos demasiado ocupados em todas as preparações para lhes dar atenção. Não há lugar para eles nesta nossa intensa actividade. Temos de decorar ruas e montras, ler os catálogos de compras, fazer listas, planos, combinações. Não é por mal, ou por grosseria que não lhes ligamos. Afinal é Natal, a época menos adequada para estes estranhos nos virem perturbar. Mas hoje, como em todos os anos dos últimos dois mil, o Menino insiste em nascer. Perante o nosso alheamento e indiferença, Ele teima em nascer. Escolhe o momento mais incómodo, a altura mais perturbada, o instante mais atarefado. Escolhe o Natal. A actividade económica e a problemática sócio-política, mesmo que mergulhadas no espírito natalício, não têm lugar para Ele. As nossas tarefas familiares e ocupações profissionais não permitem que Lhe liguemos. Mas Ele insiste sempre em nascer. Nem que seja num estábulo. Num estábulo vazio e frio, o único sítio da cidade que tem lugar para Ele. Era suposto o estábulo estar vazio. Há tanto a fazer no Natal, há tanta actividade na cidade, que ninguém tem tempo para ir ao estábulo vazio e frio. Só por isso é que há ali lugar para Ele. Só por isso é que o Menino conseguiu nascer. Mas depois, surpreendentemente, aquele estábulo fica cheio de gente. Os pastores e os magos visitam o Menino. Eles sabiam que o Menino viria. Eles tinham começado o Advento, depois da festa do Cristo-Rei. Tinham iniciado o ano litúrgico e seguido as vá- 10

Autos de Natal rias semanas de preparação para a chegada do Menino. Foram à Missa, rezaram o Terço, confessaram-se, acompanharam a liturgia festiva desta época incomparável do ciclo anual. Desta forma é que conseguiram ouvir a mensagem do Anjo e seguir a estrela até ao Presépio. Desta forma é que foram ouvindo «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados» (Lc 2, 14). Claro que os pastores e os magos também estão muito atarefados na azáfama geral. Afinal, já começou o Natal é há muito a fazer. Também eles fazem listas, planos, combinações, cozinhados. Também eles aumentam o bulício e as compras. Mas fazem- -no acompanhando a viagem do burrinho com a Senhora grávida e o marido ao lado. Fazem-no para festejar o nascimento do Menino. Fazem-no para nascer de novo, com o Menino. E só assim é que é possível a presença do Menino nas festas de Natal deste ano. Só através de todos os que se ocuparam intensamente nessas festas, mas a pensar no Menino. Por causa do Menino. Aliás, são os pastores e os magos que, mais do que ninguém, cheiram no ar aquele ambiente estranho, surpreendentemente confortável e doce. São eles que revivem na memória momentos da infância, da juventude, da velhice. Momentos em que foi, mais uma vez e sempre, Natal. São eles que, no meio da azáfama, entendem os símbolos, os sinos, o azevinho, os trenós, os bonecos de neve, a Estrela, o Estábulo. São eles os únicos que sabem exactamente o que querem dizer os símbolos e como eles se enquadram estranhamente em todos os séculos. Até na nossa sociedade electrónica. São eles que vivem o verdadeiro espírito de Natal. Aquele espírito que todos sentem, mesmo no meio da azáfama. Porque todos vivem o espírito de Natal, aquela necessidade estranha de se sentir bem-disposto e ser simpático para os outros. Mas o único espírito de Natal que existe vem daqui. Aquele espíri- 11

João César das Neves to que todos, até os mais empedernidos, sentem vem daqui. Não há outra fonte do espírito de Natal senão o nascimento do Menino. E este espírito só se pode entender seguindo o Advento, as várias semanas de preparação, indo à Missa, rezando o Terço, confessando-se, acompanhando a liturgia festiva desta época incomparável do ciclo anual. Todos, mesmo os mais empedernidos, é daqui, mesmo sem o saberem, que recebem este espírito único, aquele ambiente estranho, surpreendentemente confortável e doce. Este ano vai nascer o Menino. Este ano, apesar da nossa azáfama, conscientes ou inconscientes, vai nascer o Menino. Quem O traz, em cima do burrinho e ao lado do marido, é a Senhora. E a Senhora chama-se Igreja. Já começou o Natal. 12